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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 26/04/2024

26 de Abril de 2024

‘Eu me sinto brasileira, carioca, missionária e Serva do Espírito Santo’

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‘Eu me sinto brasileira, carioca, missionária e Serva do Espírito Santo’

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22/06/2018 10:23 - Atualizado em 22/06/2018 10:23
Por: Congregação Servas do Espírito Santo (mssps.org.br)

‘Eu me sinto brasileira, carioca, missionária e Serva do Espírito Santo’ 0

No dia 13 de junho, faleceu, em Santo Amaro (SP), a irmã Anna Lorenz, conhecida como Gertrudine, pertencente à Congregação Servas do Espírito Santo. Por muitos anos, ela trabalhou na Arquidiocese do Rio, principalmente na animação missionária e na Escola Mater Ecclesiae. Segue abaixo um pouco de sua vida, que ela mesmo contou em 2006, e encontra-se publicada no site de sua congregação (mssps.org.br).

Na Primeira Guerra Mundial, papai foi mandado como ferroviário para a Rússia e voltou somente em 1918. No dia 15 de janeiro de 1920, eu nasci como última da família, em Guntersblum, às margens do rio Reno. Era uma cidade pequena de mil habitantes, mas apenas cerca de 300 eram católicos. Era diáspora; o nosso vigário era muito zeloso e dedicava-se especialmente às crianças e à juventude. Ele arrumou uma biblioteca para nós, fazia teatro conosco, chamava-nos para cantar, justamente para nos proteger, e assim nós crescemos num ambiente católico, apesar da nossa vizinhança luterana.

Frequentei o curso primário na escola municipal, e nós, católicos, fizemos esforço para sermos alunos bons e, assim, não poderem dizer que os católicos não prestavam.

No tempo do nazismo a minha família, com a graça de Deus e iluminação do Espírito Santo, não aderiu a ele, também não entrei na juventude nazista, mas isso era muito perigoso para o emprego do meu pai.

Na nossa paróquia havia muitas revistas missionárias dos palotinos e dos verbitas. Eu tinha 13 anos quando um irmão verbita que espalhava as revistas chegou, e o vigário me disse: “Ana, vá com ele para a casa da Dona Izabel para mostrar-lhe o caminho”. Enquanto caminhávamos, o irmão verbita me perguntou: “Quantos anos você tem?”. “Treze, respondi”. “E você vai sair da escola?”, ele indagou. “Vou sim senhor”, afirmei. “E o que você vai ser?”, disse ele. Eu respondi prontamente: “irmã missionária”. “O que? Nesta paróquia assim? Aonde você vai?”, perguntou o irmão verbita assustado. “Eu ainda não sei”. E ele motivou: “Nós temos umas revistas em casa; a gente está olhando. Você sabe que tem as Irmãs de Steyl?”, indagou.  “Não, não sei”, respondi. “Então vou mandar-lhe as revistas”, prometeu.

Dito e feito: ele me mandou os prospectos. Eu já tinha pensado antes em entrar nas Palotinas, em Limburg, na Alemanha, mas, com os prospectos de Steyl gostei.  Meu irmão mais velho também gostou e, assim, pedi admissão na candidatura em 29 de dezembro de 1934. Os meus pais me acompanharam até a casa provincial. Lá fiquei um ano, e a superiora sempre verificava para que área as candidatas iam depois de servir na congregação. Mandaram-me no ano seguinte para Steyl a fim de fazer o curso científico.

Um dia em que papai tinha saído para o trabalho veio um telefonema para minha mãe, avisando que o papai tinha sofrido um acidente. Ele estava no vagão de cargas; uma porta rolou e imprensou a cabeça dele. Em vez de o levarem logo para o hospital da cidade, levaram-no para casa. Minha mãe era uma mulher muito corajosa. Ela arrumou em casa o quarto e chamou o médico. O estado do meu pai era terrível; não verteu nenhuma gota de sangue e ele ficou com a cabeça preta, mesmo assim não estava inconsciente. E o médico disse: “Eu não tenho coragem de mandá-lo para o hospital; ele vai morrer no caminho”.

Minha mãe esperou uns seis dias e, depois, ela corajosamente chamou um táxi e levou meu pai para o hospital de Mainz. No dia seguinte, ela foi visitá-lo e voltou muito desanimada. Dois dias mais tarde, eu pude ir junto. Quando chegamos no quarto, ele estava sentado na cama, reconheceu-nos e disse: “O padre me deu uma bênção e eu melhorei”. A enfermeira religiosa, então, falou: “Olhe, o seu marido estava para morrer; nós chamamos o padre para dar extrema unção e aconteceu o milagre”.

Realmente, os médicos antes tinham falado que deviam fazer uma operação de crânio, do contrário ele iria ficar com ataques epilépticos, mas, minha mãe, iluminada pelo Espírito Santo, não permitiu, pois os melhores médicos já estavam na guerra. Ela disse: “Eu confio em Deus e no padre Arnaldo; eu vou rezar”.

Quando meu pai recebeu alta, um médico falou: “nós não podemos explicar como o senhor escapou desta; o senhor tem que dar um grande presente à Igreja”.

Minha mãe, então, heroicamente permitiu que eu voltasse para Steyl. Em 1941, terminei o Segundo Grau. Com mais quatro colegas entramos no postulantado, na casa holandesa em Baxem, para não sermos descobertas pelos nazistas, que já estavam na Holanda. Assim, passei a Segunda Guerra Mundial lá; depois voltamos para o noviciado em Steyl, e, em 8 de dezembro de 1943, fiz, com mais três colegas, os primeiros votos. Em 1945, terminou a Segunda Guerra Mundial. Recebi, então, uma cartinha de Roma com o destino missionário para o Brasil. O padre provincial Bigner sempre falava de Nossa Senhora de Fátima: “que bonito, ela falou em português”. Eu pensei comigo: vou para um país que tem raízes católicas, porque os imigrantes eram portugueses. Assim vim de bom grado ao Brasil.

Em 8 de dezembro de 1949, fiz os votos perpétuos.

Estudei física, matemática e religião no Sedes Sapientie, e, em 1953, comecei a lecionar no Stella Matutina e lá fiquei durante 11 anos. Depois me transferiram para o Colégio Nossa Senhora da Piedade, no Rio de Janeiro.

Quando me perguntam : “A senhora de onde é?” Eu respondo: “Eu nasci na Alemanha, mas, virei brasileira carioca”.

Primeiro, eu dava aulas de física, matemática, estatística, religião e ciências naturais. Mas, em 1971, quando o bispo auxiliar Dom Mário Gurgel fundou o Conselho Missionário, a provincial me pediu para representar a congregação nesse conselho.

Depois, em 1972, eu fui encarregada da animação missionária na Arquidiocese do Rio, e também trabalhei duro no Regional Leste 1.

Em 1972, assumi o núcleo da Escola Mater Eclesiae no Vicariato Suburbano. Também trabalhei na animação das religiosas. Quando estava perto dos 80 anos deixei de lecionar, deixando a tarefa para gente mais jovem.

Uma grande alegria que tive foi, primeiro, a acolhida que o povo brasileiro dá ao povo que vem de fora. Depois, eu percebi que me interessava por história. Conhecia os tempos tristes da história na minha terra, por exemplo, depois da Primeira Guerra Mundial, quando foi ocupada pelo exército francês até 1929. Então, eu gostei muito do Brasil porque eu senti que é povo pacífico, devido às suas raízes portuguesas. Claro, tem também páginas mais tristes do passado dos índios e também dos negros, mas, de maneira geral, entre os países sul-americanos acho que nenhum é tão tolerante quanto o Brasil.

A gente também enfrentou dificuldades: primeiro com a língua, depois, ainda não tinha muito jeito com a juventude. Eu era a mais nova em casa e cresci mais com os adultos. Os cursos de orientação pedagógica educacional que fiz no começo me ajudaram a compreender melhor a juventude. Os leigos e leigas, graças a Deus, têm me ajudado de bom grado, quero dizer, as coisas estão funcionado não devido ao meu trabalho apenas, mas, ao trabalho da equipe. Isso é realmente bonito. A partir do Concílio Vaticano II fomos nos acostumando, graças a Deus, a trabalhar com os leigos e leigas, valorizando seus trabalhos e nos colocando sempre mais nesse trabalho pastoral no Brasil.

Eu gostaria de dizer que Nosso Senhor é o autor de tudo. Eu sou muito grata à minha congregação; eu tive realmente boas formadoras. Sou grata também às minhas coirmãs e às autoridades do Brasil pela acolhida.

Eu me sinto brasileira, carioca, missionária e Serva do Espírito Santo”.

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