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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 14/05/2024

14 de Maio de 2024

Livros do Antigo Testamento (78)

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Livros do Antigo Testamento (78)

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02/11/2018 00:00 - Atualizado em 06/11/2018 11:29

Livros do Antigo Testamento (78) 0

02/11/2018 00:00 - Atualizado em 06/11/2018 11:29

Este artigo inicia a passagem por mais um dos livros, ditos históricos, ou como os judeus os nomearam, os escritos. Desta vez cabe aos Livros dos Reis, cuja história já fora iniciada nos Livros de Samuel (I e II).

1) INTRODUÇÃO:

Na perspectiva do texto original e segundo a antiga tradição hebraica, estes dois livros constituiriam uma só obra. Eles descrevem a história da monarquia hebraica, desde a subida de Salomão ao trono até a conquista e destruição de Jerusalém por Nabucodonosor, em 586 a.C.

A divisão em dois tomos é atribuída à antiga tradução grega dos Setenta[1], a qual acabou por ser transposta igualmente para a divisão e numeração do próprio texto original hebraico.

A percepção da unidade dos conteúdos levou os Setenta a ligarem estes dois Livros dos

Reis com outros dois que em hebraico se chamam os Livros de Samuel e que também tratam dos inícios da monarquia.

E assim, tanto nos Setenta como nas traduções latinas e modernas[2], inspiradas em certos aspectos por aquelas antigas traduções, o 1.° e 2.° Livros de Samuel eram designados 1.° e 2.° Livros dos Reis. Por isso, os livros 1.° e 2.° dos Reis do original hebraico foram denominados  3.° e 4.° dos Reis. A leitura do Antigo Testamento aproximou-se, geralmente, do texto oferecido pelo original hebraico. Mas a opção dos Setenta implica uma leitura perfeitamente plausível.

2) PERSPECTIVAS HISTÓRICAS:

Os Livros dos Reis não pretendem apresentar uma simples e despretensiosa historiografia da monarquia hebraica, como se fossem, na nossa concepção, livros de história.

Apesar disso, os dados históricos referidos e os seus contextos concordam bem, no geral, com a imagem quer dos dados da arqueologia, quer das numerosas fontes extra-bíblicas que hoje se podem aproveitar e comparar.

O quadro internacional em que se desenvolve esta História, à sombra da sucessiva hegemonia do Egito, da Assíria e da Babilônia, como impérios dominantes e condicionantes, corresponde fielmente à imagem real que a História do Próximo Oriente Antigo nos oferece.

No entanto, mantêm-se em aberto alguns complexos problemas de cronologia relativamente aos dois reinos.

3) A HISTÓRIA DA REDAÇÃO DOS LIVROS DOS REIS:

Os Livros dos Reis são parte nuclear de uma das unidades literárias mais influentes na Bíblia, além do Pentateuco: a História Deuteronomista[3], empreendimento de grande vulto e enorme repercussão em Israel.

Por isso, a questão histórica da sua redação fica envolvida na complexidade das hipóteses levantadas e muito discutidas sobre autores, lugares e datas daquela História.

Entre as muitas hipóteses propostas, é comum entre os estudiosos considerar-se que os principais momentos de redação dos Livros dos Reis se devem situar entre a parte final da Monarquia, sobretudo depois do reinado de Josias, e algumas dezenas de anos depois de terminado o exílio.

Em suma, o choque do exílio e os tempos de cativeiro na Babilônia foram muito marcantes no processo da redação destes livros.

Para essa redação foram utilizadas fontes escritas relativas à História dos reis das monarquias hebraicas, nomeadamente a História de Salomão (1 Rs 11,41), a Crônica da Sucessão de David (1 Rs 1-2), o Livro dos Anais dos Reis de Israel e de Judá, frequentemente citados no texto atual, além de outras fontes documentais neles referidas, mas hoje desconhecidas (1 Rs 5,7-8).

Outras narrativas, como as de Elias e Eliseu, provavelmente, já existiam também antes de serem integradas na redação deuteronomista.



[1] Septuaginta é o nome da versão da Bíblia hebraica traduzida em etapas para o grego koiné, entre o século III a.C. e o século I a.C., em Alexandria. Dentre outras tantas, é a mais antiga tradução da Bíblia hebraica para o grego, lingua franca do Mediterrâneo oriental pelo tempo de Alexandre, o Grande. A tradução ficou conhecida como a Versão dos Setenta (ou Septuaginta, palavra latina que significa setenta, ou ainda LXX), pois setenta e dois rabinos[1] (seis de cada uma das 12 tribos) trabalharam nela e, segundo a tradição, teriam completado a tradução em 72 dias. A Septuaginta, desde o século I, é a versão clássica da Bíblia hebraica para os cristãos de língua grega[1] e foi usada como base para diversas traduções da Bíblia. A Septuaginta inclui alguns livros não encontrados na Bíblia hebraica. Muitas bíblias da Reforma Protestante seguem o cânone judaico e excluem estes livros adicionais. Entretanto, católicos romanos incluem alguns destes livros em seu cânon, e as Igrejas ortodoxas usam todos os livros conforme a Septuaginta. Anglicanos, assim como a Igreja oriental, usam todos os livros, exceto o Salmo 151, e a Bíblia do rei Jaime em sua versão autorizada inclui estes livros adicionais em uma parte separada chamada de Apocrypha. A Septuaginta foi tida em alta conta nos tempos antigos. Fílon de Alexandria considerava-a divinamente inspirada. Além das traduções latinas antigas, a Septuaginta também foi a base para as versões em eslavo eclesiástico, para a Héxapla de Orígenes (parte) e para as versões armênia, georgiana e copta do Antigo testamento. De grande significado para muitos cristãos e estudiosos da Bíblia, é citada no Novo Testamento e pelos padres da Igreja. Muito embora judeus não usassem a Septuaginta desde o século II, recentes estudos acadêmicos trouxeram um novo interesse sobre o tema nos estudos judaicos. Alguns dos pergaminhos do Mar Morto sugerem que o texto hebraico pode ter tido outras fontes que não apenas aquelas que formaram o texto massorético. Em vários casos, estes novos textos encontrados estão de acordo com a LXX. Os mais antigos códices da LXX (Vaticanus e Sinaiticus) datam do século IV. Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Septuaginta

[2] A Bíblia tem sido traduzida em muitos idiomas a partir do hebraico e do grego. A primeira tradução da Bíblia hebraica foi para o grego, a Septuaginta (LXX), que mais tarde se tornou o textus receptus do Antigo Testamento na Igreja e na base do seu cânon. A Vulgata latina por São Jerônimo foi baseada no hebraico para esses livros da Bíblia preservados no cânone judaico (o que se refletiu no Texto Massorético), e sobre o texto grego para o resto. Outras traduções judias antigas, tais como o Targum aramaico, escrito conforme o Texto Massorético da Bíblia hebraica, e todas as traduções medievais e modernas judaicas são baseadas nos mesmos. Traduções cristãs também tendem a ser desenvolvidas com base no hebraico, embora algumas denominações prefiram a Septuaginta (ou citem escritos variantes de ambos). Traduções bíblicas incorporando a crítica textual moderna geralmente começam com o Texto Massorético, mas também levam em conta todas variáveis de todas as versões antigas. O texto original do Novo Testamento cristão está em grego koiné, e quase todas as traduções são baseadas mediante o texto grego. A Vulgata latina era dominante no cristianismo através da Idade Média. Desde então, a Bíblia foi traduzida em muitos mais idiomas. As traduções inglesas da Bíblia, em especial, têm uma história rica e variada de mais de um milênio. Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Tradu%C3%A7%C3%A3o_da_B%C3%ADblia

[3] Para a hipótese documental, o deutoronomista é uma das fontes da autoria do pentateuco. Pela linguagem utilizada, pelo contexto cultural, dos livros de Deuteronômio a II Reis, Martin Noth, apresenta a pessoa do Deuteronomista como um autor que estava utilizando muitos dados do período Pré-Exílico, e estava editando e escrevendo na época do Exílio Babilônio, na metade do sexto século AC. Outros pesquisadores acham que o Deuteronomista eram alunos da escola do Templo, e não um autor individual, mas a verdadeira identidade do Deuteronomista é pouco segura; alguns acham que foi Jeremias, outros Baruch. Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Deuteronomista

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Livros do Antigo Testamento (78)

02/11/2018 00:00 - Atualizado em 06/11/2018 11:29

Este artigo inicia a passagem por mais um dos livros, ditos históricos, ou como os judeus os nomearam, os escritos. Desta vez cabe aos Livros dos Reis, cuja história já fora iniciada nos Livros de Samuel (I e II).

1) INTRODUÇÃO:

Na perspectiva do texto original e segundo a antiga tradição hebraica, estes dois livros constituiriam uma só obra. Eles descrevem a história da monarquia hebraica, desde a subida de Salomão ao trono até a conquista e destruição de Jerusalém por Nabucodonosor, em 586 a.C.

A divisão em dois tomos é atribuída à antiga tradução grega dos Setenta[1], a qual acabou por ser transposta igualmente para a divisão e numeração do próprio texto original hebraico.

A percepção da unidade dos conteúdos levou os Setenta a ligarem estes dois Livros dos

Reis com outros dois que em hebraico se chamam os Livros de Samuel e que também tratam dos inícios da monarquia.

E assim, tanto nos Setenta como nas traduções latinas e modernas[2], inspiradas em certos aspectos por aquelas antigas traduções, o 1.° e 2.° Livros de Samuel eram designados 1.° e 2.° Livros dos Reis. Por isso, os livros 1.° e 2.° dos Reis do original hebraico foram denominados  3.° e 4.° dos Reis. A leitura do Antigo Testamento aproximou-se, geralmente, do texto oferecido pelo original hebraico. Mas a opção dos Setenta implica uma leitura perfeitamente plausível.

2) PERSPECTIVAS HISTÓRICAS:

Os Livros dos Reis não pretendem apresentar uma simples e despretensiosa historiografia da monarquia hebraica, como se fossem, na nossa concepção, livros de história.

Apesar disso, os dados históricos referidos e os seus contextos concordam bem, no geral, com a imagem quer dos dados da arqueologia, quer das numerosas fontes extra-bíblicas que hoje se podem aproveitar e comparar.

O quadro internacional em que se desenvolve esta História, à sombra da sucessiva hegemonia do Egito, da Assíria e da Babilônia, como impérios dominantes e condicionantes, corresponde fielmente à imagem real que a História do Próximo Oriente Antigo nos oferece.

No entanto, mantêm-se em aberto alguns complexos problemas de cronologia relativamente aos dois reinos.

3) A HISTÓRIA DA REDAÇÃO DOS LIVROS DOS REIS:

Os Livros dos Reis são parte nuclear de uma das unidades literárias mais influentes na Bíblia, além do Pentateuco: a História Deuteronomista[3], empreendimento de grande vulto e enorme repercussão em Israel.

Por isso, a questão histórica da sua redação fica envolvida na complexidade das hipóteses levantadas e muito discutidas sobre autores, lugares e datas daquela História.

Entre as muitas hipóteses propostas, é comum entre os estudiosos considerar-se que os principais momentos de redação dos Livros dos Reis se devem situar entre a parte final da Monarquia, sobretudo depois do reinado de Josias, e algumas dezenas de anos depois de terminado o exílio.

Em suma, o choque do exílio e os tempos de cativeiro na Babilônia foram muito marcantes no processo da redação destes livros.

Para essa redação foram utilizadas fontes escritas relativas à História dos reis das monarquias hebraicas, nomeadamente a História de Salomão (1 Rs 11,41), a Crônica da Sucessão de David (1 Rs 1-2), o Livro dos Anais dos Reis de Israel e de Judá, frequentemente citados no texto atual, além de outras fontes documentais neles referidas, mas hoje desconhecidas (1 Rs 5,7-8).

Outras narrativas, como as de Elias e Eliseu, provavelmente, já existiam também antes de serem integradas na redação deuteronomista.



[1] Septuaginta é o nome da versão da Bíblia hebraica traduzida em etapas para o grego koiné, entre o século III a.C. e o século I a.C., em Alexandria. Dentre outras tantas, é a mais antiga tradução da Bíblia hebraica para o grego, lingua franca do Mediterrâneo oriental pelo tempo de Alexandre, o Grande. A tradução ficou conhecida como a Versão dos Setenta (ou Septuaginta, palavra latina que significa setenta, ou ainda LXX), pois setenta e dois rabinos[1] (seis de cada uma das 12 tribos) trabalharam nela e, segundo a tradição, teriam completado a tradução em 72 dias. A Septuaginta, desde o século I, é a versão clássica da Bíblia hebraica para os cristãos de língua grega[1] e foi usada como base para diversas traduções da Bíblia. A Septuaginta inclui alguns livros não encontrados na Bíblia hebraica. Muitas bíblias da Reforma Protestante seguem o cânone judaico e excluem estes livros adicionais. Entretanto, católicos romanos incluem alguns destes livros em seu cânon, e as Igrejas ortodoxas usam todos os livros conforme a Septuaginta. Anglicanos, assim como a Igreja oriental, usam todos os livros, exceto o Salmo 151, e a Bíblia do rei Jaime em sua versão autorizada inclui estes livros adicionais em uma parte separada chamada de Apocrypha. A Septuaginta foi tida em alta conta nos tempos antigos. Fílon de Alexandria considerava-a divinamente inspirada. Além das traduções latinas antigas, a Septuaginta também foi a base para as versões em eslavo eclesiástico, para a Héxapla de Orígenes (parte) e para as versões armênia, georgiana e copta do Antigo testamento. De grande significado para muitos cristãos e estudiosos da Bíblia, é citada no Novo Testamento e pelos padres da Igreja. Muito embora judeus não usassem a Septuaginta desde o século II, recentes estudos acadêmicos trouxeram um novo interesse sobre o tema nos estudos judaicos. Alguns dos pergaminhos do Mar Morto sugerem que o texto hebraico pode ter tido outras fontes que não apenas aquelas que formaram o texto massorético. Em vários casos, estes novos textos encontrados estão de acordo com a LXX. Os mais antigos códices da LXX (Vaticanus e Sinaiticus) datam do século IV. Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Septuaginta

[2] A Bíblia tem sido traduzida em muitos idiomas a partir do hebraico e do grego. A primeira tradução da Bíblia hebraica foi para o grego, a Septuaginta (LXX), que mais tarde se tornou o textus receptus do Antigo Testamento na Igreja e na base do seu cânon. A Vulgata latina por São Jerônimo foi baseada no hebraico para esses livros da Bíblia preservados no cânone judaico (o que se refletiu no Texto Massorético), e sobre o texto grego para o resto. Outras traduções judias antigas, tais como o Targum aramaico, escrito conforme o Texto Massorético da Bíblia hebraica, e todas as traduções medievais e modernas judaicas são baseadas nos mesmos. Traduções cristãs também tendem a ser desenvolvidas com base no hebraico, embora algumas denominações prefiram a Septuaginta (ou citem escritos variantes de ambos). Traduções bíblicas incorporando a crítica textual moderna geralmente começam com o Texto Massorético, mas também levam em conta todas variáveis de todas as versões antigas. O texto original do Novo Testamento cristão está em grego koiné, e quase todas as traduções são baseadas mediante o texto grego. A Vulgata latina era dominante no cristianismo através da Idade Média. Desde então, a Bíblia foi traduzida em muitos mais idiomas. As traduções inglesas da Bíblia, em especial, têm uma história rica e variada de mais de um milênio. Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Tradu%C3%A7%C3%A3o_da_B%C3%ADblia

[3] Para a hipótese documental, o deutoronomista é uma das fontes da autoria do pentateuco. Pela linguagem utilizada, pelo contexto cultural, dos livros de Deuteronômio a II Reis, Martin Noth, apresenta a pessoa do Deuteronomista como um autor que estava utilizando muitos dados do período Pré-Exílico, e estava editando e escrevendo na época do Exílio Babilônio, na metade do sexto século AC. Outros pesquisadores acham que o Deuteronomista eram alunos da escola do Templo, e não um autor individual, mas a verdadeira identidade do Deuteronomista é pouco segura; alguns acham que foi Jeremias, outros Baruch. Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Deuteronomista

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos
Autor

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos

Doutor em Teologia Bíblica