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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 14/05/2024

14 de Maio de 2024

A Palavra de Deus na Bíblia (62): Interpretação e tradução da Bíblia

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14 de Maio de 2024

A Palavra de Deus na Bíblia (62): Interpretação e tradução da Bíblia

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23/09/2016 00:00 - Atualizado em 07/10/2016 15:59

A Palavra de Deus na Bíblia (62): Interpretação e tradução da Bíblia 0

23/09/2016 00:00 - Atualizado em 07/10/2016 15:59

No artigo anterior tratávamos da ‘Unidade entre Antigo e Novo Testamentos’, o que agora prosseguimos. Indicávamos a relevância teológica desta verdade, que não se lê eclesial e sadiamente os testamentos, sem relacioná-los. Continuemos nestas sendas, tendo o auxílio do CIC (Catecismo da Igreja Católica) à vista.

Como sempre, entre as Escrituras e os acontecimentos que as realizam, as relações não são de simples correspondência material, mas de iluminação recíproca e de progresso dialético: constata-se, ao mesmo tempo, que as Escrituras revelam o sentido dos acontecimentos e que os acontecimentos revelam o sentido das Escrituras, isto é, que eles obrigam a renunciar a certos aspectos da interpretação recebida para adotar uma interpretação nova1.

A Igreja nos ensina que a leitura e a interpretação corretas das Sagradas Escrituras supõem a consideração de seu percurso completo, a unidade entre eles.

Mas isso não significa que os testamentos se reduzem um ao outro. O Novo Testamento, mesmo sem dispensar a leitura do AT, possui a dimensão inaudita: Jesus Cristo.

Uma Revelação, segundo São Paulo e os autores dos textos do NT: ‘Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam’ (Coríntios 2, 9). A Igreja, pelo Documento da Comissão Bíblica nos ensina que entre os testamentos há de se considerar que os interpretamos reciprocamente, na forma de ‘de iluminação recíproca e de progresso dialético’.

E por fim, o Catecismo (CIC) afirma que:

CIC 130. A tipologia significa o dinamismo em ordem ao cumprimento do plano divino, quando “Deus for tudo em todos” (1 Cor 15, 28). Assim, a vocação dos patriarcas e o êxodo do Egito, por exemplo, não perdem o seu valor próprio no plano de Deus pelo fato de, ao mesmo tempo, serem etapas intermédias desse mesmo plano2.

Percebe-se nesta observação do CIC uma nota importante para a exegese do Novo e do Antigo Testamento.

De um lado, a interessante explicação da função hermenêutica da ‘tipologia’: “A tipologia significa o dinamismo em ordem ao cumprimento do plano divino”.

Do Genesis ao Apocalipse ocorre um processo narrativo no qual se lê a trajetória e a evolução dos Planos Divinos, dispostos na lógica da Revelação Divina.

Desde o tempo de seu ministério público, Jesus tinha tomado uma posição pessoal original, diferente da interpretação recebida em sua época, que era aquela “ dos escribas e dos fariseus”.

Diversas são as exemplaridades do NT, nas quais o próprio Jesus, Palavra Divina, dispõe com autoridade das Escrituras (=AT) em sua pregação, para fundar a verdade nova e sempre antiga, segundo o Documento. Trata-se de “posição pessoal original”, no contexto hermenêutico religioso da Torah.

(Mt 5,20). Numerosos são os testemunhos disso: as antíteses do Sermão da montanha (Mt 5,21-48), a liberdade soberana de Jesus na observância do sábado (Mc 2, 27-28 e paral.), sua maneira de tornar relativos os preceitos de pureza ritual (Mc 7,1-23 e paral.), ao contrário, sua exigência radical em outros domínios (Mt 10,2-12 e paral.; 10,17-27 e paral.) e, sobretudo, sua atitude de receptividade em relação “aos publicanos e pecadores” (Mc 2,15-17 e paral).

Diferentemente do que se poderia imaginar, atribuindo a Jesus uma originalidade inventada ou pueril, como acontece, às vezes, no universo de teólogos(as) em todos os tempos ao longo da vida da Igreja, o Mestre, possui a verdadeira inteligência das Escrituras: “De sua parte não era capricho de contestador, mas, ao contrário, fidelidade mais profunda à vontade de Deus expressa na Escritura (cf Mt 5,17; 9,13; Mc 7,8-13 e paral.; 10,5-9 e paral.)”

A hermenêutica correta da unidade interpretativa dos testamentos, segundo a consciência da Igreja, reside na Centralidade do Evento Pascal de Cristo:

A morte e ressurreição de Jesus forçaram ao extremo a evolução começada, provocando em alguns pontos um rompimento completo, ao mesmo tempo em que uma abertura inesperada. A morte do Messias, “rei dos judeus” (Mc 15,26 e paral.), provocou uma transformação na interpretação terrestre dos salmos reais e dos oráculos messiânicos. Sua ressurreição e sua glorificação celeste como Filho de Deus deram a esses mesmos textos uma plenitude de sentido inconcebível anteriormente. Expressões que pareciam hiperbólicas devem doravante ser tomadas ao pé da letra. Elas aparecem como que preparadas por Deus para expressar a glória do Cristo Jesus, pois Jesus é realmente “Senhor” (Sal 110,1) no sentido mais forte do termo (At 2,36; Fil 2,10-11; He1,10-12); ele é o Filho de Deus (Sal 2,7; Mc 14,62; Rm 1,3-4), Deus com Deus (Sal 45,7; He1,8; Jo 1,1; 20,28); « seu reino não terá fim » (Lc 1,32-33; cf 1 Cron 17,11-14; Sal 45,7; He 1,8) e ele é ao mesmo tempo « sacerdote eternamente » (Sal 110,4; He 5,6-10; 7,23-24)3.

Em diversas camadas e afirmações se entende a lógica apostólica que inspirou a leitura cristã primitiva. Não era só o fio condutor, era a liberação plena de sentido dos textos hebreus do antigo regime da Salvação: “A morte do Messias, “rei dos Judeus” (Mc 15,26 e paral.), provocou uma transformação na interpretação terrestre dos Salmos reais e dos oráculos messiânicos”.

A Páscoa de Jesus, com a densidade de sua Revelação, significativa e inexaurível, traz luz intensa e ilumina a significação profético-escatológica das antigas letras da Bíblia de Abraão.

Referências:

1http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html#III

2http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p1s1c2_50-141_po.html

3HTTP://WWW.VATICAN.VA/ROMAN_CURIA/CONGREGATIONS/CFAITH/PCB_DOCUMENTS/RC_CON_CFAITH_DOC_19930415_INTERPRETAZIONE_PO.HTML#III

 

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A Palavra de Deus na Bíblia (62): Interpretação e tradução da Bíblia

23/09/2016 00:00 - Atualizado em 07/10/2016 15:59

No artigo anterior tratávamos da ‘Unidade entre Antigo e Novo Testamentos’, o que agora prosseguimos. Indicávamos a relevância teológica desta verdade, que não se lê eclesial e sadiamente os testamentos, sem relacioná-los. Continuemos nestas sendas, tendo o auxílio do CIC (Catecismo da Igreja Católica) à vista.

Como sempre, entre as Escrituras e os acontecimentos que as realizam, as relações não são de simples correspondência material, mas de iluminação recíproca e de progresso dialético: constata-se, ao mesmo tempo, que as Escrituras revelam o sentido dos acontecimentos e que os acontecimentos revelam o sentido das Escrituras, isto é, que eles obrigam a renunciar a certos aspectos da interpretação recebida para adotar uma interpretação nova1.

A Igreja nos ensina que a leitura e a interpretação corretas das Sagradas Escrituras supõem a consideração de seu percurso completo, a unidade entre eles.

Mas isso não significa que os testamentos se reduzem um ao outro. O Novo Testamento, mesmo sem dispensar a leitura do AT, possui a dimensão inaudita: Jesus Cristo.

Uma Revelação, segundo São Paulo e os autores dos textos do NT: ‘Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam’ (Coríntios 2, 9). A Igreja, pelo Documento da Comissão Bíblica nos ensina que entre os testamentos há de se considerar que os interpretamos reciprocamente, na forma de ‘de iluminação recíproca e de progresso dialético’.

E por fim, o Catecismo (CIC) afirma que:

CIC 130. A tipologia significa o dinamismo em ordem ao cumprimento do plano divino, quando “Deus for tudo em todos” (1 Cor 15, 28). Assim, a vocação dos patriarcas e o êxodo do Egito, por exemplo, não perdem o seu valor próprio no plano de Deus pelo fato de, ao mesmo tempo, serem etapas intermédias desse mesmo plano2.

Percebe-se nesta observação do CIC uma nota importante para a exegese do Novo e do Antigo Testamento.

De um lado, a interessante explicação da função hermenêutica da ‘tipologia’: “A tipologia significa o dinamismo em ordem ao cumprimento do plano divino”.

Do Genesis ao Apocalipse ocorre um processo narrativo no qual se lê a trajetória e a evolução dos Planos Divinos, dispostos na lógica da Revelação Divina.

Desde o tempo de seu ministério público, Jesus tinha tomado uma posição pessoal original, diferente da interpretação recebida em sua época, que era aquela “ dos escribas e dos fariseus”.

Diversas são as exemplaridades do NT, nas quais o próprio Jesus, Palavra Divina, dispõe com autoridade das Escrituras (=AT) em sua pregação, para fundar a verdade nova e sempre antiga, segundo o Documento. Trata-se de “posição pessoal original”, no contexto hermenêutico religioso da Torah.

(Mt 5,20). Numerosos são os testemunhos disso: as antíteses do Sermão da montanha (Mt 5,21-48), a liberdade soberana de Jesus na observância do sábado (Mc 2, 27-28 e paral.), sua maneira de tornar relativos os preceitos de pureza ritual (Mc 7,1-23 e paral.), ao contrário, sua exigência radical em outros domínios (Mt 10,2-12 e paral.; 10,17-27 e paral.) e, sobretudo, sua atitude de receptividade em relação “aos publicanos e pecadores” (Mc 2,15-17 e paral).

Diferentemente do que se poderia imaginar, atribuindo a Jesus uma originalidade inventada ou pueril, como acontece, às vezes, no universo de teólogos(as) em todos os tempos ao longo da vida da Igreja, o Mestre, possui a verdadeira inteligência das Escrituras: “De sua parte não era capricho de contestador, mas, ao contrário, fidelidade mais profunda à vontade de Deus expressa na Escritura (cf Mt 5,17; 9,13; Mc 7,8-13 e paral.; 10,5-9 e paral.)”

A hermenêutica correta da unidade interpretativa dos testamentos, segundo a consciência da Igreja, reside na Centralidade do Evento Pascal de Cristo:

A morte e ressurreição de Jesus forçaram ao extremo a evolução começada, provocando em alguns pontos um rompimento completo, ao mesmo tempo em que uma abertura inesperada. A morte do Messias, “rei dos judeus” (Mc 15,26 e paral.), provocou uma transformação na interpretação terrestre dos salmos reais e dos oráculos messiânicos. Sua ressurreição e sua glorificação celeste como Filho de Deus deram a esses mesmos textos uma plenitude de sentido inconcebível anteriormente. Expressões que pareciam hiperbólicas devem doravante ser tomadas ao pé da letra. Elas aparecem como que preparadas por Deus para expressar a glória do Cristo Jesus, pois Jesus é realmente “Senhor” (Sal 110,1) no sentido mais forte do termo (At 2,36; Fil 2,10-11; He1,10-12); ele é o Filho de Deus (Sal 2,7; Mc 14,62; Rm 1,3-4), Deus com Deus (Sal 45,7; He1,8; Jo 1,1; 20,28); « seu reino não terá fim » (Lc 1,32-33; cf 1 Cron 17,11-14; Sal 45,7; He 1,8) e ele é ao mesmo tempo « sacerdote eternamente » (Sal 110,4; He 5,6-10; 7,23-24)3.

Em diversas camadas e afirmações se entende a lógica apostólica que inspirou a leitura cristã primitiva. Não era só o fio condutor, era a liberação plena de sentido dos textos hebreus do antigo regime da Salvação: “A morte do Messias, “rei dos Judeus” (Mc 15,26 e paral.), provocou uma transformação na interpretação terrestre dos Salmos reais e dos oráculos messiânicos”.

A Páscoa de Jesus, com a densidade de sua Revelação, significativa e inexaurível, traz luz intensa e ilumina a significação profético-escatológica das antigas letras da Bíblia de Abraão.

Referências:

1http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html#III

2http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p1s1c2_50-141_po.html

3HTTP://WWW.VATICAN.VA/ROMAN_CURIA/CONGREGATIONS/CFAITH/PCB_DOCUMENTS/RC_CON_CFAITH_DOC_19930415_INTERPRETAZIONE_PO.HTML#III

 

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos
Autor

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos

Doutor em Teologia Bíblica