14 de Maio de 2024
A Palavra de Deus na Bíblia (82): Interpretação e tradução da Bíblia
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10/02/2017 15:21 - Atualizado em 10/02/2017 15:21
A Palavra de Deus na Bíblia (82): Interpretação e tradução da Bíblia 0
10/02/2017 15:21 - Atualizado em 10/02/2017 15:21
Neste artigo avançamos para a conclusão de nossas exposições sobre um documento eclesial tão importante. A exegese e a interpretação bíblica na Igreja! Houve já ocasião de perceber a indispensável relação entre a ‘boa’ leitura e a compreensão das Escrituras em todos os campos da vida eclesial. Ler a Bíblia no seio da viva tradição da Comunidade dos Crentes, animada pelos apóstolos e seus sucessores.
IV. INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA NA VIDA DA IGREJA
Tarefa particular dos exegetas, a interpretação da Bíblia mesmo assim não lhes pertence como um monopólio, pois na Igreja essa interpretação apresenta aspectos que vão além da análise científica dos textos. A Igreja, efetivamente, não considera a Bíblia simplesmente como um conjunto de documentos históricos concernentes às suas origens; acolhe-a como Palavra de Deus que se dirige a ela e ao mundo inteiro no tempo presente. Esta convicção de fé tem como consequência a prática da atualização e da enculturação da mensagem bíblica, assim como os diversos modos de utilização dos textos inspirados, na liturgia, a “lectio divina”, o ministério pastoral e o movimento ecumênico1.
Desde o início a Pontifícia Comissão Bíblica acentua a tarefa de toda a Igreja diante das Sagradas Escrituras, aquela de acolher pelos dons do Espírito e das ferramentas da ciência, a mensagem sempre nova da Revelação. Destaca-se que mesmo não sendo exclusiva, a tarefa dos exegetas permanece primordial: ‘tarefa particular dos exegetas, a interpretação da Bíblia mesmo assim não lhes pertence como um monopólio’. Mas, não somos nós a única (monopólio) voz ou forma de inteligência a desvelar os significados sempre atuais da Palavra de Deus.
A comissão também alerta aos exegetas que não tratem a Bíblia, em particular o Novo Testamento, como ‘um conjunto de documentos históricos concernentes às suas origens’, do qual se extrai somente ‘informação’ sobre o passado.
Destas premissas surgem novas e permanentes tarefas eclesiais.
Inicialmente trata-se da ‘prática da atualização e da enculturação da mensagem bíblica’. Se a Bíblia não é exclusivamente um documento ou fonte histórica para a consciência da Igreja, dela a comunidade deve haurir conhecimento de Deus para cada primavera de sua longa jornada sobre a Terra. A atualização, que já tratamos anteriormente, não é um capricho de exegetas e literatos, é uma exigência da natureza mesma da mensagem Divina: ‘E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda criatura’ (Mc 16,15).
Neste mandato de Cristo aos apóstolos, não corre somente a exigência da extensão (por todo o mundo... a toda criatura!), mas do tempo, como observamos marcadamente na tradição Mateana: ‘Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém’. (Mt 28,20).
A Igreja recebeu o encargo de explicitar em cada tempo de sua trajetória missionária a verdade sempre ‘fresca’ do Evangelho, de modo que nunca falte aos seus contemporâneos a inteligência da Revelação neste tempo que se chama ‘Hoje’: “Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama ‘Hoje’, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” (Hbr 3,13).
O documento enfatiza ainda, neste âmbito, delicada competência de exercer um magistério universal (católico) no âmbito das realidades particulares (culturas), do ambiente mais humano que possa existir, a cultura.
Como são felizes, a este respeito, as palavras inauguradoras do saudoso Papa, São João Paulo II, em sua primeira Encíclica “Redemptor Hominis” (“O Redentor do Homem”) no longínquo ano de 1979:
O Redentor do homem, Jesus Cristo, é o centro do cosmos e da história. Para Ele se dirigem o meu pensamento e o meu coração nesta hora solene da história, que a Igreja e a inteira família da humanidade contemporânea estão a viver. Efetivamente, este tempo, no qual, depois do predileto predecessor João Paulo I, por um seu misterioso desígnio Deus me confiou o serviço universal ligado com a Cátedra de São Pedro em Roma, está muito próximo já do ano 2000. É difícil dizer, neste momento, o que aquele ano virá a marcar no quadrante da história humana, e como é que ele virá a ser para cada um dos povos, nações, países e continentes, muito embora se tente, já desde agora, prever alguns eventos. Para a Igreja, para o Povo de Deus que se estendeu — se bem que de maneira desigual — até aos mais longínquos confins da Terra, esse ano virá a ser o ano de um grande jubileu. Estamos já, portanto, a aproximar-nos de tal data que — respeitando embora todas as correções devidas à exatidão cronológica — nos recordará e renovará em nós de uma maneira particular a consciência da verdade-chave da fé, expressa por São João nos inícios do seu Evangelho: “O Verbo fez-se carne e veio habitar entre nós”; e numa outra passagem, “Deus, de fato, amou de tal modo o mundo, que lhe deu o Seu filho unigênito, para que tudo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”.2
Vivia-se a atmosfera de expectativa do Grande Jubileu do Cristianismo, uma ocasião para celebração da Renovação Eclesial, do diálogo com as culturas, de aproximação de todas as esferas da arte, da filosofia e das ciências, na construção conjunta de uma comunidade humana, mais justa e fraterna.
Estamos também nós, de alguma maneira, no tempo de um novo Advento, que é tempo de expectativa. “Deus, depois de ter falado outrora aos nossos pais, muitas vezes e de muitos modos, pelos profetas, falou-nos nestes últimos tempos pelo Filho...”, por meio do Filho-Verbo, que se fez homem e nasceu da Virgem Maria. Com este ato redentor a história do homem atingiu no desígnio de amor de Deus, o seu vértice. Deus entrou na história da humanidade e, enquanto homem tornou-se sujeito à mesma, um dos milhares de milhões e, ao mesmo tempo, Único! Deus, através da Encarnação, deu à vida humana aquela dimensão, que intentava dar ao homem já desde o seu primeiro início e deu-lha de maneira definitiva — daquele modo a Ele somente peculiar, segundo o seu eterno amor e a sua misericórdia, com toda a divina liberdade — e, simultaneamente, com aquela munificência, que, perante o pecado original e toda a história dos pecados da humanidade e perante os erros da inteligência, da vontade e do coração humano, nos dá azo a repetir com assombro as palavras da Sagrada Liturgia: “Ó ditosa culpa, que tal e tão grande Redentor mereceu ter”.
Referências:
A Palavra de Deus na Bíblia (82): Interpretação e tradução da Bíblia
10/02/2017 15:21 - Atualizado em 10/02/2017 15:21
Neste artigo avançamos para a conclusão de nossas exposições sobre um documento eclesial tão importante. A exegese e a interpretação bíblica na Igreja! Houve já ocasião de perceber a indispensável relação entre a ‘boa’ leitura e a compreensão das Escrituras em todos os campos da vida eclesial. Ler a Bíblia no seio da viva tradição da Comunidade dos Crentes, animada pelos apóstolos e seus sucessores.
IV. INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA NA VIDA DA IGREJA
Tarefa particular dos exegetas, a interpretação da Bíblia mesmo assim não lhes pertence como um monopólio, pois na Igreja essa interpretação apresenta aspectos que vão além da análise científica dos textos. A Igreja, efetivamente, não considera a Bíblia simplesmente como um conjunto de documentos históricos concernentes às suas origens; acolhe-a como Palavra de Deus que se dirige a ela e ao mundo inteiro no tempo presente. Esta convicção de fé tem como consequência a prática da atualização e da enculturação da mensagem bíblica, assim como os diversos modos de utilização dos textos inspirados, na liturgia, a “lectio divina”, o ministério pastoral e o movimento ecumênico1.
Desde o início a Pontifícia Comissão Bíblica acentua a tarefa de toda a Igreja diante das Sagradas Escrituras, aquela de acolher pelos dons do Espírito e das ferramentas da ciência, a mensagem sempre nova da Revelação. Destaca-se que mesmo não sendo exclusiva, a tarefa dos exegetas permanece primordial: ‘tarefa particular dos exegetas, a interpretação da Bíblia mesmo assim não lhes pertence como um monopólio’. Mas, não somos nós a única (monopólio) voz ou forma de inteligência a desvelar os significados sempre atuais da Palavra de Deus.
A comissão também alerta aos exegetas que não tratem a Bíblia, em particular o Novo Testamento, como ‘um conjunto de documentos históricos concernentes às suas origens’, do qual se extrai somente ‘informação’ sobre o passado.
Destas premissas surgem novas e permanentes tarefas eclesiais.
Inicialmente trata-se da ‘prática da atualização e da enculturação da mensagem bíblica’. Se a Bíblia não é exclusivamente um documento ou fonte histórica para a consciência da Igreja, dela a comunidade deve haurir conhecimento de Deus para cada primavera de sua longa jornada sobre a Terra. A atualização, que já tratamos anteriormente, não é um capricho de exegetas e literatos, é uma exigência da natureza mesma da mensagem Divina: ‘E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda criatura’ (Mc 16,15).
Neste mandato de Cristo aos apóstolos, não corre somente a exigência da extensão (por todo o mundo... a toda criatura!), mas do tempo, como observamos marcadamente na tradição Mateana: ‘Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém’. (Mt 28,20).
A Igreja recebeu o encargo de explicitar em cada tempo de sua trajetória missionária a verdade sempre ‘fresca’ do Evangelho, de modo que nunca falte aos seus contemporâneos a inteligência da Revelação neste tempo que se chama ‘Hoje’: “Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama ‘Hoje’, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” (Hbr 3,13).
O documento enfatiza ainda, neste âmbito, delicada competência de exercer um magistério universal (católico) no âmbito das realidades particulares (culturas), do ambiente mais humano que possa existir, a cultura.
Como são felizes, a este respeito, as palavras inauguradoras do saudoso Papa, São João Paulo II, em sua primeira Encíclica “Redemptor Hominis” (“O Redentor do Homem”) no longínquo ano de 1979:
O Redentor do homem, Jesus Cristo, é o centro do cosmos e da história. Para Ele se dirigem o meu pensamento e o meu coração nesta hora solene da história, que a Igreja e a inteira família da humanidade contemporânea estão a viver. Efetivamente, este tempo, no qual, depois do predileto predecessor João Paulo I, por um seu misterioso desígnio Deus me confiou o serviço universal ligado com a Cátedra de São Pedro em Roma, está muito próximo já do ano 2000. É difícil dizer, neste momento, o que aquele ano virá a marcar no quadrante da história humana, e como é que ele virá a ser para cada um dos povos, nações, países e continentes, muito embora se tente, já desde agora, prever alguns eventos. Para a Igreja, para o Povo de Deus que se estendeu — se bem que de maneira desigual — até aos mais longínquos confins da Terra, esse ano virá a ser o ano de um grande jubileu. Estamos já, portanto, a aproximar-nos de tal data que — respeitando embora todas as correções devidas à exatidão cronológica — nos recordará e renovará em nós de uma maneira particular a consciência da verdade-chave da fé, expressa por São João nos inícios do seu Evangelho: “O Verbo fez-se carne e veio habitar entre nós”; e numa outra passagem, “Deus, de fato, amou de tal modo o mundo, que lhe deu o Seu filho unigênito, para que tudo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”.2
Vivia-se a atmosfera de expectativa do Grande Jubileu do Cristianismo, uma ocasião para celebração da Renovação Eclesial, do diálogo com as culturas, de aproximação de todas as esferas da arte, da filosofia e das ciências, na construção conjunta de uma comunidade humana, mais justa e fraterna.
Estamos também nós, de alguma maneira, no tempo de um novo Advento, que é tempo de expectativa. “Deus, depois de ter falado outrora aos nossos pais, muitas vezes e de muitos modos, pelos profetas, falou-nos nestes últimos tempos pelo Filho...”, por meio do Filho-Verbo, que se fez homem e nasceu da Virgem Maria. Com este ato redentor a história do homem atingiu no desígnio de amor de Deus, o seu vértice. Deus entrou na história da humanidade e, enquanto homem tornou-se sujeito à mesma, um dos milhares de milhões e, ao mesmo tempo, Único! Deus, através da Encarnação, deu à vida humana aquela dimensão, que intentava dar ao homem já desde o seu primeiro início e deu-lha de maneira definitiva — daquele modo a Ele somente peculiar, segundo o seu eterno amor e a sua misericórdia, com toda a divina liberdade — e, simultaneamente, com aquela munificência, que, perante o pecado original e toda a história dos pecados da humanidade e perante os erros da inteligência, da vontade e do coração humano, nos dá azo a repetir com assombro as palavras da Sagrada Liturgia: “Ó ditosa culpa, que tal e tão grande Redentor mereceu ter”.
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