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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 14/05/2024

14 de Maio de 2024

A Palavra de Deus na Bíblia (52): Interpretação e tradução da Bíblia

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14 de Maio de 2024

A Palavra de Deus na Bíblia (52): Interpretação e tradução da Bíblia

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15/07/2016 14:15 - Atualizado em 15/07/2016 14:15

A Palavra de Deus na Bíblia (52): Interpretação e tradução da Bíblia 0

15/07/2016 14:15 - Atualizado em 15/07/2016 14:15

No precedente artigo começamos a tratar da seção do Documento “A Interpretação da Bíblia na Igreja” (1993), intitulada “Questões de Hermenêutica”, que daremos prosseguimento nos próximos números.

Inicialmente, analisamos a contribuição da hermenêutica filosófica para exegese bíblica, na figura de Bultmann, Gadamer e agora analisamos Paul Ricoeur1.

Do pensamento hermenêutico de Ricoeur retém-se primeiramente o relevo dado à função de distanciação como condição necessária a uma justa apropriação do texto. Uma primeira distância existe entre o texto e seu autor, pois, uma vez produzido, o texto adquire uma certa autonomia em relação a seu autor; ele começa uma carreira de sentidos. Uma outra distancia existe entre o texto e seus leitores sucessivos; estes devem respeitar o mundo do texto em sua alteridade2.

Em continuidade com o filósofo Gadamer, Ricoeur insiste no conceito de ‘distância’ entre texto e leitor. Porém, para ele, agora, trata-se de uma atitude do leitor, que gera ‘distanciamento’ do texto, permite que o texto se manifeste, sem que o autor influencie sua leitura. Ele insiste na ‘autonomia’ ou na ‘alteridade’ do texto, em relação ao autor.

Os métodos de análise literária e histórica são assim necessários à interpretação. No entanto, o sentido de um texto só pode ser dado plenamente se ele é atualizado na vida de leitores que se apropriam dele3.

A partir da própria situação, os leitores são chamados a realçar significados novos, na linha do sentido fundamental indicado pelo texto. O conhecimento bíblico não deve se fixar só na linguagem; ele procura atingir a realidade da qual fala o texto.

A linguagem religiosa da Bíblia é uma linguagem simbólica que “faz pensar”4, uma linguagem da qual não se cessa de descobrir as riquezas de sentido, uma linguagem que visa uma realidade transcendente e que, ao mesmo tempo, desperta a pessoa humana à dimensão profunda de seu ser.

Expostos os autores que influenciaram a leitura bíblica neste século, o documento apresenta uma pergunta fundamental, dando seguimento às análises hermenêuticas filosóficas: ‘O que dizer dessas teorias contemporâneas de interpretação dos textos?’

A Bíblia é Palavra de Deus para todas as épocas que se sucedem. Consequentemente não se poderia dispensar uma teoria hermenêutica que permite incorporar os métodos de crítica literária e histórica em um modelo de interpretação mais amplo. Trata-se de ultrapassar a distância entre o tempo dos autores e primeiros destinatários dos textos bíblicos e nossa época contemporânea, de modo a atualizar corretamente a mensagem dos textos para alimentar a vida de fé dos cristãos. Toda exegese dos textos é chamada a ser completada por uma “hermenêutica”, no sentido recente do termo5.

A Comissão assume aqui dois elementos extraídos das teorias hermenêuticas modernas.

Primeiro que a Bíblia não tem ‘prazo de validade semântica’, é ‘Palavra de Deus para todas as épocas que se sucedem’. O que exige permanente busca de metodologia crítica de leitura e de interpretação.

Daí se estabelece um segundo princípio, a superação do distanciamento temporal (diverso daquele proposto por Ricoeur) entre o leitor e o texto bíblico, a saber que se possa assim realizar uma sadia atualização bíblica: ‘Toda exegese dos textos é chamada a ser completada por uma “hermenêutica”, no sentido recente do termo’.

A necessidade de uma hermenêutica, isto é, de uma interpretação no hoje do nosso mundo, encontra um fundamento na própria Bíblia e na história de sua interpretação.

O conjunto dos escritos do Antigo e do Novo Testamento apresenta-se como o produto de um longo processo de reinterpretação dos acontecimentos fundadores, ligado com a vida das comunidades de fiéis.

Na tradição eclesial, os primeiros intérpretes da Escritura, os padres da Igreja, consideravam que a exegese que faziam dos textos só era completa quando eles evidenciavam o sentido para os cristãos do tempo deles e na situação em que viviam.

Só se é fiel à intencionalidade dos textos bíblicos na medida que se tenta reencontrar no coração de sua formulação a realidade de fé que eles exprimem, e se esta se liga à experiência dos fiéis do nosso mundo6.

Referências:

1 Filósofo francês, nascido a 27 de fevereiro de 1913, em Valence, e falecido a 20 de maio de 2005, em Chatenay-Malabry, Paris, foi aluno de Gabriel Marcel e professor nas Universidades de Sorbonne e Chicago. O pensamento desenvolvido por Ricoeur revela as influências da fenomenologia de Husserl, do pensamento de Gabriel Marcel e da corrente personalista francesa, dirigida por Emmanuel Mounier. A sua vasta e complexa obra reflete uma tentativa de conciliar, criativamente, algumas das correntes mais significativas da filosofia contemporânea: a fenomenologia, a hermenêutica, o existencialismo e a psicanálise.

2 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html.

3 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html.

4  Ricoeur apesar de Filósofo, não abriu mão de sua condição de cristão na produção de seu pensamento crítico, por isso, também nos legou uma vasta literatura sobre a ‘Hermenêutica biblica’: SALLES, Walter. A hermenêutica textual de Paul Ricœur Aportes à compreensão da identidade cristã. Disponível in: http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/21665/21665.PDF

5 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html.

6 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html.

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A Palavra de Deus na Bíblia (52): Interpretação e tradução da Bíblia

15/07/2016 14:15 - Atualizado em 15/07/2016 14:15

No precedente artigo começamos a tratar da seção do Documento “A Interpretação da Bíblia na Igreja” (1993), intitulada “Questões de Hermenêutica”, que daremos prosseguimento nos próximos números.

Inicialmente, analisamos a contribuição da hermenêutica filosófica para exegese bíblica, na figura de Bultmann, Gadamer e agora analisamos Paul Ricoeur1.

Do pensamento hermenêutico de Ricoeur retém-se primeiramente o relevo dado à função de distanciação como condição necessária a uma justa apropriação do texto. Uma primeira distância existe entre o texto e seu autor, pois, uma vez produzido, o texto adquire uma certa autonomia em relação a seu autor; ele começa uma carreira de sentidos. Uma outra distancia existe entre o texto e seus leitores sucessivos; estes devem respeitar o mundo do texto em sua alteridade2.

Em continuidade com o filósofo Gadamer, Ricoeur insiste no conceito de ‘distância’ entre texto e leitor. Porém, para ele, agora, trata-se de uma atitude do leitor, que gera ‘distanciamento’ do texto, permite que o texto se manifeste, sem que o autor influencie sua leitura. Ele insiste na ‘autonomia’ ou na ‘alteridade’ do texto, em relação ao autor.

Os métodos de análise literária e histórica são assim necessários à interpretação. No entanto, o sentido de um texto só pode ser dado plenamente se ele é atualizado na vida de leitores que se apropriam dele3.

A partir da própria situação, os leitores são chamados a realçar significados novos, na linha do sentido fundamental indicado pelo texto. O conhecimento bíblico não deve se fixar só na linguagem; ele procura atingir a realidade da qual fala o texto.

A linguagem religiosa da Bíblia é uma linguagem simbólica que “faz pensar”4, uma linguagem da qual não se cessa de descobrir as riquezas de sentido, uma linguagem que visa uma realidade transcendente e que, ao mesmo tempo, desperta a pessoa humana à dimensão profunda de seu ser.

Expostos os autores que influenciaram a leitura bíblica neste século, o documento apresenta uma pergunta fundamental, dando seguimento às análises hermenêuticas filosóficas: ‘O que dizer dessas teorias contemporâneas de interpretação dos textos?’

A Bíblia é Palavra de Deus para todas as épocas que se sucedem. Consequentemente não se poderia dispensar uma teoria hermenêutica que permite incorporar os métodos de crítica literária e histórica em um modelo de interpretação mais amplo. Trata-se de ultrapassar a distância entre o tempo dos autores e primeiros destinatários dos textos bíblicos e nossa época contemporânea, de modo a atualizar corretamente a mensagem dos textos para alimentar a vida de fé dos cristãos. Toda exegese dos textos é chamada a ser completada por uma “hermenêutica”, no sentido recente do termo5.

A Comissão assume aqui dois elementos extraídos das teorias hermenêuticas modernas.

Primeiro que a Bíblia não tem ‘prazo de validade semântica’, é ‘Palavra de Deus para todas as épocas que se sucedem’. O que exige permanente busca de metodologia crítica de leitura e de interpretação.

Daí se estabelece um segundo princípio, a superação do distanciamento temporal (diverso daquele proposto por Ricoeur) entre o leitor e o texto bíblico, a saber que se possa assim realizar uma sadia atualização bíblica: ‘Toda exegese dos textos é chamada a ser completada por uma “hermenêutica”, no sentido recente do termo’.

A necessidade de uma hermenêutica, isto é, de uma interpretação no hoje do nosso mundo, encontra um fundamento na própria Bíblia e na história de sua interpretação.

O conjunto dos escritos do Antigo e do Novo Testamento apresenta-se como o produto de um longo processo de reinterpretação dos acontecimentos fundadores, ligado com a vida das comunidades de fiéis.

Na tradição eclesial, os primeiros intérpretes da Escritura, os padres da Igreja, consideravam que a exegese que faziam dos textos só era completa quando eles evidenciavam o sentido para os cristãos do tempo deles e na situação em que viviam.

Só se é fiel à intencionalidade dos textos bíblicos na medida que se tenta reencontrar no coração de sua formulação a realidade de fé que eles exprimem, e se esta se liga à experiência dos fiéis do nosso mundo6.

Referências:

1 Filósofo francês, nascido a 27 de fevereiro de 1913, em Valence, e falecido a 20 de maio de 2005, em Chatenay-Malabry, Paris, foi aluno de Gabriel Marcel e professor nas Universidades de Sorbonne e Chicago. O pensamento desenvolvido por Ricoeur revela as influências da fenomenologia de Husserl, do pensamento de Gabriel Marcel e da corrente personalista francesa, dirigida por Emmanuel Mounier. A sua vasta e complexa obra reflete uma tentativa de conciliar, criativamente, algumas das correntes mais significativas da filosofia contemporânea: a fenomenologia, a hermenêutica, o existencialismo e a psicanálise.

2 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html.

3 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html.

4  Ricoeur apesar de Filósofo, não abriu mão de sua condição de cristão na produção de seu pensamento crítico, por isso, também nos legou uma vasta literatura sobre a ‘Hermenêutica biblica’: SALLES, Walter. A hermenêutica textual de Paul Ricœur Aportes à compreensão da identidade cristã. Disponível in: http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/21665/21665.PDF

5 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html.

6 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html.

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos
Autor

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos

Doutor em Teologia Bíblica