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25 de Abril de 2024

Construir a paz para superar a violência

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Construir a paz para superar a violência

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08/02/2018 14:00 - Atualizado em 08/02/2018 14:00
Por: Nathalia Cardoso / Raphael Freire

Construir a paz para superar a violência 0

“A violência não será superada com medidas que ignorem a complexidade do problema”, diz o texto-base da Campanha da Fraternidade (CF) deste ano, cujo tema é “Fraternidade e superação da violência”. Com o lema: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23, 8), a campanha tem como objetivo trazer à tona as diferentes formas de violência existentes e as formas de superá-las.

A abertura este ano será feita em unidade com todo o Regional Leste 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ao contrário do que acontece normalmente: cada diocese faz a sua. A nacional será na Quarta-Feira de Cinzas, dia 14 de fevereiro. No Regional Leste 1, acontecerá no dia 17 de fevereiro, na Catedral Metropolitana de São Sebastião, na Av. Chile, 245, no Centro. O evento de abertura será das 8h às 12h. Às 9h, terá a missa O Rio Celebra, com transmissões da Rede Vida de Televisão e da Rádio Catedral FM.

“É um tema tão importante para o Estado do Rio de Janeiro como um todo que achamos importante fazer o lançamento da campanha juntos”, disse o arcebispo do Rio, Cardeal Orani João Tempesta.

Esta não é a primeira vez que a CNBB se preocupa com o tema da violência. Há 35 anos, em 1983, o tema da CF foi “Fraternidade sim. Violência não”. No entanto, as estatísticas mostram que a violência vem aumentando gradativamente, ano após ano, e isso continua a ser uma preocupação para a Igreja.

O texto-base da Campanha da Fraternidade aponta 13 formas de violência – racial, contra jovens, contra mulheres e homens, contra trabalhadores rurais e povos tradicionais, exploração sexual e tráfico humano, violência doméstica, religiosa, no trânsito, narcotráfico, ineficiência do aparato judicial, corrupção policial, espetacularização de notícias por meio da mídia e violência resultante da desigualdade econômica – e suas causas. Aponta, também, as formas de combate a esses tipos de violência.

Dom Orani lançou, no dia do padroeiro da cidade, São Sebastião, uma carta pastoral focada, principalmente, nas formas de combate à violência. Na carta, “Bem-aventurados os que constroem a paz”, Dom Orani aponta 12 caminhos de superação de qualquer tipo de violência, todos eles de acordo com o que propõe a CNBB nesta Campanha da Fraternidade.

Complexidades

Segundo o cardeal, dentre todas as formas de violência existente, a que mais chama a atenção é aquela não explícita. O texto da campanha trata de alguns exemplos desse tipo de violência, como a resultante da desigualdade social.

De acordo com o número 72 do texto-base da CF-2018, “a desigualdade gera violência. Isso não quer dizer que os excluídos reajam violentamente. Bem mais grave do que isso, o sistema econômico pautado na promoção da desigualdade produz violência, na medida em que favorece o bem-estar de uma pequena parcela, enquanto nega oportunidades de desenvolvimento a milhões de pessoas”.

Dom Orani ratificou essa ideia em entrevista ao programa “Em dia com a notícia”, da Rádio Catedral. Segundo ele, a pobreza é uma forma de violência, e ela acontece quando não se geram condições de acesso ao indispensável à dignidade humana. “É uma das formas mais degradantes de violência, por não ter aparência de tal”, pontuou o cardeal.

Ele também chamou a atenção para a corrupção, por ser um agravante da pobreza. O Papa Francisco definiu a corrupção como um “‘habitus’ construído sobre a idolatria do dinheiro e da mercantilização da dignidade humana”.

Ainda nesse sentido, existe o que a CNBB definiu como “violência cultural”, que é quando se criam meios para a propagação da violência, por não reconhecer certos atos violentos como violência de fato. E a mídia contribui para isso.

Gestos concretos

Os 12 caminhos apresentados por Dom Orani, em sua carta pastoral, para a superação da violência são definidos pelo bispo referencial para a Caridade Social, Dom Joel Portella Amado, “como uma bússola que indica a direção a ser tomada na construção da paz”.

No documento, Dom Orani chamou a atenção, primeiramente, para o fato de a Quaresma (período de vigência da CF) ser um período de conversão e reflexão. Por isso, nessa época sempre é proposta a reflexão de algum tema importante para a sociedade.

Segundo ele, o enfrentamento da violência é ainda mais urgente no Rio de Janeiro, porque há uma falência nos sistemas básicos – saúde, segurança, educação – e uma crise financeira em vigor.

O cardeal explicou que a CF deve ter caráter missionário: não se restringir ao interior das igrejas e buscar alcançar o máximo de pessoas possível. Para isso, os leigos, nesse Ano do Laicato, são convidados a ações concretas.

Segundo ele, diante da violência não existe neutralidade: “Ou agimos em vista de sua superação ou contribuímos para que ela aumente ainda mais”, afirmou em sua carta pastoral.

O cardeal apontou Jesus Cristo como “O Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6), em quem se encontra a bem-aventurança da paz. Portanto, a principal forma de superar a violência é buscar Jesus.

Caminhos para a paz

Os 12 caminhos apontados por Dom Orani para a promoção da paz e superação da violência são: a conversão pessoal, que passa pelas atividades propostas na Quaresma (jejum, reflexão, oração, confissão etc); a fraternidade – perceber que todos são irmãos em Cristo; o anúncio do Evangelho; o acolhimento e escuta do próximo; o perdão e a reconciliação; a mediação comunitária; a caridade; a conscientização – formação de grupos para debater sobre causas da violência e formas de superação; auxiliar na superação de quem cometeu a violência, utilizando-se da justiça restauradora ao invés da justiça punitiva; a união (unidade entre os cristãos); a busca do Deus da Paz e a superação da violência contra a criação (meio ambiente).

Consequências da desigualdade social

Luiz Antônio Moreira Rodrigues sofreu com a violência das ruas, devido à desigualdade social e problemas familiares. Ele viveu em situação de rua por um tempo até conhecer a Associação Solidários Amigos de Betânia (ASAB), onde se encontra há três meses fazendo tratamento contra a dependência química.

Para ele, a superação da violência se dará por meio da fé em Deus. “Temos que parar de olhar os erros dos outros e entregar tudo nas mãos d’Ele”, pontuou.

A ASAB já acolheu, ao longo de seus quase 20 anos de existência, mais de 3 mil pessoas em situação de rua e dependência química.

No projeto, essas pessoas são atendidas ao longo de nove meses, e recebem tratamento de saúde, psicológico, acompanhamento jurídico, cursos e moradia para que possam sair da situação de exclusão social em que se encontram.

Para Dom Orani, uma família desestruturada contribui fortemente para a criação de situações de violência, sejam elas quais forem. E é o que se pode observar na história das pessoas que vivem ou viveram em situação de rua: a desestruturação ou falta da presença familiar faz a diferença nessas histórias.

“Eu não tive a presença da minha família, e quando tive era de forma violenta. Eu me tornei então um adolescente rebelde, que queria conhecer a rua e as drogas”, contou Luiz Antônio, que hoje é pai e não vê a hora de terminar o tratamento na ASAB para ficar junto com a família.

A responsável pela ASAB, irmã Maria Elci Zerma, da Congregação das Irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre, contou que tem muita alegria no coração, por saber que realiza uma ação concreta na transformação do mundo e construção da paz.

“Fazemos a diferença à medida que somos propagadores da paz. Procuremos, portanto, realizar atitudes concretas, nos voluntariar em projetos em prol do próximo”, exortou a religiosa.

Cristiano Nunes da Costa, de 37 anos, não teve o pai e a mãe presentes em sua formação, porque foi fruto de uma gravidez não desejada. Saiu de casa aos 15 anos e foi morar na rua. Ele contou que sofreu muito nesse período. Ele está fazendo o tratamento na ASAB há cinco meses. “A ausência familiar me fez sofrer muito porque com isso perdi muita coisa”, contou.

Para ele, a violência é como um câncer maligno: tem cura, mas o tratamento é demorado.

“O único canal de tratamento é a educação. Eu acredito que tudo nasça da educação. Se você tem educação, você tem menos doenças. Se você tem educação, tem menos criminalidade, tem mais respeito, menos discriminação, menos preconceito. Porque a educação traz informação, e informação é tudo”, afirmou.

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