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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 26/04/2024

26 de Abril de 2024

“Ser sempre sacerdote, somente sacerdote”

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28/03/2017 12:39 - Atualizado em 28/03/2017 12:39
Por: Priscila Xavier

“Ser sempre sacerdote, somente sacerdote” 0

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No dia 6 de abril, o padre Justo Ordóñez Garcia celebra o jubileu de 60 anos de sacerdócio. A missa em ação de graças será no dia 1º de abril, às 18h30, na Paróquia da Ressurreição, em Copacabana.

Sétimo dos nove filhos do casal Benjamin Ordóñez e Regina Garcia, nasceu no Principado de Astúrias, em Oviedo, na Espanha, em 11 de março de 1930, o mesmo dia em que a Igreja celebra o mártir espanhol São Eulógio.

O santo enfrentou a “Guerra Santa de Maomé”, quando os árabes invadiram o país perseguindo os cristãos, enquanto o jovem Justo fugia dos conflitos provocados pela Segunda Guerra Mundial. Ainda muito novo, ele já aprendia a lidar com a dor da perda.

“O ano de 1939 foi muito difícil, com o martírio de muitos religiosos. Meus dois irmãos foram mortos, um na Espanha e outro na Alemanha. Em 1942, minha mãe não suportou tanto sofrimento e faleceu. Eu tinha apenas 12 anos e não a via há um ano, porque estudava num colégio interno jesuíta”, lembrou.

No ano seguinte, em 1943, Justo sofreu mais a perda do pai. Mas, sempre confiante na Divina Providência, não perdeu as esperanças.

“Meu pai faleceu no ano seguinte, durante um acidente numa mina de carvão, uma vez que ele era engenheiro. Ficamos órfãos, mas a Divina Providência sempre agiu em nossas vidas. Meus irmãos e eu fomos morar com uma tia, irmã de minha mãe. Ela não tinha filhos e era uma adorável professora. Lembro-me de ter recebido a Primeira Comunhão justamente na igreja próxima onde minha tia morava”, contou.

O local em que Justo vivia era, exatamente, uma das fronteiras da guerra. As dificuldades de sobrevivência se agravavam cada dia mais e o melhor a ser feito era buscar refúgio em outras regiões.

“Saímos da cidade e fomos morar numa aldeia. Como minha avó já não conseguia mais caminhar, ela ficou com uma ministra da comunhão que sempre levava a eucaristia para minha avó. Ficamos na casa de uma amiga de minha tia, também professora. Nesse mesmo período, um terceiro irmão, que era sacerdote foi assassinado”, disse.

O CHAMADO

Tempos depois, quando Justo chegou à idade de 22 anos, o então Papa Pio XII fez um apelo à Igreja na Europa para que os sacerdotes se prontificassem em ajudar na América Latina. Tal pedido do Pontífice mudou completamente a vida do jovem.

“Sempre fui um menino alegre, brincalhão, e sentia o chamado de Deus desde criança. Porém, certa vez, senti um profundo desejo ao perceber a aflição do Papa Pio XII. Eu já tinha o curso de filosofia da Universidade de Salamanca. Então, iniciei meus estudos como seminarista no Colégio Maior Teológico Hispanoamericano”, contou.

Durante esse período, os bispos espanhóis decidiram encerrar as atividades do Colégio Maior. Foi então que surgiu a Obra de Cooperação Sacerdotal Hispanoamericana (OCSHA), na qual Justo foi um dos primeiros padres a fazer parte, após ser ordenado sacerdote no dia 6 de abril de 1957, pela imposição das mãos do então arcebispo da Diocese de Oviedo, Dom Francisco Javier Lauzurica y Torralba.

Nos últimos anos, a obra de cooperação foi responsável pelo envio de mais de 2,3 mil sacerdotes que foram a diversos territórios da América Latina, dos quais cerca de 400 deles ainda permanecem no continente.

Padre Justo realizou muitas missões na Espanha, onde atuou por oito anos. Ele ainda ficou responsável, ao mesmo tempo, pelas paróquias São Pedro, São Jorge e São Clemente, que ficavam cerca de seis quilômetros uma da outra. Segundo ele, como era preciso visitar as igrejas, muitas vezes à noite, o sacerdote contava com a ajuda de uma égua que o auxiliava no transporte.

“Eu não sabia andar a cavalo, o que foi muito difícil, pois precisava visitar as comunidades à noite. Como estava escuro, só sabia que estava subindo a montanha porque o corpo caía para trás, e que descia, porque o corpo ia para frente. Andava cerca de seis quilômetros para chegar às igrejas que ficavam em lugares distintos”, lembrou.

Padre Justo também contou sobre as dificuldades no período de nevasca.

“Certa vez me chamaram para levar o Santíssimo e dar a Unção dos Enfermos a uma senhora do Apostolado da Oração. Como estava nevando muito, foi preciso que os seis filhos dela fossem me buscar para abrir caminho, uma vez que quando se caminha sobre a neve, a pessoa começa a tremer, pode desmaiar e morrer. Ficava confinado durante esses dias. Quando era algo urgente, saía pelo pântano”, revelou.

Não demorou muito e, logo no ano seguinte, no dia 28 de novembro de 1958, padre Justo foi enviado ao Brasil como sacerdote missionário.

CHEGADA AO BRASIL

O destino de padre Justo seria Vitória, no Espírito Santo, mas o mesmo foi modificado e ele desembarcou no Rio de Janeiro e seguiu em direção ao Seminário Arquidiocesano de São José.

“Cheguei ao seminário e me apresentei como padre missionário. Juntamente com outros padres espanhóis que iriam chegar ao Brasil e aos países próximos, formávamos a primeira turma dos que foram ordenados em 1957 que seguiram para a América Latina como missionários”, destacou.

Pouco tempo depois, foi enviado para a nova Diocese de Goiás que, a partir da bula “Quo gáudio”, do Papa Pio XII, desmembrada da antiga Arquidiocese de Goiás e da Prelazia Nullius de Bananal.

“O arcebispo Dom Cândido Bento Maria Penso já esperava por mim no aeroporto. A primeira vez que falei em público foi na celebração de Natal para as freiras dominicanas na casa paroquial. Fiquei como secretário do bispo, e ele queria que eu atuasse como reitor do primeiro seminário. Porém, em novembro do ano seguinte, Dom Penso foi encontrado morto na praça da catedral, vítima de um câncer”, disse.

Ainda em Goiás, descobriram que padre Justo tinha muita alergia aos mosquitos. Então, foi determinado que ele não poderia permanecer no estado e seguiria para o sul do país. Porém, o Rio de Janeiro entraria definitivamente em sua história.

Ao retornar ao Rio, padre Justo caminhou no sentido contrário ao que fazia na Diocese de Goiás, uma vez que se tratava de uma cidade urbana e com desafios diferentes. Então, assumiu definitivamente a vocação dedicada ao ensino.

Na Arquidiocese do Rio, padre Justo exerceu as funções de capelão e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), capelão do Colégio Sacré-Couer de Marie, professor do Colégio Santo Inácio, pregador de retiros para religiosos – função que aprendeu com Dom Jaime de Barros Câmara, assistente espiritual do Instituto Secular São Francisco de Sales, participante da Pastoral Universitária, Cursilhos de Cristandade e Encontros de Casais com Cristo, além de auxiliar na Paróquia Nossa Senhora de Copacabana e Santa Rosa de Lima, em Copacabana.

Para padre Justo, a coragem em anunciar a verdade e a preocupação e zelo que sempre teve enquanto professor são características de sua missão.

“Sempre tive um ideal, uma vocação. Repito esta frase constantemente: ser sempre sacerdote, somente sacerdote. Dediquei-me ao ensino, mas não era professor, era profeta. Um profeta deve enxergar e denunciar. Fracassamos em nossa missão porque não temos coragem. Enquanto professor sempre fui muito exigente com meus alunos. Eles eram importantes para mim, por isso cobrava tanto a participação e a presença”, completou.

Foto: Gustavo de Oliveira  

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