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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 14/05/2024

14 de Maio de 2024

Livros do Antigo Testamento (103)

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14 de Maio de 2024

Livros do Antigo Testamento (103)

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26/04/2019 17:51 - Atualizado em 26/04/2019 17:51

Livros do Antigo Testamento (103) 0

26/04/2019 17:51 - Atualizado em 26/04/2019 17:51

Neste artigo prosseguimos a exposição do livro do estupendo Livro do Eclesiástico, ou Ben Sira. Completaremos, assim, nosso voo panorâmico sobre os sete livros sapienciais.

DATAÇÃO E AUTORIA (cont.)

Com outros judeus piedosos, pressente o fim da coexistência pacífica entre o helenismo e o judaísmo e prevê o momento da cisão entre as duas visões diferentes do mundo.

Em 198 a.C., depois da batalha de Pânias, a Palestina passou do domínio dos Ptolomeus do Egito para uma outra, mais hostil, dos Selêucidas de Antioquia da Síria. Antíoco III (223-187) e o seu sucessor Seleuco IV (187-175) ainda foram bastante favoráveis aos judeus, concedendo-lhes privilégios e isenções, contribuindo até, pessoalmente, para as despesas do culto no templo (2 Mac 3,3).

Mas a situação política precipitou-se rapidamente com Antíoco Epifânio (175-164), que, devido ao jogo de influências, destituiu Onias III do cargo de Sumo Sacerdote e desencadeou uma violenta perseguição contra os seus opositores.

Esta situação política posterior a Ben Sira, aliada à situação religiosa e cultural acima descrita, viria a provocar a sublevação judaica chefiada pelos Macabeus.

Foi precisamente perante a invasão avassaladora do helenismo que ele escreveu para defender o patrimônio religioso, histórico, sapiencial e cultural do judaísmo, a sua concepção de Deus, do mundo e da eleição privilegiada de Israel.

Neste livro procura convencer os seus compatriotas de que possuem, na sua Lei revelada, a sabedoria autêntica e, por isso, não devem capitular perante o pensamento e a civilização dos gregos.

O LIVRO

Originariamente, Ben Sira foi escrito em hebraico; mas esse texto, perdido durante séculos, só foi descoberto a partir de 1896 na velha sinagoga do Cairo, em diversos fragmentos de vários manuscritos medievais.

Mais tarde, outros pequenos fragmentos foram encontrados numa gruta de Qumran.

Em 1964, foi encontrado na fortaleza de Massada, junto ao Mar Morto, um longo texto que abrange 39,27-44,17, numa escrita do início do século I a.C..

O texto hebraico ainda foi conhecido por São Jerônimo, que faleceu em 419.

Felizmente já havia, pelo menos, uma tradução grega, feita no Egito pelo neto do autor. Foi esta que entrou para a Bíblia grega, sendo depois aceita pela Igreja como texto canônico. O autor da tradução acrescenta-lhe um prólogo.

Hoje, se reconhecem dois estados do texto hebraico: um antigo, que serviu de base à versão grega feita no Egito por volta de 130 a.C. (texto grego I); outro mais recente, revisto na perspectiva das ideias farisaicas, entre 50 e 150 da nossa era, e utilizado para uma revisão do texto grego, entre 130 e 215 da nossa era (texto grego II).

A versão siríaca estará ligada ao texto hebraico revisto.

O texto seguido na Bíblia católica é o tradicional da tradução grega dos Setenta (texto longo), inclusive entre os capítulos 30 e 36, nos quais algumas traduções optam pela ordem da Vulgata[1] e do Siríaco[2].

DIVISÃO DO LIVRO

O livro pode dividir-se pelo menos em duas etapas: 1-23 e 24-50, começando cada uma delas por um elogio da sabedoria.

Alguns autores apresentam outra divisão, também em duas partes, depois do Prólogo:

  • Uma primeira parte propriamente sapiencial, segundo o gênero e o estilo dos provérbios (1,1-42,14);
  • Uma segunda parte que é mais de meditação sobre as obras de Deus na Criação e na História (42,15-50,29).

 



[1] ‘Vulgata’ é a forma latina abreviada de vulgata editio ou vulgata versio ou vulgata lectio, respectivamente, ‘edição, tradução ou leitura de divulgação popular’ - a versão mais difundida (ou mais aceita como autêntica) de um texto. No sentido corrente, ‘Vulgata’ é a tradução para o latim da Bíblia, escrita entre fins do século IV início do século V por São Jerônimo, a pedido do Papa Dâmaso I, que foi usada pela Igreja Cristã e ainda é muito respeitada. Nos seus primeiros séculos, a Igreja serviu-se, sobretudo, da língua grega. Foi nesta língua que foi escrito todo o Novo Testamento, incluindo a Carta aos Romanos, de São Paulo, bem como muitos escritos cristãos de séculos seguintes. No século IV, a situação já havia mudado, e é então que o importante biblista São Jerônimo traduziu, pelo menos, o Antigo Testamento para o latim e reviu a Vetus Latina. A Vulgata foi produzida para ser mais exata e mais fácil de compreender do que suas predecessoras. Foi a primeira, e por séculos a única, versão da Bíblia que verteu o Velho Testamento diretamente do hebraico e não da tradução grega conhecida como Septuaginta. No Novo Testamento, São Jerônimo selecionou e revisou textos. Chama-se, pois, Vulgata a esta versão latina da Bíblia que foi usada pela Igreja Católica Romana durante muitos séculos, e ainda hoje é fonte para diversas traduções. Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Vulgata

[2] A ‘Peshito ou Peshitta’ (siríaco clássico: ܦܫܝܛܬܐ‎ pšîṭtâ) é a versão padrão da Bíblia para as igrejas na tradição siríaca (ܠܫܢܐ ܣܘܪܝܝܐ - "L'shana Suryaya"). O nome é derivado do siríaco mappaqtâ pshîṭtâ; (ܡܦܩܬܐ ܦܫܝܛܬܐ), significando literalmente ‘a versão simples’. Entretanto, é também possível traduzir o nome pshîṭtâ como ‘terra comum’ (isto é, para todos os povos) ou ‘correcto’, traduzido usualmente como ‘simples’. Siríaco ("sy") é um dialecto (ou grupo de dialectos) do aramaico oriental que se escreve utilizando o alfabeto siríaco e é transliterado para o alfabeto latino de diferentes maneiras: ‘Peshitta’, ‘Peshittâ’, ‘Pshitta’, ‘Pšittâ’, ‘Pshitto’, ‘Fshitto’. Todas estas são aceitáveis, mas os termos ‘Peshitta’ ou ‘Peshito’ são as traduções mais convenientes em português. O consenso dentro do conhecimento bíblico, apesar de não universal, é que o Antigo Testamento da Peshitta foi traduzido em siríaco do hebraico, provavelmente no século 2 DC e que o Novo Testamento da Peshitta foi traduzido do grego.[1] Este Novo Testamento, originalmente excluindo certos livros contestados (2 Pedro, 2 João, 3 João, Judas, Apocalipse), tornou-se um padrão no início do século V. Os cinco livros excluídos foram adicionados na Versão Harklean (616 DC) de Tomas de Harqel. Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Peshitta

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Livros do Antigo Testamento (103)

26/04/2019 17:51 - Atualizado em 26/04/2019 17:51

Neste artigo prosseguimos a exposição do livro do estupendo Livro do Eclesiástico, ou Ben Sira. Completaremos, assim, nosso voo panorâmico sobre os sete livros sapienciais.

DATAÇÃO E AUTORIA (cont.)

Com outros judeus piedosos, pressente o fim da coexistência pacífica entre o helenismo e o judaísmo e prevê o momento da cisão entre as duas visões diferentes do mundo.

Em 198 a.C., depois da batalha de Pânias, a Palestina passou do domínio dos Ptolomeus do Egito para uma outra, mais hostil, dos Selêucidas de Antioquia da Síria. Antíoco III (223-187) e o seu sucessor Seleuco IV (187-175) ainda foram bastante favoráveis aos judeus, concedendo-lhes privilégios e isenções, contribuindo até, pessoalmente, para as despesas do culto no templo (2 Mac 3,3).

Mas a situação política precipitou-se rapidamente com Antíoco Epifânio (175-164), que, devido ao jogo de influências, destituiu Onias III do cargo de Sumo Sacerdote e desencadeou uma violenta perseguição contra os seus opositores.

Esta situação política posterior a Ben Sira, aliada à situação religiosa e cultural acima descrita, viria a provocar a sublevação judaica chefiada pelos Macabeus.

Foi precisamente perante a invasão avassaladora do helenismo que ele escreveu para defender o patrimônio religioso, histórico, sapiencial e cultural do judaísmo, a sua concepção de Deus, do mundo e da eleição privilegiada de Israel.

Neste livro procura convencer os seus compatriotas de que possuem, na sua Lei revelada, a sabedoria autêntica e, por isso, não devem capitular perante o pensamento e a civilização dos gregos.

O LIVRO

Originariamente, Ben Sira foi escrito em hebraico; mas esse texto, perdido durante séculos, só foi descoberto a partir de 1896 na velha sinagoga do Cairo, em diversos fragmentos de vários manuscritos medievais.

Mais tarde, outros pequenos fragmentos foram encontrados numa gruta de Qumran.

Em 1964, foi encontrado na fortaleza de Massada, junto ao Mar Morto, um longo texto que abrange 39,27-44,17, numa escrita do início do século I a.C..

O texto hebraico ainda foi conhecido por São Jerônimo, que faleceu em 419.

Felizmente já havia, pelo menos, uma tradução grega, feita no Egito pelo neto do autor. Foi esta que entrou para a Bíblia grega, sendo depois aceita pela Igreja como texto canônico. O autor da tradução acrescenta-lhe um prólogo.

Hoje, se reconhecem dois estados do texto hebraico: um antigo, que serviu de base à versão grega feita no Egito por volta de 130 a.C. (texto grego I); outro mais recente, revisto na perspectiva das ideias farisaicas, entre 50 e 150 da nossa era, e utilizado para uma revisão do texto grego, entre 130 e 215 da nossa era (texto grego II).

A versão siríaca estará ligada ao texto hebraico revisto.

O texto seguido na Bíblia católica é o tradicional da tradução grega dos Setenta (texto longo), inclusive entre os capítulos 30 e 36, nos quais algumas traduções optam pela ordem da Vulgata[1] e do Siríaco[2].

DIVISÃO DO LIVRO

O livro pode dividir-se pelo menos em duas etapas: 1-23 e 24-50, começando cada uma delas por um elogio da sabedoria.

Alguns autores apresentam outra divisão, também em duas partes, depois do Prólogo:

  • Uma primeira parte propriamente sapiencial, segundo o gênero e o estilo dos provérbios (1,1-42,14);
  • Uma segunda parte que é mais de meditação sobre as obras de Deus na Criação e na História (42,15-50,29).

 



[1] ‘Vulgata’ é a forma latina abreviada de vulgata editio ou vulgata versio ou vulgata lectio, respectivamente, ‘edição, tradução ou leitura de divulgação popular’ - a versão mais difundida (ou mais aceita como autêntica) de um texto. No sentido corrente, ‘Vulgata’ é a tradução para o latim da Bíblia, escrita entre fins do século IV início do século V por São Jerônimo, a pedido do Papa Dâmaso I, que foi usada pela Igreja Cristã e ainda é muito respeitada. Nos seus primeiros séculos, a Igreja serviu-se, sobretudo, da língua grega. Foi nesta língua que foi escrito todo o Novo Testamento, incluindo a Carta aos Romanos, de São Paulo, bem como muitos escritos cristãos de séculos seguintes. No século IV, a situação já havia mudado, e é então que o importante biblista São Jerônimo traduziu, pelo menos, o Antigo Testamento para o latim e reviu a Vetus Latina. A Vulgata foi produzida para ser mais exata e mais fácil de compreender do que suas predecessoras. Foi a primeira, e por séculos a única, versão da Bíblia que verteu o Velho Testamento diretamente do hebraico e não da tradução grega conhecida como Septuaginta. No Novo Testamento, São Jerônimo selecionou e revisou textos. Chama-se, pois, Vulgata a esta versão latina da Bíblia que foi usada pela Igreja Católica Romana durante muitos séculos, e ainda hoje é fonte para diversas traduções. Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Vulgata

[2] A ‘Peshito ou Peshitta’ (siríaco clássico: ܦܫܝܛܬܐ‎ pšîṭtâ) é a versão padrão da Bíblia para as igrejas na tradição siríaca (ܠܫܢܐ ܣܘܪܝܝܐ - "L'shana Suryaya"). O nome é derivado do siríaco mappaqtâ pshîṭtâ; (ܡܦܩܬܐ ܦܫܝܛܬܐ), significando literalmente ‘a versão simples’. Entretanto, é também possível traduzir o nome pshîṭtâ como ‘terra comum’ (isto é, para todos os povos) ou ‘correcto’, traduzido usualmente como ‘simples’. Siríaco ("sy") é um dialecto (ou grupo de dialectos) do aramaico oriental que se escreve utilizando o alfabeto siríaco e é transliterado para o alfabeto latino de diferentes maneiras: ‘Peshitta’, ‘Peshittâ’, ‘Pshitta’, ‘Pšittâ’, ‘Pshitto’, ‘Fshitto’. Todas estas são aceitáveis, mas os termos ‘Peshitta’ ou ‘Peshito’ são as traduções mais convenientes em português. O consenso dentro do conhecimento bíblico, apesar de não universal, é que o Antigo Testamento da Peshitta foi traduzido em siríaco do hebraico, provavelmente no século 2 DC e que o Novo Testamento da Peshitta foi traduzido do grego.[1] Este Novo Testamento, originalmente excluindo certos livros contestados (2 Pedro, 2 João, 3 João, Judas, Apocalipse), tornou-se um padrão no início do século V. Os cinco livros excluídos foram adicionados na Versão Harklean (616 DC) de Tomas de Harqel. Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Peshitta

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos
Autor

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos

Doutor em Teologia Bíblica