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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 14/05/2024

14 de Maio de 2024

A Palavra de Deus na Bíblia (80): Interpretação e tradução da Bíblia

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14 de Maio de 2024

A Palavra de Deus na Bíblia (80): Interpretação e tradução da Bíblia

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27/01/2017 00:00 - Atualizado em 30/01/2017 16:39

A Palavra de Deus na Bíblia (80): Interpretação e tradução da Bíblia 0

27/01/2017 00:00 - Atualizado em 30/01/2017 16:39

Neste artigo concluímos os temas das relações entre exegese bíblica e os domínios da teologia. Atingimos assim uma síntese sobre estas complexas interações entre campos tão distintos, tão importantes para o funcionamento correto da inteligência da fé católica.

4. Pontos de vista diferentes e interação necessária

Em seu documento de 1988 sobre a interpretação dos dogmas, a Comissão Teológica Internacional lembrou que, nos tempos modernos, um conflito surgiu entre a exegese e a teologia dogmática; ela observa em seguida às contribuições da exegese moderna à teologia sistemática (A interpretação dos dogmas, 1988, C.I, 2).1

Segundo o documento citado, referente à Comissão Teológica Internacional (1988), diversas correntes teológicas contemporâneas colocaram em risco, no contexto de um subjetivismo exacerbado, a dimensão e as referências essenciais do dogma na formação e na identidade da fé e da teologia católica:

Alcune correnti della teologia contemporanea che s’inseriscono all’interno del movimento ermeneutico concentrano la loro attenzione sul problema del senso dei dogmi, trascurando però la questione della loro verità immutabile. Così la teologia della liberazione e la teologia femminista radicale pongono l’interpretazione della fede sul piano dei fattori socioeconomici e culturali; di conseguenza, il progresso sociale e l’emancipazione della donna diventano i criteri che decidono il senso dei dogmi2.

Assim afirma a Igreja:

Algumas correntes de teologia contemporânea que são inseridas dentro do movimento hermenêutico centram a sua atenção sobre o problema do significado de dogmas, negligenciando a questão da sua verdade imutável. 

Assim, a teologia da libertação e a teologia feminista radical representam a interpretação da fé em termos de fatores socioeconômicos e culturais; como resultado, o progresso social e a emancipação da mulher tornam-se os critérios que decidem a direção do dogma.

Tudo isso para afirmar que no dogma interpretado em diversas circunstâncias ao longo de sua decorrência, ao longo do percurso histórico da Igreja, permanece o critério do qual se atualiza e se lê a história, campo de ação concreto da ação pastoral eclesial e não o contrário: ‘o progresso social e a emancipação da mulher tornam-se os critérios que decidem a direção do dogma’.

O documento especifica que as contradições e incongruências entre a exegese bíblica e a teologia dogmática não provêm de um comportamento interno, de natureza, mas da interferência da ‘teologia liberal’ no percurso da teologia católica, presente em alguns setores:

Para maior precisão, é útil acrescentar que o conflito foi provocado pela exegese liberal. Entre a exegese católica e a teologia dogmática não houve conflito generalizado, mas apenas momentos de forte tensão. É bem verdade, no entanto, que a tensão pode degenerar em conflito se de um lado e de outro endurecem-se legítimas diferenças de pontos de vista até transformá-las em oposições irredutíveis3.

Portanto, na origem dos conflitos graves entre a exegese bíblica católica e a teologia dogmática estaria a interferência de uma forma protestante, do século XX, que de certa maneira seduz muitos exegetas e teólogos católicos a modificar suas relações com a autoridade das Sagradas Escrituras e assim, necessariamente, com a interpretação do dogmática:

Teologia liberal (ou liberalismo teológico) foi um movimento teológico cuja produção se deu entre o final do século XVIII e o início do século XX. Relativizando a autoridade da Bíblia, o liberalismo teológico estabeleceu uma mescla da doutrina bíblica com a filosofia e as ciências da religião. Ainda hoje, um autor que não reconhece a autoridade final da Bíblia em termos de fé e doutrina é denominado, pelo protestantismo ortodoxo, de “teólogo liberal”. Oficialmente, a teologia liberal se iniciou, no meio evangélico, com o alemão Friedrich Schleiermacher(1768-1834), o qual negava essa autoridade e igualmente a historicidade dos milagres de Cristo. Ele não deixou uma só doutrina bíblica sem contestação. Para ele, o que valia era o sentimento humano: se a pessoa “sentia” a comunhão com Deus, ela estaria salva, mesmo sem crer no Evangelho de Cristo4.

A discussão é férvida e traz ainda muito debate ao interno das correntes teológicas, sejam católicas ou protestantes. No entanto, o que interessa aqui é perceber que as fontes hermenêuticas erradas produzirão frutos enganosos, e, portanto, uma intoxicação da leitura genuína da Palavra de Deus na vida do Povo de Deus:

O dogmático realiza uma obra mais especulativa e mais sistemática. Por esta razão ele só se interessa verdadeiramente por certos textos e por certos aspectos da Bíblia e, aliás, ele leva em consideração muitos outros dados que não são bíblicos — escritos patrísticos, definições conciliares, outros documentos do Magistério, liturgia —, assim como sistemas filosóficos e a situação cultural, social e política contemporânea. Sua tarefa não é simplesmente interpretar a Bíblia, mas visar uma compreensão plenamente refletida da fé cristã em todas as suas dimensões e especialmente em sua relação decisiva com a existência humana5.

Referências:

1http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html#IV

2http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/cti_documents/rc_cti_1989_interpretazione-dogmi_it.html

3http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html#IV

4hhttps://pt.wikipedia.org/wiki/Teologia_liberal . Mais detalhadamente: http://solascriptura-tt.org/SeparacaoEclesiastFundament/TeologiaLiberal-Liberalismo-DRaphael.htm

5http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html#IV

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A Palavra de Deus na Bíblia (80): Interpretação e tradução da Bíblia

27/01/2017 00:00 - Atualizado em 30/01/2017 16:39

Neste artigo concluímos os temas das relações entre exegese bíblica e os domínios da teologia. Atingimos assim uma síntese sobre estas complexas interações entre campos tão distintos, tão importantes para o funcionamento correto da inteligência da fé católica.

4. Pontos de vista diferentes e interação necessária

Em seu documento de 1988 sobre a interpretação dos dogmas, a Comissão Teológica Internacional lembrou que, nos tempos modernos, um conflito surgiu entre a exegese e a teologia dogmática; ela observa em seguida às contribuições da exegese moderna à teologia sistemática (A interpretação dos dogmas, 1988, C.I, 2).1

Segundo o documento citado, referente à Comissão Teológica Internacional (1988), diversas correntes teológicas contemporâneas colocaram em risco, no contexto de um subjetivismo exacerbado, a dimensão e as referências essenciais do dogma na formação e na identidade da fé e da teologia católica:

Alcune correnti della teologia contemporanea che s’inseriscono all’interno del movimento ermeneutico concentrano la loro attenzione sul problema del senso dei dogmi, trascurando però la questione della loro verità immutabile. Così la teologia della liberazione e la teologia femminista radicale pongono l’interpretazione della fede sul piano dei fattori socioeconomici e culturali; di conseguenza, il progresso sociale e l’emancipazione della donna diventano i criteri che decidono il senso dei dogmi2.

Assim afirma a Igreja:

Algumas correntes de teologia contemporânea que são inseridas dentro do movimento hermenêutico centram a sua atenção sobre o problema do significado de dogmas, negligenciando a questão da sua verdade imutável. 

Assim, a teologia da libertação e a teologia feminista radical representam a interpretação da fé em termos de fatores socioeconômicos e culturais; como resultado, o progresso social e a emancipação da mulher tornam-se os critérios que decidem a direção do dogma.

Tudo isso para afirmar que no dogma interpretado em diversas circunstâncias ao longo de sua decorrência, ao longo do percurso histórico da Igreja, permanece o critério do qual se atualiza e se lê a história, campo de ação concreto da ação pastoral eclesial e não o contrário: ‘o progresso social e a emancipação da mulher tornam-se os critérios que decidem a direção do dogma’.

O documento especifica que as contradições e incongruências entre a exegese bíblica e a teologia dogmática não provêm de um comportamento interno, de natureza, mas da interferência da ‘teologia liberal’ no percurso da teologia católica, presente em alguns setores:

Para maior precisão, é útil acrescentar que o conflito foi provocado pela exegese liberal. Entre a exegese católica e a teologia dogmática não houve conflito generalizado, mas apenas momentos de forte tensão. É bem verdade, no entanto, que a tensão pode degenerar em conflito se de um lado e de outro endurecem-se legítimas diferenças de pontos de vista até transformá-las em oposições irredutíveis3.

Portanto, na origem dos conflitos graves entre a exegese bíblica católica e a teologia dogmática estaria a interferência de uma forma protestante, do século XX, que de certa maneira seduz muitos exegetas e teólogos católicos a modificar suas relações com a autoridade das Sagradas Escrituras e assim, necessariamente, com a interpretação do dogmática:

Teologia liberal (ou liberalismo teológico) foi um movimento teológico cuja produção se deu entre o final do século XVIII e o início do século XX. Relativizando a autoridade da Bíblia, o liberalismo teológico estabeleceu uma mescla da doutrina bíblica com a filosofia e as ciências da religião. Ainda hoje, um autor que não reconhece a autoridade final da Bíblia em termos de fé e doutrina é denominado, pelo protestantismo ortodoxo, de “teólogo liberal”. Oficialmente, a teologia liberal se iniciou, no meio evangélico, com o alemão Friedrich Schleiermacher(1768-1834), o qual negava essa autoridade e igualmente a historicidade dos milagres de Cristo. Ele não deixou uma só doutrina bíblica sem contestação. Para ele, o que valia era o sentimento humano: se a pessoa “sentia” a comunhão com Deus, ela estaria salva, mesmo sem crer no Evangelho de Cristo4.

A discussão é férvida e traz ainda muito debate ao interno das correntes teológicas, sejam católicas ou protestantes. No entanto, o que interessa aqui é perceber que as fontes hermenêuticas erradas produzirão frutos enganosos, e, portanto, uma intoxicação da leitura genuína da Palavra de Deus na vida do Povo de Deus:

O dogmático realiza uma obra mais especulativa e mais sistemática. Por esta razão ele só se interessa verdadeiramente por certos textos e por certos aspectos da Bíblia e, aliás, ele leva em consideração muitos outros dados que não são bíblicos — escritos patrísticos, definições conciliares, outros documentos do Magistério, liturgia —, assim como sistemas filosóficos e a situação cultural, social e política contemporânea. Sua tarefa não é simplesmente interpretar a Bíblia, mas visar uma compreensão plenamente refletida da fé cristã em todas as suas dimensões e especialmente em sua relação decisiva com a existência humana5.

Referências:

1http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html#IV

2http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/cti_documents/rc_cti_1989_interpretazione-dogmi_it.html

3http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html#IV

4hhttps://pt.wikipedia.org/wiki/Teologia_liberal . Mais detalhadamente: http://solascriptura-tt.org/SeparacaoEclesiastFundament/TeologiaLiberal-Liberalismo-DRaphael.htm

5http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html#IV

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos
Autor

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos

Doutor em Teologia Bíblica