Arquidiocese do Rio de Janeiro

29º 23º

Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 14/05/2024

14 de Maio de 2024

Livros do Antigo Testamento (67)

Enviando...
Por favor, preencha os campos adequadamente.
Ocorreu um erro no envio do e-mail.
E-mail enviado com sucesso.

14 de Maio de 2024

Livros do Antigo Testamento (67)

Se você encontrou erro neste texto ou nesta página, por favor preencha os campos abaixo. O link da página será enviado automaticamente a ArqRio.

Enviando...
Por favor, preencha os campos adequadamente.
Ocorreu um erro no envio do erro.
Erro relatado com sucesso, obrigado.

17/08/2018 11:57 - Atualizado em 17/08/2018 11:57

Livros do Antigo Testamento (67) 0

17/08/2018 11:57 - Atualizado em 17/08/2018 11:57

A Teologia da Aliança que se expressa já nas narrativas patriarcais do Gênesis, na verdade, deita suas raízes na teologia dos quatro últimos livros do Pentateuco. No entanto, deve-se afirmar, sem discussão, que no último livro esta teologia se condensa e amadurece como fio condutor de toda compreensão sobre Deus, sobre a História da Salvação, sobre o destino de Israel e de toda a Humanidade.

Teologia da Aliança no Deuteronômio

O Deuteronômio é o Livro da Aliança.

Do ponto de vista de modelos socioculturais já existentes no tempo deste livro bíblico que expliquem as fórmulas e os significados da Aliança, temos que pensar em relação à uma forma de pacto entre desiguais. Um poderosíssimo Suserano oferece proteção e segurança sob os auspícios de seu forte exército, em troca de impostos e submissão à sua autoridade.

Já se sabia pelos próprios textos bíblicos que a aliança na linguagem dos homens do Oriente antigo designava uma realidade político-religiosa,

De fato, encontra-se no Oriente antigo, apesar das variações, a mesma estrutura dos tratados de vassalagem: pode-se falar do gênero literário “formulário de Aliança”, que seria comum a todas as cortes reais.

No entanto, a dimensão teológica na linguagem se expressa de muito original para ser simplesmente comparada com aquelas ‘fórmulas’ de aliança do mundo antigo, seja na Babilônia, na Assíria ou qualquer outra parte. Há componentes na linguagem jurídica deuteronomista que superam quaisquer delas.

Compreende-se isso, sem dificuldade, admitindo-se que se pode passar de uma linguagem política e religiosa para uma linguagem propriamente teológica.

Farei para eles, naquele dia, uma aliança com os animais selvagens, as aves do céu e os répteis da terra; farei desaparecer da terra o arco, a espada e a guerra, e os farei repousar com segurança.

Essa passagem não se faz sem rupturas, das quais uma das mais claras é que Deus não pode ser testemunha nem mediador, como em Oséias 2,20; na Aliança, Ele é parceiro.

O livro do Deuteronômio insiste que, na Aliança, Deus é o parceiro de Israel. Essa diferença fundamental em relação aos “tratados de vassalagem” acarreta outras igualmente substanciais, e que dizem respeito de modo particular à natureza da relação entre Javé e seu povo.

Ora, de um lado, Javé foi quem tomou a iniciativa da Aliança em relação às tribos que viriam a constituir o povo eleito.

Por isso, no Deuteronômio, são abundantes os adjetivos possessivos para expressar essa realidade: nos lábios de Javé enfatiza-se a “Minha Aliança“; ao passo que o povo sempre remeterá a Aliança a Javé pelo emprego de “Tua Aliança” ou “Sua Aliança ”.

Por outro lado, trata-se de um relacionamento: o que exige a existência de dois parceiros. De fato, da Aliança decorrem obrigações para Israel.

Tais obrigações podem se resumir em “ouvir a voz do Senhor seu Deus e praticar os Seus mandamentos“. Esse foi o grande desafio para Israel ao longo de toda a sua história. Na ética dos mandamentos se funda uma nova fisionomia do povo de Deus, que não funda suas relações com Deus e entre si, como concidadãos em estruturas humanas, mas sobre a Aliança desenhada e oferecida por Deus.

No entanto, o Deuteronômio não é um romance histórico, um tratado abstrato de teologia. Na sua narrativa expressa-se uma forma de tragédia previsível: Israel cumpria a Aliança? Faria sua parte no pacto?

E o livro do Deuteronômio quer ser, pois, uma reflexão madura e realista sobre o por quê dessa infidelidade, e lançar uma luz para que se retome o radicalismo de se viver a Aliança qual única alternativa de sua subsistência como “povo de Deus e nação santa”.

O livro reflete a experiência original de Deus e de sua Palavra transmitida por Moisés. O Deus do Horeb é o Deus de Israel. Deus escolheu ser o Deus de Israel.

Contudo, essa eleição não é um privilégio. Ela implica uma missão. Procede unicamente do amor fiel de Deus, e espera uma resposta: o amor a Deus.

Porque és um povo consagrado ao Senhor, teu Deus, o qual te escolheu para seres o seu povo, sua propriedade exclusiva, entre todas as outras nações da terra. Não é porque sois mais numerosos que todos os outros povos que o Senhor se uniu a vós e vos escolheu; ao contrário, sois o menor de todos. Mas o Senhor ama-vos e quer guardar o juramento que fez a vossos pais. Por isso, a sua mão poderosa tirou-vos da casa da servidão, e livrou-vos do poder do faraó, rei do Egito (Dt 7,6-8).

Amor que se explicita na forma de um mandamento dado por Deus a cada um e a todos, à semelhança do próprio amor divino:

Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças (Dt 6,5).

Esse povo escolhido é uma comunidade estruturada que vive em uma terra. Cada geração deve reconhecer que essa terra é um dom de Deus, o sinal concreto de Seu amor por Israel. A Lei é o princípio de vida desta comunidade.

Amando-te, abençoando-te e multiplicando-te: abençoará o fruto de teu ventre e o fruto do teu solo, teu trigo, teu vinho e teu óleo, as crias de tuas vacas e de tuas ovelhas, na terra que jurou a teus pais dar-te. Serás bendito mais que todos os povos. Não haverá no meio de ti quem seja estéril, macho ou fêmea, tanto entre os homens como entre os animais. O Senhor apartará de ti toda a enfermidade; e não permitirá que te toque nenhuma daquelas funestas epidemias do Egito que conheceste, mas ferirá com elas todos os que te odeiam (Dt 7, 13-15).

Leia os comentários

Deixe seu comentário

Resposta ao comentário de:

Enviando...
Por favor, preencha os campos adequadamente.
Ocorreu um erro no envio do comentário.
Comentário enviado para aprovação.

Livros do Antigo Testamento (67)

17/08/2018 11:57 - Atualizado em 17/08/2018 11:57

A Teologia da Aliança que se expressa já nas narrativas patriarcais do Gênesis, na verdade, deita suas raízes na teologia dos quatro últimos livros do Pentateuco. No entanto, deve-se afirmar, sem discussão, que no último livro esta teologia se condensa e amadurece como fio condutor de toda compreensão sobre Deus, sobre a História da Salvação, sobre o destino de Israel e de toda a Humanidade.

Teologia da Aliança no Deuteronômio

O Deuteronômio é o Livro da Aliança.

Do ponto de vista de modelos socioculturais já existentes no tempo deste livro bíblico que expliquem as fórmulas e os significados da Aliança, temos que pensar em relação à uma forma de pacto entre desiguais. Um poderosíssimo Suserano oferece proteção e segurança sob os auspícios de seu forte exército, em troca de impostos e submissão à sua autoridade.

Já se sabia pelos próprios textos bíblicos que a aliança na linguagem dos homens do Oriente antigo designava uma realidade político-religiosa,

De fato, encontra-se no Oriente antigo, apesar das variações, a mesma estrutura dos tratados de vassalagem: pode-se falar do gênero literário “formulário de Aliança”, que seria comum a todas as cortes reais.

No entanto, a dimensão teológica na linguagem se expressa de muito original para ser simplesmente comparada com aquelas ‘fórmulas’ de aliança do mundo antigo, seja na Babilônia, na Assíria ou qualquer outra parte. Há componentes na linguagem jurídica deuteronomista que superam quaisquer delas.

Compreende-se isso, sem dificuldade, admitindo-se que se pode passar de uma linguagem política e religiosa para uma linguagem propriamente teológica.

Farei para eles, naquele dia, uma aliança com os animais selvagens, as aves do céu e os répteis da terra; farei desaparecer da terra o arco, a espada e a guerra, e os farei repousar com segurança.

Essa passagem não se faz sem rupturas, das quais uma das mais claras é que Deus não pode ser testemunha nem mediador, como em Oséias 2,20; na Aliança, Ele é parceiro.

O livro do Deuteronômio insiste que, na Aliança, Deus é o parceiro de Israel. Essa diferença fundamental em relação aos “tratados de vassalagem” acarreta outras igualmente substanciais, e que dizem respeito de modo particular à natureza da relação entre Javé e seu povo.

Ora, de um lado, Javé foi quem tomou a iniciativa da Aliança em relação às tribos que viriam a constituir o povo eleito.

Por isso, no Deuteronômio, são abundantes os adjetivos possessivos para expressar essa realidade: nos lábios de Javé enfatiza-se a “Minha Aliança“; ao passo que o povo sempre remeterá a Aliança a Javé pelo emprego de “Tua Aliança” ou “Sua Aliança ”.

Por outro lado, trata-se de um relacionamento: o que exige a existência de dois parceiros. De fato, da Aliança decorrem obrigações para Israel.

Tais obrigações podem se resumir em “ouvir a voz do Senhor seu Deus e praticar os Seus mandamentos“. Esse foi o grande desafio para Israel ao longo de toda a sua história. Na ética dos mandamentos se funda uma nova fisionomia do povo de Deus, que não funda suas relações com Deus e entre si, como concidadãos em estruturas humanas, mas sobre a Aliança desenhada e oferecida por Deus.

No entanto, o Deuteronômio não é um romance histórico, um tratado abstrato de teologia. Na sua narrativa expressa-se uma forma de tragédia previsível: Israel cumpria a Aliança? Faria sua parte no pacto?

E o livro do Deuteronômio quer ser, pois, uma reflexão madura e realista sobre o por quê dessa infidelidade, e lançar uma luz para que se retome o radicalismo de se viver a Aliança qual única alternativa de sua subsistência como “povo de Deus e nação santa”.

O livro reflete a experiência original de Deus e de sua Palavra transmitida por Moisés. O Deus do Horeb é o Deus de Israel. Deus escolheu ser o Deus de Israel.

Contudo, essa eleição não é um privilégio. Ela implica uma missão. Procede unicamente do amor fiel de Deus, e espera uma resposta: o amor a Deus.

Porque és um povo consagrado ao Senhor, teu Deus, o qual te escolheu para seres o seu povo, sua propriedade exclusiva, entre todas as outras nações da terra. Não é porque sois mais numerosos que todos os outros povos que o Senhor se uniu a vós e vos escolheu; ao contrário, sois o menor de todos. Mas o Senhor ama-vos e quer guardar o juramento que fez a vossos pais. Por isso, a sua mão poderosa tirou-vos da casa da servidão, e livrou-vos do poder do faraó, rei do Egito (Dt 7,6-8).

Amor que se explicita na forma de um mandamento dado por Deus a cada um e a todos, à semelhança do próprio amor divino:

Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças (Dt 6,5).

Esse povo escolhido é uma comunidade estruturada que vive em uma terra. Cada geração deve reconhecer que essa terra é um dom de Deus, o sinal concreto de Seu amor por Israel. A Lei é o princípio de vida desta comunidade.

Amando-te, abençoando-te e multiplicando-te: abençoará o fruto de teu ventre e o fruto do teu solo, teu trigo, teu vinho e teu óleo, as crias de tuas vacas e de tuas ovelhas, na terra que jurou a teus pais dar-te. Serás bendito mais que todos os povos. Não haverá no meio de ti quem seja estéril, macho ou fêmea, tanto entre os homens como entre os animais. O Senhor apartará de ti toda a enfermidade; e não permitirá que te toque nenhuma daquelas funestas epidemias do Egito que conheceste, mas ferirá com elas todos os que te odeiam (Dt 7, 13-15).

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos
Autor

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos

Doutor em Teologia Bíblica