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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 14/05/2024

14 de Maio de 2024

Livros do Antigo Testamento (91)

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Livros do Antigo Testamento (91)

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01/02/2019 10:54 - Atualizado em 01/02/2019 10:55

Livros do Antigo Testamento (91) 0

01/02/2019 10:54 - Atualizado em 01/02/2019 10:55

Neste artigo iniciamos uma breve panorâmica do livro de Jó. Obras fascinantes pela sua temática tão inusitada para a mentalidade do Antigo Testamento, os sofrimentos de um Justo. Não por acaso, o cristianismo verá neste livro e na narrativa uma ‘profecia’ de Cristo, o Justo que sofre inocente por nós!

INTRODUÇÃO

A questão da autoria do livro de Jó está muito ligada aos modos e momentos segundo os quais se processou a formação deste conjunto literário. Definir a identidade de um autor por detrás da variedade literária que existe no livro, e que mais adiante analisaremos, não será fácil. É provável, no entanto, que o seu autor principal tenha sido um israelita, certamente bom conhecedor do pensamento hebraico tradicional; daí os contínuos paralelismos literários e doutrinais entre este livro e outros da Bíblia. Por outro lado, também conhecia as grandes preocupações do pensamento humanista nos países vizinhos da Bíblia. A síntese entre estes dois polos obteve um equilibrado resultado.

DATAÇÃO

A personagem central desta história é que parece não ser uma figura hebraica. O nome de Jó só aparece neste livro, em Ez 14,14.20 e Tg 5,11, como uma figura lendária do passado, situado nos tempos patriarcais e dotado de grande sabedoria:

E se Noé, Daniel e Jó se encontrassem aí – por minha vida – oráculo do Senhor Javé –, não poderiam eles garantir por sua justiça nem seus filhos nem suas filhas, mas somente a sua própria vida.

O autor israelita aproveitou tal figura para elaborar esta obra, do gênero sapiencial. Isto denota apreço pela sabedoria universal ou a vontade de reconhecer todos os valores, onde quer que eles se encontrem.

A datação do livro é outra difícil questão. Grande parte dos estudiosos situa-o após o Exílio, baseando-se quer na dúvida corajosa face às categorias do pensamento religioso tradicional, quer em certas influências aramaicas sobre o hebraico em que o livro está escrito, quer numa certa abertura ao mundo exterior a Israel, para contrariar o ambiente xenófobo que se vivia em Jerusalém, depois do Exílio (séc. V a.C.), testemunhado em Esdras e Neemias.

Mas há quem pense que o livro poderia ser bastante mais antigo. Argumentos: alguns aspectos linguísticos e o tema, que já tinha raízes em realizações muito anteriores nas literaturas do Médio Oriente Antigo.

O LIVRO

O livro de Jó constitui, no contexto da Bíblia, um dado bem característico e original.

Em primeiro lugar, porque enfrenta a questão da experiência religiosa pessoal como um objeto de reflexão, e porque o faz com uma profundidade humana e um dramatismo dignos do melhor humanismo e da mais requintada arte literária.

Em segundo lugar, porque de certa maneira, não representa diretamente a linguagem teológica mais característica do Antigo Testamento.

O fato é que este livro se impôs como um dos mais elevados momentos literários da Bíblia; e, para a História da teologia, da filosofia e da cultura, até aos dias de hoje, tornou-se um verdadeiro marco referencial da tomada de consciência dos dramas da experiência humana.

A importância que este livro assumiu na Bíblia e nas religiões bíblicas - judaísmo e cristianismo - veio-lhe também, em grande parte, do fato de nele se exprimir um dos temas máximos da cultura e da literatura humanistas do Médio Oriente Antigo.

É a questão do sofrimento e das suas repercussões, quer diretamente na experiência de quem sofre, quer indiretamente na interação que se produz entre as concepções morais e outras categorias religiosas fundamentais, tais como sofrimento e doença, pecado e castigo, santidade e felicidade.

Enfim, é o problema de saber se existe alguma correlação justa ou lógica entre a maneira honesta como se vive e a maneira como a vida nos corre.

Nos tempos bíblicos mais antigos, o Egito, a Mesopotâmia e Canaã deixaram-nos exímios exemplos literários deste esforço de reflexão. É entre eles que o livro de Jó encontra a sua base e se destaca como valor de primeira grandeza.

A maior parte do livro está escrita num hebraico de grande qualidade literária, que levanta, pelo seu estilo e vocabulário originais, algumas dificuldades de tradução.

É natural que os simples leitores de uma Bíblia o notem ao comparar várias traduções e verificar como estas assinalam dificuldades de tradução de vários termos e passagens. Muito se tem estudado sobre ele e muito há ainda a estudar até se poder atingir a melhor compreensão, tanto do vocabulário como das subtilezas de construção sintática.

 

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Livros do Antigo Testamento (91)

01/02/2019 10:54 - Atualizado em 01/02/2019 10:55

Neste artigo iniciamos uma breve panorâmica do livro de Jó. Obras fascinantes pela sua temática tão inusitada para a mentalidade do Antigo Testamento, os sofrimentos de um Justo. Não por acaso, o cristianismo verá neste livro e na narrativa uma ‘profecia’ de Cristo, o Justo que sofre inocente por nós!

INTRODUÇÃO

A questão da autoria do livro de Jó está muito ligada aos modos e momentos segundo os quais se processou a formação deste conjunto literário. Definir a identidade de um autor por detrás da variedade literária que existe no livro, e que mais adiante analisaremos, não será fácil. É provável, no entanto, que o seu autor principal tenha sido um israelita, certamente bom conhecedor do pensamento hebraico tradicional; daí os contínuos paralelismos literários e doutrinais entre este livro e outros da Bíblia. Por outro lado, também conhecia as grandes preocupações do pensamento humanista nos países vizinhos da Bíblia. A síntese entre estes dois polos obteve um equilibrado resultado.

DATAÇÃO

A personagem central desta história é que parece não ser uma figura hebraica. O nome de Jó só aparece neste livro, em Ez 14,14.20 e Tg 5,11, como uma figura lendária do passado, situado nos tempos patriarcais e dotado de grande sabedoria:

E se Noé, Daniel e Jó se encontrassem aí – por minha vida – oráculo do Senhor Javé –, não poderiam eles garantir por sua justiça nem seus filhos nem suas filhas, mas somente a sua própria vida.

O autor israelita aproveitou tal figura para elaborar esta obra, do gênero sapiencial. Isto denota apreço pela sabedoria universal ou a vontade de reconhecer todos os valores, onde quer que eles se encontrem.

A datação do livro é outra difícil questão. Grande parte dos estudiosos situa-o após o Exílio, baseando-se quer na dúvida corajosa face às categorias do pensamento religioso tradicional, quer em certas influências aramaicas sobre o hebraico em que o livro está escrito, quer numa certa abertura ao mundo exterior a Israel, para contrariar o ambiente xenófobo que se vivia em Jerusalém, depois do Exílio (séc. V a.C.), testemunhado em Esdras e Neemias.

Mas há quem pense que o livro poderia ser bastante mais antigo. Argumentos: alguns aspectos linguísticos e o tema, que já tinha raízes em realizações muito anteriores nas literaturas do Médio Oriente Antigo.

O LIVRO

O livro de Jó constitui, no contexto da Bíblia, um dado bem característico e original.

Em primeiro lugar, porque enfrenta a questão da experiência religiosa pessoal como um objeto de reflexão, e porque o faz com uma profundidade humana e um dramatismo dignos do melhor humanismo e da mais requintada arte literária.

Em segundo lugar, porque de certa maneira, não representa diretamente a linguagem teológica mais característica do Antigo Testamento.

O fato é que este livro se impôs como um dos mais elevados momentos literários da Bíblia; e, para a História da teologia, da filosofia e da cultura, até aos dias de hoje, tornou-se um verdadeiro marco referencial da tomada de consciência dos dramas da experiência humana.

A importância que este livro assumiu na Bíblia e nas religiões bíblicas - judaísmo e cristianismo - veio-lhe também, em grande parte, do fato de nele se exprimir um dos temas máximos da cultura e da literatura humanistas do Médio Oriente Antigo.

É a questão do sofrimento e das suas repercussões, quer diretamente na experiência de quem sofre, quer indiretamente na interação que se produz entre as concepções morais e outras categorias religiosas fundamentais, tais como sofrimento e doença, pecado e castigo, santidade e felicidade.

Enfim, é o problema de saber se existe alguma correlação justa ou lógica entre a maneira honesta como se vive e a maneira como a vida nos corre.

Nos tempos bíblicos mais antigos, o Egito, a Mesopotâmia e Canaã deixaram-nos exímios exemplos literários deste esforço de reflexão. É entre eles que o livro de Jó encontra a sua base e se destaca como valor de primeira grandeza.

A maior parte do livro está escrita num hebraico de grande qualidade literária, que levanta, pelo seu estilo e vocabulário originais, algumas dificuldades de tradução.

É natural que os simples leitores de uma Bíblia o notem ao comparar várias traduções e verificar como estas assinalam dificuldades de tradução de vários termos e passagens. Muito se tem estudado sobre ele e muito há ainda a estudar até se poder atingir a melhor compreensão, tanto do vocabulário como das subtilezas de construção sintática.

 

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos
Autor

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos

Doutor em Teologia Bíblica