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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 25/04/2024

25 de Abril de 2024

Professor Felipe Nery: ‘Mostrar em profundidade o sentido da vida’

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Professor Felipe Nery: ‘Mostrar em profundidade o sentido da vida’

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18/04/2018 11:03 - Atualizado em 18/04/2018 11:10
Por: Flávia Muniz / Symone Matias

Professor Felipe Nery: ‘Mostrar em profundidade o sentido da vida’ 1

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Entre os dias 7 e 8 de abril, o Edifício João Paulo II sediou o Congresso de Educação Católica, promovido pelo Instituto Sophia Perennis, com o apoio da Arquidiocese do Rio de Janeiro e do Instituto António Royo Marín. A segunda edição do evento integra as atividades do “Curso de Formação Continuada para Professores: Identidade e Atualidade”, realizado pela Pastoral da Educação da Arquidiocese do Rio.  Acompanhe a entrevista concedida ao jornal “Testemunho de Fé” pelo professor Felipe Nery Martins Neto, diretor do Instituto Sophia Perennis e também presidente do Observatório Interamericano de Biopolítica. Na entrevista, o professor abordou aspectos do evento, da educação no Brasil, do papel dos pais e educadores e da atuação do instituto neste campo.

Testemunho de Fé (TF) – Qual foi a proposta do Congresso de Educação Católica realizado no Rio de Janeiro?

Professor Felipe Nery – Temos percorrido o Brasil inteiro, com eventos semelhantes. Somos solicitados não somente por pais, mas também por professores. O objetivo e motivo do evento é despertar tanto nestes como naqueles toda uma reflexão; durante o período que a pessoa permanece no congresso e através de toda a formação, procuramos fazê-la perceber o processo de declínio da educação em que nós nos encontramos. Nós temos muitos dados que o Ministério da Educação e Cultura (MEC) vem nos apresentando, ao longo dessas décadas, mostrando que estamos muito mal (nesse campo); isso é o fenômeno. Porém, precisamos entender as causas: como é que chegamos aqui, ou seja, a este declínio.

TF - Quais as perspectivas apontadas no congresso?

Professor Felipe Nery – O congresso teve esse duplo objetivo: primeiro, ajudar a pessoa a entender, através da reflexão e dos estudos feitos pelos palestrantes, o que é que está acontecendo em matéria de educação, com base nesses estudos, nos fatos e nos dados; e, depois, diante de um cenário tão complexo e problemático e com um vislumbre futuro de que, se for continuando nesse passo, teremos resultados piores ainda. Então, diante disso, fica a tarefa de não desanimarmos, não sermos pessimistas, porém, diante de uma realidade e de um diagnóstico, buscar remediar. O congresso, portanto, apresentou uma série de ideias, para mostrar não só as várias áreas que compõem a educação de uma criança, mas também os rumos e em que podemos interferir, de forma a ajudar a pessoa a fazer um processo de caminhada de estudos, não simplesmente dar uma resposta pronta. Não estamos aqui como os ‘luzeiros’, porque ‘nós sabemos’. De fato, nós estudamos, mas temos ciência de que a pessoa precisa fazer a mesma caminhada, para que ela possa ver e se convencer. Esse processo nós orientamos, e o congresso finaliza com essa proposta: de dar uma continuidade.

TF - Qual a avaliação dos resultados do primeiro para este segundo congresso?

Professor Felipe Nery – Aqui, no Rio de Janeiro, foi o segundo evento.  Tornou-se um trabalho contínuo; o primeiro culminou num curso a pedido das próprias pessoas que estavam naquele congresso, o mais numeroso que nós tivemos, com cerca de 700 pessoas. Durante todo este ano, mês a mês, está acontecendo o “Curso de Formação Continuada para Professores: Identidade e Atualidade”. A arquidiocese assumiu o curso, numa pareceria que estamos fazendo; inclusive, no mês passado, eu abri o primeiro módulo de formação. Inserimos o congresso neste segundo mês do curso, e este terá continuidade. Assim, o congresso tem esse objetivo: ajudar pais e professores a assumirem a educação, independentemente dos organismos.

TF – Por que a ênfase na educação católica?

Professor Felipe Nery – O título Congresso de Educação Católica é, primeiramente, porque somos católicos e, percebe-se, de longa data, que, de modo geral, a educação, no país, vai mal; também há uma insatisfação dos pais com uma série de situações que vêm acontecendo, como, por exemplo, a presença da ideologia de gênero não apenas nas escolas públicas, mas também nas escolas católicas. E, como educadores e católicos, sentimos a necessidade de mostrar qual é a identidade da educação católica. Estamos falando de algo que tem séculos, de escolas de grandes santos educadores. Nós propomos trazer esta identidade, missão, as características e a finalidade da educação católica, e colocá-las de forma que se possa ver que muitas pessoas, em muitos países, grandes gênios e heróis saíram de grandes escolas (católicas), e precisamos falar sobre isso.

TF – Não raro, os antigos com menos escolaridade sabem mais e melhor os conteúdos básicos da educação infantil do que um estudante até de ensino médio ou mesmo universitário. Como isso se explica?

Professor Felipe Nery – Por esse motivo, do ano passado para cá, o meu trabalho procurou demonstrar o que é o sistema educacional brasileiro, comparado, historicamente, com o que nós, do instituto, chamamos de educação, do período por volta de 1910, 1920 e 1930, no Brasil,  provando que tínhamos uma melhor qualidade da educação no país. A prova está aqui, no Rio de Janeiro: padre Leonel Franca lecionou em colégio chamado Normal, no Rio de Janeiro, e, em sua obra, ele escreve que todos os jovens terminavam o ginásio falando cinco línguas; e o MEC divulgou, recentemente, que quase a totalidade dos jovens que terminam o ensino médio não consegue interpretar textos, ou seja, não tem nem domínio da sua própria língua materna. Então, como é que antes possuíam o domínio de cinco línguas estrangeiras e, hoje, não têm nem de uma, a sua própria língua materna? Tem algum problema!

TF – A culpa é (só) do professor?

Professor Felipe Nery – Temos que ver como essa formação acontece, na faculdade, qual o material que chega para esse profissional, de onde vêm essas esferas, esses problemas. É quando eu mostro as políticas educacionais e qual o objetivo político que determina o rumo da formação da criança, do adolescente e do adulto; as pessoas não imaginam que isso aconteça, isto é, que nós temos um declínio humano no Brasil em marcha, sendo feito já de longa data, através da educação.

TF - Como se comportam os pais de alunos das escolas católicas em relação ao quadro atual do ensino brasileiro?  

Professor Felipe Nery – Essa é uma questão com duas vertentes: os pais que estão percebendo o problema da ideologia de gênero ou outro têm a tendência, sempre, ao imediatismo, a uma resposta pronta; e é natural, se você tem um problema, você quer uma solução rápida para ele; e, por conta disso, esses pais procuram materiais diversos, até muito bons, para trabalharem com seus filhos, em paralelo à escola; ou mesmo o gestor pensa que, mudando o material, vai solucionar a educação. Então, o primeiro problema é o do imediatismo, sem entender o que está no cerne da questão, de maneira mais ampla e específica, pois o problema não está na escola católica, está no sistema que forma a todos, inclusive quem está na escola católica.

TF – E qual a segunda vertente? Refere-se aos educadores?

Professor Felipe Nery – A segunda vertente do problema é não saber realmente qual é o processo de educação de uma criança. Vou dar um exemplo simples, e minha palestra baseou-se nisso: eu pergunto para um professor que fez Letras e deveria dominar o português, qual é o conteúdo gramatical que uma criança de 9, 10 ou 12 anos deveria ter ao longo do ano (no bimestre ou trimestre), quais os conteúdos, em que momento essa criança aprende dígrafos, adjetivos etc. Esse professor não sabe mais, ele está sendo muito mal formado e depois estará dando aula. E essa criança já veio de um problema: a família não é o problema, mas a família passa por inúmeros problemas sociais, e essa criança, já frágil, chega à escola e encontra um profissional (ele pensa que não, mas ele é) frágil intelectualmente, então, nós estamos deformando pessoas; temos um ambiente que favorece a isso.

TF – Daí a sua palestra ter tratado da educação dos santos?

Professor Felipe Nery – A minha palestra este ano teve um tema diferente. Sou educador católico, estou numa escola católica e me dedico a cuidar das pessoas que estão nas escolas católicas. E eu sentia muita falta de, como educador católico, não mostrar somente os problemas, mas de mostrar o rumo. Procuro mostrar todo o processo gradativo e pormenorizado da formação sobrenatural de uma criança. Ou seja: como conduzimos a nossa criança para que, na sua vida intelectual, ela possa, realmente, sublimar, ir numa crescente. Porém, não pretendo mostrar isso através, simplesmente, da leitura de um livro clássico, como “Os Lusíadas”, de Luiz Vaz de Camões. Proponho mostrar isso através de uma parte da formação que é negligenciada, desconhecida, porque os pais pensam que, se já rezam de vez em quando e já vão à missa, já estão fazendo tudo, e não entendem os problemas, o que falta nisso tudo – e de fato, falta ainda muita coisa, nesse processo, e os professores da escola também estão longe de entender – é que a escola católica tem, na sua identidade, uma missão de colaborar, levar a criança à finalidade da educação, que é encontrar a verdade.

TF – E de que forma isso contribui para se atingir os reais objetivos da educação?

Professor Felipe Nery – Se você vai conduzindo uma criança a encontrar a verdade, você a está conduzindo a uma vida sobrenatural: ela não cairá em ideologias; vai se basear em critérios objetivos. Há uma probabilidade maior de, nos relacionamentos com as pessoas, buscar basear-se na própria virtude, sabendo renunciar ao que lhe apetece, por causa do bem do outro também. Por extensão, no relacionamento conjugal é assim, no relacionamento de trabalho é assim.

TF – O que é o Instituto Sophia Perennis?

Professor Felipe Nery – É uma entidade formada por profissionais educadores, de várias áreas; nós nos juntamos para organizar essa entidade, com o objetivo, justamente, de dar formação, através de palestras, cursos seminários, conversas; temos, como mantenedora, uma escola, mas também estamos ajudando muitas pessoas dentro das suas escolas, dando consultoria, ajudando as escolas católicas; também com a publicação de livros, pois mantemos, dentro do próprio instituto, uma editora, que continua com a mesma missão formativa, não termina no congresso, numa única palestra ou curso, mas, continua a formar, ajudando as pessoas a refletirem melhor. Vamos construindo o edifício, até que a pessoa possa enxergar melhor e mais profundamente esse assunto que é a educação.

TF – Como se forma uma pessoa de bem, um bom cidadão, nos parâmetros da educação católica? Em que ela difere do modelo estatal?

Professor Felipe Nery – Como pedagogo, eu venho estudando e me dedicando, ao longo de 17 anos, à formação religiosa de uma criança. Procuro mostrar como deve ser feita essa formação, em casa e na escola. Para se formar um ser humano bom, é preciso mostrar a ele que existe o bem e o mal, que existe o certo e o errado, e não simplesmente mostrar ‘esqueminhas’; mostrar em profundidade o sentido da vida, como o indivíduo chega à compreensão do que é melhor para ele e como ele se realiza. Não apenas por um mero convencimento, mas fazê-lo se apaixonar e buscar, ao longo da sua vida, a verdade. Porque estamos educando muito mal, é que surge tanta violência. A violência sempre foi, na história, um sinal de declínio da vida intelectual e da vida espiritual; quando há declínio desses dois pilares, emerge uma sociedade violenta.

Foto: Gustavo de Oliveira


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Comentários (1)

Daniel Oliveira Vasconcelos Aug 24th 2018, 09:15

Excelente conteúdo, parabéns Prof. Felipe Nery. Gostaria de receber mais informações no meu email. Obrigado.

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