14 de Maio de 2024
A Palavra de Deus na Bíblia (17): Interpretação e tradução da Bíblia
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16/10/2015 15:03 - Atualizado em 16/10/2015 15:03
A Palavra de Deus na Bíblia (17): Interpretação e tradução da Bíblia 0
16/10/2015 15:03 - Atualizado em 16/10/2015 15:03
Depois da contribuição notória de São Jerônimo, avançamos dentro do extenso território da exegese, da teologia e da pregação de Santo Agostinho.
O Bispo de Hipona, por causa de sua ação pastoral, elaborou uma ‘teologia do amor’ para bem interpretar e atualizar a mensagem das Escrituras em tempos de querelas e conflitos no interior do Cristianismo e também contra ele, vindos do paganismo do Império Romano.
A categoria do ágape foi uma poderosa ferramenta hermenêutica da literatura joanina na obra agostiniana de exegese bíblica.
O ágape agostiniano na “Prima Ioannis”
Aqui nos resta somente um breve comentário sobre alguns aspectos que D. Dideberg aponta como a interpretação de Agostinho da mensagem da Carta Joanina, apenas citada. Segundo o Dideberg (1975): “Nenhum entre os Padres da Igreja entendeu melhor que Agostinho o gênero e a unidade da Primeira Carta de São João, seus destinatários, sua autenticidade joanina, todas as questões que tocam a função de um exegeta moderno não se constituíram uma dificuldade para Santo Agostinho”1.
A longa e complexa evolução crítica desses textos (na verdade são 10 Tratados) não será feita; remetemos os leitores à obra já citada2. Interessa-nos aquilo que ele chamou “La theologie augustinienne de la caritas” (A teologia agostiniana da Caridade). A ideia central do texto é a afirmação da comunhão dos fiéis com Deus.
Essa interpretação insere-se no conjunto das quase 800 citações joaninas em Santo Agostinho, as que foram recolhidas e analisadas3.
Para Santo Agostinho, aplica-se de maneira magistral aquilo que diz respeito a toda a Escritura: “la charité est l’unique objet de l’Écriture”. A Caridade é o único objeto da Escritura.
Como já se afirmou do conjunto da exegese agostiniana, ela jamais se separa das etapas da vida da Igreja africana e da vida pessoal de seu Pastor. Por isso, resume diversas preocupações simultâneas e sucessivas: reflexão moral, trabalho exegético e pesquisa dogmática (verdadeira theologia biblica!).
Como nos interrogamos anteriormente, ao situar os pressupostos da exegese sobre a Caridade na Primeira Carta de São João, por parte do Bispo de Hipona, consideramos acima da concepção de filia ou mesmo eros4, como já foi proposto.
A novidade da posição de D. Dideberg se exprime contra quem discorda da ideia que nem mesmo o termo ágape seria adequado para explicar a forma mentis do Mestre de Hipona, exposta nestes tratados: “Nem Eros, nem ágape, nem os dois juntos possibilitam entender plenamente o termo cáritas: Agostinho não é um composto de Plotino e Lutero, mas ele foi um Padre da Igreja Católica. No Corpo de Cristo, a Caridade é aquela que está no mistério do ser divino: o Espírito Santo da unidade”5.
Porém, muito mais do que um conceito a ser discutido, somente do ponto de vista linguístico, como um problema de tradução, trata-se na verdade, segundo nosso autor, de perceber duas coisas: primeiramente, que não se pode entender esta theologia expressa na cáritas sem ler, como o fez Santo Agostinho, a Carta, não versículo a versículo, mas partindo deste todo unitário.
A saber, e aqui está já a segunda verdade, que, com o termo latino cáritas, Santo Agostinho tem uma ‘chave unitária’ e ao mesmo tempo central, tanto da Carta, quanto do conteúdo joanino. O próprio amor: humano e divino, fraterno e observador perfeito dos preceitos divinos, visível e invisível.
Santo Agostinho não leu cáritas em lugar de outra palavra, mas ele construiu um sistema coerente de compreensão e vivência, que pode ajudar teólogos, pastores e leigos cristãos de todos os tempos na busca do essencial.
Ou, se parecer muito ousado, Santo Agostinho apontou o mais importante para a comunicação e conhecimento de Deus, que nos traz a delicada e ungida extração de sua própria Palavra, inscrita nas Escrituras da Igreja.
E, ao mesmo tempo, nós, imagens suas, como Ele assim o quis, podemos avançar mais seguros na direção da verdade e obter um verdadeiro acesso a nós mesmos e aos outros.
Sobretudo, quando a cáritas, centro da Escritura, como percebeu muito bem Agostinho, tiver toda amplitude, nos permitirá ler sinteticamente o conjunto da Palavra de Deus, à maneira de sua exegese nesta carta, como uma contemplação de Deus-Amor.
1Cfr. D. Dideberg, Saint Augustin et la Première Épître de Saint Jean. Une Théologie de l’Agapè, Beauchesne, Paris, 1975, p. 29.
2 Cfr. D. Dideberg, Saint Augustin et la Première Épître, 29-53, espec. 46-50.
3 Cfr. O autor afirma utilizar como fonte crítica o aparato que W. Thiele estabeleceu para a Vetus Latina e Beuron, diz ele, então à espera da Bíblia Augustiniana de A.-M. La Bonnardière, citada a respeito da cronologia do conjunto do Tractatus por A. Vita (org.), Sant’Agostino, Commento al Vangelo, XV.
4 D. Dideberg, Saint Augustin et la Première Épître, 39 e 46, ele cita a controvertida tese de A. Nygren, Éros et Agapé, La notion chrétienne de l’amour et ses tranformations, t.I-II, trad. Franc. P. Jundt, Paris 1944.
5 Cfr. D. Dideberg, Saint Augustin et la Première Épître, p. 47. A pesquisa exegética contemporânea sobre a ‘cáritas’, em outros contextos literários neotestamentários, confirma o quadro teológico da caridade como conceito divino.
A Palavra de Deus na Bíblia (17): Interpretação e tradução da Bíblia
16/10/2015 15:03 - Atualizado em 16/10/2015 15:03
Depois da contribuição notória de São Jerônimo, avançamos dentro do extenso território da exegese, da teologia e da pregação de Santo Agostinho.
O Bispo de Hipona, por causa de sua ação pastoral, elaborou uma ‘teologia do amor’ para bem interpretar e atualizar a mensagem das Escrituras em tempos de querelas e conflitos no interior do Cristianismo e também contra ele, vindos do paganismo do Império Romano.
A categoria do ágape foi uma poderosa ferramenta hermenêutica da literatura joanina na obra agostiniana de exegese bíblica.
O ágape agostiniano na “Prima Ioannis”
Aqui nos resta somente um breve comentário sobre alguns aspectos que D. Dideberg aponta como a interpretação de Agostinho da mensagem da Carta Joanina, apenas citada. Segundo o Dideberg (1975): “Nenhum entre os Padres da Igreja entendeu melhor que Agostinho o gênero e a unidade da Primeira Carta de São João, seus destinatários, sua autenticidade joanina, todas as questões que tocam a função de um exegeta moderno não se constituíram uma dificuldade para Santo Agostinho”1.
A longa e complexa evolução crítica desses textos (na verdade são 10 Tratados) não será feita; remetemos os leitores à obra já citada2. Interessa-nos aquilo que ele chamou “La theologie augustinienne de la caritas” (A teologia agostiniana da Caridade). A ideia central do texto é a afirmação da comunhão dos fiéis com Deus.
Essa interpretação insere-se no conjunto das quase 800 citações joaninas em Santo Agostinho, as que foram recolhidas e analisadas3.
Para Santo Agostinho, aplica-se de maneira magistral aquilo que diz respeito a toda a Escritura: “la charité est l’unique objet de l’Écriture”. A Caridade é o único objeto da Escritura.
Como já se afirmou do conjunto da exegese agostiniana, ela jamais se separa das etapas da vida da Igreja africana e da vida pessoal de seu Pastor. Por isso, resume diversas preocupações simultâneas e sucessivas: reflexão moral, trabalho exegético e pesquisa dogmática (verdadeira theologia biblica!).
Como nos interrogamos anteriormente, ao situar os pressupostos da exegese sobre a Caridade na Primeira Carta de São João, por parte do Bispo de Hipona, consideramos acima da concepção de filia ou mesmo eros4, como já foi proposto.
A novidade da posição de D. Dideberg se exprime contra quem discorda da ideia que nem mesmo o termo ágape seria adequado para explicar a forma mentis do Mestre de Hipona, exposta nestes tratados: “Nem Eros, nem ágape, nem os dois juntos possibilitam entender plenamente o termo cáritas: Agostinho não é um composto de Plotino e Lutero, mas ele foi um Padre da Igreja Católica. No Corpo de Cristo, a Caridade é aquela que está no mistério do ser divino: o Espírito Santo da unidade”5.
Porém, muito mais do que um conceito a ser discutido, somente do ponto de vista linguístico, como um problema de tradução, trata-se na verdade, segundo nosso autor, de perceber duas coisas: primeiramente, que não se pode entender esta theologia expressa na cáritas sem ler, como o fez Santo Agostinho, a Carta, não versículo a versículo, mas partindo deste todo unitário.
A saber, e aqui está já a segunda verdade, que, com o termo latino cáritas, Santo Agostinho tem uma ‘chave unitária’ e ao mesmo tempo central, tanto da Carta, quanto do conteúdo joanino. O próprio amor: humano e divino, fraterno e observador perfeito dos preceitos divinos, visível e invisível.
Santo Agostinho não leu cáritas em lugar de outra palavra, mas ele construiu um sistema coerente de compreensão e vivência, que pode ajudar teólogos, pastores e leigos cristãos de todos os tempos na busca do essencial.
Ou, se parecer muito ousado, Santo Agostinho apontou o mais importante para a comunicação e conhecimento de Deus, que nos traz a delicada e ungida extração de sua própria Palavra, inscrita nas Escrituras da Igreja.
E, ao mesmo tempo, nós, imagens suas, como Ele assim o quis, podemos avançar mais seguros na direção da verdade e obter um verdadeiro acesso a nós mesmos e aos outros.
Sobretudo, quando a cáritas, centro da Escritura, como percebeu muito bem Agostinho, tiver toda amplitude, nos permitirá ler sinteticamente o conjunto da Palavra de Deus, à maneira de sua exegese nesta carta, como uma contemplação de Deus-Amor.
1Cfr. D. Dideberg, Saint Augustin et la Première Épître de Saint Jean. Une Théologie de l’Agapè, Beauchesne, Paris, 1975, p. 29.
2 Cfr. D. Dideberg, Saint Augustin et la Première Épître, 29-53, espec. 46-50.
3 Cfr. O autor afirma utilizar como fonte crítica o aparato que W. Thiele estabeleceu para a Vetus Latina e Beuron, diz ele, então à espera da Bíblia Augustiniana de A.-M. La Bonnardière, citada a respeito da cronologia do conjunto do Tractatus por A. Vita (org.), Sant’Agostino, Commento al Vangelo, XV.
4 D. Dideberg, Saint Augustin et la Première Épître, 39 e 46, ele cita a controvertida tese de A. Nygren, Éros et Agapé, La notion chrétienne de l’amour et ses tranformations, t.I-II, trad. Franc. P. Jundt, Paris 1944.
5 Cfr. D. Dideberg, Saint Augustin et la Première Épître, p. 47. A pesquisa exegética contemporânea sobre a ‘cáritas’, em outros contextos literários neotestamentários, confirma o quadro teológico da caridade como conceito divino.
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