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30 de Abril de 2024

Consciência política

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Consciência política

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31/08/2018 13:27 - Atualizado em 31/08/2018 13:33

Consciência política 0

31/08/2018 13:27 - Atualizado em 31/08/2018 13:33

A Constituição dogmática sobre a Igreja no mundo moderno (“Lumen gentium”, 33), promulgada no Concílio Vaticano II, há mais de 50 anos, afirma que os cristãos devem distinguir, com clareza e ponderação, os direitos e deveres derivados da sua pertença à Igreja de Cristo, dos direitos e deveres que têm como membros da sociedade humana.

Lembra, também, a todos os leigos e clérigos que nos assuntos temporais devem se deixar guiar pela consciência moral, já que nenhuma atividade humana pode ser subtraída do domínio de Deus.

Sobretudo os leigos, em virtudes dos dons que lhe foram concedidos, são testemunhas e instrumentos vivos da missão da Igreja (cf. Const. Dogmática. “Lumen gentium”, 36).

A lei fundamental da Humanidade, tal como foi criada e ordenada por Deus-Criador, consiste no amor ao bem e na fuga do mal. A consciência moral de cada pessoa é iluminada por essa ordenação divina, a fim de que cada ação humana manifeste toda a dignidade presente no homem e na mulher.

Quando a liberdade humana, guiada por essa lei moral fundamental, decide agir em favor do bem individual e da sociedade, pode-se dizer que cada cidadão é o “pai dos seus atos” e qualificável para assumir missões importantes na vida social e eclesial.

Em vista desse agir humano, livre e consciente, que torna o cidadão responsável pelos seus atos individuais e sociais, pode-se dizer que a sua consciência é o primeiro de todos os “vigários de Cristo” (cf. carta do Cardeal Newman ao Duque de Norfolk).

Na esfera política, pela sua importância na construção de uma sociedade justa e livre, a consciência moral do cidadão adquire um papel insubstituível, enquanto que os diversos regimes políticos têm um único dever: de contribuírem para o bem comum legítimo da comunidade humana.

Procurar a criação, a manutenção e o desenvolvimento da sociedade humana como comunidade civilizada e justa, por meios moralmente lícitos, é o que confere legitimidade à autoridade competente em matéria de política.

A política é uma ciência, não é um diletantismo, nem tampouco um partidarismo qualquer. Como ciência humana a política reclama dos cidadãos, especialmente dos que a exercem em favor do povo, uma preparação profunda, um conhecimento adequado, uma competência necessária, uma aptidão prévia, a fim de que o bem comum da nação seja alcançado, em consciência, como objetivo principal dos cidadãos numa vida comunitária.

O núcleo central da ação política, iluminada e ordenada pela consciência política, não se encontra só na economia, nem só nas leis, muito menos nas ideologias partidárias. O ponto central da política é a pessoa humana, na sua individualidade e na sua sociabilidade, na sua dignidade original e no seu destino eterno.

O Estado e os partidos políticos não devem, portanto, impor valores e métodos arbitrários na hora de executar, de legislar e de julgar, que acabem deslocando e prejudicando o ser humano, retirando a sua centralidade social e lesando-o na obtenção do bem comum da comunidade humana.

A busca consciente e responsável do bem comum de todas as pessoas, que vivem em família e sociedade, que só sobrevive se ela é humanizada e humanizadora, exige a criação e a manutenção de políticas públicas favoráveis à dignidade humana, sobretudo a formação da consciência política-cidadã de cada governante e legislador.

Os políticos são cidadãos! Os cidadãos têm atitudes políticas! Ambos, políticos e cidadãos, são responsáveis pela ordem, pela paz e pela justiça social. Ambos têm a responsabilidade, em consciência, de agirem, desinteressadamente e eficazmente, por fazerem de cada comunidade social o que é na sua identidade: uma família de irmãos.

São João Paulo II escreveu na Encíclica “Centesimus annos” (1-05-1991), por razão dos 100 anos da Encíclica “Rerum novarum”, do Papa Leão XIII, que “se não se reconhecer a verdade transcendente (da pessoa humana), triunfa a força do poder. Cada um tende a aproveitar-se ao máximo dos meios à sua disposição, para impor o próprio interesse ou opinião, sem atender aos direitos do outro”.

A raiz do totalitarismo moderno deve ser individuada na negação da transcendente dignidade da pessoa humana, que pela sua própria natureza é sujeito de direitos, que ninguém pode violar, seja um indivíduo, seja um grupo, seja uma classe, seja a nação ou Estado.

O Papa Francisco na Encíclica “Evangelii gaudium” ressaltou, com precisão, a doença que está corrompendo a consciência de muitos políticos e de muitos cidadãos. Afirmou no parágrafo 52 desse documento do Magistério da Igreja: “Reconheçamos que, numa cultura na qual cada um pretende ser portador de uma verdade subjetiva própria, torna-se difícil que os cidadãos queiram inserir-se num projeto comum, que vai além dos benefícios e desejos pessoais”.

Esse documento pontifício, promulgado pelo atual Romano Pontífice, lança um desafio à consciência moral ao dizer que “chegamos a ser plenamente humanos, quando somos mais do que humanos. Quando permitimos a Deus que nos conduza para além de nós mesmos”.

O Papa São João Paulo II e o Papa Francisco iluminam a nossa consciência política ao colocarem Deus e a dignidade humana como verdades que transcendem os meros interesses econômicos, culturais, ideológicos e partidários. Esses interesses nada mais são do que posições subjetivas, passíveis de se tornarem forças de poder nas mãos de políticos ou de grupos totalitários, que não visam o bem de todos, mas só de poucos ou de grupos carentes de uma ética objetiva.

A “política é uma forma de expressão da caridade” (dizia o Papa Pio XI em 1927), e cabe ao político-cidadão e ao cidadão-político conduzirem-se pelo amor à pessoa humana e cuidarem da Humanidade, para que nela o ser humano possa alcançar a sua meta: social: ser o mais humano possível.

Em resumo, a centralidade de Deus e da transcendente dignidade da pessoa humana são as duas luzes brilhantes, que garantem a formação de uma consciência política verdadeira, reta e certa, sobretudo numa época na qual o destino do Brasil está confiado às mãos de futuros governantes e legisladores, que devem almejar um Brasil mais justo e seguro, como o povo quer.

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Consciência política

31/08/2018 13:27 - Atualizado em 31/08/2018 13:33

A Constituição dogmática sobre a Igreja no mundo moderno (“Lumen gentium”, 33), promulgada no Concílio Vaticano II, há mais de 50 anos, afirma que os cristãos devem distinguir, com clareza e ponderação, os direitos e deveres derivados da sua pertença à Igreja de Cristo, dos direitos e deveres que têm como membros da sociedade humana.

Lembra, também, a todos os leigos e clérigos que nos assuntos temporais devem se deixar guiar pela consciência moral, já que nenhuma atividade humana pode ser subtraída do domínio de Deus.

Sobretudo os leigos, em virtudes dos dons que lhe foram concedidos, são testemunhas e instrumentos vivos da missão da Igreja (cf. Const. Dogmática. “Lumen gentium”, 36).

A lei fundamental da Humanidade, tal como foi criada e ordenada por Deus-Criador, consiste no amor ao bem e na fuga do mal. A consciência moral de cada pessoa é iluminada por essa ordenação divina, a fim de que cada ação humana manifeste toda a dignidade presente no homem e na mulher.

Quando a liberdade humana, guiada por essa lei moral fundamental, decide agir em favor do bem individual e da sociedade, pode-se dizer que cada cidadão é o “pai dos seus atos” e qualificável para assumir missões importantes na vida social e eclesial.

Em vista desse agir humano, livre e consciente, que torna o cidadão responsável pelos seus atos individuais e sociais, pode-se dizer que a sua consciência é o primeiro de todos os “vigários de Cristo” (cf. carta do Cardeal Newman ao Duque de Norfolk).

Na esfera política, pela sua importância na construção de uma sociedade justa e livre, a consciência moral do cidadão adquire um papel insubstituível, enquanto que os diversos regimes políticos têm um único dever: de contribuírem para o bem comum legítimo da comunidade humana.

Procurar a criação, a manutenção e o desenvolvimento da sociedade humana como comunidade civilizada e justa, por meios moralmente lícitos, é o que confere legitimidade à autoridade competente em matéria de política.

A política é uma ciência, não é um diletantismo, nem tampouco um partidarismo qualquer. Como ciência humana a política reclama dos cidadãos, especialmente dos que a exercem em favor do povo, uma preparação profunda, um conhecimento adequado, uma competência necessária, uma aptidão prévia, a fim de que o bem comum da nação seja alcançado, em consciência, como objetivo principal dos cidadãos numa vida comunitária.

O núcleo central da ação política, iluminada e ordenada pela consciência política, não se encontra só na economia, nem só nas leis, muito menos nas ideologias partidárias. O ponto central da política é a pessoa humana, na sua individualidade e na sua sociabilidade, na sua dignidade original e no seu destino eterno.

O Estado e os partidos políticos não devem, portanto, impor valores e métodos arbitrários na hora de executar, de legislar e de julgar, que acabem deslocando e prejudicando o ser humano, retirando a sua centralidade social e lesando-o na obtenção do bem comum da comunidade humana.

A busca consciente e responsável do bem comum de todas as pessoas, que vivem em família e sociedade, que só sobrevive se ela é humanizada e humanizadora, exige a criação e a manutenção de políticas públicas favoráveis à dignidade humana, sobretudo a formação da consciência política-cidadã de cada governante e legislador.

Os políticos são cidadãos! Os cidadãos têm atitudes políticas! Ambos, políticos e cidadãos, são responsáveis pela ordem, pela paz e pela justiça social. Ambos têm a responsabilidade, em consciência, de agirem, desinteressadamente e eficazmente, por fazerem de cada comunidade social o que é na sua identidade: uma família de irmãos.

São João Paulo II escreveu na Encíclica “Centesimus annos” (1-05-1991), por razão dos 100 anos da Encíclica “Rerum novarum”, do Papa Leão XIII, que “se não se reconhecer a verdade transcendente (da pessoa humana), triunfa a força do poder. Cada um tende a aproveitar-se ao máximo dos meios à sua disposição, para impor o próprio interesse ou opinião, sem atender aos direitos do outro”.

A raiz do totalitarismo moderno deve ser individuada na negação da transcendente dignidade da pessoa humana, que pela sua própria natureza é sujeito de direitos, que ninguém pode violar, seja um indivíduo, seja um grupo, seja uma classe, seja a nação ou Estado.

O Papa Francisco na Encíclica “Evangelii gaudium” ressaltou, com precisão, a doença que está corrompendo a consciência de muitos políticos e de muitos cidadãos. Afirmou no parágrafo 52 desse documento do Magistério da Igreja: “Reconheçamos que, numa cultura na qual cada um pretende ser portador de uma verdade subjetiva própria, torna-se difícil que os cidadãos queiram inserir-se num projeto comum, que vai além dos benefícios e desejos pessoais”.

Esse documento pontifício, promulgado pelo atual Romano Pontífice, lança um desafio à consciência moral ao dizer que “chegamos a ser plenamente humanos, quando somos mais do que humanos. Quando permitimos a Deus que nos conduza para além de nós mesmos”.

O Papa São João Paulo II e o Papa Francisco iluminam a nossa consciência política ao colocarem Deus e a dignidade humana como verdades que transcendem os meros interesses econômicos, culturais, ideológicos e partidários. Esses interesses nada mais são do que posições subjetivas, passíveis de se tornarem forças de poder nas mãos de políticos ou de grupos totalitários, que não visam o bem de todos, mas só de poucos ou de grupos carentes de uma ética objetiva.

A “política é uma forma de expressão da caridade” (dizia o Papa Pio XI em 1927), e cabe ao político-cidadão e ao cidadão-político conduzirem-se pelo amor à pessoa humana e cuidarem da Humanidade, para que nela o ser humano possa alcançar a sua meta: social: ser o mais humano possível.

Em resumo, a centralidade de Deus e da transcendente dignidade da pessoa humana são as duas luzes brilhantes, que garantem a formação de uma consciência política verdadeira, reta e certa, sobretudo numa época na qual o destino do Brasil está confiado às mãos de futuros governantes e legisladores, que devem almejar um Brasil mais justo e seguro, como o povo quer.

Dom Antonio Augusto Dias Duarte
Autor

Dom Antonio Augusto Dias Duarte

Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro