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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 03/02/2025

03 de Fevereiro de 2025

Reflexões sobre o tempo

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Reflexões sobre o tempo 0

13/01/2014 07:55

Reflexões sobre o tempo / Arqrio

A sentença “O tempo é superior ao espaço” posta pelo Papa Francisco, no final da “Lumen Fidei” (57) refere-se ao horizonte que se abre: “a caminhar na esperança” (Ib.) É explicada na “Evangelii Gaudium” (222) como princípio de ação, através da “tensão bipolar entre a plenitude e o limite”. O momento é o limite num espaço circunscrito do próprio tempo, na tensão entre o presente fugaz e o futuro em aberto. A lembrança da passagem recente do ano velho para o ano de 2014, serve de reflexão prática.

A propósito, nas areias da Praia de Copacabana, a tensão entre o tempo e o espaço parece desaparecer, mas só por um instante do momento, o zero hora, após a contagem regressiva por vozes cadenciadas da multidão: cinco, quatro, três, dois, um. Libera-se a alegria incontida, em meio às explosões de fogos de artifício, entre cores e sons. Alumia-se a noite. Com abraços e beijos, mergulha-se no espaço permitido da alteridade. Entretanto, quase de imediato, volta-se ao antes, e o tempo segue em aberto pela madrugada, depois do curto rito de passagem.  Retorna-se ao mesmo espaço da vida corriqueira e ao seu ritmo diário. Volta à questão: afinal, como priorizar o tempo?

O Papa dá intencionalidade à resposta: “trabalhar ao longo prazo, sem a obsessão pelos resultados imediatos”, suportando “com paciência, situações difíceis e hostis ou as mudanças de planos que o dinamismo da realidade impõe”; “Ocupar-se mais com iniciar processos do que possuir espaços”; “Privilegiar as ações que geram novos dinamismos na sociedade e comprometem outras pessoas e grupos que os desenvolverão até frutificar em acontecimentos históricos importantes” (EG 223). Tal priorização prática do tempo requer personalidades “com convicções claras e tenazes” e “sem ansiedade”(Ibidem). Prioriza, pois, a descoberta e a capacitação de lideranças. Haja educadores!

Diante de qualquer espaço-limite, que seja dado: “tempo ao tempo”. Atitude muitas vezes acusada de lentidão. Porém, é a prudência da “paciência histórica” e esperançosa. Ela respeita os variados ritmos pessoais, sociais e eclesiais. Gera processos dinâmicos e construtivos que podem ser eficazes e duradores a perder de vista. Diferente dos resultados imediatos que produzem “ganhos políticos fáceis, rápidos e efêmeros” (EG 224). A prática sensata, a boa política, a pastoral planejada optam pela superioridade do tempo sobre o espaço como estratégia para a plenitude ao longo alcance.

Tais observações também valem para nossa existência pessoal. A ânsia de alargar e intensificar o tempo da vida, pelo desfrute dos espaços, pode gerar fracassos e decepções e frustrações. O excesso da satisfação do desejo momentâneo produz o prolongado vazio interior. A liberação consumista entrega o si mesmo à servidão do ter e do prazer. Não engendra alegria e paz e felicidade que duram. Haja vista todas as dependências cujo preço da libertação é o longo e árduo tempo de recuperação até a “justa medida” da moderação. É a alma qual “terra seca” do salmista.

Voltando ao Papa, ele aplica igualmente à evangelização o critério tempo-espacial: “processos possíveis e estrada longa”. Referindo-se à parábola do trigo e do joio (Mt 13, 24-30), dá-lhe interpretação inusitada: “o inimigo pode ocupar o espaço do Reino e causar dano com o joio, mas é vencido pela bondade do trigo que se manifesta com o tempo”. Interpretação otimista do tempo e da história, no espaço contraditório do cenário do mundo. Cabe-nos, pois, semear o bom trigo do Cristo. Também em 2014. Semear onde estamos. Semear para além do tempo presente. Com muita largueza e sem reservas, pois o tempo da colheita não é nosso. O joio, porém, ainda será semeado.

Grande projeto de priorizar o tempo, através da arte de dar espaço à prática do bem, será o Ano da Caridade, na Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. A caridade, além de ser paciente e prestativa (1 Cor 13, 4), é imaginativa, criativa, produtiva. Em outros idiomas, diz-se da “fantasia” da caridade, quanto à criatividade das atitudes e práticas sociais. Entre nós, parte-se da fantasia para a realidade, certos que a caridade amplia e atualiza a dimensão social do Evangelho. Ela descortina um largo horizonte de esperança por espaços estreitos e desafiadores, superados pela ventura do amor.

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Reflexões sobre o tempo / Arqrio

Reflexões sobre o tempo

13/01/2014 07:55

A sentença “O tempo é superior ao espaço” posta pelo Papa Francisco, no final da “Lumen Fidei” (57) refere-se ao horizonte que se abre: “a caminhar na esperança” (Ib.) É explicada na “Evangelii Gaudium” (222) como princípio de ação, através da “tensão bipolar entre a plenitude e o limite”. O momento é o limite num espaço circunscrito do próprio tempo, na tensão entre o presente fugaz e o futuro em aberto. A lembrança da passagem recente do ano velho para o ano de 2014, serve de reflexão prática.

A propósito, nas areias da Praia de Copacabana, a tensão entre o tempo e o espaço parece desaparecer, mas só por um instante do momento, o zero hora, após a contagem regressiva por vozes cadenciadas da multidão: cinco, quatro, três, dois, um. Libera-se a alegria incontida, em meio às explosões de fogos de artifício, entre cores e sons. Alumia-se a noite. Com abraços e beijos, mergulha-se no espaço permitido da alteridade. Entretanto, quase de imediato, volta-se ao antes, e o tempo segue em aberto pela madrugada, depois do curto rito de passagem.  Retorna-se ao mesmo espaço da vida corriqueira e ao seu ritmo diário. Volta à questão: afinal, como priorizar o tempo?

O Papa dá intencionalidade à resposta: “trabalhar ao longo prazo, sem a obsessão pelos resultados imediatos”, suportando “com paciência, situações difíceis e hostis ou as mudanças de planos que o dinamismo da realidade impõe”; “Ocupar-se mais com iniciar processos do que possuir espaços”; “Privilegiar as ações que geram novos dinamismos na sociedade e comprometem outras pessoas e grupos que os desenvolverão até frutificar em acontecimentos históricos importantes” (EG 223). Tal priorização prática do tempo requer personalidades “com convicções claras e tenazes” e “sem ansiedade”(Ibidem). Prioriza, pois, a descoberta e a capacitação de lideranças. Haja educadores!

Diante de qualquer espaço-limite, que seja dado: “tempo ao tempo”. Atitude muitas vezes acusada de lentidão. Porém, é a prudência da “paciência histórica” e esperançosa. Ela respeita os variados ritmos pessoais, sociais e eclesiais. Gera processos dinâmicos e construtivos que podem ser eficazes e duradores a perder de vista. Diferente dos resultados imediatos que produzem “ganhos políticos fáceis, rápidos e efêmeros” (EG 224). A prática sensata, a boa política, a pastoral planejada optam pela superioridade do tempo sobre o espaço como estratégia para a plenitude ao longo alcance.

Tais observações também valem para nossa existência pessoal. A ânsia de alargar e intensificar o tempo da vida, pelo desfrute dos espaços, pode gerar fracassos e decepções e frustrações. O excesso da satisfação do desejo momentâneo produz o prolongado vazio interior. A liberação consumista entrega o si mesmo à servidão do ter e do prazer. Não engendra alegria e paz e felicidade que duram. Haja vista todas as dependências cujo preço da libertação é o longo e árduo tempo de recuperação até a “justa medida” da moderação. É a alma qual “terra seca” do salmista.

Voltando ao Papa, ele aplica igualmente à evangelização o critério tempo-espacial: “processos possíveis e estrada longa”. Referindo-se à parábola do trigo e do joio (Mt 13, 24-30), dá-lhe interpretação inusitada: “o inimigo pode ocupar o espaço do Reino e causar dano com o joio, mas é vencido pela bondade do trigo que se manifesta com o tempo”. Interpretação otimista do tempo e da história, no espaço contraditório do cenário do mundo. Cabe-nos, pois, semear o bom trigo do Cristo. Também em 2014. Semear onde estamos. Semear para além do tempo presente. Com muita largueza e sem reservas, pois o tempo da colheita não é nosso. O joio, porém, ainda será semeado.

Grande projeto de priorizar o tempo, através da arte de dar espaço à prática do bem, será o Ano da Caridade, na Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. A caridade, além de ser paciente e prestativa (1 Cor 13, 4), é imaginativa, criativa, produtiva. Em outros idiomas, diz-se da “fantasia” da caridade, quanto à criatividade das atitudes e práticas sociais. Entre nós, parte-se da fantasia para a realidade, certos que a caridade amplia e atualiza a dimensão social do Evangelho. Ela descortina um largo horizonte de esperança por espaços estreitos e desafiadores, superados pela ventura do amor.

Dom Edson de Castro Homem
Autor

Dom Edson de Castro Homem

Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro