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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 13/05/2024

13 de Maio de 2024

Livros do Antigo Testamento (5)

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Livros do Antigo Testamento (5)

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02/06/2017 00:00 - Atualizado em 07/07/2017 15:35

Livros do Antigo Testamento (5) 0

02/06/2017 00:00 - Atualizado em 07/07/2017 15:35

Depois de algumas abordagens sobre os pressupostos acerca do Pentateuco, ambiente literário dos primeiros cinco livros da Bíblia cristã, na sua primeira parte, o Antigo Testamento, agora é hora de zarparmos na direção da identidade de cada livro desta antiga e valiosa coleção. O primeiro, evidentemente, será o “Livro do Gênesis”.

Ao primeiro livro da Bíblia – e, portanto, do Pentateuco – dá-se o nome de Gênesis. É termo grego e significa “origem”, “nascimento”. Os livros da Bíblia hebraica não tinham qualquer título. Eram chamados, simplesmente, pela primeira ou pelas primeiras palavras. Assim, este foi denominado, simplesmente de ‘Bereshit’1.

Os autores da tradução da Bíblia hebraica para o grego (Bíblia dos Setenta)2 acharam por bem dar aos livros um título de acordo com o seu conteúdo. Como este livro trata do princípio de tudo, chamaram-lhe Gênesis, isto é, “Livro das Origens”.

Em seus 50 capítulos, este livro responde a duas formas de origem de Deus, que em suas respostas colocariam o livro em uma ordem inversa aquela que lemos. Primeiro teríamos o plano história de Israel (12-50,26) e depois o plano Universal, com as narrativas da Criação e do Pecado Humano (1-11,32).

De um lado, temos as origens de Israel, uma pergunta histórica, na lógica da Salvação, como a encontramos descrita na saga de Abrão, o Caldeu. Do outro, um campo mais vasto, a História da Criação e do Pecado.

Mas, como afirmamos acerca das tradições, a primeira questão das ‘origens’ refere-se a Deus, sua Identidade, sua Palavra e os eventos em torno de sua Revelação. Em outras palavras, quem é o ‘Deus de Abraão, Isaac e Jacó’? E ainda, quem é o Deus Criador?

A segunda parte do atual livro do Gênesis relata uma destas respostas: Gn 12-50,26 nela se reúne em diversas tradições esta questão. Israel se autocompreende na medida em que aceita e aprofunda a Revelação aos Pais.

Aliás, a História do Patriarcado de Israel situa a origem histórico-salvífica da Comunidade da Aliança. A tradição nestes capítulos transmitiu a convicção das origens de Israel, na ‘Berit’3, na Aliança. O Deus que se dirige a Abrão o torna participante de uma relação estreita com Deus, e ao mesmo tempo, fonte de uma nova forma de humanidade, a sua descendência.

Na Bíblia, o termo Aliança (em hebraico: berith; em grego, diatheke) é utilizado para definir o pacto divino entre Deus e os homens. Em ambas as partes, a iniciativa é sempre Divina. Na segunda, tudo começa com uma palavra divina que oferece e estabelece Aliança, pela escolha de Abrão e sua Família (mulher e sobrinho) em vista de eventos futuros: “E, Deus disse a Abrão” (Gn 12,1).

A partir da resposta abraâmica, isto é, um ato de obediência e adesão à ordem “Sai da tua terra e vai para onde eu te enviar” (v.1), lemos de fato, no v.4, que ele partiu: “Abrão partiu como o Senhor lhe tinha dito, e Lot foi com ele”.

Aqui estão as primícias ou as origens de Israel, um Povo nascido da obediência e da Fé abraâmica, que parte para onde Deus quer e envia, em detrimento de seus interesses ou condições (v. “Abrão tinha 75 quando partiu de Harã”).

Não se tratava de um jovem atrás de aventuras e emoções novas. Abrão e sua mulher Sarai eram maduros quando são interpelados por Deus a abandonar o que têm em busca do desconhecido e do arriscado.

Este ciclo abraâmico deverá concluir-se com o ciclo narrativo de José, seu bisneto, filho de seu neto, Jacó. Veremos em cada um destes ciclos como Deus age e como interpela Israel a comportar-se diante d’Ele e diante dos povos pagãos.

Enquanto isso, na primeira parte do “Livro do Gênesis”, está a ação soberana de Deus como criador no Universo. Sabemos que este grau de afirmação da Fé do Povo de Israel em Deus é uma exigência nascida da dura experiência do exílio, quando a superação do modelo cosmogônico (gênesis do mundo ou do cosmos) dos pagãos é possível pela afirmação do ‘dogma’ judeu da Criação divina pelo Deus Único e Verdadeiro, aquele de Abrão, Isaac e Jacó. O Amigo de Moisés.

Além da questão das origens, colocada nos dois relatos da Criação, temos também a questão delicada da origem do mal, das desgraças, colocada pela mentalidade pagã, comum a Israel, no Egito e na Babilônia, assim como pela Grécia em sua mitologia. Israel guarda e comunica uma verdade sobre o mal humano, que se afasta da confusão panteísta pagã e, mesmo da indiferença ética do mundo pagão, por causa do mistério da liberdade humana.

Referência:

1 Bereshit (do hebraico בראשית, Bereshít, “no início”, “no princípio”, primeira palavra do texto) é o nome da primeira parte da Torá. Bereshit é chamado comumente de Gênesis pela tradição ocidental e trata-se praticamente do mesmo livro apesar de algumas diferenças, principalmente no que lida com interpretações religiosas com outras religiões que aceitam o livro de Gênesis. Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Bereshit.

2 Septuaginta é o nome da versão da Bíblia hebraica traduzida em etapas para o grego koiné, entre o século III a. C. e o século I a. C., em Alexandria. Dentre outras tantas, é a mais antiga tradução da bíblia hebraica para o grego, língua franca do Mediterrâneo oriental pelo tempo de Alexandre, o Grande. A tradução ficou conhecida como a Versão dos Setenta (ou Septuaginta, palavra latina que significa setenta, ou ainda LXX), pois setenta e dois rabinos (seis de cada uma das doze tribos) trabalharam nela e, segundo a tradição, teriam completado a tradução em setenta e dois dias. A Septuaginta, desde o século I, é a versão clássica da Bíblia hebraica para os cristãos de língua grega e foi usada como base para diversas traduções da Bíblia. A Septuaginta inclui alguns livros não encontrados na bíblia hebraica. Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Septuaginta.

3 Berith: Embora a etimologia de berith não esteja ainda de todo clarificada, algumas derivações têm sido sugeridas, devendo ser estas as seguintes: 1. Berith é a forma feminina de brh , “comer pão, alimentar - talvez fazer uma refeição” (II Sm 3:35; 12:17; 13:5,6,10; Sl 69:22; Lam. 4:10), e refere-se à refeição festiva que acompanhava a cerimónia pactual. Poderíamos comparar a isto, o termo grego ‘spondê’ (= libação) para “pacto, aliança” o qual refletia a cerimónia executada quando o pacto era concluído. Cf. https://pt.scribd.com/doc/36505825/69-Berith-O-conceito-Alianca-Concerto-Pacto-Hebraico

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02/06/2017 00:00 - Atualizado em 07/07/2017 15:35

Depois de algumas abordagens sobre os pressupostos acerca do Pentateuco, ambiente literário dos primeiros cinco livros da Bíblia cristã, na sua primeira parte, o Antigo Testamento, agora é hora de zarparmos na direção da identidade de cada livro desta antiga e valiosa coleção. O primeiro, evidentemente, será o “Livro do Gênesis”.

Ao primeiro livro da Bíblia – e, portanto, do Pentateuco – dá-se o nome de Gênesis. É termo grego e significa “origem”, “nascimento”. Os livros da Bíblia hebraica não tinham qualquer título. Eram chamados, simplesmente, pela primeira ou pelas primeiras palavras. Assim, este foi denominado, simplesmente de ‘Bereshit’1.

Os autores da tradução da Bíblia hebraica para o grego (Bíblia dos Setenta)2 acharam por bem dar aos livros um título de acordo com o seu conteúdo. Como este livro trata do princípio de tudo, chamaram-lhe Gênesis, isto é, “Livro das Origens”.

Em seus 50 capítulos, este livro responde a duas formas de origem de Deus, que em suas respostas colocariam o livro em uma ordem inversa aquela que lemos. Primeiro teríamos o plano história de Israel (12-50,26) e depois o plano Universal, com as narrativas da Criação e do Pecado Humano (1-11,32).

De um lado, temos as origens de Israel, uma pergunta histórica, na lógica da Salvação, como a encontramos descrita na saga de Abrão, o Caldeu. Do outro, um campo mais vasto, a História da Criação e do Pecado.

Mas, como afirmamos acerca das tradições, a primeira questão das ‘origens’ refere-se a Deus, sua Identidade, sua Palavra e os eventos em torno de sua Revelação. Em outras palavras, quem é o ‘Deus de Abraão, Isaac e Jacó’? E ainda, quem é o Deus Criador?

A segunda parte do atual livro do Gênesis relata uma destas respostas: Gn 12-50,26 nela se reúne em diversas tradições esta questão. Israel se autocompreende na medida em que aceita e aprofunda a Revelação aos Pais.

Aliás, a História do Patriarcado de Israel situa a origem histórico-salvífica da Comunidade da Aliança. A tradição nestes capítulos transmitiu a convicção das origens de Israel, na ‘Berit’3, na Aliança. O Deus que se dirige a Abrão o torna participante de uma relação estreita com Deus, e ao mesmo tempo, fonte de uma nova forma de humanidade, a sua descendência.

Na Bíblia, o termo Aliança (em hebraico: berith; em grego, diatheke) é utilizado para definir o pacto divino entre Deus e os homens. Em ambas as partes, a iniciativa é sempre Divina. Na segunda, tudo começa com uma palavra divina que oferece e estabelece Aliança, pela escolha de Abrão e sua Família (mulher e sobrinho) em vista de eventos futuros: “E, Deus disse a Abrão” (Gn 12,1).

A partir da resposta abraâmica, isto é, um ato de obediência e adesão à ordem “Sai da tua terra e vai para onde eu te enviar” (v.1), lemos de fato, no v.4, que ele partiu: “Abrão partiu como o Senhor lhe tinha dito, e Lot foi com ele”.

Aqui estão as primícias ou as origens de Israel, um Povo nascido da obediência e da Fé abraâmica, que parte para onde Deus quer e envia, em detrimento de seus interesses ou condições (v. “Abrão tinha 75 quando partiu de Harã”).

Não se tratava de um jovem atrás de aventuras e emoções novas. Abrão e sua mulher Sarai eram maduros quando são interpelados por Deus a abandonar o que têm em busca do desconhecido e do arriscado.

Este ciclo abraâmico deverá concluir-se com o ciclo narrativo de José, seu bisneto, filho de seu neto, Jacó. Veremos em cada um destes ciclos como Deus age e como interpela Israel a comportar-se diante d’Ele e diante dos povos pagãos.

Enquanto isso, na primeira parte do “Livro do Gênesis”, está a ação soberana de Deus como criador no Universo. Sabemos que este grau de afirmação da Fé do Povo de Israel em Deus é uma exigência nascida da dura experiência do exílio, quando a superação do modelo cosmogônico (gênesis do mundo ou do cosmos) dos pagãos é possível pela afirmação do ‘dogma’ judeu da Criação divina pelo Deus Único e Verdadeiro, aquele de Abrão, Isaac e Jacó. O Amigo de Moisés.

Além da questão das origens, colocada nos dois relatos da Criação, temos também a questão delicada da origem do mal, das desgraças, colocada pela mentalidade pagã, comum a Israel, no Egito e na Babilônia, assim como pela Grécia em sua mitologia. Israel guarda e comunica uma verdade sobre o mal humano, que se afasta da confusão panteísta pagã e, mesmo da indiferença ética do mundo pagão, por causa do mistério da liberdade humana.

Referência:

1 Bereshit (do hebraico בראשית, Bereshít, “no início”, “no princípio”, primeira palavra do texto) é o nome da primeira parte da Torá. Bereshit é chamado comumente de Gênesis pela tradição ocidental e trata-se praticamente do mesmo livro apesar de algumas diferenças, principalmente no que lida com interpretações religiosas com outras religiões que aceitam o livro de Gênesis. Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Bereshit.

2 Septuaginta é o nome da versão da Bíblia hebraica traduzida em etapas para o grego koiné, entre o século III a. C. e o século I a. C., em Alexandria. Dentre outras tantas, é a mais antiga tradução da bíblia hebraica para o grego, língua franca do Mediterrâneo oriental pelo tempo de Alexandre, o Grande. A tradução ficou conhecida como a Versão dos Setenta (ou Septuaginta, palavra latina que significa setenta, ou ainda LXX), pois setenta e dois rabinos (seis de cada uma das doze tribos) trabalharam nela e, segundo a tradição, teriam completado a tradução em setenta e dois dias. A Septuaginta, desde o século I, é a versão clássica da Bíblia hebraica para os cristãos de língua grega e foi usada como base para diversas traduções da Bíblia. A Septuaginta inclui alguns livros não encontrados na bíblia hebraica. Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Septuaginta.

3 Berith: Embora a etimologia de berith não esteja ainda de todo clarificada, algumas derivações têm sido sugeridas, devendo ser estas as seguintes: 1. Berith é a forma feminina de brh , “comer pão, alimentar - talvez fazer uma refeição” (II Sm 3:35; 12:17; 13:5,6,10; Sl 69:22; Lam. 4:10), e refere-se à refeição festiva que acompanhava a cerimónia pactual. Poderíamos comparar a isto, o termo grego ‘spondê’ (= libação) para “pacto, aliança” o qual refletia a cerimónia executada quando o pacto era concluído. Cf. https://pt.scribd.com/doc/36505825/69-Berith-O-conceito-Alianca-Concerto-Pacto-Hebraico

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos
Autor

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos

Doutor em Teologia Bíblica