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25 de Abril de 2024

Livros do Antigo Testamento (3)

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Livros do Antigo Testamento (3)

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19/05/2017 17:53 - Atualizado em 19/05/2017 18:12

Livros do Antigo Testamento (3) 0

19/05/2017 17:53 - Atualizado em 19/05/2017 18:12

Neste artigo, iniciamos os estudos sobre as fontes do conjunto dos primeiros cinco livros do Antigo Testamento, também chamado de Pentateuco.

A hipótese documental, desenvolvida por Julius Wellhausen, também conhecida como Teoria das Fontes, é a teoria segundo a qual os cinco primeiros livros do Antigo Testamento (chamados de Pentateuco) são resultado de uma composição a partir de quatro fontes principais: eloísta, javista, sacerdotal e deuteronomista.

Nesta teoria, os escritos veterotestamentarios, principalmente a Tora, são divididos em quatro grupos de fontes:

1) A fonte Javista, que contém relatos de diversas épocas diferentes, sendo original de Judá, no sul do antigo Israel, e, em geral, atribui a Deus o nome de Yahweh – conhecida pela letra ‘j’;

2) A fonte Eloísta (E), que também contém relatos de diversas épocas diferentes, sendo original de Efraim, no norte do Antigo Israel. Em geral trata Deus com o nome de Elohim e é identificada pela letra ‘e’. Ambas as fontes contém documentos tão antigos quanto o próprio surgimento do hebraico enquanto língua gramaticalmente estruturada, por volta do séc. X a.C, baseando-nos no Calendário de Gezer1, o documento arqueológico em língua hebraica, o mais antigo.

3) A fonte Deuteronomista (D), que provém dos círculos ligados ao ensino doutrinário, contém longos discursos e princípios reguladores, e está espalhada pelos Nebiim2 além do Deuteronômio e do restante da Torá. É conhecida pela letra ‘d’ e usa fontes literárias tanto do norte quanto do sul, principalmente do norte, mas seu fechamento redacional ocorreu no sul por volta do período exílico (entre 597 e 538 AEC).

4) A fonte Sacerdotal (P), sempre referenciada com a letra ‘p’ (do alemão Priester e do inglês Priest), é a fonte dos escritos elaborados pelos membros dos grupos de sacerdotes e que estiveram grandemente envolvidos no processo de compilação tardia ou final dos escritos bíblicos que chamamos de Antigo Testamento ou Tanakh3, a Bíblia hebraica. É uma fonte original do sul de Israel, e sua datação é próxima do período pós-exílio (a partir de 445 AEC). O uso das letras que caracterizam cada uma das fontes dá à hipótese documental o “codinome” JEDP.

A mais antiga seria a “tradição Javista” (J) – segundo Wellhausen-Graf, “Documento Javista” – assim denominada por designar a Deus, desde o relato da criação, com o nome “Javé”. Que, após a morte de Salomão, filho de Davi, a “Terra Santa” foi dividida em dois reinos distintos e rivais entre si: Israel e Judá.

O “Javista” teria sido redigido em Judá, no reino do Sul, por volta do século IX. Entretanto, críticos modernos estão inclinados a datá-la no reinado de Salomão ou mesmo de Davi, portanto, antes do cisma Norte-Sul.

Segundo estudiosos, a tradição Javista contém a história do Paraíso e do pecado original; o relato sobre os “filhos de Deus e as filhas dos homens”; o dilúvio, Noé e a vinha; parte da lista das nações; a torre de Babel; a vocação de Abraão e sua viagem a Hebron; a promessa da terra e de uma numerosa posteridade; Agar e Ismael; os hóspedes de Abraão; a destruição de Sodoma e Gomorra; Ló e suas filhas; o nascimento de Isaac; a corte de Rebeca; a história de Isaac; Esaú e Jacó; o nascimento dos filhos de Jacó; Jacó e Labão; Jacó em Siquém; a genealogia edomita; José e seus irmãos; José no Egito; a bênção de Jacó; a opressão de Israel no Egito; o nascimento e a vocação de Moisés; provavelmente, sete das dez pragas; a passagem pelo mar; a viagem do mar ao Sinai; as codornizes e o maná; uma breve notícia da teofania do Sinai; o bezerro de ouro; os mandamentos (Ex 34); a partida do Sinai; o envio dos exploradores à terra de Canaã; a rebelião de Datã e Abiram; a viagem de Cades a Moab; os oráculos de Balaão; a adoração de Baal Peor; a luta entre as tribos orientais e ocidentais; a morte de Moisés4.

A “tradição Javista” foi chamada “a épica nacional israelita e é a expressão da consciência nacional de Israel que se originou das vitórias de Davi e da prosperidade que seu reino iniciou” (J. L. McKenzie).

O Javista é considerado um dos maiores narradores do Antigo Testamento. Tanto que suas histórias figuram entre as mais conhecidas e apreciadas de toda a Bíblia.

Nos últimos cem anos, a história da exegese muitas vezes pôs em dúvida a existência da “tradição Eloísta”. Ora, a presença de duplicações que não pertencem nem à tradição Javista nem às outras tradições (Deuteronomista e Sacerdotal) foi o argumento utilizado para se propor sua existência, mas nem todos os pesquisadores concordam que isso signifique a existência de outra tradição.

De fato, torna-se difícil estabelecer a prova decisiva de sua existência. Entretanto, não se deve insistir demais nas dificuldades, porque a leitura atenta dos textos ditos eloístas permite chegar a uma conclusão razoável. Atrás dos trechos que possuímos, delineia-se uma obra bem organizada, que transmitiu uma interpretação da tradição antiga de Israel5.

Referências:

1 O calendário de Gezer é uma tabuleta da pedra calcária macia inscrita em um certificado da língua páleo-hebraica. É um dos exemplos sabidos os mais velhos da escrita e de datas hebreu ao 10o século a.C. Descobriu-se nas escavações da cidade bíblica de Gezer por R.A.S. Macalister  em suas escavações entre 1902 e 1907. O calendário descreve períodos e atributos mensais ou bimensais de cada um em relação à colheita, plantio ou ainda colheitas específicas. O estudioso especulou que o calendário é exercício da memória de uma escola fundamental ou talvez o texto de uma canção popular, ou uma canção da criança. Outra possibilidade é algo projetada para a coleção dos impostos dos fazendeiros. O calendário de Gezer está no museu do Oriente antigo em Istambul, junto com outras descobertas da Escola Holandesa de arqueologia da Ia Guerra Mundial.

2 Esta seção da Bíblia é conhecida como os Profetas. A primeira parte, os Velhos Profetas, apresenta lições morais e espirituais a partir de narrativas históricas. A segunda, os Novos Profetas, inclui, sobretudo falas proféticas que abrangem muitos temas - das exigências morais de Deus até a profecia sobre um tempo de paz na terra em que Ele há de reinar. Cf. http://www.ossario.com/judaismo_biblia.htm

3 Tanakh é o nome hebraico da Bíblia. Consiste em três grupos de livros: a Torá, o Nebiim e o Ketubim. O nome Tanakh deriva das letras das três palavras. O Tanakh conta a história do pacto de Deus com seu povo. Cf. . http://www.ossario.com/judaismo_biblia.htm

4 https://teologiabiblica.wordpress.com/2008/04/23/as-tradicoes-literarias-do-pentateuco-a-javista/

5 https://teologiabiblica.wordpress.com/2008/05/28/a-tradicao-eloista-i/

 

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Livros do Antigo Testamento (3)

19/05/2017 17:53 - Atualizado em 19/05/2017 18:12

Neste artigo, iniciamos os estudos sobre as fontes do conjunto dos primeiros cinco livros do Antigo Testamento, também chamado de Pentateuco.

A hipótese documental, desenvolvida por Julius Wellhausen, também conhecida como Teoria das Fontes, é a teoria segundo a qual os cinco primeiros livros do Antigo Testamento (chamados de Pentateuco) são resultado de uma composição a partir de quatro fontes principais: eloísta, javista, sacerdotal e deuteronomista.

Nesta teoria, os escritos veterotestamentarios, principalmente a Tora, são divididos em quatro grupos de fontes:

1) A fonte Javista, que contém relatos de diversas épocas diferentes, sendo original de Judá, no sul do antigo Israel, e, em geral, atribui a Deus o nome de Yahweh – conhecida pela letra ‘j’;

2) A fonte Eloísta (E), que também contém relatos de diversas épocas diferentes, sendo original de Efraim, no norte do Antigo Israel. Em geral trata Deus com o nome de Elohim e é identificada pela letra ‘e’. Ambas as fontes contém documentos tão antigos quanto o próprio surgimento do hebraico enquanto língua gramaticalmente estruturada, por volta do séc. X a.C, baseando-nos no Calendário de Gezer1, o documento arqueológico em língua hebraica, o mais antigo.

3) A fonte Deuteronomista (D), que provém dos círculos ligados ao ensino doutrinário, contém longos discursos e princípios reguladores, e está espalhada pelos Nebiim2 além do Deuteronômio e do restante da Torá. É conhecida pela letra ‘d’ e usa fontes literárias tanto do norte quanto do sul, principalmente do norte, mas seu fechamento redacional ocorreu no sul por volta do período exílico (entre 597 e 538 AEC).

4) A fonte Sacerdotal (P), sempre referenciada com a letra ‘p’ (do alemão Priester e do inglês Priest), é a fonte dos escritos elaborados pelos membros dos grupos de sacerdotes e que estiveram grandemente envolvidos no processo de compilação tardia ou final dos escritos bíblicos que chamamos de Antigo Testamento ou Tanakh3, a Bíblia hebraica. É uma fonte original do sul de Israel, e sua datação é próxima do período pós-exílio (a partir de 445 AEC). O uso das letras que caracterizam cada uma das fontes dá à hipótese documental o “codinome” JEDP.

A mais antiga seria a “tradição Javista” (J) – segundo Wellhausen-Graf, “Documento Javista” – assim denominada por designar a Deus, desde o relato da criação, com o nome “Javé”. Que, após a morte de Salomão, filho de Davi, a “Terra Santa” foi dividida em dois reinos distintos e rivais entre si: Israel e Judá.

O “Javista” teria sido redigido em Judá, no reino do Sul, por volta do século IX. Entretanto, críticos modernos estão inclinados a datá-la no reinado de Salomão ou mesmo de Davi, portanto, antes do cisma Norte-Sul.

Segundo estudiosos, a tradição Javista contém a história do Paraíso e do pecado original; o relato sobre os “filhos de Deus e as filhas dos homens”; o dilúvio, Noé e a vinha; parte da lista das nações; a torre de Babel; a vocação de Abraão e sua viagem a Hebron; a promessa da terra e de uma numerosa posteridade; Agar e Ismael; os hóspedes de Abraão; a destruição de Sodoma e Gomorra; Ló e suas filhas; o nascimento de Isaac; a corte de Rebeca; a história de Isaac; Esaú e Jacó; o nascimento dos filhos de Jacó; Jacó e Labão; Jacó em Siquém; a genealogia edomita; José e seus irmãos; José no Egito; a bênção de Jacó; a opressão de Israel no Egito; o nascimento e a vocação de Moisés; provavelmente, sete das dez pragas; a passagem pelo mar; a viagem do mar ao Sinai; as codornizes e o maná; uma breve notícia da teofania do Sinai; o bezerro de ouro; os mandamentos (Ex 34); a partida do Sinai; o envio dos exploradores à terra de Canaã; a rebelião de Datã e Abiram; a viagem de Cades a Moab; os oráculos de Balaão; a adoração de Baal Peor; a luta entre as tribos orientais e ocidentais; a morte de Moisés4.

A “tradição Javista” foi chamada “a épica nacional israelita e é a expressão da consciência nacional de Israel que se originou das vitórias de Davi e da prosperidade que seu reino iniciou” (J. L. McKenzie).

O Javista é considerado um dos maiores narradores do Antigo Testamento. Tanto que suas histórias figuram entre as mais conhecidas e apreciadas de toda a Bíblia.

Nos últimos cem anos, a história da exegese muitas vezes pôs em dúvida a existência da “tradição Eloísta”. Ora, a presença de duplicações que não pertencem nem à tradição Javista nem às outras tradições (Deuteronomista e Sacerdotal) foi o argumento utilizado para se propor sua existência, mas nem todos os pesquisadores concordam que isso signifique a existência de outra tradição.

De fato, torna-se difícil estabelecer a prova decisiva de sua existência. Entretanto, não se deve insistir demais nas dificuldades, porque a leitura atenta dos textos ditos eloístas permite chegar a uma conclusão razoável. Atrás dos trechos que possuímos, delineia-se uma obra bem organizada, que transmitiu uma interpretação da tradição antiga de Israel5.

Referências:

1 O calendário de Gezer é uma tabuleta da pedra calcária macia inscrita em um certificado da língua páleo-hebraica. É um dos exemplos sabidos os mais velhos da escrita e de datas hebreu ao 10o século a.C. Descobriu-se nas escavações da cidade bíblica de Gezer por R.A.S. Macalister  em suas escavações entre 1902 e 1907. O calendário descreve períodos e atributos mensais ou bimensais de cada um em relação à colheita, plantio ou ainda colheitas específicas. O estudioso especulou que o calendário é exercício da memória de uma escola fundamental ou talvez o texto de uma canção popular, ou uma canção da criança. Outra possibilidade é algo projetada para a coleção dos impostos dos fazendeiros. O calendário de Gezer está no museu do Oriente antigo em Istambul, junto com outras descobertas da Escola Holandesa de arqueologia da Ia Guerra Mundial.

2 Esta seção da Bíblia é conhecida como os Profetas. A primeira parte, os Velhos Profetas, apresenta lições morais e espirituais a partir de narrativas históricas. A segunda, os Novos Profetas, inclui, sobretudo falas proféticas que abrangem muitos temas - das exigências morais de Deus até a profecia sobre um tempo de paz na terra em que Ele há de reinar. Cf. http://www.ossario.com/judaismo_biblia.htm

3 Tanakh é o nome hebraico da Bíblia. Consiste em três grupos de livros: a Torá, o Nebiim e o Ketubim. O nome Tanakh deriva das letras das três palavras. O Tanakh conta a história do pacto de Deus com seu povo. Cf. . http://www.ossario.com/judaismo_biblia.htm

4 https://teologiabiblica.wordpress.com/2008/04/23/as-tradicoes-literarias-do-pentateuco-a-javista/

5 https://teologiabiblica.wordpress.com/2008/05/28/a-tradicao-eloista-i/

 

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos
Autor

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos

Doutor em Teologia Bíblica