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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 14/05/2024

14 de Maio de 2024

A Palavra de Deus na Bíblia (89): Interpretação e tradução da Bíblia

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14 de Maio de 2024

A Palavra de Deus na Bíblia (89): Interpretação e tradução da Bíblia

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31/03/2017 18:16 - Atualizado em 31/03/2017 18:16

A Palavra de Deus na Bíblia (89): Interpretação e tradução da Bíblia 0

31/03/2017 18:16 - Atualizado em 31/03/2017 18:16

Neste artigo damos prosseguimento à exposição e análise dos quatro usos das Escrituras na Vida da Igreja.

2. “Lectio Divina”1

A “Lectio divina” é uma leitura individual ou comunitária de uma passagem mais ou menos longa da Escritura acolhida como Palavra de Deus e que se desenvolve sob a moção do Espírito em meditação, oração e contemplação2.

Nesta pequena definição indicam-se os diversos elementos característicos desta lectio (leitura). Primeiro, contato pessoal e comunitário com a Palavra de Deus, fora da liturgia da missa. Assim, experimentamos o que Deus previu como caminho de Salvação para Israel e para nós. Entrar em contato com Deus. Ouvir a Deus, que fala, que se autocomunica.

Esta ‘audição’ não é física, nem psicológica. Trata-se de uma decisão Divina, que se explica na obra da Criação, pois somos ‘imagem e semelhança’ de Deus (Gen, 1, 26: ‘no último dia da criação, disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gênesis 1:26).’). A terceira Pessoa da Trindade, o Espírito Santo, comunica-nos a Palavra de Deus, aliás, Ele nos relaciona com Deus, Mestre da intimidade.

O cuidado de se fazer uma leitura regular e mesmo cotidiana da Escritura corresponde a uma prática antiga na Igreja. Como prática coletiva, ela é atestada no século III, na época de Orígenes; este fazia a homilia a partir de um texto da Escritura lido continuadamente durante a semana. Havia então assembleias cotidianas consagradas à leitura e à explicação da Escritura. Esta prática, que foi abandonada posteriormente, não encontrava sempre um grande sucesso junto aos cristãos (Orígenes, Hom. Gen. X,1)3.

Outra característica da lectio é a cotidianidade da escuta pessoal, comunitária ou individual das Sagradas Escrituras. Regularidade é sempre sintoma de processos de amadurecimento. Muitos começam animadamente, mas não mantém um ritmo frequente de oração e ação espirituais, vindos a perder o pouco que obtiveram, aliás, é o que se escuta em certo trecho da “Parábola do Semeador”: ‘20 A semente que caiu no meio de pedras representa a pessoa que ouve a mensagem a respeito do reino e a aceita imediatamente e com muita alegria. 21 Mas, como não tem raiz, não dura muito tempo. Assim que encontra dificuldades ou que é perseguida por causa da mensagem, abandona a sua fé. – (Mt 13,20s)’.

Uma leitura contínua e regular das Sagradas Escrituras reestabelece a alma cristã, dando o suporte necessário para amadurecer e poder enfrentar com sucesso (sempre sustentada pela Graça de Deus) as intempéries da vida, as tentações e dificuldades.

A “Lectio Divina” como prática, sobretudo individual, é atestada no ambiente monástico em seu auge. No período contemporâneo, uma Instrução da Comissão Bíblica aprovada pelo Papa Pio XII recomendou-a a todos os clérigos, tanto seculares como regulares (De Scriptura Sacra, 1950; E. B., 592). A insistência sobre a “Lectio divina” sob seu duplo aspecto, individual e comunitário, voltou assim a ser atual. A finalidade que se procura é a de suscitar e de alimentar “um amor efetivo e constante” à Santa Escritura, fonte de vida interior e de fecundidade apostólica (E. B., 591 e 567), de favorecer também uma melhor inteligência da liturgia e de assegurar à Bíblia um lugar mais importante nos estudos teológicos e na oração4.

O desaparecimento da lectio com suas saudáveis características do meio do Povo de Deus se deu pela ‘elitização’ da vida religiosa, tornando ‘exclusiva’ de alguns monges em seus mosteiros a prática regular da escuta e da meditação da Palavra de Deus, nas Escrituras. Mesmo o clero delegou esta atividade aos ‘especialistas’ em oração, como assim se entenderam por muito tempo, monges e outras categorias de cristãos.

Mesmo antes do Concílio este quadro vai mudando. Pio XII irá incentivar o conjunto da Igreja, a começar pelos clérigos a mudar de postura. Trabalho lento, mas eficaz. Pois quando os sacerdotes assumem mais íntima e pessoalmente a oração bíblica, advinda da lectio, seu ministério de pregadores amadurece mais frutuosamente para bem dos fiéis, além do crescimento em santidade sacerdotal.

Pio XXI (1950) sublinhou então que as finalidades do retorno eclesial à lectio favoreciam em muitos aspectos a sadia vida eclesial: ‘A finalidade que se procura é a de suscitar e de alimentar“um amor efetivo e constante”à Santa Escritura, fonte de vida interior e de fecundidade apostólica’. Destaca-se esta expressão ‘“um amor efetivo e constante’. Amor efetivo significa que, como nos recomenda São João em sua carta, não se ame a Palavra de Deus somente de ‘língua’, mas com atos e em verdade: 1 Jo 3,18: “Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade.”

A Constituição conciliar “Dei Verbum” (n. 25) insiste igualmente sobre a leitura assídua das Escrituras para os padres e religiosos. Além disso — e é uma novidade — ela convida também “todos os fiéis do Cristo” a adquirir “por uma frequente leitura das Escrituras divinas ‘a eminente ciência de Jesus Cristo’ (Fil 3,8)”. Diversos meios são propostos. Ao lado de uma leitura individual é sugerida uma leitura em grupo. O texto conciliar sublinha que a oração deve acompanhar a leitura da Escritura, pois ela é a resposta à Palavra de Deus encontrada na Escritura sob a inspiração do Espírito. Numerosas iniciativas foram tomadas no povo cristão para uma leitura comunitária, e só se pode encorajar esse desejo de um melhor conhecimento de Deus e de seu plano de salvação em Jesus Cristo através das Escrituras5.

Referências:

1Ouça o vídeo esclarecedor do Reverendo Padre Paulo Ricardo: https://padrepauloricardo.org/episodios/o-que-e-a-lectio-divina

2http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione

3http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione

4http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione

5http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione


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A Palavra de Deus na Bíblia (89): Interpretação e tradução da Bíblia

31/03/2017 18:16 - Atualizado em 31/03/2017 18:16

Neste artigo damos prosseguimento à exposição e análise dos quatro usos das Escrituras na Vida da Igreja.

2. “Lectio Divina”1

A “Lectio divina” é uma leitura individual ou comunitária de uma passagem mais ou menos longa da Escritura acolhida como Palavra de Deus e que se desenvolve sob a moção do Espírito em meditação, oração e contemplação2.

Nesta pequena definição indicam-se os diversos elementos característicos desta lectio (leitura). Primeiro, contato pessoal e comunitário com a Palavra de Deus, fora da liturgia da missa. Assim, experimentamos o que Deus previu como caminho de Salvação para Israel e para nós. Entrar em contato com Deus. Ouvir a Deus, que fala, que se autocomunica.

Esta ‘audição’ não é física, nem psicológica. Trata-se de uma decisão Divina, que se explica na obra da Criação, pois somos ‘imagem e semelhança’ de Deus (Gen, 1, 26: ‘no último dia da criação, disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gênesis 1:26).’). A terceira Pessoa da Trindade, o Espírito Santo, comunica-nos a Palavra de Deus, aliás, Ele nos relaciona com Deus, Mestre da intimidade.

O cuidado de se fazer uma leitura regular e mesmo cotidiana da Escritura corresponde a uma prática antiga na Igreja. Como prática coletiva, ela é atestada no século III, na época de Orígenes; este fazia a homilia a partir de um texto da Escritura lido continuadamente durante a semana. Havia então assembleias cotidianas consagradas à leitura e à explicação da Escritura. Esta prática, que foi abandonada posteriormente, não encontrava sempre um grande sucesso junto aos cristãos (Orígenes, Hom. Gen. X,1)3.

Outra característica da lectio é a cotidianidade da escuta pessoal, comunitária ou individual das Sagradas Escrituras. Regularidade é sempre sintoma de processos de amadurecimento. Muitos começam animadamente, mas não mantém um ritmo frequente de oração e ação espirituais, vindos a perder o pouco que obtiveram, aliás, é o que se escuta em certo trecho da “Parábola do Semeador”: ‘20 A semente que caiu no meio de pedras representa a pessoa que ouve a mensagem a respeito do reino e a aceita imediatamente e com muita alegria. 21 Mas, como não tem raiz, não dura muito tempo. Assim que encontra dificuldades ou que é perseguida por causa da mensagem, abandona a sua fé. – (Mt 13,20s)’.

Uma leitura contínua e regular das Sagradas Escrituras reestabelece a alma cristã, dando o suporte necessário para amadurecer e poder enfrentar com sucesso (sempre sustentada pela Graça de Deus) as intempéries da vida, as tentações e dificuldades.

A “Lectio Divina” como prática, sobretudo individual, é atestada no ambiente monástico em seu auge. No período contemporâneo, uma Instrução da Comissão Bíblica aprovada pelo Papa Pio XII recomendou-a a todos os clérigos, tanto seculares como regulares (De Scriptura Sacra, 1950; E. B., 592). A insistência sobre a “Lectio divina” sob seu duplo aspecto, individual e comunitário, voltou assim a ser atual. A finalidade que se procura é a de suscitar e de alimentar “um amor efetivo e constante” à Santa Escritura, fonte de vida interior e de fecundidade apostólica (E. B., 591 e 567), de favorecer também uma melhor inteligência da liturgia e de assegurar à Bíblia um lugar mais importante nos estudos teológicos e na oração4.

O desaparecimento da lectio com suas saudáveis características do meio do Povo de Deus se deu pela ‘elitização’ da vida religiosa, tornando ‘exclusiva’ de alguns monges em seus mosteiros a prática regular da escuta e da meditação da Palavra de Deus, nas Escrituras. Mesmo o clero delegou esta atividade aos ‘especialistas’ em oração, como assim se entenderam por muito tempo, monges e outras categorias de cristãos.

Mesmo antes do Concílio este quadro vai mudando. Pio XII irá incentivar o conjunto da Igreja, a começar pelos clérigos a mudar de postura. Trabalho lento, mas eficaz. Pois quando os sacerdotes assumem mais íntima e pessoalmente a oração bíblica, advinda da lectio, seu ministério de pregadores amadurece mais frutuosamente para bem dos fiéis, além do crescimento em santidade sacerdotal.

Pio XXI (1950) sublinhou então que as finalidades do retorno eclesial à lectio favoreciam em muitos aspectos a sadia vida eclesial: ‘A finalidade que se procura é a de suscitar e de alimentar“um amor efetivo e constante”à Santa Escritura, fonte de vida interior e de fecundidade apostólica’. Destaca-se esta expressão ‘“um amor efetivo e constante’. Amor efetivo significa que, como nos recomenda São João em sua carta, não se ame a Palavra de Deus somente de ‘língua’, mas com atos e em verdade: 1 Jo 3,18: “Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade.”

A Constituição conciliar “Dei Verbum” (n. 25) insiste igualmente sobre a leitura assídua das Escrituras para os padres e religiosos. Além disso — e é uma novidade — ela convida também “todos os fiéis do Cristo” a adquirir “por uma frequente leitura das Escrituras divinas ‘a eminente ciência de Jesus Cristo’ (Fil 3,8)”. Diversos meios são propostos. Ao lado de uma leitura individual é sugerida uma leitura em grupo. O texto conciliar sublinha que a oração deve acompanhar a leitura da Escritura, pois ela é a resposta à Palavra de Deus encontrada na Escritura sob a inspiração do Espírito. Numerosas iniciativas foram tomadas no povo cristão para uma leitura comunitária, e só se pode encorajar esse desejo de um melhor conhecimento de Deus e de seu plano de salvação em Jesus Cristo através das Escrituras5.

Referências:

1Ouça o vídeo esclarecedor do Reverendo Padre Paulo Ricardo: https://padrepauloricardo.org/episodios/o-que-e-a-lectio-divina

2http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione

3http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione

4http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione

5http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione


Padre Pedro Paulo Alves dos Santos
Autor

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos

Doutor em Teologia Bíblica