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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 14/05/2024

14 de Maio de 2024

A Palavra de Deus na Bíblia (47) Interpretação e tradução da Bíblia

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A Palavra de Deus na Bíblia (47) Interpretação e tradução da Bíblia

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03/06/2016 17:19 - Atualizado em 03/06/2016 17:20

A Palavra de Deus na Bíblia (47) Interpretação e tradução da Bíblia 0

03/06/2016 17:19 - Atualizado em 03/06/2016 17:20

No artigo anterior iniciamos na análise da ‘Abordagem Feminista’, a segunda, no conjunto das “Abordagens Contextuais”, segundo a nomenclatura empregada pelo documento ‘A Interpretação da Bíblia na Igreja’ (1993), que estamos dissecando em toda a sua extensão, com a finalidade de encerrarmos a primeira parte destes artigos introdutórios à interpretação bíblica, católica e crítica.

O documento distingue ao menos três formas ou etapas do pensamento feminista em, relação à leitura bíblica: a forma radical, a neo-ortodoxa e a crítica.

Sobre a primeira, seu contexto baseia-se no conceito de ‘androcentrismo’, que explicamos no número da semana passada, e tem como consequência a recusa integral da Bíblia, que segunda as ideólogas desta forma de feminismo, tendo sido escrita exclusivamente por homens era nociva à formação religiosa das mulheres que desejavam emancipar-se.

Sucede a forma radical aquela denominada ‘neo-ortodoxa’:

A forma neo-ortodoxa aceita a Bíblia como profecia e suscetível de servir, na medida em que ela toma partido pelos fracos e assim também pela mulher; esta orientação é adotada como “cânon no cânon1”, para colocar em relevo tudo aquilo que é em favor da libertação da mulher e de seus direitos2

Nesta forma de feminismo não se recusa mais a Bíblia no seu conjunto como uma obra ‘androcêntrica’ (machista), mas a Leitura da Bíblia torna-se uma ‘ferramenta’ útil para a libertação das mulheres. Parece uma evolução em relação ao radicalismo anterior, mas comporta os mesmo problemas que pudemos analisar na abordagem ‘da Libertação’, que pudemos analisar anteriormente.

A última forma do feminismo bíblico é a forma ‘crítica’:

A forma ‘crítica’ tenta encontrar no passado uma forma ‘igualitária’, na qual as ‘mulheres’ tantas vezes citadas teriam preponderância no ‘movimento de Jesus’. Tudo isso teria sido mascarado, porque o Novo Testamento reescreve a história de Jesus nos parâmentros do machismo (patriarcal e androcêntrico).

Mas, quais são os critérios bíblico-hermenêuticos para tais considerações?

A hermenêutica feminista não elaborou um método novo. Ela se serve dos métodos correntes em exegese, especialmente o método histórico-crítico. Mas ela acrescenta dois critérios de investigação4.

Segundo esta visão, o ‘método histórico-crítico’5 esta na base das abordagens feministas, além de acrescentar dois elementos podem ser reconhecidos como critérios:

O primeiro é o critério feminista, tomado do movimento de libertação da mulher, na linha do movimento mais geral da teologia da libertação. Ele utiliza uma hermenêutica da suspeita: tendo a história sido regularmente escrita pelos vencedores, para encontrar a verdade não se deve confiar nos textos, mas procurar neles indícios que revelem outra coisa6.

A chamada abordagem feminista parece ser uma especialização da já estudada anteriormente abordagem ‘da Libertação’, aplicando-a ao universo feminino.

Além disso, utiliza-se da influência geral da hermenêutica moderna, aquela do século XIX, fundada sobre a suspeição, como na Psicanálise ou no Marxismo. Isso significa que a interpretação parte do ponto que a realidade, como se apresenta é falsa, e é necessário desmascará-la com a crítica.

No caso da dimensão libertária, trata-se de um texto que porta consigo as marcas da ótica do vencedor, o olhar do majoritário, do opressor. Ler criticamente é buscar os ‘indícios’ do minoritário, do oprimido, no caso, as mulheres.

O segundo critério é sociológico; ele se baseia no estudo das sociedades dos tempos bíblicos, de sua estratificação social e da posição que a mulher ocupava.7

O segundo critério é baseado na tentativa de ‘reconstrução de sociedades antigas’, aquelas nas quais se engendra o ‘movimento de Jesus’. Dentro desta perspectiva, o movimento feminista busca inserir sua ótica do papel feminino.

Referências:

1 O cânone bíblico designa o inventário ou lista de escritos ou livros considerados pela Igreja Católica e aceita pelas demais igrejas cristãs, como tendo evidências de inspiração divina. Cânone, em hebraico qenéh e no grego kanóni, tem o significado de “régua” ou “cana [de medir]”, no sentido de um catálogo. A formação do cânone bíblico se deu gradualmente. Foi formado num período aproximado de 1.500 anos. Os cristãos protestantes acreditam que o último livro do Antigo Testamento foi escrito pelo profeta Malaquias. Para os católicos e ortodoxos foi o Eclesiástico ou Sabedoria de Sirácida. O profeta Moisés começou a escrever os primeiros cinco livros canônicos (ou Pentateuco) cerca de 1 491 a.C.. De acordo com a Bíblia, Deus mandou que se escrevesse o registro da Batalha de Refidim.(Êxodo 17:14). Depois vieram os Dez Mandamentos (34:1,27,28). Recapitulação dos acontecimentos é feita em Deuteronômio 9:9-17 10:1-5. São também referidos escritos ou livros anteriores como consultados, para além da tradição oral transmitida de geração em geração. (cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A2non_b%C3%ADblico)

2 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html.

3 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html.

4 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html.

5 ações a saber: análise e síntese. A Análise compreende, por sua vez, quatro operações: a heurística, as críticas interna e externa, e a hermenêutica. Heurística é a operação pela qual se procede a recolha das fontes de informação necessárias à análise histórica. Crítica, onde se avalia a validade ou não das versões contraditórias. É o mais complexo. Hermenêutica é a operação pela qual se procede a interpretação dos documentos em termos de se saber em que medida as informações fornecidas por estes responde a questões inicialmente levantadas. (Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9todo_hist%C3%B3rico)

6 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html.

7 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html.

 

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A Palavra de Deus na Bíblia (47) Interpretação e tradução da Bíblia

03/06/2016 17:19 - Atualizado em 03/06/2016 17:20

No artigo anterior iniciamos na análise da ‘Abordagem Feminista’, a segunda, no conjunto das “Abordagens Contextuais”, segundo a nomenclatura empregada pelo documento ‘A Interpretação da Bíblia na Igreja’ (1993), que estamos dissecando em toda a sua extensão, com a finalidade de encerrarmos a primeira parte destes artigos introdutórios à interpretação bíblica, católica e crítica.

O documento distingue ao menos três formas ou etapas do pensamento feminista em, relação à leitura bíblica: a forma radical, a neo-ortodoxa e a crítica.

Sobre a primeira, seu contexto baseia-se no conceito de ‘androcentrismo’, que explicamos no número da semana passada, e tem como consequência a recusa integral da Bíblia, que segunda as ideólogas desta forma de feminismo, tendo sido escrita exclusivamente por homens era nociva à formação religiosa das mulheres que desejavam emancipar-se.

Sucede a forma radical aquela denominada ‘neo-ortodoxa’:

A forma neo-ortodoxa aceita a Bíblia como profecia e suscetível de servir, na medida em que ela toma partido pelos fracos e assim também pela mulher; esta orientação é adotada como “cânon no cânon1”, para colocar em relevo tudo aquilo que é em favor da libertação da mulher e de seus direitos2

Nesta forma de feminismo não se recusa mais a Bíblia no seu conjunto como uma obra ‘androcêntrica’ (machista), mas a Leitura da Bíblia torna-se uma ‘ferramenta’ útil para a libertação das mulheres. Parece uma evolução em relação ao radicalismo anterior, mas comporta os mesmo problemas que pudemos analisar na abordagem ‘da Libertação’, que pudemos analisar anteriormente.

A última forma do feminismo bíblico é a forma ‘crítica’:

A forma ‘crítica’ tenta encontrar no passado uma forma ‘igualitária’, na qual as ‘mulheres’ tantas vezes citadas teriam preponderância no ‘movimento de Jesus’. Tudo isso teria sido mascarado, porque o Novo Testamento reescreve a história de Jesus nos parâmentros do machismo (patriarcal e androcêntrico).

Mas, quais são os critérios bíblico-hermenêuticos para tais considerações?

A hermenêutica feminista não elaborou um método novo. Ela se serve dos métodos correntes em exegese, especialmente o método histórico-crítico. Mas ela acrescenta dois critérios de investigação4.

Segundo esta visão, o ‘método histórico-crítico’5 esta na base das abordagens feministas, além de acrescentar dois elementos podem ser reconhecidos como critérios:

O primeiro é o critério feminista, tomado do movimento de libertação da mulher, na linha do movimento mais geral da teologia da libertação. Ele utiliza uma hermenêutica da suspeita: tendo a história sido regularmente escrita pelos vencedores, para encontrar a verdade não se deve confiar nos textos, mas procurar neles indícios que revelem outra coisa6.

A chamada abordagem feminista parece ser uma especialização da já estudada anteriormente abordagem ‘da Libertação’, aplicando-a ao universo feminino.

Além disso, utiliza-se da influência geral da hermenêutica moderna, aquela do século XIX, fundada sobre a suspeição, como na Psicanálise ou no Marxismo. Isso significa que a interpretação parte do ponto que a realidade, como se apresenta é falsa, e é necessário desmascará-la com a crítica.

No caso da dimensão libertária, trata-se de um texto que porta consigo as marcas da ótica do vencedor, o olhar do majoritário, do opressor. Ler criticamente é buscar os ‘indícios’ do minoritário, do oprimido, no caso, as mulheres.

O segundo critério é sociológico; ele se baseia no estudo das sociedades dos tempos bíblicos, de sua estratificação social e da posição que a mulher ocupava.7

O segundo critério é baseado na tentativa de ‘reconstrução de sociedades antigas’, aquelas nas quais se engendra o ‘movimento de Jesus’. Dentro desta perspectiva, o movimento feminista busca inserir sua ótica do papel feminino.

Referências:

1 O cânone bíblico designa o inventário ou lista de escritos ou livros considerados pela Igreja Católica e aceita pelas demais igrejas cristãs, como tendo evidências de inspiração divina. Cânone, em hebraico qenéh e no grego kanóni, tem o significado de “régua” ou “cana [de medir]”, no sentido de um catálogo. A formação do cânone bíblico se deu gradualmente. Foi formado num período aproximado de 1.500 anos. Os cristãos protestantes acreditam que o último livro do Antigo Testamento foi escrito pelo profeta Malaquias. Para os católicos e ortodoxos foi o Eclesiástico ou Sabedoria de Sirácida. O profeta Moisés começou a escrever os primeiros cinco livros canônicos (ou Pentateuco) cerca de 1 491 a.C.. De acordo com a Bíblia, Deus mandou que se escrevesse o registro da Batalha de Refidim.(Êxodo 17:14). Depois vieram os Dez Mandamentos (34:1,27,28). Recapitulação dos acontecimentos é feita em Deuteronômio 9:9-17 10:1-5. São também referidos escritos ou livros anteriores como consultados, para além da tradição oral transmitida de geração em geração. (cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A2non_b%C3%ADblico)

2 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html.

3 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html.

4 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html.

5 ações a saber: análise e síntese. A Análise compreende, por sua vez, quatro operações: a heurística, as críticas interna e externa, e a hermenêutica. Heurística é a operação pela qual se procede a recolha das fontes de informação necessárias à análise histórica. Crítica, onde se avalia a validade ou não das versões contraditórias. É o mais complexo. Hermenêutica é a operação pela qual se procede a interpretação dos documentos em termos de se saber em que medida as informações fornecidas por estes responde a questões inicialmente levantadas. (Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9todo_hist%C3%B3rico)

6 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html.

7 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html.

 

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos
Autor

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos

Doutor em Teologia Bíblica