14 de Maio de 2024
A Palavra de Deus na Bíblia (58): Interpretação e tradução da Bíblia
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26/08/2016 00:00 - Atualizado em 07/10/2016 15:19
A Palavra de Deus na Bíblia (58): Interpretação e tradução da Bíblia 0
26/08/2016 00:00 - Atualizado em 07/10/2016 15:19
Neste artigo concluiremos o terceiro sentido das Sagradas Escrituras: o SENTIDO PLENO, iniciado no artigo anterior. Analisávamos este definição aparentemente contraditória: “o sentido pleno como um sentido mais profundo do texto, desejado por Deus, mas não claramente expresso pelo autor humano”. Em seguida iniciaremos a Unidade: “Dimensões características da interpretação católica”.
Trata-se, então, ou do significado que um autor bíblico atribui a um texto bíblico que lhe é anterior, quando ele o retoma em um contexto que lhe confere um sentido literal novo, ou ainda do significado que a tradição doutrinal autêntica ou uma definição conciliar dão a um texto da Bíblia.
Por exemplo, o contexto de Mt 1,23 dá um sentido pleno ao oráculo de Is 7,14 sobre a ‘almah’ que conceberá, utilizando a tradução dos Setenta (parthenos): « A virgem conceberá ». O ensinamento patrístico e conciliar sobre a Trindade expressa o sentido pleno do ensinamento do Novo Testamento sobre Deus Pai, Filho e Espírito. A definição do pecado original pelo Concilio de Trento fornece o sentido pleno do ensinamento de Paulo em Rm 5,12-21 a respeito das consequências do pecado de Adão para a humanidade. Mas, quando falta um controle desse gênero — por um texto bíblico explicito ou por uma tradição doutrinal autêntica — o recurso a um pretenso sentido pleno poderia conduzir a interpretações subjetivas desprovidas de toda validade1.
A Igreja, portanto, nos adverte que o sentido Pleno é encontrado no âmbito do estudo acurado da ‘mente do autor’ e dos significados que o Espírito inspira a tradição capta e produz sobre este texto ao longo da história da interpretação.
Neste sentido, o significado do sentido pleno pode ser afirmado como aquele mesmo que Deus quis comunicar através da linguagem humana, Mensagem que se dirige à integralidade do ser humano, em vista do conhecimento da Vontade de Deus, que conhecida e cumprida é fundamento de Salvação humana:
Em definitivo, poder-se-ia considerar o «sentido pleno» como outra maneira de designar o sentido espiritual de um texto bíblico, no caso onde o sentido espiritual se distingue do sentido literal. Seu fundamento é o fato de que o Espírito Santo, autor principal da Bíblia, pode guiar o autor humano na escolha de suas expressões de tal forma que estas últimas expressem uma verdade da qual ele não percebe toda a profundidade2.
Esta é revelada mais completamente no decorrer do tempo, graças, de um lado, a realizações divinas ulteriores que manifestem melhor o alcance dos textos e graças também, de outro lado, à inserção dos textos no Cânon das Escrituras.
Assim é constituído um novo contexto, que faz aparecer potencialidades de sentido que o contexto primitivo deixava na obscuridade.
“DIMENSÕES CARACTERÍSTICAS DA INTERPRETAÇÃO CATÓLICA”
A exegese católica não procura se diferenciar por um método científico particular. Ela reconhece que um dos aspectos dos textos bíblicos é o de ser a obra de autores humanos, que se serviram de suas próprias capacidades de expressão e meios que a época e o ambiente deles colocavam-lhes à disposição. Consequentemente, ela utiliza sem subentendidos todos os métodos e abordagens científicos que permitem melhor apreender o sentido dos textos no contexto linguístico, literário, sócio-cultural, religioso e histórico deles, iluminando-os também pelo estudo de suas fontes e levando em conta a personalidade de cada autor (cf. Divino afflante Spiritu). Ela contribui ativamente ao desenvolvimento dos métodos e ao progresso da pesquisa3.
Iniciamos assim esta penúltima unidade do Documento ‘A Interpretação da Bíblia na Igreja’ (1993), com um esclarecimento acerca da natureza da exegese bíblica, isto é, a explicação racional e espiritual das Sagradas Escrituras, como ciência da interpretação. Não é uma ciência esotérica. Não dispensa os esforços racionais e nem a traição espiritual da Igreja. A exegese supõe a antiguidade, a distância entre os leitores os escritores bíblicos, que precisa ser superado, preenchido, alcançado por uma série de procedimentos de ordem historiográfica, sociológica, linguística e antropológica.
O que a caracteriza é que ela se situa conscientemente na tradição viva da Igreja, cuja primeira preocupação é a fidelidade à revelação atestada pela Bíblia. As hermenêuticas modernas colocaram em destaque, lembremo-nos, a impossibilidade de interpretar um texto sem partir de uma « pré-compreensão » de um gênero ou de outro4.
A exegese católica aborda os escritos bíblicos com uma pré-compreensão que une estreitamente a cultura moderna científica e a tradição religiosa proveniente de Israel e da comunidade cristã primitiva.
Sua interpretação encontra-se, assim, em continuidade com o dinamismo de interpretação que se manifesta no interior da própria Bíblia e que se prolonga em seguida na vida da Igreja. Ela corresponde à exigência de afinidade vital entre o intérprete e seu objeto, afinidade que constitui uma das condições de possibilidade do trabalho exegético5.
A Exegese autêntica da Igreja respeita o ‘dinamismo’ que se expressa na própria Bíblia, que, como um correlato de textos, oferece ao exegeta uma sorte de interpretação de si mesma ao longo de sua evolução.
Referências:
A Palavra de Deus na Bíblia (58): Interpretação e tradução da Bíblia
26/08/2016 00:00 - Atualizado em 07/10/2016 15:19
Neste artigo concluiremos o terceiro sentido das Sagradas Escrituras: o SENTIDO PLENO, iniciado no artigo anterior. Analisávamos este definição aparentemente contraditória: “o sentido pleno como um sentido mais profundo do texto, desejado por Deus, mas não claramente expresso pelo autor humano”. Em seguida iniciaremos a Unidade: “Dimensões características da interpretação católica”.
Trata-se, então, ou do significado que um autor bíblico atribui a um texto bíblico que lhe é anterior, quando ele o retoma em um contexto que lhe confere um sentido literal novo, ou ainda do significado que a tradição doutrinal autêntica ou uma definição conciliar dão a um texto da Bíblia.
Por exemplo, o contexto de Mt 1,23 dá um sentido pleno ao oráculo de Is 7,14 sobre a ‘almah’ que conceberá, utilizando a tradução dos Setenta (parthenos): « A virgem conceberá ». O ensinamento patrístico e conciliar sobre a Trindade expressa o sentido pleno do ensinamento do Novo Testamento sobre Deus Pai, Filho e Espírito. A definição do pecado original pelo Concilio de Trento fornece o sentido pleno do ensinamento de Paulo em Rm 5,12-21 a respeito das consequências do pecado de Adão para a humanidade. Mas, quando falta um controle desse gênero — por um texto bíblico explicito ou por uma tradição doutrinal autêntica — o recurso a um pretenso sentido pleno poderia conduzir a interpretações subjetivas desprovidas de toda validade1.
A Igreja, portanto, nos adverte que o sentido Pleno é encontrado no âmbito do estudo acurado da ‘mente do autor’ e dos significados que o Espírito inspira a tradição capta e produz sobre este texto ao longo da história da interpretação.
Neste sentido, o significado do sentido pleno pode ser afirmado como aquele mesmo que Deus quis comunicar através da linguagem humana, Mensagem que se dirige à integralidade do ser humano, em vista do conhecimento da Vontade de Deus, que conhecida e cumprida é fundamento de Salvação humana:
Em definitivo, poder-se-ia considerar o «sentido pleno» como outra maneira de designar o sentido espiritual de um texto bíblico, no caso onde o sentido espiritual se distingue do sentido literal. Seu fundamento é o fato de que o Espírito Santo, autor principal da Bíblia, pode guiar o autor humano na escolha de suas expressões de tal forma que estas últimas expressem uma verdade da qual ele não percebe toda a profundidade2.
Esta é revelada mais completamente no decorrer do tempo, graças, de um lado, a realizações divinas ulteriores que manifestem melhor o alcance dos textos e graças também, de outro lado, à inserção dos textos no Cânon das Escrituras.
Assim é constituído um novo contexto, que faz aparecer potencialidades de sentido que o contexto primitivo deixava na obscuridade.
“DIMENSÕES CARACTERÍSTICAS DA INTERPRETAÇÃO CATÓLICA”
A exegese católica não procura se diferenciar por um método científico particular. Ela reconhece que um dos aspectos dos textos bíblicos é o de ser a obra de autores humanos, que se serviram de suas próprias capacidades de expressão e meios que a época e o ambiente deles colocavam-lhes à disposição. Consequentemente, ela utiliza sem subentendidos todos os métodos e abordagens científicos que permitem melhor apreender o sentido dos textos no contexto linguístico, literário, sócio-cultural, religioso e histórico deles, iluminando-os também pelo estudo de suas fontes e levando em conta a personalidade de cada autor (cf. Divino afflante Spiritu). Ela contribui ativamente ao desenvolvimento dos métodos e ao progresso da pesquisa3.
Iniciamos assim esta penúltima unidade do Documento ‘A Interpretação da Bíblia na Igreja’ (1993), com um esclarecimento acerca da natureza da exegese bíblica, isto é, a explicação racional e espiritual das Sagradas Escrituras, como ciência da interpretação. Não é uma ciência esotérica. Não dispensa os esforços racionais e nem a traição espiritual da Igreja. A exegese supõe a antiguidade, a distância entre os leitores os escritores bíblicos, que precisa ser superado, preenchido, alcançado por uma série de procedimentos de ordem historiográfica, sociológica, linguística e antropológica.
O que a caracteriza é que ela se situa conscientemente na tradição viva da Igreja, cuja primeira preocupação é a fidelidade à revelação atestada pela Bíblia. As hermenêuticas modernas colocaram em destaque, lembremo-nos, a impossibilidade de interpretar um texto sem partir de uma « pré-compreensão » de um gênero ou de outro4.
A exegese católica aborda os escritos bíblicos com uma pré-compreensão que une estreitamente a cultura moderna científica e a tradição religiosa proveniente de Israel e da comunidade cristã primitiva.
Sua interpretação encontra-se, assim, em continuidade com o dinamismo de interpretação que se manifesta no interior da própria Bíblia e que se prolonga em seguida na vida da Igreja. Ela corresponde à exigência de afinidade vital entre o intérprete e seu objeto, afinidade que constitui uma das condições de possibilidade do trabalho exegético5.
A Exegese autêntica da Igreja respeita o ‘dinamismo’ que se expressa na própria Bíblia, que, como um correlato de textos, oferece ao exegeta uma sorte de interpretação de si mesma ao longo de sua evolução.
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