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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 14/05/2024

14 de Maio de 2024

Livros do Antigo Testamento (41)

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Livros do Antigo Testamento (41)

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16/02/2018 00:00 - Atualizado em 21/02/2018 15:54

Livros do Antigo Testamento (41) 0

16/02/2018 00:00 - Atualizado em 21/02/2018 15:54

Neste artigo exploramos a densidade das experiências ‘teofânicas’, de revelações divinas a Israel, e o crescimento da intimidade de Moisés com Deus. Não são indiferentes as incompreensões e o mau comportamento do Povo de Deus.

1. Ex 16: O Maná e as cordonizes

Toda a assembleia dos israelitas partiu de Elim e foi para o deserto de Sin, situado entre Elim e o Sinai. Era o décimo quinto dia do segundo mês após sua saída do Egito. Toda a assembleia dos israelitas pôs-se a murmurar contra Moisés e Aarão no deserto. Disseram-lhes: Oxalá tivéssemos sido mortos pela mão do Senhor no Egito, quando nos assentávamos diante das panelas de carne e tínhamos pão em abundância! Vós nos conduzistes a este deserto, para matardes de fome toda esta multidão. O Senhor disse a Moisés: Vou fazer chover pão do alto do céu. Sairá o povo e colherá diariamente a porção de cada dia. Pô-lo-ei desse modo à prova, para ver se andará ou não segundo minhas ordens (Ex 16, 1-4).

No caminho para a terra prometida, a liberdade se estrutura pelo caminho. Não se trata de simples deslocamento de um ponto a outro, a ‘terra da escravidão’, que durou 430 anos e ainda está dentro deles. O paganismo e a descrença estavam impregnados na mente e no coração do Povo de Deus. Alguns anos, 40 anos, serão necessários para iniciar a purificação, que só se tornará definitiva em Cristo.

Oxalá tivéssemos sido mortos pela mão do Senhor no Egito, quando nos assentávamos diante das panelas de carne e tínhamos pão em abundância! Vós nos conduzistes a este deserto, para matardes de fome toda esta multidão’. A murmuração será a companhia mais constante no percurso de Israel. O pecado os faz sentir saudades da escravidão. Uma panela de carne vale o preço da liberdade.

A resposta de Deus não se faz esperar! Ele providenciará o ‘pão’ cotidiano: ‘Vou fazer chover pão do alto do céu. Sairá o povo e colherá diariamente a porção de cada dia’. O maná, este alimento caído do céu, exprime no deserto uma lição a não ser jamais esquecida: viver confiante na Providência Divina. O orgulho do pecado atribui o sucesso nesta vida a si mesmo e os fracassos e dores a Deus!

Vir do alto significa dom de Deus. Uma forte expressão de algo que afirmara já a Moisés, no início de sua missão: O Senhor disse: “Eu vi, eu vi a aflição de meu povo que está no Egito, e ouvi os seus clamores por causa de seus opressores. Sim, eu conheço seus sofrimentos” (Ex 3, 7). Nos percalços da vida nômade, sofre Israel a tentação de esquecer-se disso e considerar que Deus está longe e indiferente da labuta diária pelo panis coetidianus.

Mas, ao contrário do que pensam os críticos da religião, este pão não aliena, não serve de manobra para aprisionar o povo e levá-lo a novas escravidões. Deus provê os meios para que Israel, primeiramente, aprenda a confiar, obedecer e caminhar com Deus! Por isso, este período não se conclui com a simples declaração acerca do fornecimento divino de pão, mas de obediência.

Alimentar-se da Vontade de Deus, afirmará Jesus mais adiante. Como se lê no contexto do diálogo joanino de Jesus com a Samaritana, à beira do poço de Jacó: ‘Então os discípulos disseram uns aos outros: Será que alguém lhe teria trazido algo para comer? Explicou-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra’ (Jo 4, 33-34).

Por isso, no Capítulo 16 não se desenvolve apenas como um relato de milagre. O que ocorreu, mas de ensinamento e de instrução. Pelos caminhos do deserto é fundamental aprender as lições trazidas pela Ação Divina. Contra o racionalismo do século XIX é preciso afirmar a intervenção espiritual do Deus de Israel no caminho difícil do deserto. Não basta entender de que maneira fenômenos naturais contribuíram para a solução da fome e da carestia; o texto quer nos falar da intervenção providencial de Deus!

Por outro lado, Israel está na escola da obediência com lições e exames permanentes durante aqueles 40 anos. Não acumular o maná para recebê-lo todos os dias. Dividir com os vizinhos a fartura que ultrapassa. De resto, fora desta dinâmica, que corresponde a aprender a ver a vida na percepção da lógica de Deus: como Deus quer que eu aja diante de desafios ou da bonança. É claro que Deus está preparando Israel para uma lição mais profunda, aquela dos mandamentos, no decálogo!

Os israelitas comeram o maná durante 40 anos, até as suas chegadas a uma terra habitada. Comeram o maná até que chegaram aos confins da terra de Canaã (Ex 16, 35).

O livro da sabedoria, séculos depois, refletindo poeticamente, isso é, com mais propriedade sobre os eventos do deserto, realçará com mais clareza a beleza daqueles eventos para além da supressão da fome e da necessidade. Israel experimenta todos os dias as bondades de Deus, o ‘Deus conosco’!

Em contrapartida, nutriste o teu povo com um alimento de anjos: de graça lhes enviaste, do céu, um pão já preparado, contendo em si todo sabor e satisfazendo a todos os gostos. Este teu sustento manifestava aos filhos a tua doçura, pois, adaptando-se ao desejo de quem o comia, convertia-se naquilo que cada um queria (Sb 16, 20-21).

 

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Livros do Antigo Testamento (41)

16/02/2018 00:00 - Atualizado em 21/02/2018 15:54

Neste artigo exploramos a densidade das experiências ‘teofânicas’, de revelações divinas a Israel, e o crescimento da intimidade de Moisés com Deus. Não são indiferentes as incompreensões e o mau comportamento do Povo de Deus.

1. Ex 16: O Maná e as cordonizes

Toda a assembleia dos israelitas partiu de Elim e foi para o deserto de Sin, situado entre Elim e o Sinai. Era o décimo quinto dia do segundo mês após sua saída do Egito. Toda a assembleia dos israelitas pôs-se a murmurar contra Moisés e Aarão no deserto. Disseram-lhes: Oxalá tivéssemos sido mortos pela mão do Senhor no Egito, quando nos assentávamos diante das panelas de carne e tínhamos pão em abundância! Vós nos conduzistes a este deserto, para matardes de fome toda esta multidão. O Senhor disse a Moisés: Vou fazer chover pão do alto do céu. Sairá o povo e colherá diariamente a porção de cada dia. Pô-lo-ei desse modo à prova, para ver se andará ou não segundo minhas ordens (Ex 16, 1-4).

No caminho para a terra prometida, a liberdade se estrutura pelo caminho. Não se trata de simples deslocamento de um ponto a outro, a ‘terra da escravidão’, que durou 430 anos e ainda está dentro deles. O paganismo e a descrença estavam impregnados na mente e no coração do Povo de Deus. Alguns anos, 40 anos, serão necessários para iniciar a purificação, que só se tornará definitiva em Cristo.

Oxalá tivéssemos sido mortos pela mão do Senhor no Egito, quando nos assentávamos diante das panelas de carne e tínhamos pão em abundância! Vós nos conduzistes a este deserto, para matardes de fome toda esta multidão’. A murmuração será a companhia mais constante no percurso de Israel. O pecado os faz sentir saudades da escravidão. Uma panela de carne vale o preço da liberdade.

A resposta de Deus não se faz esperar! Ele providenciará o ‘pão’ cotidiano: ‘Vou fazer chover pão do alto do céu. Sairá o povo e colherá diariamente a porção de cada dia’. O maná, este alimento caído do céu, exprime no deserto uma lição a não ser jamais esquecida: viver confiante na Providência Divina. O orgulho do pecado atribui o sucesso nesta vida a si mesmo e os fracassos e dores a Deus!

Vir do alto significa dom de Deus. Uma forte expressão de algo que afirmara já a Moisés, no início de sua missão: O Senhor disse: “Eu vi, eu vi a aflição de meu povo que está no Egito, e ouvi os seus clamores por causa de seus opressores. Sim, eu conheço seus sofrimentos” (Ex 3, 7). Nos percalços da vida nômade, sofre Israel a tentação de esquecer-se disso e considerar que Deus está longe e indiferente da labuta diária pelo panis coetidianus.

Mas, ao contrário do que pensam os críticos da religião, este pão não aliena, não serve de manobra para aprisionar o povo e levá-lo a novas escravidões. Deus provê os meios para que Israel, primeiramente, aprenda a confiar, obedecer e caminhar com Deus! Por isso, este período não se conclui com a simples declaração acerca do fornecimento divino de pão, mas de obediência.

Alimentar-se da Vontade de Deus, afirmará Jesus mais adiante. Como se lê no contexto do diálogo joanino de Jesus com a Samaritana, à beira do poço de Jacó: ‘Então os discípulos disseram uns aos outros: Será que alguém lhe teria trazido algo para comer? Explicou-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra’ (Jo 4, 33-34).

Por isso, no Capítulo 16 não se desenvolve apenas como um relato de milagre. O que ocorreu, mas de ensinamento e de instrução. Pelos caminhos do deserto é fundamental aprender as lições trazidas pela Ação Divina. Contra o racionalismo do século XIX é preciso afirmar a intervenção espiritual do Deus de Israel no caminho difícil do deserto. Não basta entender de que maneira fenômenos naturais contribuíram para a solução da fome e da carestia; o texto quer nos falar da intervenção providencial de Deus!

Por outro lado, Israel está na escola da obediência com lições e exames permanentes durante aqueles 40 anos. Não acumular o maná para recebê-lo todos os dias. Dividir com os vizinhos a fartura que ultrapassa. De resto, fora desta dinâmica, que corresponde a aprender a ver a vida na percepção da lógica de Deus: como Deus quer que eu aja diante de desafios ou da bonança. É claro que Deus está preparando Israel para uma lição mais profunda, aquela dos mandamentos, no decálogo!

Os israelitas comeram o maná durante 40 anos, até as suas chegadas a uma terra habitada. Comeram o maná até que chegaram aos confins da terra de Canaã (Ex 16, 35).

O livro da sabedoria, séculos depois, refletindo poeticamente, isso é, com mais propriedade sobre os eventos do deserto, realçará com mais clareza a beleza daqueles eventos para além da supressão da fome e da necessidade. Israel experimenta todos os dias as bondades de Deus, o ‘Deus conosco’!

Em contrapartida, nutriste o teu povo com um alimento de anjos: de graça lhes enviaste, do céu, um pão já preparado, contendo em si todo sabor e satisfazendo a todos os gostos. Este teu sustento manifestava aos filhos a tua doçura, pois, adaptando-se ao desejo de quem o comia, convertia-se naquilo que cada um queria (Sb 16, 20-21).

 

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos
Autor

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos

Doutor em Teologia Bíblica