29 de Abril de 2024
Livros do Antigo Testamento (104)
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03/05/2019 12:15 - Atualizado em 03/05/2019 12:15
Livros do Antigo Testamento (104) 0
03/05/2019 12:15 - Atualizado em 03/05/2019 12:15
Neste artigo concluiremos a exposição do estupendo Livro do Eclesiástico, ou Ben Sira. E assim encerramos mais uma etapa do estudo bíblico do Antigo Testamento, tendo realizado um sobrevoo panorâmico sobre os sete livros Sapienciais.
TEOLOGIA
O livro de Ben Sira testemunha uma época de transição na qual já se começam a esboçar os traços característicos do judaísmo como forma evoluída de religião bíblica. Trata-se de um judaísmo poliforme, no qual o próprio cristianismo viria lançar raízes.
Mas é diferente da tendência rabínica posterior, a que o ramo preponderante do farisaísmo, especialmente a partir de 70 da nossa era, viria dar um aspecto monolítico.
Do confronto helenismo-judaísmo, Ben Sira assimila o que considera bom e compatível com a sua fé, mas rejeita o que se opõe à essência da fé judaica e alerta para os perigos da cultura envolvente e dominante.
A respeito do Cânon das Escrituras, o Prólogo menciona já a divisão tripartida “Lei, Profetas e os outros livros” (39,1-3), e o próprio livro cita ou menciona, mais ou menos diretamente, muitos desses livros sagrados:
O sábio procura cuidadosamente a sabedoria de todos os antigos, e aplica-se ao estudo dos profetas. Guarda no coração as narrativas dos homens célebres, e penetra ao mesmo tempo nos mistérios das máximas. Penetra nos segredos dos provérbios, e vive com o sentido oculto das parábolas (Eclo 29, 1-3).
O autor faz ainda uma síntese da religião tradicional e da sabedoria comum, à luz da sua própria experiência.
O tradutor grego quis tornar este manual de conduta acessível a todos aqueles ‘que, em terra estrangeira, querem instruir-se, reformar os seus costumes e viver segundo a Lei’ (Prólogo).
A identificação entre a sabedoria e a Lei de Deus (24,23) é a afirmação mais inovadora e característica de Ben Sira, tal como é inovadora a inserção da História no gênero sapiencial:
Estendi meus galhos como um terebinto, meus ramos são de honra e de graça. Cresci como a vinha de frutos de agradável odor, e minhas flores são frutos de glória e abundância (Eclo 24, 22-23).
A série de personagens da História de Israel, cujo relato se apresenta na parte final do livro (44,1-50,21), tem o objetivo pedagógico de despertar o orgulho em pertencer a um povo de grandes homens.
Porque eles seguiram a Palavra de Deus com toda a fé e coragem e foram bem sucedidos, são uma lição para o povo e serão sempre lembrados na posteridade.
Ben Sira defende a fé tradicional do seu povo: Deus é eterno e único (18,1; 36,4; 42,21), é autor de uma criação perfeita, apesar dos seus mistérios e contradições aparentes (42,21.24); e, diante dela, o próprio Ben Sira, como o salmista, enche-se de um especial entusiasmo (39,12-35; 42,15-43,33).
Deus tudo conhece (42,15-25); ‘Ele é tudo’ (43,27), governa o universo com justiça e prudência (16,17-23) e retribui com equidade (33,13); é misericordioso, capaz de perdoar e de salvar no tempo da aflição (2,11); é Pai, não apenas de Israel, de quem é o Deus único (17,17-18; 24,12), mas também de cada indivíduo (23,1).
Esta concepção constitui um progresso considerável na teologia do judaísmo.
Livros do Antigo Testamento (104)
03/05/2019 12:15 - Atualizado em 03/05/2019 12:15
Neste artigo concluiremos a exposição do estupendo Livro do Eclesiástico, ou Ben Sira. E assim encerramos mais uma etapa do estudo bíblico do Antigo Testamento, tendo realizado um sobrevoo panorâmico sobre os sete livros Sapienciais.
TEOLOGIA
O livro de Ben Sira testemunha uma época de transição na qual já se começam a esboçar os traços característicos do judaísmo como forma evoluída de religião bíblica. Trata-se de um judaísmo poliforme, no qual o próprio cristianismo viria lançar raízes.
Mas é diferente da tendência rabínica posterior, a que o ramo preponderante do farisaísmo, especialmente a partir de 70 da nossa era, viria dar um aspecto monolítico.
Do confronto helenismo-judaísmo, Ben Sira assimila o que considera bom e compatível com a sua fé, mas rejeita o que se opõe à essência da fé judaica e alerta para os perigos da cultura envolvente e dominante.
A respeito do Cânon das Escrituras, o Prólogo menciona já a divisão tripartida “Lei, Profetas e os outros livros” (39,1-3), e o próprio livro cita ou menciona, mais ou menos diretamente, muitos desses livros sagrados:
O sábio procura cuidadosamente a sabedoria de todos os antigos, e aplica-se ao estudo dos profetas. Guarda no coração as narrativas dos homens célebres, e penetra ao mesmo tempo nos mistérios das máximas. Penetra nos segredos dos provérbios, e vive com o sentido oculto das parábolas (Eclo 29, 1-3).
O autor faz ainda uma síntese da religião tradicional e da sabedoria comum, à luz da sua própria experiência.
O tradutor grego quis tornar este manual de conduta acessível a todos aqueles ‘que, em terra estrangeira, querem instruir-se, reformar os seus costumes e viver segundo a Lei’ (Prólogo).
A identificação entre a sabedoria e a Lei de Deus (24,23) é a afirmação mais inovadora e característica de Ben Sira, tal como é inovadora a inserção da História no gênero sapiencial:
Estendi meus galhos como um terebinto, meus ramos são de honra e de graça. Cresci como a vinha de frutos de agradável odor, e minhas flores são frutos de glória e abundância (Eclo 24, 22-23).
A série de personagens da História de Israel, cujo relato se apresenta na parte final do livro (44,1-50,21), tem o objetivo pedagógico de despertar o orgulho em pertencer a um povo de grandes homens.
Porque eles seguiram a Palavra de Deus com toda a fé e coragem e foram bem sucedidos, são uma lição para o povo e serão sempre lembrados na posteridade.
Ben Sira defende a fé tradicional do seu povo: Deus é eterno e único (18,1; 36,4; 42,21), é autor de uma criação perfeita, apesar dos seus mistérios e contradições aparentes (42,21.24); e, diante dela, o próprio Ben Sira, como o salmista, enche-se de um especial entusiasmo (39,12-35; 42,15-43,33).
Deus tudo conhece (42,15-25); ‘Ele é tudo’ (43,27), governa o universo com justiça e prudência (16,17-23) e retribui com equidade (33,13); é misericordioso, capaz de perdoar e de salvar no tempo da aflição (2,11); é Pai, não apenas de Israel, de quem é o Deus único (17,17-18; 24,12), mas também de cada indivíduo (23,1).
Esta concepção constitui um progresso considerável na teologia do judaísmo.
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