03 de Fevereiro de 2025
São Sebastião, herói da caridade
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Nos tempos apostólicos, a caridade fora muito prestigiada. Definia o ser divino: Deus é caridade ou amor (1 Jo 4, 16). A verdade vivida era a prática conjunta da fé e da caridade: crer no nome do Filho de Deus, Jesus Cristo, e amar-nos uns aos outros, como nos mandou (1 Jo 4, 23). O apóstolo dos gentios privilegiou-a, enaltecendo-a nas obras: “Se não tiver caridade nada sou” (1 Cor 13, 2), e, na sua perenidade: “a caridade jamais passará” (v. 8).
Mais tarde, Tertuliano escreveria que os pagãos se admiravam e diziam a respeito dos cristãos: “vejam como eles se amam”. A admiração era dupla: O enfrentamento da perseguição e do martírio até a morte, vitoriosos em Cristo; O testemunho do amor aos perseguidores e inimigos, a caridade para com os pobres, doentes e prisioneiros, a amizade e o respeito entre si. Os cristãos estavam convencidos: “Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos” (1 Jo 3, 14). Transmitiam o amor em vida e a esperança, além da morte, a fascinarem aqueles que os odiavam.
A Paixão de São Sebastião, narrada nas “Acta Sanctorum”, escritas no final do século 5, está impregnada do sentido heroico do exemplo do mártir. É literatura do gênero narrativo edificante. Logo, não pode ser interpretada como biografia ou ata de registro de fatos e palavras. Não é fonte histórica. Seu objetivo era a transmissão do ensinamento e dos valores cristãos, tendo como referência o exemplo heroico de um irmão na fé, cultuado testemunha de Cristo na vida até a morte. De fato, mártir significa testemunha. Consequentemente, o martírio é a única referência histórica e nuclear da narrativa – flechado, espancado até a morte, despejado no esgoto de Roma, cuja veracidade é resumida nesta síntese, bastante conhecida pela repetição, sem os pormenores narrativos, ampliados ou diminuídos pela teatralidade imaginativa, ontem como hoje.
Todavia, recorrendo aos pormenores literários, observamos outro elemento histórico nada desprezível: a mentalidade cristã da época em que o texto foi escrito. Neste sentido, a ‘Paixão de São Sebastião’ não é só edificante, mas moralizante. Ela divulga o modo de pensar dos cristãos, no século 5, quanto aos valores éticos pelos quais se deveria viver e morrer. Valores inegociáveis. São Sebastião os recuperaria com seu testemunho público. Seu enaltecimento no século 5 remete, pois, à interpretação do testemunho dado no século 3. É a atualização do heroísmo cristão irrenunciável.
A ética da narrativa é a caridade que leva São Sebastião da vida à morte. Sua morte é coerência da vida de amor. Significa que a fé é inegociável no modo de expressá-la pela caridade. É testemunho público, político, diante do imperador, do senhorio de Cristo e da verdade do seu amor humano e divino. Eis o sentido do martírio que as Atas recuperavam para o cristão do século 5, não mais perseguido pela proibição do culto. Por isso, tendia à perda do antigo fervor. Algo semelhante pode acontecer conosco no século 21. Entretanto, é preciso considerar que, em todas as épocas, há perseguições cruentas e restrições localizadas. Igualmente, há a afirmação do testemunho público.
A narrativa pormenoriza que São Sebastião não tinha aptidão para a vida militar. Entrou no exército romano só para exercer a caridade de ajudar os prisioneiros cristãos, sem despertar suspeita, a fim de que perseverassem. Portanto, a caridade incluía prepará-los para o céu. Curou milagrosamente os enfermos. Favoreceu a conversão de pagãos à fé cristã. Quando descoberto, foi levado aos suplícios e à morte. A seguir, é ensinada a caridade que cuida dos feridos e enterra os mortos. São chamadas obras de misericórdia. Por isso, ele foi tratado e recuperado por Irene. Luciana, alertada por uma visão, tirou o corpo dele da fossa, onde foi jogado e deu-lhe digna sepultura nas catacumbas.
São Sebastião muito inspira a realização do Ano da Caridade Social na sua cidade do Rio de Janeiro, em 2014. A solidariedade para com os pobres e indigentes, no corpo e na alma, há de torná-la mais bela porque mais humana. Pela caridade, preparemos as celebrações dos 450 anos de sua fundação!
São Sebastião, herói da caridade
17/01/2014 21:33
Nos tempos apostólicos, a caridade fora muito prestigiada. Definia o ser divino: Deus é caridade ou amor (1 Jo 4, 16). A verdade vivida era a prática conjunta da fé e da caridade: crer no nome do Filho de Deus, Jesus Cristo, e amar-nos uns aos outros, como nos mandou (1 Jo 4, 23). O apóstolo dos gentios privilegiou-a, enaltecendo-a nas obras: “Se não tiver caridade nada sou” (1 Cor 13, 2), e, na sua perenidade: “a caridade jamais passará” (v. 8).
Mais tarde, Tertuliano escreveria que os pagãos se admiravam e diziam a respeito dos cristãos: “vejam como eles se amam”. A admiração era dupla: O enfrentamento da perseguição e do martírio até a morte, vitoriosos em Cristo; O testemunho do amor aos perseguidores e inimigos, a caridade para com os pobres, doentes e prisioneiros, a amizade e o respeito entre si. Os cristãos estavam convencidos: “Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos” (1 Jo 3, 14). Transmitiam o amor em vida e a esperança, além da morte, a fascinarem aqueles que os odiavam.
A Paixão de São Sebastião, narrada nas “Acta Sanctorum”, escritas no final do século 5, está impregnada do sentido heroico do exemplo do mártir. É literatura do gênero narrativo edificante. Logo, não pode ser interpretada como biografia ou ata de registro de fatos e palavras. Não é fonte histórica. Seu objetivo era a transmissão do ensinamento e dos valores cristãos, tendo como referência o exemplo heroico de um irmão na fé, cultuado testemunha de Cristo na vida até a morte. De fato, mártir significa testemunha. Consequentemente, o martírio é a única referência histórica e nuclear da narrativa – flechado, espancado até a morte, despejado no esgoto de Roma, cuja veracidade é resumida nesta síntese, bastante conhecida pela repetição, sem os pormenores narrativos, ampliados ou diminuídos pela teatralidade imaginativa, ontem como hoje.
Todavia, recorrendo aos pormenores literários, observamos outro elemento histórico nada desprezível: a mentalidade cristã da época em que o texto foi escrito. Neste sentido, a ‘Paixão de São Sebastião’ não é só edificante, mas moralizante. Ela divulga o modo de pensar dos cristãos, no século 5, quanto aos valores éticos pelos quais se deveria viver e morrer. Valores inegociáveis. São Sebastião os recuperaria com seu testemunho público. Seu enaltecimento no século 5 remete, pois, à interpretação do testemunho dado no século 3. É a atualização do heroísmo cristão irrenunciável.
A ética da narrativa é a caridade que leva São Sebastião da vida à morte. Sua morte é coerência da vida de amor. Significa que a fé é inegociável no modo de expressá-la pela caridade. É testemunho público, político, diante do imperador, do senhorio de Cristo e da verdade do seu amor humano e divino. Eis o sentido do martírio que as Atas recuperavam para o cristão do século 5, não mais perseguido pela proibição do culto. Por isso, tendia à perda do antigo fervor. Algo semelhante pode acontecer conosco no século 21. Entretanto, é preciso considerar que, em todas as épocas, há perseguições cruentas e restrições localizadas. Igualmente, há a afirmação do testemunho público.
A narrativa pormenoriza que São Sebastião não tinha aptidão para a vida militar. Entrou no exército romano só para exercer a caridade de ajudar os prisioneiros cristãos, sem despertar suspeita, a fim de que perseverassem. Portanto, a caridade incluía prepará-los para o céu. Curou milagrosamente os enfermos. Favoreceu a conversão de pagãos à fé cristã. Quando descoberto, foi levado aos suplícios e à morte. A seguir, é ensinada a caridade que cuida dos feridos e enterra os mortos. São chamadas obras de misericórdia. Por isso, ele foi tratado e recuperado por Irene. Luciana, alertada por uma visão, tirou o corpo dele da fossa, onde foi jogado e deu-lhe digna sepultura nas catacumbas.
São Sebastião muito inspira a realização do Ano da Caridade Social na sua cidade do Rio de Janeiro, em 2014. A solidariedade para com os pobres e indigentes, no corpo e na alma, há de torná-la mais bela porque mais humana. Pela caridade, preparemos as celebrações dos 450 anos de sua fundação!
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