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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 14/05/2024

14 de Maio de 2024

Livros do Antigo Testamento (94)

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Livros do Antigo Testamento (94)

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22/02/2019 11:23 - Atualizado em 22/02/2019 11:24

Livros do Antigo Testamento (94) 0

22/02/2019 11:23 - Atualizado em 22/02/2019 11:24

No atual artigo prosseguimos no estudo sobre o riquíssimo Livro dos Salmos, iniciado no artigo anterior. Poesia, liturgia e teologia. A lírica salmódica não afasta a linguagem figurada do húmus da história de Israel, da qual se quer engrandecer a Deus e ensinar Israel a amá-Lo e seguir seus mandamentos. No centro do saltério percebe-se a haggadá1: a narração da Páscoa.

USO DO SALTÉRIO NA BÍBLIA

Os salmos para o Povo de Israel não tinham tanta importância como os livros atribuídos a Moisés, por exemplo. Daí terem sido colocados na terceira seção, a dos “Escritos”, depois da “Lei” (Torá) e dos “Profetas”.

Há nesta gradação algum escalonamento quanto à respectiva valorização teológica. Mas, na vida religiosa, os salmos representavam um patrimônio muito utilizado e um elo fundamental de transmissão da fé; alguns deles são, seguramente, dos textos mais repetidos de toda a Bíblia.

Do judaísmo ao cristianismo, a vivência religiosa de grande parte da Humanidade teve o seu alimento e a sua expressão mais natural no texto dos salmos.

Se pensarmos que o modelo básico e até um ou outro salmo podem ter vindo diretamente da cultura religiosa de Canaã anterior aos hebreus, maior é o seu percurso e a sua representatividade.

Cantar um salmo, hoje‚ é um ato de comunhão religiosa e humana que atravessa milênios de experiência religiosa e litúrgica.

A ESTRUTURA DO LIVRO DOS SALMOS

O Saltério engloba, na atual Bíblia hebraica, um conjunto de 150 cânticos de que os Sl 1 e 2 constituem a abertura e o Sl 150 representa o encerramento.

Feliz o homem que não procede conforme o conselho dos ímpios, não trilha o caminho dos pecadores, nem se assenta entre os escarnecedores. Feliz aquele que se compraz no serviço do Senhor e medita sua lei dia e noite. Ele é como a árvore plantada na margem das águas correntes: dá fruto na época própria, sua folhagem não murchará jamais. Tudo o que empreende, prospera (Sl 1, 1-3)

Aleluia. Louvai o Senhor em seu santuário, louvai-O em seu majestoso firmamento. Louvai-O por suas obras maravilhosas, louvai-O por sua majestade infinita. Louvai-O ao som da trombeta, louvai-O com a lira e a cítara. Louvai-O com tímpanos e danças, louvai-O com a harpa e a flauta. Louvai-O com címbalos sonoros, louvai-O com címbalos retumbantes. Tudo o que respira louve o Senhor! (Sl 150, 1-5).

Mas, na história antiga do texto bíblico, as numerações dos Salmos variaram bastante, sem que se modificasse o seu conteúdo literário. Este conjunto de cânticos era dividido de maneiras diferentes, de tal modo que resultava um número umas vezes inferior e outras, superior ao de 150, que se tornou o número canônico no texto hebraico. Um resto desta antiga variedade na numeração dos Salmos é aquela que ficou na tradução grega dos Setenta, de onde transitou para as traduções latinas dela dependentes e ainda se encontra em antigas traduções portuguesas.

Muitas vezes encontramos em nossas Bíblias e nos folhetos de missa dois números diferentes em cima de um Salmo. Um número está entre parênteses. E, em geral, a diferença entre os dois números não passa de um. Por que acontece isso?

Precisa ser dito, por primeiro, que os Salmos foram escritos, originalmente, na língua hebraica. Assim chegaram a fazer parte das Sagradas Escrituras do povo judeu. Posteriormente, por sua vez, também os cristãos acolheram essas tradições – e, com isso, os Salmos – como suas Sagradas Escrituras, lendo tais textos como primeira parte de sua Bíblia, ou seja, como Antigo Testamento.

A numeração diferente dos Salmos, no entanto, tem a ver com as antigas traduções da Bíblia hebraica. Já no século 3° antes de Cristo, surge, como parte da história do povo judeu, a primeira tradução dos textos hebraicos das Sagradas Escrituras para o grego, conhecida como “Septuaginta” ou “Setenta”.

Ao traduzir os Salmos acontece o seguinte: a tradução grega junta os Salmos 9 e 10 e os Salmos 114 e 115. Em cada caso, dois Salmos são unidos para sobrar um só. Com os Salmos 116 e 147, porém, acontece justamente o contrário. Ou seja: o que é um Salmo na Bíblia hebraica torna-se dois Salmos na tradução grega.

A numeração nas duas Bíblias é a seguinte:

            BÍBLIA                  SETENTA E

        HEBRAICA               VULGATA

                1-8                               1-8

                  9                              9,1-21

                 10                           9,22-39

              11-113                          10-112

                114                            113,1-8

                115                          113,9-26

             116,1-9                            114

           116,10-19                          115

             117-146                        116-145

             147,1-11                           146

           147,12-20                         147

            148-150                       148-150

A organização de vários conjuntos no interior do Livro dos Salmos traduz também algo da história da sua composição: alguns outros Salmos foram dispersos por entre estas coleções. Temos diversas ‘Coleções’:

1) Salmos de David: 3-41 e 51-72;

2) De Asaf: 50 e 73-83;

3) De Coré”: 42-49; 84-85; 87-88;

4) Cânticos de peregrinação: 120-134;

5) Salmos de aleluia: 105-107; 111-118; 135-136; 146-150.

 

1 Hagadá ou agadá (do hebraico הגדה, transl. hagadá, ‘narração’) é o texto utilizado para os serviços da noite do Pessach, contendo a leitura da história da libertação do povo de Israel do Egito, conforme é descrito no Livro do Êxodo. Por celebrar esta libertação, o Pessach é a mais importante das festas judaicas, e cada judeu tem por mandamento narrar às futuras gerações esta libertação. A Hagadá contém a narrativa desta libertação, as orações, canções e provérbios judaicos que acompanham esta festividade. Na verdade, não existe um texto único de Hagadá: os diversos ramos do judaísmo têm suas variantes, conforme a orientação do específico rabino de cada sinagoga. Também corporações e instituições podem ter seu texto particular de Hagadá. Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Hagad%C3%A1

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Livros do Antigo Testamento (94)

22/02/2019 11:23 - Atualizado em 22/02/2019 11:24

No atual artigo prosseguimos no estudo sobre o riquíssimo Livro dos Salmos, iniciado no artigo anterior. Poesia, liturgia e teologia. A lírica salmódica não afasta a linguagem figurada do húmus da história de Israel, da qual se quer engrandecer a Deus e ensinar Israel a amá-Lo e seguir seus mandamentos. No centro do saltério percebe-se a haggadá1: a narração da Páscoa.

USO DO SALTÉRIO NA BÍBLIA

Os salmos para o Povo de Israel não tinham tanta importância como os livros atribuídos a Moisés, por exemplo. Daí terem sido colocados na terceira seção, a dos “Escritos”, depois da “Lei” (Torá) e dos “Profetas”.

Há nesta gradação algum escalonamento quanto à respectiva valorização teológica. Mas, na vida religiosa, os salmos representavam um patrimônio muito utilizado e um elo fundamental de transmissão da fé; alguns deles são, seguramente, dos textos mais repetidos de toda a Bíblia.

Do judaísmo ao cristianismo, a vivência religiosa de grande parte da Humanidade teve o seu alimento e a sua expressão mais natural no texto dos salmos.

Se pensarmos que o modelo básico e até um ou outro salmo podem ter vindo diretamente da cultura religiosa de Canaã anterior aos hebreus, maior é o seu percurso e a sua representatividade.

Cantar um salmo, hoje‚ é um ato de comunhão religiosa e humana que atravessa milênios de experiência religiosa e litúrgica.

A ESTRUTURA DO LIVRO DOS SALMOS

O Saltério engloba, na atual Bíblia hebraica, um conjunto de 150 cânticos de que os Sl 1 e 2 constituem a abertura e o Sl 150 representa o encerramento.

Feliz o homem que não procede conforme o conselho dos ímpios, não trilha o caminho dos pecadores, nem se assenta entre os escarnecedores. Feliz aquele que se compraz no serviço do Senhor e medita sua lei dia e noite. Ele é como a árvore plantada na margem das águas correntes: dá fruto na época própria, sua folhagem não murchará jamais. Tudo o que empreende, prospera (Sl 1, 1-3)

Aleluia. Louvai o Senhor em seu santuário, louvai-O em seu majestoso firmamento. Louvai-O por suas obras maravilhosas, louvai-O por sua majestade infinita. Louvai-O ao som da trombeta, louvai-O com a lira e a cítara. Louvai-O com tímpanos e danças, louvai-O com a harpa e a flauta. Louvai-O com címbalos sonoros, louvai-O com címbalos retumbantes. Tudo o que respira louve o Senhor! (Sl 150, 1-5).

Mas, na história antiga do texto bíblico, as numerações dos Salmos variaram bastante, sem que se modificasse o seu conteúdo literário. Este conjunto de cânticos era dividido de maneiras diferentes, de tal modo que resultava um número umas vezes inferior e outras, superior ao de 150, que se tornou o número canônico no texto hebraico. Um resto desta antiga variedade na numeração dos Salmos é aquela que ficou na tradução grega dos Setenta, de onde transitou para as traduções latinas dela dependentes e ainda se encontra em antigas traduções portuguesas.

Muitas vezes encontramos em nossas Bíblias e nos folhetos de missa dois números diferentes em cima de um Salmo. Um número está entre parênteses. E, em geral, a diferença entre os dois números não passa de um. Por que acontece isso?

Precisa ser dito, por primeiro, que os Salmos foram escritos, originalmente, na língua hebraica. Assim chegaram a fazer parte das Sagradas Escrituras do povo judeu. Posteriormente, por sua vez, também os cristãos acolheram essas tradições – e, com isso, os Salmos – como suas Sagradas Escrituras, lendo tais textos como primeira parte de sua Bíblia, ou seja, como Antigo Testamento.

A numeração diferente dos Salmos, no entanto, tem a ver com as antigas traduções da Bíblia hebraica. Já no século 3° antes de Cristo, surge, como parte da história do povo judeu, a primeira tradução dos textos hebraicos das Sagradas Escrituras para o grego, conhecida como “Septuaginta” ou “Setenta”.

Ao traduzir os Salmos acontece o seguinte: a tradução grega junta os Salmos 9 e 10 e os Salmos 114 e 115. Em cada caso, dois Salmos são unidos para sobrar um só. Com os Salmos 116 e 147, porém, acontece justamente o contrário. Ou seja: o que é um Salmo na Bíblia hebraica torna-se dois Salmos na tradução grega.

A numeração nas duas Bíblias é a seguinte:

            BÍBLIA                  SETENTA E

        HEBRAICA               VULGATA

                1-8                               1-8

                  9                              9,1-21

                 10                           9,22-39

              11-113                          10-112

                114                            113,1-8

                115                          113,9-26

             116,1-9                            114

           116,10-19                          115

             117-146                        116-145

             147,1-11                           146

           147,12-20                         147

            148-150                       148-150

A organização de vários conjuntos no interior do Livro dos Salmos traduz também algo da história da sua composição: alguns outros Salmos foram dispersos por entre estas coleções. Temos diversas ‘Coleções’:

1) Salmos de David: 3-41 e 51-72;

2) De Asaf: 50 e 73-83;

3) De Coré”: 42-49; 84-85; 87-88;

4) Cânticos de peregrinação: 120-134;

5) Salmos de aleluia: 105-107; 111-118; 135-136; 146-150.

 

1 Hagadá ou agadá (do hebraico הגדה, transl. hagadá, ‘narração’) é o texto utilizado para os serviços da noite do Pessach, contendo a leitura da história da libertação do povo de Israel do Egito, conforme é descrito no Livro do Êxodo. Por celebrar esta libertação, o Pessach é a mais importante das festas judaicas, e cada judeu tem por mandamento narrar às futuras gerações esta libertação. A Hagadá contém a narrativa desta libertação, as orações, canções e provérbios judaicos que acompanham esta festividade. Na verdade, não existe um texto único de Hagadá: os diversos ramos do judaísmo têm suas variantes, conforme a orientação do específico rabino de cada sinagoga. Também corporações e instituições podem ter seu texto particular de Hagadá. Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Hagad%C3%A1

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos
Autor

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos

Doutor em Teologia Bíblica