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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 03/02/2025

03 de Fevereiro de 2025

Quanto ao coração

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29/06/2014 00:00

Quanto ao coração 0

29/06/2014 00:00

Quanto ao coração / Arqrio

A propósito do órgão vital, há muitas abordagens, além do ritmo saudável dos batimentos. Múltipla simbologia poética: ver, falar, ouvir, tocar com o coração. Explosão de sentidos convergentes ou conflitantes, complementares ou díspares. Ele se impõe como metáfora viva da subjetividade refletida ou da interiorização de si mesmo. Vasto simbolismo quanto ao amor que representa; ao ódio também. Expressa outros contrários: fidelidade e traição, liberdade e prisão, ternura e frieza.

Dissera bem Pascal: “O coração tem razões que a razão desconhece”. Reconheceu, assim, o limite próprio da razão objetiva sem, porém, desvalorizá-la, completando-a com a intuição subjetiva. Conjuga o “espírito de geometria” com o “espírito de fineza”. Filosofa com o coração.

No trato humano, agir somente de acordo com a razão não dá muito certo. Há fatores que ludibriam o cálculo e o raciocínio lógico, ou dele escapam. Por isso, embora mais oneroso, o caminho que inclui o coração alcança resultados surpreendentes, ainda que em prazo mais longo. É percorrido com a compaixão, a simpatia, a empatia, ou a audácia e a tolerância, e a dose certa de bom humor. Na prática, é a colherzinha de mel de São Francisco de Sales contra o barril de vinagre. Superada a rigidez do temperamento, ele conquistou a mansidão, pela paixão do amor sem medida.

Igualmente nos serve de incentivo a cordialidade de Madre Madalena Sofia. Leal ao Coração de Jesus, ela acolheu por 23 anos, Júlia “pobre, solitária, de um temperamento difícil e caprichoso, mentirosa, traiçoeira, desprezível, exaltada até às raias do delírio”. “Adotou-a como filha, escreveu-lhe mais de 200 cartas e sofreu muito por sua causa”, inclusive calúnias. “Veio a falecer, na paz do Senhor, sete anos depois da Santa” (cf. Monahan: Santa Madalena Sofia Barat). Viveu o hino à caridade, apaixonadamente: “O amor é paciente (1 Cor 13, 4), não se irrita, não guarda rancor (v. 5)”.

Teria o Coração de Jesus assumido também a inquietude do nosso, sempre insatisfeito? A pergunta se impõe quando a liturgia nos quer contemplativos, tanto da sacralidade quanto da humanidade do Senhor. No entanto, quanta diferença observada, pois “Deus é maior que o nosso coração” (1Jo 3, 20). Nós que é somos convidados a nos transformar ou conformar ao Senhor, com o auxílio da Graça. Assim sendo, Paulo admoesta: “Tende o mesmo sentimento de Cristo Jesus” (Fl 2, 5).

O Evangelho do coração de mestre proclama seu convite ao discipulado: “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso”(Mt 11, 29). A escola é a do coração abrasado, pronto para a conquista do mundo pelo fogo aceso (Lc 12, 49). Por isso, nós repetimos com aqueles que nos precederam na imitação: “Fazei nosso coração semelhante ao vosso”.

Na aparência, o pedido soa pretensioso demais. Mas não é arrogante. É a oração dos simples, que reconhecem o abismo do próprio coração, cheio de imperfeições. É o louvor agradecido, porque todo bem é dom gratuito do Pai (Tg 1,17). A súplica segue, então, o desejo de renovação: “Eu lhes darei um coração capaz de conhecer-me e de saber que sou o Senhor” (Jr 24, 7). Atualiza a profecia, qual empenho pessoal e eclesial: “Repeli para longe de vós todas as vossas culpas, para criardes em vós um coração novo” (Ez 18,31). Corresponde à colaboração livre e sincera com a obra divina: “Tirarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne” (Ez 36, 25-26).

A solenidade do Coração de Jesus comporta belas considerações, todas estimulantes. Inclusive, o apelo à santificação do presbitério. São João Paulo II considerou a conveniência de que os sacerdotes, por ocasião desta festividade, se dedicassem à própria espiritualidade para exercer seu ministério, a partir do Coração do Bom Pastor, que dá a vida pelo rebanho (Jo 10, 11).

Motivados pela exortação apostólica, de nos lembrarmos de nossos dirigentes (Hb 13, 7), o povo de Deus é solicitado a pedir por aqueles que exercem o sublime serviço de santificação, mediante a liturgia, os sacramentos e a oração. Enfim, através do testemunho das virtudes humanas e cristãs.

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Quanto ao coração

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A propósito do órgão vital, há muitas abordagens, além do ritmo saudável dos batimentos. Múltipla simbologia poética: ver, falar, ouvir, tocar com o coração. Explosão de sentidos convergentes ou conflitantes, complementares ou díspares. Ele se impõe como metáfora viva da subjetividade refletida ou da interiorização de si mesmo. Vasto simbolismo quanto ao amor que representa; ao ódio também. Expressa outros contrários: fidelidade e traição, liberdade e prisão, ternura e frieza.

Dissera bem Pascal: “O coração tem razões que a razão desconhece”. Reconheceu, assim, o limite próprio da razão objetiva sem, porém, desvalorizá-la, completando-a com a intuição subjetiva. Conjuga o “espírito de geometria” com o “espírito de fineza”. Filosofa com o coração.

No trato humano, agir somente de acordo com a razão não dá muito certo. Há fatores que ludibriam o cálculo e o raciocínio lógico, ou dele escapam. Por isso, embora mais oneroso, o caminho que inclui o coração alcança resultados surpreendentes, ainda que em prazo mais longo. É percorrido com a compaixão, a simpatia, a empatia, ou a audácia e a tolerância, e a dose certa de bom humor. Na prática, é a colherzinha de mel de São Francisco de Sales contra o barril de vinagre. Superada a rigidez do temperamento, ele conquistou a mansidão, pela paixão do amor sem medida.

Igualmente nos serve de incentivo a cordialidade de Madre Madalena Sofia. Leal ao Coração de Jesus, ela acolheu por 23 anos, Júlia “pobre, solitária, de um temperamento difícil e caprichoso, mentirosa, traiçoeira, desprezível, exaltada até às raias do delírio”. “Adotou-a como filha, escreveu-lhe mais de 200 cartas e sofreu muito por sua causa”, inclusive calúnias. “Veio a falecer, na paz do Senhor, sete anos depois da Santa” (cf. Monahan: Santa Madalena Sofia Barat). Viveu o hino à caridade, apaixonadamente: “O amor é paciente (1 Cor 13, 4), não se irrita, não guarda rancor (v. 5)”.

Teria o Coração de Jesus assumido também a inquietude do nosso, sempre insatisfeito? A pergunta se impõe quando a liturgia nos quer contemplativos, tanto da sacralidade quanto da humanidade do Senhor. No entanto, quanta diferença observada, pois “Deus é maior que o nosso coração” (1Jo 3, 20). Nós que é somos convidados a nos transformar ou conformar ao Senhor, com o auxílio da Graça. Assim sendo, Paulo admoesta: “Tende o mesmo sentimento de Cristo Jesus” (Fl 2, 5).

O Evangelho do coração de mestre proclama seu convite ao discipulado: “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso”(Mt 11, 29). A escola é a do coração abrasado, pronto para a conquista do mundo pelo fogo aceso (Lc 12, 49). Por isso, nós repetimos com aqueles que nos precederam na imitação: “Fazei nosso coração semelhante ao vosso”.

Na aparência, o pedido soa pretensioso demais. Mas não é arrogante. É a oração dos simples, que reconhecem o abismo do próprio coração, cheio de imperfeições. É o louvor agradecido, porque todo bem é dom gratuito do Pai (Tg 1,17). A súplica segue, então, o desejo de renovação: “Eu lhes darei um coração capaz de conhecer-me e de saber que sou o Senhor” (Jr 24, 7). Atualiza a profecia, qual empenho pessoal e eclesial: “Repeli para longe de vós todas as vossas culpas, para criardes em vós um coração novo” (Ez 18,31). Corresponde à colaboração livre e sincera com a obra divina: “Tirarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne” (Ez 36, 25-26).

A solenidade do Coração de Jesus comporta belas considerações, todas estimulantes. Inclusive, o apelo à santificação do presbitério. São João Paulo II considerou a conveniência de que os sacerdotes, por ocasião desta festividade, se dedicassem à própria espiritualidade para exercer seu ministério, a partir do Coração do Bom Pastor, que dá a vida pelo rebanho (Jo 10, 11).

Motivados pela exortação apostólica, de nos lembrarmos de nossos dirigentes (Hb 13, 7), o povo de Deus é solicitado a pedir por aqueles que exercem o sublime serviço de santificação, mediante a liturgia, os sacramentos e a oração. Enfim, através do testemunho das virtudes humanas e cristãs.

Dom Edson de Castro Homem
Autor

Dom Edson de Castro Homem

Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro