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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 14/05/2024

14 de Maio de 2024

Livros do Antigo Testamento (96)

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Livros do Antigo Testamento (96)

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08/03/2019 12:00 - Atualizado em 08/03/2019 12:00

Livros do Antigo Testamento (96) 0

08/03/2019 12:00 - Atualizado em 08/03/2019 12:00

Neste artigo prosseguiremos nas questões gerais do Livro ditos Sapienciais (da Sabedoria), sete livros, que nos transmitiram a poesia, a sabedoria popular e espiritualidade do Povo de Israel ao longo de sua trajetória. O contato com Revelação tornou o Povo de Deus sábio e piedoso, ao mesmo tempo, que a prática dos mandamentos cultivava neste Povo os traços da Santidade Divina. O Livro dos Provérbios está entre os mais interessantes.

INTRODUÇÃO

Provérbios é o primeiro e o mais representativo documento da literatura sapiencial de Israel registrada nas Sagradas Escrituras.

Não se trata de uma unidade literária, mas de uma reunião de coleções heterogêneas, com origens e datações de origem diversas. A formação do livro dos Provérbios parece cobrir um período de tempo que se estende do séc. X ao séc. V a.C.. A tradição hebraica é unânime na aceitação do livro dos Provérbios, o que quer dizer que não se trata de uma obra Deuterocanônica1.

O NT cita-o várias vezes por seu teor de ensinamento prático. E a Igreja primitiva utilizou-o na catequese moral para os catecúmenos. De fato, ainda hoje este livro nos ensina a ciência da vida. À semelhança da poesia hebraica, os provérbios possuem uma essência poética, um ritmo forte de ideias, porém, difere dos salmos, que na sua maioria são cânticos proféticos compostos para serem entoados com instrumentos musicais de corda (Mizmor) ou sem instrumento (Shir).

A semelhança fica somente por conta do valor das ideias, como se dava com o cântico satírico (Mashal – termo derivado de uma raiz que significa “ser como”), que geralmente se dá por estabelecer comparações e equivalências entre as ideias. A poesia hebraica valoriza a ideia em detrimento do ritmo e da rima, diferença significativa com relação à poesia ocidental. A poesia hebraica é composta na essência de paralelismo, que é uma espécie de rima e ritmo de pensamentos, o que, consequentemente, estabelece um tipo de conexão lógica entre a ideia antecedente e a consequente.

Há vários tipos de paralelismo na poesia hebraica, e construção similar ocorre nos provérbios, o que permite analisar as proposições através de um sistema lógico.

O livro de provérbio constitui uma espécie de chave que permite interpretar os outros livros que compõe as Escrituras. Através dos provérbios é possível encontrar a ideia base de alguns termos que permitirá compreender uma verdade contida em outros livros. Em outras palavras, o livro de provérbios é um catalisador que permite a compreensão de enigmas e parábolas que são apresentados em outros livros. Constitui-se uma chave mestra que permite abrir outros livros à compreensão2.

AUTORIA

Provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de Israel (Prov 1,1).

O livro é atribuído ao Rei Salomão e há razões que se podem apontar como justificativas disso: a tradição considera este rei especialmente dotado com o dom de sabedoria (1 Rs 3,9-12; 5,12-14; 10,1-9) e foi ele o patrocinador e o autêntico fundador da tradição da sabedoria em Israel:

Dai, pois, ao vosso servo um coração sábio, capaz de julgar o vosso povo e discernir entre o bem e o mal. Pois sem isso quem poderia julgar o vosso povo tão numeroso?”. O Senhor agradou-se dessa oração e disse a Salomão: “Pois que me fizeste esse pedido e não pediste nem longa vida, nem riqueza, nem a morte de teus inimigos, mas sim inteligência para praticar a justiça. Vou satisfazer o teu desejo. Eu te dou um coração tão sábio e inteligente como nunca houve outro igual antes de ti e nem haverá depois de ti” (1Rs 3,9-12)

Esta atribuição autoral a Salomão talvez não signifique que ele o tenha escrito pessoalmente, provavelmente alguns provérbios, mas que este texto tem a autoridade do maior sábio da história de Israel. A ele se atribuem as duas coleções basilares da obra, com máximas que podem remontar, em parte, ao início da monarquia:

10,1-22,16, com o título de ‘Provérbios de Salomão’

25-29, introduzida pela expressão: ‘Também estas são sentenças de Salomão, recolhidas pelos homens de Ezequias, rei de Judá.’

Por tudo isso, o livro é apresentado como sendo de Salomão. Mas o subtítulo das pequenas seções, mencionando sábios anônimos (22,17-24,34) e as sentenças de Agur e de Lemuel (30,1-31,9) demonstraram a pertença do Livro dos Provérbios aos círculos sapienciais da Corte de Salomão, o Sábio.

O GÊNERO LITERÁRIO

Dadas as dificuldades provenientes de um estilo incisivo e sintético e dos assuntos que são conectados em uma unidade linear, as antigas traduções Setenta (grego) e a Vulgata (latim) apresentam notáveis diferenças em relação ao texto hebraico atual: A tradução da Setenta (sec. IIIo a.C) dá-nos um texto bastante mais longo e com ordem diferente na distribuição das perícopes; a tradução da Vulgata (sec. Vo d.C) é mais próxima do texto hebraico, mas sofreu também influência da Setenta.

No aspecto literário, o livro evolui das formas mais simples de máximas breves - aquilo que tecnicamente recebe a designação de ‘mashal’3 - para outras mais complexas e elaboradas de sentenças, aforismos, enigmas e até algumas reflexões teológicas.

Tudo é expresso em forma poética, na qual encontramos o paralelismo sinonímico, antitético e sintético, embora este com menos frequência; e também em forma de comparações, de poemas numéricos e alfabéticos.

Isto confere à obra uma grande riqueza literária. Essa evolução formal reflete igualmente uma evolução na própria concepção de sabedoria, que vai da simples capacidade e habilidade humanas, mais ou menos de sabor profano, a uma realidade mais transcendente que pertence à esfera divina.

O livro enquadra-se no contexto do movimento sapiencial do Médio Oriente antigo, donde recebe a mesma inspiração temática e expressiva. Por isso, não é de admirar a atribuição de duas pequenas coleções a sábios estrangeiros (30,1-14; 31,1-9) e a grande afinidade entre 22,17-23,11.

 

1 O termo ‘deuterocanônico’ refere-se a um conjunto de sete livros que estão presentes na Septuaginta, antiga tradução em grego do Antigo Testamento. O judaísmo, após o Sínodo de Jâmnia, concílio rabínico farisaico, realizado entre o final do Século I d.C e o início do Século II d.C, não os considerou canônicos, bem como alguns grupos cristãos, comumente os Protestantes. Foram posteriormente admitidos como autênticos pelo Concílio de Roma em 382 d.C., de Hipona em 393 d.C., III Concílio de Cartago em 397, e no Concílio de Trento, iniciado em 1546. Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Livros_deuterocan%C3%B4nicos

2http://estudosbiblicos.org/objetivo-do-livro-de-proverbios/

3Um Mashal é uma parábola curta com uma lição moral ou alegoria religiosa, chamada nimshal. ‘Mashal’ é usado também para designar outras formas de retórica, como a fábula e o apotegma. https://www.google.com/search?q=mashal&oq=mashal&aqs=chrome..69i57j0l5.2505j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8

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Livros do Antigo Testamento (96)

08/03/2019 12:00 - Atualizado em 08/03/2019 12:00

Neste artigo prosseguiremos nas questões gerais do Livro ditos Sapienciais (da Sabedoria), sete livros, que nos transmitiram a poesia, a sabedoria popular e espiritualidade do Povo de Israel ao longo de sua trajetória. O contato com Revelação tornou o Povo de Deus sábio e piedoso, ao mesmo tempo, que a prática dos mandamentos cultivava neste Povo os traços da Santidade Divina. O Livro dos Provérbios está entre os mais interessantes.

INTRODUÇÃO

Provérbios é o primeiro e o mais representativo documento da literatura sapiencial de Israel registrada nas Sagradas Escrituras.

Não se trata de uma unidade literária, mas de uma reunião de coleções heterogêneas, com origens e datações de origem diversas. A formação do livro dos Provérbios parece cobrir um período de tempo que se estende do séc. X ao séc. V a.C.. A tradição hebraica é unânime na aceitação do livro dos Provérbios, o que quer dizer que não se trata de uma obra Deuterocanônica1.

O NT cita-o várias vezes por seu teor de ensinamento prático. E a Igreja primitiva utilizou-o na catequese moral para os catecúmenos. De fato, ainda hoje este livro nos ensina a ciência da vida. À semelhança da poesia hebraica, os provérbios possuem uma essência poética, um ritmo forte de ideias, porém, difere dos salmos, que na sua maioria são cânticos proféticos compostos para serem entoados com instrumentos musicais de corda (Mizmor) ou sem instrumento (Shir).

A semelhança fica somente por conta do valor das ideias, como se dava com o cântico satírico (Mashal – termo derivado de uma raiz que significa “ser como”), que geralmente se dá por estabelecer comparações e equivalências entre as ideias. A poesia hebraica valoriza a ideia em detrimento do ritmo e da rima, diferença significativa com relação à poesia ocidental. A poesia hebraica é composta na essência de paralelismo, que é uma espécie de rima e ritmo de pensamentos, o que, consequentemente, estabelece um tipo de conexão lógica entre a ideia antecedente e a consequente.

Há vários tipos de paralelismo na poesia hebraica, e construção similar ocorre nos provérbios, o que permite analisar as proposições através de um sistema lógico.

O livro de provérbio constitui uma espécie de chave que permite interpretar os outros livros que compõe as Escrituras. Através dos provérbios é possível encontrar a ideia base de alguns termos que permitirá compreender uma verdade contida em outros livros. Em outras palavras, o livro de provérbios é um catalisador que permite a compreensão de enigmas e parábolas que são apresentados em outros livros. Constitui-se uma chave mestra que permite abrir outros livros à compreensão2.

AUTORIA

Provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de Israel (Prov 1,1).

O livro é atribuído ao Rei Salomão e há razões que se podem apontar como justificativas disso: a tradição considera este rei especialmente dotado com o dom de sabedoria (1 Rs 3,9-12; 5,12-14; 10,1-9) e foi ele o patrocinador e o autêntico fundador da tradição da sabedoria em Israel:

Dai, pois, ao vosso servo um coração sábio, capaz de julgar o vosso povo e discernir entre o bem e o mal. Pois sem isso quem poderia julgar o vosso povo tão numeroso?”. O Senhor agradou-se dessa oração e disse a Salomão: “Pois que me fizeste esse pedido e não pediste nem longa vida, nem riqueza, nem a morte de teus inimigos, mas sim inteligência para praticar a justiça. Vou satisfazer o teu desejo. Eu te dou um coração tão sábio e inteligente como nunca houve outro igual antes de ti e nem haverá depois de ti” (1Rs 3,9-12)

Esta atribuição autoral a Salomão talvez não signifique que ele o tenha escrito pessoalmente, provavelmente alguns provérbios, mas que este texto tem a autoridade do maior sábio da história de Israel. A ele se atribuem as duas coleções basilares da obra, com máximas que podem remontar, em parte, ao início da monarquia:

10,1-22,16, com o título de ‘Provérbios de Salomão’

25-29, introduzida pela expressão: ‘Também estas são sentenças de Salomão, recolhidas pelos homens de Ezequias, rei de Judá.’

Por tudo isso, o livro é apresentado como sendo de Salomão. Mas o subtítulo das pequenas seções, mencionando sábios anônimos (22,17-24,34) e as sentenças de Agur e de Lemuel (30,1-31,9) demonstraram a pertença do Livro dos Provérbios aos círculos sapienciais da Corte de Salomão, o Sábio.

O GÊNERO LITERÁRIO

Dadas as dificuldades provenientes de um estilo incisivo e sintético e dos assuntos que são conectados em uma unidade linear, as antigas traduções Setenta (grego) e a Vulgata (latim) apresentam notáveis diferenças em relação ao texto hebraico atual: A tradução da Setenta (sec. IIIo a.C) dá-nos um texto bastante mais longo e com ordem diferente na distribuição das perícopes; a tradução da Vulgata (sec. Vo d.C) é mais próxima do texto hebraico, mas sofreu também influência da Setenta.

No aspecto literário, o livro evolui das formas mais simples de máximas breves - aquilo que tecnicamente recebe a designação de ‘mashal’3 - para outras mais complexas e elaboradas de sentenças, aforismos, enigmas e até algumas reflexões teológicas.

Tudo é expresso em forma poética, na qual encontramos o paralelismo sinonímico, antitético e sintético, embora este com menos frequência; e também em forma de comparações, de poemas numéricos e alfabéticos.

Isto confere à obra uma grande riqueza literária. Essa evolução formal reflete igualmente uma evolução na própria concepção de sabedoria, que vai da simples capacidade e habilidade humanas, mais ou menos de sabor profano, a uma realidade mais transcendente que pertence à esfera divina.

O livro enquadra-se no contexto do movimento sapiencial do Médio Oriente antigo, donde recebe a mesma inspiração temática e expressiva. Por isso, não é de admirar a atribuição de duas pequenas coleções a sábios estrangeiros (30,1-14; 31,1-9) e a grande afinidade entre 22,17-23,11.

 

1 O termo ‘deuterocanônico’ refere-se a um conjunto de sete livros que estão presentes na Septuaginta, antiga tradução em grego do Antigo Testamento. O judaísmo, após o Sínodo de Jâmnia, concílio rabínico farisaico, realizado entre o final do Século I d.C e o início do Século II d.C, não os considerou canônicos, bem como alguns grupos cristãos, comumente os Protestantes. Foram posteriormente admitidos como autênticos pelo Concílio de Roma em 382 d.C., de Hipona em 393 d.C., III Concílio de Cartago em 397, e no Concílio de Trento, iniciado em 1546. Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Livros_deuterocan%C3%B4nicos

2http://estudosbiblicos.org/objetivo-do-livro-de-proverbios/

3Um Mashal é uma parábola curta com uma lição moral ou alegoria religiosa, chamada nimshal. ‘Mashal’ é usado também para designar outras formas de retórica, como a fábula e o apotegma. https://www.google.com/search?q=mashal&oq=mashal&aqs=chrome..69i57j0l5.2505j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos
Autor

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos

Doutor em Teologia Bíblica