13 de Maio de 2024
Livros do Antigo Testamento (19)
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08/09/2017 12:24 - Atualizado em 08/09/2017 12:24
Livros do Antigo Testamento (19) 0
08/09/2017 12:24 - Atualizado em 08/09/2017 12:24
Vimos que os ensinamentos advindos de Gn 16 refletem-se imediatamente no que segue, culminando com a geração de Isaac. Deus retoma as ‘rédeas’ da Casa Abraâmica.
A casa patriarcal está alicerçada sobre quatro princípios básicos: autoridade, descendência, sucessão e residência. A autoridade é patriarcal; a descendência, patrilinear e agnática; a sucessão prioriza o primogênito; e a residência é patrilocal1.
Temos assim uma correta sequência de eventos, que protagonizam a ação de Deus na História:
Gn 17: a unidade apresenta a renovação da Berith, da Aliança de Deus com Abraão, a mudança de nome e a reafirmação das promessas com a circuncisão:
Sendo, pois, Abrão da idade de 99 anos, apareceu o Senhor a Abrão, e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito. E porei a minha aliança entre mim e ti, e te multiplicarei grandissimamente (Gênesis 17,1-2).
Esta afirmação enraíza as bases autênticas da relação entre Abrão e Deus: ‘Eu sou o Deus Todo-Poderoso’; Deus é suprema autoridade na vida e nas decisões de Abrão. Ele não deve ‘dar ouvido’ a outrem.
Reafirma-se a trajetória da aliança iniciada lá em Gn 12. Aliança que supõe dependência plena de Deus, que oferece em seu enorme poder salvação humana:
E estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência depois de ti em suas gerações, por aliança perpétua, para te ser a ti por Deus, e a tua descendência depois de ti (Gênesis 17,7).
Ao mesmo tempo, a Aliança com Deus é patrocínio de ‘mudança’ de vida, de santificação.
No desenrolar-se da História da Salvação, de fato, teremos o Código da Santidade para todo Israel: “Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito” (Gênesis 17,1). Sê perfeito, segue meus caminhos, anda na minha presença. Um programa de vida fantástico, depois dos equívocos anteriores.
A vida na presença de Deus é o primeiro fruto da Aliança e, ao mesmo tempo, constitui uma exigência no estabelecimento de relações tão precisas como aquelas entre Deus e o homem. Depois do esquecimento e do medo de Deus, nasce a memória e a consciência do primado de Deus na vida, no mundo e no coração.
Seguem-se outras exigências que ‘provêm’ e demonstram que a Casa Patriarcal estará para sempre em sintonia com as exigências da Aliança abraâmica:
Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós, e a tua descendência depois de ti: Que todo o homem entre vós será circuncidado. E circuncidareis a carne do vosso prepúcio; e isto será por sinal da aliança entre mim e vós (Gênesis 17,10-11).
Assim, como no dilúvio, há um sinal, agora, no corpo masculino da pertença exclusiva a Deus.
Para o patriarca da crítica veterotestamentária, Julius Wellhausen, toda a história sacerdotal estaria cravejada de alianças: na criação, depois do dilúvio em Noé, no limiar da história santa com Abraão, enfim no Sinai. Livro das Quatro Alianças podia muito bem ser o nome do escrito sacerdotal, em sigla ‘Q’ (quatuor).
Replica W . Zimmerli que as alianças sacerdotais se reduzem à metade. Nem a criação nem o Sinai têm algo a ver com aliança na perspectiva sacerdotal. Há apenas duas alianças em ‘P’: a de Noé (Gn 9, 8-17) e a de Abraão (Gn 17, 1-14). A primeira tem o arco-íris como sinal; a segunda expressar-se-á na circuncisão, que distinguirá Abraão e os seus descendentes.
Outro aspecto, a pertença a Deus pela Aliança, atinge diretamente a Abrão e Sarai, que terão seus nomes redefinidos pela lógica divina, do Deus, Todo Poderoso:
E não se chamará mais o teu nome Abrão, mas Abraão será o teu nome; porque por pai de muitas nações te tenho posto. Disse Deus mais a Abraão: A Sarai tua mulher não chamarás mais pelo nome de Sarai, mas Sara será o seu nome (Gênesis 17, 5. 15).
Novas denominações significam novos destinos e perspectivas de vida. Deus se mostra, na lógica da reconstrução da história humana, destituída de pleno sentido pelo pecado, como o Senhor e aqu’Ele que ressignifica a existência humana. Uma clara contraposição com a falsa proposta da serpente: ‘sereis como deuses’.
O Capítulo 17 ainda oferece-nos a questão da prole abraâmica numa cena inusitada, que antecipa o próximo capítulo da visita dos três homens (anjos).
Porque eu a hei de abençoar, e te darei dela um filho; e a abençoarei, e será mãe das nações; reis de povos sairão dela. Então caiu Abraão sobre o seu rosto, e riu-se, e disse no seu coração: A um homem de 100 anos há de nascer um filho? E dará à luz Sara da idade de noventa anos? (Gênesis 17, 16-17)
Aqui, o ‘riso’ está sobre os lábios de Abraão, que tem seus pensamentos íntimos revelados pelo narrador.
Ele fadiga a crer que para além de Ismael, outro filho lhes advenha. Um misto de adoração e dúvida. A típica oração de pecadores, que se dirigem a Deus, mas não confiam nele!
Referência:
1 file:///C:/Users/PC/Documents/125036-237040-1-SM.pdf acesso 22 de agosto de 2017.
Livros do Antigo Testamento (19)
08/09/2017 12:24 - Atualizado em 08/09/2017 12:24
Vimos que os ensinamentos advindos de Gn 16 refletem-se imediatamente no que segue, culminando com a geração de Isaac. Deus retoma as ‘rédeas’ da Casa Abraâmica.
A casa patriarcal está alicerçada sobre quatro princípios básicos: autoridade, descendência, sucessão e residência. A autoridade é patriarcal; a descendência, patrilinear e agnática; a sucessão prioriza o primogênito; e a residência é patrilocal1.
Temos assim uma correta sequência de eventos, que protagonizam a ação de Deus na História:
Gn 17: a unidade apresenta a renovação da Berith, da Aliança de Deus com Abraão, a mudança de nome e a reafirmação das promessas com a circuncisão:
Sendo, pois, Abrão da idade de 99 anos, apareceu o Senhor a Abrão, e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito. E porei a minha aliança entre mim e ti, e te multiplicarei grandissimamente (Gênesis 17,1-2).
Esta afirmação enraíza as bases autênticas da relação entre Abrão e Deus: ‘Eu sou o Deus Todo-Poderoso’; Deus é suprema autoridade na vida e nas decisões de Abrão. Ele não deve ‘dar ouvido’ a outrem.
Reafirma-se a trajetória da aliança iniciada lá em Gn 12. Aliança que supõe dependência plena de Deus, que oferece em seu enorme poder salvação humana:
E estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência depois de ti em suas gerações, por aliança perpétua, para te ser a ti por Deus, e a tua descendência depois de ti (Gênesis 17,7).
Ao mesmo tempo, a Aliança com Deus é patrocínio de ‘mudança’ de vida, de santificação.
No desenrolar-se da História da Salvação, de fato, teremos o Código da Santidade para todo Israel: “Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito” (Gênesis 17,1). Sê perfeito, segue meus caminhos, anda na minha presença. Um programa de vida fantástico, depois dos equívocos anteriores.
A vida na presença de Deus é o primeiro fruto da Aliança e, ao mesmo tempo, constitui uma exigência no estabelecimento de relações tão precisas como aquelas entre Deus e o homem. Depois do esquecimento e do medo de Deus, nasce a memória e a consciência do primado de Deus na vida, no mundo e no coração.
Seguem-se outras exigências que ‘provêm’ e demonstram que a Casa Patriarcal estará para sempre em sintonia com as exigências da Aliança abraâmica:
Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós, e a tua descendência depois de ti: Que todo o homem entre vós será circuncidado. E circuncidareis a carne do vosso prepúcio; e isto será por sinal da aliança entre mim e vós (Gênesis 17,10-11).
Assim, como no dilúvio, há um sinal, agora, no corpo masculino da pertença exclusiva a Deus.
Para o patriarca da crítica veterotestamentária, Julius Wellhausen, toda a história sacerdotal estaria cravejada de alianças: na criação, depois do dilúvio em Noé, no limiar da história santa com Abraão, enfim no Sinai. Livro das Quatro Alianças podia muito bem ser o nome do escrito sacerdotal, em sigla ‘Q’ (quatuor).
Replica W . Zimmerli que as alianças sacerdotais se reduzem à metade. Nem a criação nem o Sinai têm algo a ver com aliança na perspectiva sacerdotal. Há apenas duas alianças em ‘P’: a de Noé (Gn 9, 8-17) e a de Abraão (Gn 17, 1-14). A primeira tem o arco-íris como sinal; a segunda expressar-se-á na circuncisão, que distinguirá Abraão e os seus descendentes.
Outro aspecto, a pertença a Deus pela Aliança, atinge diretamente a Abrão e Sarai, que terão seus nomes redefinidos pela lógica divina, do Deus, Todo Poderoso:
E não se chamará mais o teu nome Abrão, mas Abraão será o teu nome; porque por pai de muitas nações te tenho posto. Disse Deus mais a Abraão: A Sarai tua mulher não chamarás mais pelo nome de Sarai, mas Sara será o seu nome (Gênesis 17, 5. 15).
Novas denominações significam novos destinos e perspectivas de vida. Deus se mostra, na lógica da reconstrução da história humana, destituída de pleno sentido pelo pecado, como o Senhor e aqu’Ele que ressignifica a existência humana. Uma clara contraposição com a falsa proposta da serpente: ‘sereis como deuses’.
O Capítulo 17 ainda oferece-nos a questão da prole abraâmica numa cena inusitada, que antecipa o próximo capítulo da visita dos três homens (anjos).
Porque eu a hei de abençoar, e te darei dela um filho; e a abençoarei, e será mãe das nações; reis de povos sairão dela. Então caiu Abraão sobre o seu rosto, e riu-se, e disse no seu coração: A um homem de 100 anos há de nascer um filho? E dará à luz Sara da idade de noventa anos? (Gênesis 17, 16-17)
Aqui, o ‘riso’ está sobre os lábios de Abraão, que tem seus pensamentos íntimos revelados pelo narrador.
Ele fadiga a crer que para além de Ismael, outro filho lhes advenha. Um misto de adoração e dúvida. A típica oração de pecadores, que se dirigem a Deus, mas não confiam nele!
Referência:
1 file:///C:/Users/PC/Documents/125036-237040-1-SM.pdf acesso 22 de agosto de 2017.
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