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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 14/05/2024

14 de Maio de 2024

A Palavra de Deus na Bíblia (34): Interpretação e tradução da Bíblia

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14 de Maio de 2024

A Palavra de Deus na Bíblia (34): Interpretação e tradução da Bíblia

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19/02/2016 16:08 - Atualizado em 19/02/2016 16:08

A Palavra de Deus na Bíblia (34): Interpretação e tradução da Bíblia 0

19/02/2016 16:08 - Atualizado em 19/02/2016 16:08

Em pleno século XXI a leitura da Bíblia sofre toda a sorte de influências, quais são as boas, aquelas que ajudam a atualizar o sentido da Revelação, Verdade que salva?

Através do documento “A interpretação da Bíblia na Igreja” (1993), da Pontifícia Comissão Bíblica, quero passar em revista tudo o que pode nos ajudar no discernimento sobre as ferramentas atuais para a leitura da Bíblia, em vista de atualizar seus significados! E voltamos ao método Narrativo:

Vários métodos introduzem uma distinção entre “autor real” e “autor implícito”, “leitor real” e “leitor implícito”.

O “autor real” é a pessoa que compôs o relato. Por “autor implícito” é designada a imagem do autor que o texto produz progressivamente no decorrer da leitura (com sua cultura, seu temperamento, suas tendências, sua fé, etc.).

Chama-se “leitora real” toda pessoa que tem acesso ao texto, desde os primeiros destinatários que leram ou ouviram ler até os leitores ou ouvintes de hoje.

Por “leitor implícito” entende-se aquele que o texto pressupõe e produz, aquele que é capaz de efetuar as operações mentais e afetivas exigidas para entrar no mundo do relato e assim responder a ele da maneira visada pelo autor real através do autor implícito.

Um texto continua a exercer sua influência na medida em que os leitores reais (por exemplo, nós mesmos) podem se identificar com o leitor implícito. Uma das maiores tarefas do exegeta é facilitar esta identificação.

À análise narrativa liga-se uma nova maneira de apreciar o alcance dos textos. Enquanto o método histórico-crítico considera antes de tudo o texto como uma “janela”, que permite algumas observações sobre uma ou outra época (não apenas sobre os fatos narrados, mas também sobre a situação da comunidade para a qual eles foram contados), sublinha-se que o texto funciona igualmente como um “espelho”, no sentido de que ele estabelece uma certa imagem do mundo — o “mundo do relato” que exerce sua influência sobre a maneira de ver do leitor e o leva a adotar certos valores invés que outros1.

Duas coisas importantes aqui se entrecruzam: o universo (mundo) de quem lê e aquele do texto! Se estes dois universos (mundo), com sua lógica, expressões e exigências não se encontram num diálogo possível e fecundo, a leitura bíblica não ocorre. Ou então, o que é pior, assaltamos a Bíblia, com nossos interesses e perguntas e a obrigamos a responder o que desejamos, manipulando a Palavra de Deus, para nosso próprio prejuízo espiritual.

A este gênero de estudo, tipicamente literário, associou-se a reflexão teológica, que levando em consideração as consequências que a natureza de relato e de testemunho da Santa Escritura representa para a adesão de fé, deduz disso uma hermenêutica de tipo prático e pastoral.

Reage-se desta maneira contra a redução do texto inspirado a uma série de teses teológicas, formuladas muitas vezes segundo categorias e linguagem não escriturísticas.

Pede-se à Exegese narrativa de reabilitar, em contextos históricos novos, os modos de comunicação e de significado próprios ao relato bíblico, afim de melhor abrir caminho à sua eficácia para a salvação.

Insiste-se na necessidade de “contar a salvação” (aspecto “informativo” do relato) e de “contar em vista da salvação” (aspecto de “desempenho”). O relato bíblico, efetivamente, contém — explicitamente ou implicitamente, segundo o caso — um apelo existencial dirigido ao leitor2.

Que bela expressão, ‘a necessidade de contar a salvação’, comunicar a vida divina que atua no âmbito da narração, a história!

Para a exegese da Bíblia, a análise narrativa apresenta uma utilidade evidente, pois ela corresponde à natureza narrativa de um grande número de textos bíblicos.

Ela pode contribuir a tornar fácil a passagem, muitas vezes sofrida, entre o sentido do texto em seu contexto histórico — tal como o método histórico-crítico procura defini-lo — e o alcance do texto para o leitor de hoje.

Em contraposição, a distinção entre “autor real” e “autor implícito” aumenta a complexidade dos problemas de interpretação.

A Igreja aprecia este método, como em outros casos tem suas reticências e recomendações para que seu uso seja útil à leitura cristão da Bíblia.

Aplicando-se aos textos da Bíblia, a análise narrativa não pode se contentar de colar sobre eles modelos pré-estabelecidos. Ela deve ao contrário esforçar-se em corresponder à sua especificidade.

Não deve faltar à opção de métodos sincrônicos a metodologia Histórico-Crítica, com sua perspectiva diacrônica, que encalça o desenvolvimento do texto, em sua composição e não simplesmente sua forma atual.

A abordagem sincrônica dos textos pelo método narrativo pede para ser completada por estudos diacrônicos. Ela deve de outro lado, evitar uma possível tendência a excluir toda elaboração doutrinária dos dados que contêm os relatos da Bíblia.

Ela se encontraria, então, em desacordo com a própria tradição bíblica que pratica esse gênero de elaboração, e com a tradição eclesial que continuou nesta via.

Convém, enfim, notar que não se pode considerar a eficácia existencial subjetiva da Palavra de Deus transmitida narrativamente, como um critério suficiente da verdade de sua compreensão3.

 

1 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html

2 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html

3 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html

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A Palavra de Deus na Bíblia (34): Interpretação e tradução da Bíblia

19/02/2016 16:08 - Atualizado em 19/02/2016 16:08

Em pleno século XXI a leitura da Bíblia sofre toda a sorte de influências, quais são as boas, aquelas que ajudam a atualizar o sentido da Revelação, Verdade que salva?

Através do documento “A interpretação da Bíblia na Igreja” (1993), da Pontifícia Comissão Bíblica, quero passar em revista tudo o que pode nos ajudar no discernimento sobre as ferramentas atuais para a leitura da Bíblia, em vista de atualizar seus significados! E voltamos ao método Narrativo:

Vários métodos introduzem uma distinção entre “autor real” e “autor implícito”, “leitor real” e “leitor implícito”.

O “autor real” é a pessoa que compôs o relato. Por “autor implícito” é designada a imagem do autor que o texto produz progressivamente no decorrer da leitura (com sua cultura, seu temperamento, suas tendências, sua fé, etc.).

Chama-se “leitora real” toda pessoa que tem acesso ao texto, desde os primeiros destinatários que leram ou ouviram ler até os leitores ou ouvintes de hoje.

Por “leitor implícito” entende-se aquele que o texto pressupõe e produz, aquele que é capaz de efetuar as operações mentais e afetivas exigidas para entrar no mundo do relato e assim responder a ele da maneira visada pelo autor real através do autor implícito.

Um texto continua a exercer sua influência na medida em que os leitores reais (por exemplo, nós mesmos) podem se identificar com o leitor implícito. Uma das maiores tarefas do exegeta é facilitar esta identificação.

À análise narrativa liga-se uma nova maneira de apreciar o alcance dos textos. Enquanto o método histórico-crítico considera antes de tudo o texto como uma “janela”, que permite algumas observações sobre uma ou outra época (não apenas sobre os fatos narrados, mas também sobre a situação da comunidade para a qual eles foram contados), sublinha-se que o texto funciona igualmente como um “espelho”, no sentido de que ele estabelece uma certa imagem do mundo — o “mundo do relato” que exerce sua influência sobre a maneira de ver do leitor e o leva a adotar certos valores invés que outros1.

Duas coisas importantes aqui se entrecruzam: o universo (mundo) de quem lê e aquele do texto! Se estes dois universos (mundo), com sua lógica, expressões e exigências não se encontram num diálogo possível e fecundo, a leitura bíblica não ocorre. Ou então, o que é pior, assaltamos a Bíblia, com nossos interesses e perguntas e a obrigamos a responder o que desejamos, manipulando a Palavra de Deus, para nosso próprio prejuízo espiritual.

A este gênero de estudo, tipicamente literário, associou-se a reflexão teológica, que levando em consideração as consequências que a natureza de relato e de testemunho da Santa Escritura representa para a adesão de fé, deduz disso uma hermenêutica de tipo prático e pastoral.

Reage-se desta maneira contra a redução do texto inspirado a uma série de teses teológicas, formuladas muitas vezes segundo categorias e linguagem não escriturísticas.

Pede-se à Exegese narrativa de reabilitar, em contextos históricos novos, os modos de comunicação e de significado próprios ao relato bíblico, afim de melhor abrir caminho à sua eficácia para a salvação.

Insiste-se na necessidade de “contar a salvação” (aspecto “informativo” do relato) e de “contar em vista da salvação” (aspecto de “desempenho”). O relato bíblico, efetivamente, contém — explicitamente ou implicitamente, segundo o caso — um apelo existencial dirigido ao leitor2.

Que bela expressão, ‘a necessidade de contar a salvação’, comunicar a vida divina que atua no âmbito da narração, a história!

Para a exegese da Bíblia, a análise narrativa apresenta uma utilidade evidente, pois ela corresponde à natureza narrativa de um grande número de textos bíblicos.

Ela pode contribuir a tornar fácil a passagem, muitas vezes sofrida, entre o sentido do texto em seu contexto histórico — tal como o método histórico-crítico procura defini-lo — e o alcance do texto para o leitor de hoje.

Em contraposição, a distinção entre “autor real” e “autor implícito” aumenta a complexidade dos problemas de interpretação.

A Igreja aprecia este método, como em outros casos tem suas reticências e recomendações para que seu uso seja útil à leitura cristão da Bíblia.

Aplicando-se aos textos da Bíblia, a análise narrativa não pode se contentar de colar sobre eles modelos pré-estabelecidos. Ela deve ao contrário esforçar-se em corresponder à sua especificidade.

Não deve faltar à opção de métodos sincrônicos a metodologia Histórico-Crítica, com sua perspectiva diacrônica, que encalça o desenvolvimento do texto, em sua composição e não simplesmente sua forma atual.

A abordagem sincrônica dos textos pelo método narrativo pede para ser completada por estudos diacrônicos. Ela deve de outro lado, evitar uma possível tendência a excluir toda elaboração doutrinária dos dados que contêm os relatos da Bíblia.

Ela se encontraria, então, em desacordo com a própria tradição bíblica que pratica esse gênero de elaboração, e com a tradição eclesial que continuou nesta via.

Convém, enfim, notar que não se pode considerar a eficácia existencial subjetiva da Palavra de Deus transmitida narrativamente, como um critério suficiente da verdade de sua compreensão3.

 

1 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html

2 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html

3 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos
Autor

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos

Doutor em Teologia Bíblica