Arquidiocese do Rio de Janeiro

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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 14/05/2024

14 de Maio de 2024

Livros do Antigo Testamento (26)

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Livros do Antigo Testamento (26)

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29/10/2017 00:00 - Atualizado em 02/11/2017 13:48

Livros do Antigo Testamento (26) 0

29/10/2017 00:00 - Atualizado em 02/11/2017 13:48

Neste artigo prosseguiremos com as consequências da escolha de Jacó como herdeiro do patriarcado de Isaac. Um relato cheio de experiências místico-litúrgicas e com as lidas familiares dos matrimônios com Lia e Raquel.

1. A bênção de Isaac e a viagem de Jacó ‘Padã-Arã’ (Gn 28, 1-10)

A unidade parece dividida narrativamente em duas partes. Na primeira, Jacó é confirmado como o ‘filho justo e abençoado’ (vv; 1-10). Na segunda, encontramos a narrativa da visão ou sonho noturno da escada (vv. 10-22).

Ele recebe a bênção do Pai Isaac (vv. 1-7), ele obedece ao Pai e parte para ‘Padã-Arã’, terra de seus tios, longe das mulheres pagãs de Canaã. Ao contrário de Esaú, que mesmo vendo tudo isso, faz exatamente o contrário.

Vendo também Esaú que as filhas de Canaã eram más aos olhos de Isaque, seu pai. Foi Esaú a Ismael, e tomou para si por mulher, além das suas mulheres, a Maalate filha de Ismael, filho de Abraão, irmã de Nebaiote (Gn 28,8-9).

A luta começada no ventre da Mãe continuará durante o percurso de vida destes dois irmãos. Um percurso transpassado pelo binômio ‘obediência /desobediência’, com suas inevitáveis consequências: ‘bênção / maldição’.

E os filhos lutavam dentro dela; então disse: Se assim é, por que sou eu assim? E foi perguntar ao Senhor. E o Senhor lhe disse: duas nações há no teu ventre, dois povos se dividirão das tuas entranhas, um povo será mais forte do que o outro povo, e o maior servirá ao menor (Gn 25,22-23).

Jacó segue para a terra de seus parentes em busca de viver longe da ira de seu irmão, mas também de encontrar, como seu pai, Isaac, uma esposa e perpetuar o clã patriarcal junto às raízes abraâmicas:

Assim despediu Isaque a Jacó, o qual se foi a Padã-Arã, a Labão, filho de Betuel, arameu, irmão de Rebeca, mãe de Jacó e de Esaú (Gênesis 28,5).

2. A visão da escada (Gn 28, 10-22)

E chegou a um lugar onde passou a noite, porque já o sol era posto; e tomou uma das pedras daquele lugar, e a pôs por seu travesseiro, e deitou-se naquele lugar. E sonhou: e eis uma escada posta na terra, cujo topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela (Gn 28,11-12).

No caminho de Jacó ocorre uma experiência de sonho e Revelação. Uma escada em movimento de anjos. Aqui temos dois arquétipos interessantes: a escada e os anjos!

A fuga de Jacó para Haran, mesmo sendo um ato de obediência ao pai, Isaac, permanece um momento dramático. Aqui o narrador incita os leitores da tradição de Israel e, depois, os cristãos a perceberem neste momento da vida de Jacó sua plena inserção na saga de seu avô Abraão. Diante desse cenário de insegurança e crise, o sonho abre uma porta ao leitor para um horizonte inesperado e feliz.

Primeiramente a escada: com base na terra e cume nos céus. À diferença da ‘torre de Babel’, esta imagem no sonho indica uma abertura dos céus sobre a vida incerta do jovem patriarca:

E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume por cal. E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra (Gênesis 11, 3-4).

Esta ‘subida aos céus’ constituía uma estratégia do mal, uma cilada do pecado: tomar o céu de assalto, transformar o transcendente em imanente. Derrocada. Ao contrário, a escada de Jacó representa a oferta de Deus a Israel, uma abertura dos Céus (Catábasis=descida) verso os eleitos. Israel tem acesso a Deus. Ao mesmo tempo que constitui também um convite à elevação, a chegar até Deus (Anábasis=Subida):

E sonhou: e eis uma escada posta na terra, cujo topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela.

No segundo momento, os anjos: Nas escadas de Jacó, como espaço de fruição do céu na terra e caminho dialógico da Revelação, aparecem as figura dos ‘anjos’. Eles são criaturas celestes a serviço de Deus, indicam ao leitor que esta visão tem conteúdo e não somente visão ou imagem.

Ao ver a presença dos anjos no relato, o leitor deve esperar que Deus se manifeste. Estas criaturas celestes em sua aparição sinalizam a expressão desígnio Divino de manifestar-Se aos homens, em particular a Israel.

3. A Escada: Lugar da celebração da aliança dos patriarcas (Gn 28, 14s)

E eis que o Senhor estava em cima dela, e disse: Eu sou o Senhor Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra, em que estás deitado, darei a ti e a tua descendência; E a tua descendência será como o pó da terra, e estender-se-á ao Ocidente, Oriente, Norte e Sul, e em ti e na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra; E eis que estou contigo, te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; porque não te deixarei, até que haja cumprido o que te tenho falado (Gn 28,13-15).

No topo desta escada movimentada está a sua origem e meta, o Deus de Abraão e de Isaac. Deus se revela a Jacó como sua segurança: ‘E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores’.

No exasperado momento de Jacó, afastando-se de casa rumo ao exílio, Deus lhe reconforta e confirma como herdeiro da aliança iniciada com seu avô. Alguns elementos, ao menos três, são claros:

‘Eu sou o Senhor Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque’

Esta Revelação de Deus a Jacó O insere na mesma estrada de seus pais. Deus com eles.

A pertença e a herança da Terra, prometida desde sempre: ‘esta terra, em que estás deitado, darei a ti e à tua descendência’.

E por fim, a promessa da posteridade: ‘E a tua descendência será como o pó da terra, e estender-se-á ao Ocidente, Oriente, Norte e Sul, e em ti e na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra’.

Trata-se da mesma fala Divina feita a Abraão, que agora se renova a seu neto Jacó, num contexto de dúvidas e incertezas.

 

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Livros do Antigo Testamento (26)

29/10/2017 00:00 - Atualizado em 02/11/2017 13:48

Neste artigo prosseguiremos com as consequências da escolha de Jacó como herdeiro do patriarcado de Isaac. Um relato cheio de experiências místico-litúrgicas e com as lidas familiares dos matrimônios com Lia e Raquel.

1. A bênção de Isaac e a viagem de Jacó ‘Padã-Arã’ (Gn 28, 1-10)

A unidade parece dividida narrativamente em duas partes. Na primeira, Jacó é confirmado como o ‘filho justo e abençoado’ (vv; 1-10). Na segunda, encontramos a narrativa da visão ou sonho noturno da escada (vv. 10-22).

Ele recebe a bênção do Pai Isaac (vv. 1-7), ele obedece ao Pai e parte para ‘Padã-Arã’, terra de seus tios, longe das mulheres pagãs de Canaã. Ao contrário de Esaú, que mesmo vendo tudo isso, faz exatamente o contrário.

Vendo também Esaú que as filhas de Canaã eram más aos olhos de Isaque, seu pai. Foi Esaú a Ismael, e tomou para si por mulher, além das suas mulheres, a Maalate filha de Ismael, filho de Abraão, irmã de Nebaiote (Gn 28,8-9).

A luta começada no ventre da Mãe continuará durante o percurso de vida destes dois irmãos. Um percurso transpassado pelo binômio ‘obediência /desobediência’, com suas inevitáveis consequências: ‘bênção / maldição’.

E os filhos lutavam dentro dela; então disse: Se assim é, por que sou eu assim? E foi perguntar ao Senhor. E o Senhor lhe disse: duas nações há no teu ventre, dois povos se dividirão das tuas entranhas, um povo será mais forte do que o outro povo, e o maior servirá ao menor (Gn 25,22-23).

Jacó segue para a terra de seus parentes em busca de viver longe da ira de seu irmão, mas também de encontrar, como seu pai, Isaac, uma esposa e perpetuar o clã patriarcal junto às raízes abraâmicas:

Assim despediu Isaque a Jacó, o qual se foi a Padã-Arã, a Labão, filho de Betuel, arameu, irmão de Rebeca, mãe de Jacó e de Esaú (Gênesis 28,5).

2. A visão da escada (Gn 28, 10-22)

E chegou a um lugar onde passou a noite, porque já o sol era posto; e tomou uma das pedras daquele lugar, e a pôs por seu travesseiro, e deitou-se naquele lugar. E sonhou: e eis uma escada posta na terra, cujo topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela (Gn 28,11-12).

No caminho de Jacó ocorre uma experiência de sonho e Revelação. Uma escada em movimento de anjos. Aqui temos dois arquétipos interessantes: a escada e os anjos!

A fuga de Jacó para Haran, mesmo sendo um ato de obediência ao pai, Isaac, permanece um momento dramático. Aqui o narrador incita os leitores da tradição de Israel e, depois, os cristãos a perceberem neste momento da vida de Jacó sua plena inserção na saga de seu avô Abraão. Diante desse cenário de insegurança e crise, o sonho abre uma porta ao leitor para um horizonte inesperado e feliz.

Primeiramente a escada: com base na terra e cume nos céus. À diferença da ‘torre de Babel’, esta imagem no sonho indica uma abertura dos céus sobre a vida incerta do jovem patriarca:

E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume por cal. E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra (Gênesis 11, 3-4).

Esta ‘subida aos céus’ constituía uma estratégia do mal, uma cilada do pecado: tomar o céu de assalto, transformar o transcendente em imanente. Derrocada. Ao contrário, a escada de Jacó representa a oferta de Deus a Israel, uma abertura dos Céus (Catábasis=descida) verso os eleitos. Israel tem acesso a Deus. Ao mesmo tempo que constitui também um convite à elevação, a chegar até Deus (Anábasis=Subida):

E sonhou: e eis uma escada posta na terra, cujo topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela.

No segundo momento, os anjos: Nas escadas de Jacó, como espaço de fruição do céu na terra e caminho dialógico da Revelação, aparecem as figura dos ‘anjos’. Eles são criaturas celestes a serviço de Deus, indicam ao leitor que esta visão tem conteúdo e não somente visão ou imagem.

Ao ver a presença dos anjos no relato, o leitor deve esperar que Deus se manifeste. Estas criaturas celestes em sua aparição sinalizam a expressão desígnio Divino de manifestar-Se aos homens, em particular a Israel.

3. A Escada: Lugar da celebração da aliança dos patriarcas (Gn 28, 14s)

E eis que o Senhor estava em cima dela, e disse: Eu sou o Senhor Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra, em que estás deitado, darei a ti e a tua descendência; E a tua descendência será como o pó da terra, e estender-se-á ao Ocidente, Oriente, Norte e Sul, e em ti e na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra; E eis que estou contigo, te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; porque não te deixarei, até que haja cumprido o que te tenho falado (Gn 28,13-15).

No topo desta escada movimentada está a sua origem e meta, o Deus de Abraão e de Isaac. Deus se revela a Jacó como sua segurança: ‘E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores’.

No exasperado momento de Jacó, afastando-se de casa rumo ao exílio, Deus lhe reconforta e confirma como herdeiro da aliança iniciada com seu avô. Alguns elementos, ao menos três, são claros:

‘Eu sou o Senhor Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque’

Esta Revelação de Deus a Jacó O insere na mesma estrada de seus pais. Deus com eles.

A pertença e a herança da Terra, prometida desde sempre: ‘esta terra, em que estás deitado, darei a ti e à tua descendência’.

E por fim, a promessa da posteridade: ‘E a tua descendência será como o pó da terra, e estender-se-á ao Ocidente, Oriente, Norte e Sul, e em ti e na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra’.

Trata-se da mesma fala Divina feita a Abraão, que agora se renova a seu neto Jacó, num contexto de dúvidas e incertezas.

 

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos
Autor

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos

Doutor em Teologia Bíblica