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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 14/05/2024

14 de Maio de 2024

A Palavra de Deus na Bíblia (26): Interpretação e tradução da Bíblia

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14 de Maio de 2024

A Palavra de Deus na Bíblia (26): Interpretação e tradução da Bíblia

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28/12/2015 17:50 - Atualizado em 28/12/2015 17:52

A Palavra de Deus na Bíblia (26): Interpretação e tradução da Bíblia 0

28/12/2015 17:50 - Atualizado em 28/12/2015 17:52

Concluiremos este percurso sobre a História da Interpretação com uma série de resenhas acerca de um documento da Pontifícia Comissão Bíblica de Roma. Trata-se do documento “A interpretação da Bíblia na Igreja” (1993). Neste documento encontramos ocasião para tratar de temas contemporâneos da interpretação, como o fundamentalismo, o método crítico e os literários. Boa leitura!

“A interpretação dos textos bíblicos continua a suscitar em nossos dias um vivo interesse e provoca importantes discussões. Elas adquiriram dimensões novas nestes últimos anos. Dado à importância fundamental da Bíblia para a fé cristã, para a vida da Igreja e para as relações dos cristãos com os fiéis das outras religiões, a Pontifícia Comissão Bíblica foi solicitada a se pronunciar a esse respeito”1.

Em sua introdução, o documento chama atenção não somente para o crescimento do interesse pela leitura e o estudo bíblico para os católicos ao interno da Igreja, mas também em relação à possibilidade de intensificarmos diálogos frutuosos com outras formas do cristianismo (protestantes), assim como estabelecermos contatos mais lúcidos com outras religiões, isto é, o incremento do diálogo inter-religioso.

A comissão, porém não esconde, nem mascara as dificuldades. São muitas as dificuldades a serem enfrentadas com muita lucidez.

“O problema da interpretação da Bíblia não é uma invenção moderna como algumas vezes se quer fazer crer. A Bíblia mesma atesta que sua interpretação apresenta dificuldades. O problema é, portanto, antigo, mas ele se acentuou com o desenrolar do tempo: doravante, para encontrar os fatos e palavras de que fala a Bíblia, os leitores devem voltar a quase 20 ou 30 séculos atrás, o que não deixa de levantar dificuldades. De outro lado, as questões de interpretação tornaram-se mais complexas nos tempos modernos devido aos progressos feitos pelas ciências humanas”2.

Os tempos modernos se caracterizam pela exigência de uma visão científica da vida, da natureza, da sociedade, etc. A Bíblia não poderia permanecer totalmente alheia a isto, ao menos no Ocidente cristão.

“Métodos científicos foram aperfeiçoados no estudo dos textos da antiguidade. Em que proporção esses métodos podem ser considerados apropriados à interpretação da Sagrada Escritura? A esta questão a prudência pastoral da Igreja durante muito tempo respondeu de maneira muito reticente, pois muitas vezes os métodos, apesar de seus elementos positivos, encontravam-se ligados às opções opostas à fé cristã”3.

A comissão chama atenção para as ‘reticências’ da Igreja em relação ao uso de métodos científicos aplicados às Sagradas Escrituras. No fim do século 19 parecia uma “interferência” perigosa, devido “às opções opostas” às doutrinas cristãs. Pensasse em particular no marxismo, na psicanálise, nascentes naquele século.

Porém, os debates e estudos vão permitir à Igreja assumir progressivamente posições positivas em relação aos métodos histórico-críticos, sem a obrigação de utilizá-los integralmente. Começa assim, no início do século passado, uma história da assimilação destes métodos na leitura católica:

“Mas uma evolução positiva se produziu, marcada por uma série de documentos pontifícios, desde a encíclica “Providentissimus Deus” de Leão XIII (18 novembro 1893 até a encíclica “Divino afflante Spiritu” de Pio XII (30 setembro 1943), e ela foi confirmada pela declaração “Sancta Mater Ecclesie” (21 abril 1964) da Pontifícia Comissão Bíblica e, sobretudo, pela Constituição Dogmática “Dei Verbum” do Concílio Vaticano II (18 novembro 1965)4.

Os anos vindouros que irão culminar com o Concílio Vaticano II testemunharam a fecundidade de tais decisões do Magistério ao aproximar a leitura bíblica dos resultados das ciências (literárias):

“A fecundidade desta atitude construtiva manifestou-se de uma maneira inegável. Os estudos bíblicos tiveram um progresso notável na Igreja Católica, e o valor científico deles foi cada vez mais reconhecido no mundo dos estudiosos e entre os fiéis. O diálogo ecumênico foi consideravelmente facilitado. A influência da Bíblia sobre a teologia se aprofundou e contribuiu à renovação teológica. O interesse pela Bíblia aumentou entre os católicos e favoreceu o progresso da vida cristã. Todos aqueles que adquiriram uma formação séria nesse campo estimam doravante impossível retornar a um estado de interpretação pré-crítica, pois o julgam, com razão, claramente insuficiente”5.

Mas, nem tudo é um mar de rosas quando se trata da interpretação de um livro normativo para milhões e milhões de seres humanos a tantos milênios.

Referências:

1 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html

2 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html

3 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html

4 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html

5 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html

 

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A Palavra de Deus na Bíblia (26): Interpretação e tradução da Bíblia

28/12/2015 17:50 - Atualizado em 28/12/2015 17:52

Concluiremos este percurso sobre a História da Interpretação com uma série de resenhas acerca de um documento da Pontifícia Comissão Bíblica de Roma. Trata-se do documento “A interpretação da Bíblia na Igreja” (1993). Neste documento encontramos ocasião para tratar de temas contemporâneos da interpretação, como o fundamentalismo, o método crítico e os literários. Boa leitura!

“A interpretação dos textos bíblicos continua a suscitar em nossos dias um vivo interesse e provoca importantes discussões. Elas adquiriram dimensões novas nestes últimos anos. Dado à importância fundamental da Bíblia para a fé cristã, para a vida da Igreja e para as relações dos cristãos com os fiéis das outras religiões, a Pontifícia Comissão Bíblica foi solicitada a se pronunciar a esse respeito”1.

Em sua introdução, o documento chama atenção não somente para o crescimento do interesse pela leitura e o estudo bíblico para os católicos ao interno da Igreja, mas também em relação à possibilidade de intensificarmos diálogos frutuosos com outras formas do cristianismo (protestantes), assim como estabelecermos contatos mais lúcidos com outras religiões, isto é, o incremento do diálogo inter-religioso.

A comissão, porém não esconde, nem mascara as dificuldades. São muitas as dificuldades a serem enfrentadas com muita lucidez.

“O problema da interpretação da Bíblia não é uma invenção moderna como algumas vezes se quer fazer crer. A Bíblia mesma atesta que sua interpretação apresenta dificuldades. O problema é, portanto, antigo, mas ele se acentuou com o desenrolar do tempo: doravante, para encontrar os fatos e palavras de que fala a Bíblia, os leitores devem voltar a quase 20 ou 30 séculos atrás, o que não deixa de levantar dificuldades. De outro lado, as questões de interpretação tornaram-se mais complexas nos tempos modernos devido aos progressos feitos pelas ciências humanas”2.

Os tempos modernos se caracterizam pela exigência de uma visão científica da vida, da natureza, da sociedade, etc. A Bíblia não poderia permanecer totalmente alheia a isto, ao menos no Ocidente cristão.

“Métodos científicos foram aperfeiçoados no estudo dos textos da antiguidade. Em que proporção esses métodos podem ser considerados apropriados à interpretação da Sagrada Escritura? A esta questão a prudência pastoral da Igreja durante muito tempo respondeu de maneira muito reticente, pois muitas vezes os métodos, apesar de seus elementos positivos, encontravam-se ligados às opções opostas à fé cristã”3.

A comissão chama atenção para as ‘reticências’ da Igreja em relação ao uso de métodos científicos aplicados às Sagradas Escrituras. No fim do século 19 parecia uma “interferência” perigosa, devido “às opções opostas” às doutrinas cristãs. Pensasse em particular no marxismo, na psicanálise, nascentes naquele século.

Porém, os debates e estudos vão permitir à Igreja assumir progressivamente posições positivas em relação aos métodos histórico-críticos, sem a obrigação de utilizá-los integralmente. Começa assim, no início do século passado, uma história da assimilação destes métodos na leitura católica:

“Mas uma evolução positiva se produziu, marcada por uma série de documentos pontifícios, desde a encíclica “Providentissimus Deus” de Leão XIII (18 novembro 1893 até a encíclica “Divino afflante Spiritu” de Pio XII (30 setembro 1943), e ela foi confirmada pela declaração “Sancta Mater Ecclesie” (21 abril 1964) da Pontifícia Comissão Bíblica e, sobretudo, pela Constituição Dogmática “Dei Verbum” do Concílio Vaticano II (18 novembro 1965)4.

Os anos vindouros que irão culminar com o Concílio Vaticano II testemunharam a fecundidade de tais decisões do Magistério ao aproximar a leitura bíblica dos resultados das ciências (literárias):

“A fecundidade desta atitude construtiva manifestou-se de uma maneira inegável. Os estudos bíblicos tiveram um progresso notável na Igreja Católica, e o valor científico deles foi cada vez mais reconhecido no mundo dos estudiosos e entre os fiéis. O diálogo ecumênico foi consideravelmente facilitado. A influência da Bíblia sobre a teologia se aprofundou e contribuiu à renovação teológica. O interesse pela Bíblia aumentou entre os católicos e favoreceu o progresso da vida cristã. Todos aqueles que adquiriram uma formação séria nesse campo estimam doravante impossível retornar a um estado de interpretação pré-crítica, pois o julgam, com razão, claramente insuficiente”5.

Mas, nem tudo é um mar de rosas quando se trata da interpretação de um livro normativo para milhões e milhões de seres humanos a tantos milênios.

Referências:

1 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html

2 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html

3 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html

4 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html

5 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html

 

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos
Autor

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos

Doutor em Teologia Bíblica