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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 13/05/2024

13 de Maio de 2024

Livros do Antigo Testamento (11)

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Livros do Antigo Testamento (11)

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14/07/2017 00:00 - Atualizado em 21/07/2017 15:42

Livros do Antigo Testamento (11) 0

14/07/2017 00:00 - Atualizado em 21/07/2017 15:42

No artigo passado tivemos ocasião de analisar em Gênesis 6 as condições do Dilúvio, suas razões da parte de Deus, irado com as condições de plena corrupção humana e a escolha de Noé, de salvar sua família dentre os seres humanos existentes. E, por fim, as indicações divinas para a construção da arca.

A unidade dos vv. 14-21 nos trouxe a visão da arca. Mais do que uma construção arquitetônica de Deus, trata-se de colocar ‘ordem na casa’. O mundo deve ser guiado por Deus, a falsa autonomia humana trouxe desgraça, pois estava fundada na desordem do pecado.

Noé não está só na arca que ele construiu para a sua salvação: ele está com sua família. Mesmo a primeira Carta de Pedro nos lembra que eram "oito almas", pessoas salvas do dilúvio (1 Pedro 3, 20)[1].

É precisamente este aspecto sobre relações familiares, olhando em primeiro lugar a arca em que se encontra a família de Noé. Em seguida, a questão das relações conjugais durante a enchente e, finalmente, estudar a história da nudez de Noé.

A arca de Noé

A arca que o patriarca deve construir está descrita com precisão, e Noé meticulosamente executa as instruções que ele recebe de Deus para a sua preparação (Gn 6,15-16):

E desta maneira a farás: De 300 côvados o comprimento da arca, e de 50 côvados a sua largura, e de trinta côvados a sua altura. Farás na arca uma janela, e de um côvado a acabarás em cima; e a porta da arca porás ao seu lado; far-lhe-ás andares, baixo, segundo e terceiro.

Até mesmo a arca, depois de tudo, parecia ser a “Tenda do Rei”, o seu tabernáculo, porque no futuro as mesmas medidas serão utilizadas para a construção do templo. Eram aquelas da arca de Noé: os cúbitos após a primeira medida "(ou seja, cerca de 45 m), tal como escrito em 2Cro 3, 3:

E estes foram os fundamentos que Salomão pôs para edificar a casa de Deus: o comprimento em côvados, segundo a primeira medida, era de 60 côvados, e a largura de 20 côvados.

As duas estruturas, a arca e o tabernáculo no deserto, não são tão diversas entre si: o lugar onde Deus encontra o seu povo e no qual Ele mostra a sua glória (a casa) também é o lugar (na forma de ‘arca’) que preserva a vida da humanidade e, portanto, o futuro do povo de Israel.

A família de Noé na arca

Continuamos a notar uma coisa óbvia: se a arca é como o tabernáculo, então, a família de Noé, guardada ali, - como metáfora para além de todo o simbolismo de cada família humana - é investida com a mesma honra que deve ser dada ao que no santuário evocava a presença de Deus.

Toda vida criada por Deus (e na arca lá estão todas!) é digna de ser resgatada, e aquela mais necessitada de salvação é a família humana. Não é de se admirar, então, que a mesma “Cesta” em que a Mãe deverá colocar Moisés (Ex 2, 3-5) tem o mesmo nome, em hebraico (Teba)[2], que a arca de Noé:

E a mulher concebeu e deu à luz um filho; e, vendo que ele era formoso, escondeu-o três meses. Não podendo, porém, mais escondê-lo, tomou uma arca de juncos, e a revestiu com barro e betume; e, pondo nela o menino, a pôs nos juncos à margem do rio. E sua irmã postou-se de longe, para saber o que lhe havia de acontecer.

Como em Moisés em perigo de afogamento nas águas do Nilo, e nesse caso sendo salvo em sua pequena arca por sua irmã Maria, também a arca de Noé retrata um plano mais amplo, a Providência Divina que resgata, no entanto, toda a Humanidade.

O Capítulo 7: a descrição do Dilúvio

Destaca-se nesta unidade, em particular, a idade avançada de Noé: ele tinha 600 anos! Encontramos duas alusões à sua vida longeva, v. 6 e 11:

v. 6: E era Noé da idade de 600 anos, quando o dilúvio das águas veio sobre a terra.

v. 11: No ano 600 da vida de Noé, no mês segundo, aos 17 dias do mês, naquele mesmo dia se romperam todas as fontes do grande abismo, e as janelas dos céus se abriram.

Esta alusão é importante, pois funciona como um código sobre a longevidade, que confirma a condição preservada de justiça de Noé e sua família. Algo que havia sido afirmado em 6,3, de modo peremptório, da parte de Deus, agora, mostra-se não aplicável ao justo Noé:

Então disse o Senhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele também é carne, porém os seus dias serão 120 anos.

A toda criação a família de Noé e os animais sobrevivem à purificação pela água, pois estavam isentos do mal da Humanidade, a impureza, a idolatria e a desobediência a Deus.

A Unidade 8, 1-22 retrata o decurso do Dilúvio e a sua conclusão, da qual destacamos a imagem da pomba, que nos milênios se tornará o símbolo da paz (A ONU aproveitou esta simbologia em seu estema), e da emocionante promessa ou juramento divino, concluído com o arco-íris.



[1]Os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água”.

[2]As Escrituras não fornecem descrições detalhadas dos diferentes tipos de cestos, ou cestas, usados na antiguidade, nas terras bíblicas, e usam-se diversas palavras hebraicas e gregas para cestos. A palavra hebraica mais empregada para indicar um cesto é sal. É usada para os três cestos de pão branco que o chefe dos padeiros de Faraó sonhou levar sobre a cabeça, sonho que José interpretou corretamente como significando a morte para o sonhador. (Gên 40:16-19, 22) Sal é também usado para o cesto em que se colocaram pão não fermentado, bolos e obreias, para serem usados na investidura do sacerdócio de Israel, sendo ele ainda chamado de “cesto da investidura”. (Êx 29:3, 23, 32; Le 8:2, 26, 31) O mesmo termo hebraico foi usado para o cesto que continha os pães não fermentados e as obreias usados cerimonialmente no dia em que se completava o nazireado de alguém. (Núm 6:13, 15, 17, 19) Também, foi num sal que Gideão colocou a carne que pôs diante do anjo de Jeová. (Jz 6:19) Embora as Escrituras não descrevam o sal, parece que este tipo de cesto tinha trançado fino, e, pelo menos em tempos posteriores, era feito de varas descascadas de salgueiro ou de folhas de palmeira. Pode ter sido bastante grande e raso, sendo assim do tipo conveniente para carregar pão, como no sonho profético do padeiro real. No Museu Britânico existe um modelo pintado de madeira, de uma mulher egípcia equilibrando na cabeça um cesto grande, raso e aberto, cheio de provisões alimentícias supostamente para os mortos” – Cf. https://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/1200000576

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14/07/2017 00:00 - Atualizado em 21/07/2017 15:42

No artigo passado tivemos ocasião de analisar em Gênesis 6 as condições do Dilúvio, suas razões da parte de Deus, irado com as condições de plena corrupção humana e a escolha de Noé, de salvar sua família dentre os seres humanos existentes. E, por fim, as indicações divinas para a construção da arca.

A unidade dos vv. 14-21 nos trouxe a visão da arca. Mais do que uma construção arquitetônica de Deus, trata-se de colocar ‘ordem na casa’. O mundo deve ser guiado por Deus, a falsa autonomia humana trouxe desgraça, pois estava fundada na desordem do pecado.

Noé não está só na arca que ele construiu para a sua salvação: ele está com sua família. Mesmo a primeira Carta de Pedro nos lembra que eram "oito almas", pessoas salvas do dilúvio (1 Pedro 3, 20)[1].

É precisamente este aspecto sobre relações familiares, olhando em primeiro lugar a arca em que se encontra a família de Noé. Em seguida, a questão das relações conjugais durante a enchente e, finalmente, estudar a história da nudez de Noé.

A arca de Noé

A arca que o patriarca deve construir está descrita com precisão, e Noé meticulosamente executa as instruções que ele recebe de Deus para a sua preparação (Gn 6,15-16):

E desta maneira a farás: De 300 côvados o comprimento da arca, e de 50 côvados a sua largura, e de trinta côvados a sua altura. Farás na arca uma janela, e de um côvado a acabarás em cima; e a porta da arca porás ao seu lado; far-lhe-ás andares, baixo, segundo e terceiro.

Até mesmo a arca, depois de tudo, parecia ser a “Tenda do Rei”, o seu tabernáculo, porque no futuro as mesmas medidas serão utilizadas para a construção do templo. Eram aquelas da arca de Noé: os cúbitos após a primeira medida "(ou seja, cerca de 45 m), tal como escrito em 2Cro 3, 3:

E estes foram os fundamentos que Salomão pôs para edificar a casa de Deus: o comprimento em côvados, segundo a primeira medida, era de 60 côvados, e a largura de 20 côvados.

As duas estruturas, a arca e o tabernáculo no deserto, não são tão diversas entre si: o lugar onde Deus encontra o seu povo e no qual Ele mostra a sua glória (a casa) também é o lugar (na forma de ‘arca’) que preserva a vida da humanidade e, portanto, o futuro do povo de Israel.

A família de Noé na arca

Continuamos a notar uma coisa óbvia: se a arca é como o tabernáculo, então, a família de Noé, guardada ali, - como metáfora para além de todo o simbolismo de cada família humana - é investida com a mesma honra que deve ser dada ao que no santuário evocava a presença de Deus.

Toda vida criada por Deus (e na arca lá estão todas!) é digna de ser resgatada, e aquela mais necessitada de salvação é a família humana. Não é de se admirar, então, que a mesma “Cesta” em que a Mãe deverá colocar Moisés (Ex 2, 3-5) tem o mesmo nome, em hebraico (Teba)[2], que a arca de Noé:

E a mulher concebeu e deu à luz um filho; e, vendo que ele era formoso, escondeu-o três meses. Não podendo, porém, mais escondê-lo, tomou uma arca de juncos, e a revestiu com barro e betume; e, pondo nela o menino, a pôs nos juncos à margem do rio. E sua irmã postou-se de longe, para saber o que lhe havia de acontecer.

Como em Moisés em perigo de afogamento nas águas do Nilo, e nesse caso sendo salvo em sua pequena arca por sua irmã Maria, também a arca de Noé retrata um plano mais amplo, a Providência Divina que resgata, no entanto, toda a Humanidade.

O Capítulo 7: a descrição do Dilúvio

Destaca-se nesta unidade, em particular, a idade avançada de Noé: ele tinha 600 anos! Encontramos duas alusões à sua vida longeva, v. 6 e 11:

v. 6: E era Noé da idade de 600 anos, quando o dilúvio das águas veio sobre a terra.

v. 11: No ano 600 da vida de Noé, no mês segundo, aos 17 dias do mês, naquele mesmo dia se romperam todas as fontes do grande abismo, e as janelas dos céus se abriram.

Esta alusão é importante, pois funciona como um código sobre a longevidade, que confirma a condição preservada de justiça de Noé e sua família. Algo que havia sido afirmado em 6,3, de modo peremptório, da parte de Deus, agora, mostra-se não aplicável ao justo Noé:

Então disse o Senhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele também é carne, porém os seus dias serão 120 anos.

A toda criação a família de Noé e os animais sobrevivem à purificação pela água, pois estavam isentos do mal da Humanidade, a impureza, a idolatria e a desobediência a Deus.

A Unidade 8, 1-22 retrata o decurso do Dilúvio e a sua conclusão, da qual destacamos a imagem da pomba, que nos milênios se tornará o símbolo da paz (A ONU aproveitou esta simbologia em seu estema), e da emocionante promessa ou juramento divino, concluído com o arco-íris.



[1]Os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água”.

[2]As Escrituras não fornecem descrições detalhadas dos diferentes tipos de cestos, ou cestas, usados na antiguidade, nas terras bíblicas, e usam-se diversas palavras hebraicas e gregas para cestos. A palavra hebraica mais empregada para indicar um cesto é sal. É usada para os três cestos de pão branco que o chefe dos padeiros de Faraó sonhou levar sobre a cabeça, sonho que José interpretou corretamente como significando a morte para o sonhador. (Gên 40:16-19, 22) Sal é também usado para o cesto em que se colocaram pão não fermentado, bolos e obreias, para serem usados na investidura do sacerdócio de Israel, sendo ele ainda chamado de “cesto da investidura”. (Êx 29:3, 23, 32; Le 8:2, 26, 31) O mesmo termo hebraico foi usado para o cesto que continha os pães não fermentados e as obreias usados cerimonialmente no dia em que se completava o nazireado de alguém. (Núm 6:13, 15, 17, 19) Também, foi num sal que Gideão colocou a carne que pôs diante do anjo de Jeová. (Jz 6:19) Embora as Escrituras não descrevam o sal, parece que este tipo de cesto tinha trançado fino, e, pelo menos em tempos posteriores, era feito de varas descascadas de salgueiro ou de folhas de palmeira. Pode ter sido bastante grande e raso, sendo assim do tipo conveniente para carregar pão, como no sonho profético do padeiro real. No Museu Britânico existe um modelo pintado de madeira, de uma mulher egípcia equilibrando na cabeça um cesto grande, raso e aberto, cheio de provisões alimentícias supostamente para os mortos” – Cf. https://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/1200000576

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos
Autor

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos

Doutor em Teologia Bíblica