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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/04/2025

17 de Abril de 2025

“Olhar solidário é abrangente”

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“Olhar solidário é abrangente”

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19/09/2014 08:58 - Atualizado em 24/09/2014 09:49
Por: Carlos Moioli (moioli@arquidiocese.org.br)

“Olhar solidário é abrangente” 0

temp_titlehaiti_3__19092014085657A campanha “Alimente a esperança – Ajude o Haiti” foi um sucesso. Foram  150 toneladas de alimentos arrecadados, numa grande rede de solidariedade organizada pela Arquidiocese do Rio de Janeiro. Na entrevista, o coordenador de pastor monsenhor Joel Portella Amado aborda os motivos da realização da campanha, a partilha do povo carioca e os frutos do Ano da Caridade. “O sonho é ir bem mais longe. A Igreja pede a todos nós a missão “Ad Gentes”. Ir ao distante, ao diferente, ao que está onde nunca pensávamos em ir. Quem sabe o Haiti não venha a ser o nosso bombagai? Eles acham que nós o somos para eles. Provavelmente, Deus nos mostrará que eles o são para nós também”, afirmou.

Testemunho de Fé (TF) – Por que a Igreja no Rio de Janeiro abraçou a campanha “Alimente a esperança – Ajude o Haiti” ?

Monsenhor Joel Portella Amado - Foi um conjunto de ações que acabaram convergindo para esta campanha. Em primeiro lugar, foi o Ano da Caridade. Assim como, no Ano da Fé, tivemos um gesto concreto, que foi a Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Para o Ano da Caridade estava prevista uma grande coleta de alimentos. A coleta seria exatamente nestes dias: de 12 a 14 de setembro, por causa da Festa da Exaltação da Santa Cruz. Desde o início, houve a associação entre a fome e a condição de crucificado.
Faltava um detalhe: para onde enviar os alimentos? A primeira ideia era entregar à Cáritas da Arquidiocese do Rio, e ela faria a distribuição conforme as necessidades locais.
Pouco antes de celebrarmos o primeiro aniversário da JMJ, frei Paulo, religioso da Associação São Francisco de Assis na Providência de Deus, conversou comigo sobre o trabalho que aquela instituição tem no Haiti. Ao conversar, ele repetiu uma frase que acabou ficando em nossas mentes e corações: “A doença daquele povo é a fome!” São frades que conhecem bem a realidade da saúde. Esta frase mexeu comigo e levei o assunto para Dom Orani e para a reunião das terças-feiras, com os bispos auxiliares e vigários episcopais. Com autorização de Dom Orani, convidei frei Paulo para expor o assunto e tentar defender a proposta.
Foi interessante ver a reação dos bispos e dos vigários episcopais. Frei Paulo e eu achávamos que o assunto demoraria para ser aprovado e que muitas perguntas surgiriam. Na verdade, após a breve exposição, um dos vigários episcopais perguntou algo parecido com “e quando começaremos a recolher os alimentos?”.
A proposta passou. Estabelecemos os prazos de início e término. O início ficou mesmo para o evento de um ano da JMJ. Queríamos que as duas coisas estivessem bem ligadas. Afinal, a JMJ tem um legado social que não pode desaparecer. O legado está muito conectado àquele hospital onde os religiosos trabalham.
O prazo final, isto é, 14 de setembro, já estava na agenda arquidiocesana como dia do gesto concreto. O que seria a coleta de um dia para distribuição em diversos locais, acabou sendo uma grande coleta de mais ou menos 50 dias, com um destino bem distante.


TF - Como foi realizada a campanha? Os alimentos foram coletados só nas paróquias? E o resultado?

Monsenhor Joel - O primeiro passo foi o fortalecimento da equipe gestora da campanha. Esta equipe foi formada pelos frades, pelo Vicariato da Caridade Social e pela Coordenação de Pastoral. Também participou, de modo bastante ativo, o padre Licinho, que é o coordenador da dimensão missionária no Rio. Os frades entraram, como se diz, de cabeça na proposta. Colocaram equipes de secretaria e assessoria de imprensa.
A ideia nunca foi restringir a coleta às paróquias. Na verdade, queríamos falar com a cidade. Começamos conversando com algumas instituições. Fomos procurados por outras. Algumas universidades e diversas outras instituições doaram alimentos.
Houve também doações em dinheiro.
Os resultados, para mim, foram vários. Sem dúvida, o primeiro resultado foi a quantidade arrecadada. Chegamos a quase 50 toneladas. E nós pensávamos que dez toneladas seria uma meta grande demais.
O segundo resultado foi a generosidade. Os frades relatam uma história que se tornou referência para a nossa equipe. Um senhor foi ao hospital com um saco de feijão já aberto. Havia mais ou menos metade do saco. O restante ele e a família já tinham consumido. Ele doou do que consumiria até o final do mês. Ao doar, indagou preocupado se o alimento realmente chegaria aos irmãos necessitados. Veja bem: necessitados! E ele estava doando um pouco do feijão que consumiria até o final do mês.
O terceiro resultado foi o diálogo com a sociedade civil. Como eu disse antes, diversas instituições acolheram o convite e as doações começaram a chegar. A mídia ajudou muito. Depois de cada reportagem, o hospital recebia ainda mais alimentos.
O quarto resultado foi o testemunho da credibilidade da Igreja. Várias pessoas disseram claramente estar doando porque sabiam que a Igreja Católica não deixaria que os alimentos se desviassem. Trata-se, portanto, de confiabilidade e isso é uma grande responsabilidade para a Igreja do Rio de Janeiro.
O quinto resultado é algo que ainda estamos avaliando. Trata-se de um trabalho missionário que pode surgir a partir deste contato. Não queremos ficar apenas na entrega dos alimentos. Queremos aproveitar inúmeras riquezas que temos e partilhar com os irmãos e irmãs do Haiti, e queremos aprender deles muitas coisas que eles têm para nos ofertar. Quem sabe aquele país não se torna uma terra de missão ainda maior para o Brasil? Lá estão nossos soldados (bombagai). Lá, a CRB já levou um missionário, leigo, gente simples, construtor de caixas d’água. Lá estão os frades com o atendimento médico, com a padaria e tudo mais. Por que, então, não unir forças e fazer mais?
O sexto resultado foi a unidade das diversas realidades arquidiocesanas: paróquias, movimentos, associações, comunidades de vida, seminários, conventos. Todos, enfim, se uniram. No Halleluya foi muito bonito ver as diversas formas de vivenciar a fé se unindo em torno desse mesmo ideal.


TF - A solidariedade dos fiéis cariocas fez com que o Ano da Caridade extrapolasse as fronteiras da Arquidiocese do Rio?

Monsenhor Joel - Solidariedade e extrapolar são duas palavras irmãs. Afinal, a solidariedade sempre quer mais. Ela sempre quer ser mais solidária. O olhar solidário sempre olha mais adiante. Ele sabe que, se olhar para perto, verá sofrimento. Mas, o olhar solidário é abrangente. Foi por isso que o Haiti, um país distante, terra que não conhecemos muito, local que sabemos mais pelo terremoto e pela morte da doutora Zilda Arns, um país que não é rota turística de ninguém. Foi por isso que acolhemos tão rapidamente a proposta para o Haiti. O que é que receberíamos em troca? Nem mesmo o sorriso dos alimentados, que estão tão longe!
Esta, portanto, é uma atitude de gratuidade. Dom Orani repetiu isso várias vezes nas entrevistas que deu. A ajuda ao Haiti foi um gesto forte para nos impulsionar ainda mais a permanecer praticando a caridade para quem está aqui, bem ao lado, e para quem está em qualquer parte do mundo.
Nestes tempos de globalização, em que o Papa Francisco falou de globalização da pobreza, somos cada vez mais responsáveis uns pelos outros, estejamos em qualquer lugar. Se, para o Evangelho, nunca houve fronteira, ainda mais agora, onde o mundo é realmente uma coisa só. Não sou responsável apenas por quem está ao alcance de minhas mãos. Sou igualmente responsável por cada irmão e irmã que está em qualquer parte do mundo. Parece loucura dizer uma coisa dessas, mas nosso tempo permite que se descubra e se concretize esta realidade evangélica.
O Santo Padre tem insistido muito na solidariedade como forma de participação dos católicos neste momento em que o mundo está tão violento, em que existe tanta intolerância e tudo mais que sabemos. A solidariedade é o caminho.


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