14 de Maio de 2024
A Palavra de Deus na Bíblia (42): Interpretação e tradução da Bíblia
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22/04/2016 00:00 - Atualizado em 30/05/2016 14:32
A Palavra de Deus na Bíblia (42): Interpretação e tradução da Bíblia 0
22/04/2016 00:00 - Atualizado em 30/05/2016 14:32
No artigo anterior, apresentamos as considerações da Pontifícia Comissão Bíblica acerca da abordagem sociológica e ao mesmo tempo expusemos as características principais da abordagem baseada na antropologia cultural.
Falta-nos agora, antes de iniciar a exposição da terceira e última abordagem baseada nas “ciências humanas”, a psicologia e a psicanálise, esboçar, brevemente, alguns acenos críticos ao uso da abordagem da antropologia cultural para a Exegese bíblica moderna.
De novo o documento da Santa Sé chama atenção dos exegetas para os ‘limites’ de uma abordagem. Seja ela qual for, trata-se da especificidade da “Revelação” que está em jogo. Será que estas abordagens, com suas exigências intrínsecas, podem plenamente ‘levar em conta as contribuições específicas da revelação’?
O que a Santa Sé quer dizer com esta questão? Não seriam os pressupostos da fé e da Igreja, na elaboração de premissas hermenêuticas capazes de oferecer um quadro consistente à análise bíblica?
‘Todavia, não mais que outras abordagens particulares, esta não está em si à altura de levar em conta as contribuições específicas da revelação. Convém estar ciente disso no momento de apreciar o alcance de seus resultados’1.
Dito isso, passaremos agora à última abordagem das três, baseadas nas “ciências humanas”.
3. Abordagens psicológicas e psicanalíticas
Desde o início da apresentação e da avaliação destas abordagens fica claro que há antigos entrelaçamentos entre a leitura teológica e aquelas da psicologia e da psicanálise.
‘Psicologia e teologia não cessaram jamais de estar em diálogo uma com a outra. A extensão moderna das pesquisas psicológicas ao estudo das estruturas dinâmicas do inconsciente suscitou novas tentativas de interpretação dos textos antigos, e assim também da Bíblia’2.
Mas, esses entrelaçamentos não foram sempre pacíficos e fáceis; a história do nascimento da psicologia e da psicanálise no século retrasado trouxe campos de atrito à teologia, sobretudo por causa das concepções acerca do ‘fenômeno religioso’ nestas instâncias. O que traz à tona a oportunidade de analisar os resultados alcançados neste campo:
‘Obras inteiras foram consagradas à interpretação psicanalítica de textos bíblicos. Vivas discussões seguiram-nas: em qual medida e em quais condições as pesquisas psicológicas e psicanalíticas podem contribuir para uma compreensão mais profunda da Santa Escritura?3
Os estudos de psicologia e de psicanálise trazem à exegese bíblica um enriquecimento, pois graças a eles os textos da Bíblia podem ser melhores entendidos enquanto experiências de vida e regras de comportamento. A religião, sabe-se, é sempre em uma situação de debate com o inconsciente.
Ela participa, em uma larga medida, à correta orientação das pulsões humanas. As etapas que a crítica histórica percorre metodicamente precisam ser complementadas por um estudo dos diversos níveis da realidade expressa nos textos4.
Outro campo fundamenta da relações entre religião e psicologia ou psicanálise reside na campo do símbolo, linguagem na qual o fenômeno religioso se move para exprimir de modo adequado o mistério.
A psicologia e, de outra maneira, a psicanálise deram particularmente uma nova compreensão do símbolo. A linguagem simbólica permite exprimir zonas da experiência religiosa que não são acessíveis ao raciocínio puramente conceitual, mas têm valor para a questão da verdade. É por isso que um estudo interdisciplinar conduzido em comum por exegetas e psicólogos ou psicanalistas apresenta vantagens certas, fundadas objetivamente e confirmadas na pastoral.
Não se trata simplesmente de descrever a linguagem simbólica da Bíblia, mas apreender sua função de revelação e de interpelação: a realidade “luminosa” de Deus entra aqui em contato com o homem.
Mas, como em todo e qualquer tema, é necessário estabelecer a ‘condictio sine qua non’ para que se estabeleça um diálogo fecundo entre a Exegese bíblica e a psicologia e a psicanálise. Uma primeira condição difícil, mas fundamental, é que não haja entre estas ciências uma perspectiva ateia, estranha ao núcleo da religião.
Não se trata simplesmente de descrever a linguagem simbólica da Bíblia, mas apreender sua função de revelação e de interpelação: a realidade “luminosa” de Deus entra aqui em contato com o homem5.
Numerosos exemplos podem ser citados, que mostram a necessidade de um esforço comum dos exegetas e dos psicólogos: para esclarecer o sentido dos ritos do culto, dos sacrifícios, dos interditos, para explicar a linguagem cheia de imagens da Bíblia, o alcance metafórico dos relatos de milagres, a força dramática das visões e audições apocalípticas.
O documento ainda insiste que ainda que não se pode falar da “exegese psicanalítica” como se houvesse apenas uma. Existe, na realidade, provenientes de diversos domínios da psicologia e das diversas escolas, uma grande variedade de conhecimentos suscetíveis de contribuir à interpretação humana e teológica da Bíblia. Considerar absoluta uma ou outra posição de uma das escolas não favorece a fecundidade do esforço comum, ao contrário lhe e nocivo.
Assim, concluímos a exposição das abordagens bíblicas baseadas nas ciências humanas: sociologia, antropologia cultural, e, por fim, psicologia e psicanálise. As ciências humanas não se reduzem à sociologia, à antropologia cultural e à psicologia. Outras disciplinas podem também ser úteis para a interpretação da Bíblia. Em todos esses domínios é preciso respeitar as competências e reconhecer que é pouco frequente que uma mesma pessoa seja ao mesmo tempo qualificada em exegese e em uma ou outra das ciências humanas.
Referências:
1 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_199) 30415_interpretazione_po.html#I
2 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_199) 30415_interpretazione_po.html#I
3 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_199) 30415_interpretazione_po.html#I
4 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_199) 30415_interpretazione_po.html#I
5 30415_interpretazione_po.html#I http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_199) 30415_interpretazione_po.html#l
A Palavra de Deus na Bíblia (42): Interpretação e tradução da Bíblia
22/04/2016 00:00 - Atualizado em 30/05/2016 14:32
No artigo anterior, apresentamos as considerações da Pontifícia Comissão Bíblica acerca da abordagem sociológica e ao mesmo tempo expusemos as características principais da abordagem baseada na antropologia cultural.
Falta-nos agora, antes de iniciar a exposição da terceira e última abordagem baseada nas “ciências humanas”, a psicologia e a psicanálise, esboçar, brevemente, alguns acenos críticos ao uso da abordagem da antropologia cultural para a Exegese bíblica moderna.
De novo o documento da Santa Sé chama atenção dos exegetas para os ‘limites’ de uma abordagem. Seja ela qual for, trata-se da especificidade da “Revelação” que está em jogo. Será que estas abordagens, com suas exigências intrínsecas, podem plenamente ‘levar em conta as contribuições específicas da revelação’?
O que a Santa Sé quer dizer com esta questão? Não seriam os pressupostos da fé e da Igreja, na elaboração de premissas hermenêuticas capazes de oferecer um quadro consistente à análise bíblica?
‘Todavia, não mais que outras abordagens particulares, esta não está em si à altura de levar em conta as contribuições específicas da revelação. Convém estar ciente disso no momento de apreciar o alcance de seus resultados’1.
Dito isso, passaremos agora à última abordagem das três, baseadas nas “ciências humanas”.
3. Abordagens psicológicas e psicanalíticas
Desde o início da apresentação e da avaliação destas abordagens fica claro que há antigos entrelaçamentos entre a leitura teológica e aquelas da psicologia e da psicanálise.
‘Psicologia e teologia não cessaram jamais de estar em diálogo uma com a outra. A extensão moderna das pesquisas psicológicas ao estudo das estruturas dinâmicas do inconsciente suscitou novas tentativas de interpretação dos textos antigos, e assim também da Bíblia’2.
Mas, esses entrelaçamentos não foram sempre pacíficos e fáceis; a história do nascimento da psicologia e da psicanálise no século retrasado trouxe campos de atrito à teologia, sobretudo por causa das concepções acerca do ‘fenômeno religioso’ nestas instâncias. O que traz à tona a oportunidade de analisar os resultados alcançados neste campo:
‘Obras inteiras foram consagradas à interpretação psicanalítica de textos bíblicos. Vivas discussões seguiram-nas: em qual medida e em quais condições as pesquisas psicológicas e psicanalíticas podem contribuir para uma compreensão mais profunda da Santa Escritura?3
Os estudos de psicologia e de psicanálise trazem à exegese bíblica um enriquecimento, pois graças a eles os textos da Bíblia podem ser melhores entendidos enquanto experiências de vida e regras de comportamento. A religião, sabe-se, é sempre em uma situação de debate com o inconsciente.
Ela participa, em uma larga medida, à correta orientação das pulsões humanas. As etapas que a crítica histórica percorre metodicamente precisam ser complementadas por um estudo dos diversos níveis da realidade expressa nos textos4.
Outro campo fundamenta da relações entre religião e psicologia ou psicanálise reside na campo do símbolo, linguagem na qual o fenômeno religioso se move para exprimir de modo adequado o mistério.
A psicologia e, de outra maneira, a psicanálise deram particularmente uma nova compreensão do símbolo. A linguagem simbólica permite exprimir zonas da experiência religiosa que não são acessíveis ao raciocínio puramente conceitual, mas têm valor para a questão da verdade. É por isso que um estudo interdisciplinar conduzido em comum por exegetas e psicólogos ou psicanalistas apresenta vantagens certas, fundadas objetivamente e confirmadas na pastoral.
Não se trata simplesmente de descrever a linguagem simbólica da Bíblia, mas apreender sua função de revelação e de interpelação: a realidade “luminosa” de Deus entra aqui em contato com o homem.
Mas, como em todo e qualquer tema, é necessário estabelecer a ‘condictio sine qua non’ para que se estabeleça um diálogo fecundo entre a Exegese bíblica e a psicologia e a psicanálise. Uma primeira condição difícil, mas fundamental, é que não haja entre estas ciências uma perspectiva ateia, estranha ao núcleo da religião.
Não se trata simplesmente de descrever a linguagem simbólica da Bíblia, mas apreender sua função de revelação e de interpelação: a realidade “luminosa” de Deus entra aqui em contato com o homem5.
Numerosos exemplos podem ser citados, que mostram a necessidade de um esforço comum dos exegetas e dos psicólogos: para esclarecer o sentido dos ritos do culto, dos sacrifícios, dos interditos, para explicar a linguagem cheia de imagens da Bíblia, o alcance metafórico dos relatos de milagres, a força dramática das visões e audições apocalípticas.
O documento ainda insiste que ainda que não se pode falar da “exegese psicanalítica” como se houvesse apenas uma. Existe, na realidade, provenientes de diversos domínios da psicologia e das diversas escolas, uma grande variedade de conhecimentos suscetíveis de contribuir à interpretação humana e teológica da Bíblia. Considerar absoluta uma ou outra posição de uma das escolas não favorece a fecundidade do esforço comum, ao contrário lhe e nocivo.
Assim, concluímos a exposição das abordagens bíblicas baseadas nas ciências humanas: sociologia, antropologia cultural, e, por fim, psicologia e psicanálise. As ciências humanas não se reduzem à sociologia, à antropologia cultural e à psicologia. Outras disciplinas podem também ser úteis para a interpretação da Bíblia. Em todos esses domínios é preciso respeitar as competências e reconhecer que é pouco frequente que uma mesma pessoa seja ao mesmo tempo qualificada em exegese e em uma ou outra das ciências humanas.
Referências:
1 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_199) 30415_interpretazione_po.html#I
2 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_199) 30415_interpretazione_po.html#I
3 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_199) 30415_interpretazione_po.html#I
4 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_199) 30415_interpretazione_po.html#I
5 30415_interpretazione_po.html#I http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_199) 30415_interpretazione_po.html#l
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