Em honra a São Sebastião, cuja a memória é celebrada nesta sexta-feira, 20 de janeiro — feriado municipal — a Arquidiocese do Rio de Janeiro, que o tem por Padroeiro, dedicará todo o dia a momentos de oração, festejos e atitudes concretas. Após a Trezena de preparação aos festejos em honra ao Santo 'protetor das famílias cariocas', o dia do Padroeiro da cidade começou com Missa no Santuário Basílica de São Sebastião, na Tijuca. O local, administrado pelos frades capuchinhos, é conhecido por guardar três relíquias da Cidade Maravilhosa: a pedra fundamental, que deu origem ao Rio de Janeiro, os restos mortais de Estácio de Sá e a imagem do Santo Padroeiro que, de acordo com historiadores, teria sido trazida por Estácio de Sá para a fundação da cidade.

Desde cedo, os fiéis lotaram a Igreja e, vestindo a cor característica do Santo, transformaram o local em um verdadeiro mar vermelho de amor e devoção ao Padroeiro. Flores e fitas também não faltaram para homenagear o Santo. Desde crianças de colo até idosos, todos queriam agradecer e reafirmar a fé no mártir protetor da Humanidade contra a fome e a peste, intercessor dos militares, dos presos e das pessoas feridas.

O arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, presidiu a Celebração Eucarística, que foi concelebrada pelo bispo auxiliar, Dom Luiz Henrique da Silva Brito; pelo vigário episcopal para os Institutos de Vida Consagrada, Sociedades de Vida Apostólica, Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades, Dom Roberto Lopes; pelo bispo da Diocese D'Obala, na República dos Camarões, Dom Sosthène Léopold Bayemi Matjei; pelo pároco do santuário, Frei Arles dias de Jesus; e demais sacerdotes. Autoridades civis também participaram da Santa Missa na igreja histórica localizada na Zona Norte da cidade.

Citando o Ano Mariano em âmbito nacional, e o Ano da Família vivido pela Arquidiocese do Rio, Dom Orani destacou a alegria de toda a Igreja carioca em celebrar a festa de São Sebastião, Padroeiro da Arquidiocese e da cidade.

"Hoje é dia de festa para a Arquidiocese, para a cidade e para todos os devotos de São Sebastião. Celebramos essa solenidade trazendo para o presente o testemunho e a vida do nosso Padroeiro, pois mesmo passados tantos séculos temos alguns aspectos que nos aproximam. Diante de uma sociedade muito diversificada e plural, São Sebastião, um soldado do Império Romano, mesmo diante de muitas ameaças continuou firme testemunhando a sua fé. Tentaram matá-lo com flechadas, mas não conseguiram e ele continuou realizando sua missão. Por isso, olhar para São Sebastião, homem de Deus que nos foi dado com Padroeiro da cidade, significa reconhecer que temos um DNA de firmeza, coragem e ânimo, pois ele nos impele a seguir Jesus Cristo, o Senhor", disse.

O arcebispo ressaltou ainda que colocava em oração, no altar do Senhor, todas as intenções que os fiéis traziam em seus corações e rezou pela paz. Pontuando a vida e as ações de São Sebastião, durante a homilia Cardeal Tempesta reforçou que a perseverança e a unidade testemunhadas pelo Santo Padroeiro devem ser características fundamentais na vida de todo cristão católico. Ele recordou também algumas experiências vivenciadas durante a Trezena.

"Depois de passar treze dias peregrinando nos lugares mais diversos com as suas contradições e seus grandes contrastes, próprios de uma cidade grande, gostaria de partilhar uma realidade... Nesse tempo de injustiças, não compreensão, perseguições, ideologias que massacram as famílias e as pessoas, nada pode nos separar do amor de Deus! Não podemos desanimar e hoje somos chamados, enquanto Igreja, povo de Deus nessa grande cidade, a dizer que como São Sebastião não desanimamos e nos mantemos firmes no Senhor. Queremos nesse dia reafirmar nossa unidade, nossa comunhão. Que nada nos separe do amor de Cristo, pois em Cristo e com Cristo vivemos unidos. Somos a família de Deus e nosso Padroeiro nos aponta para Jesus. Que sejamos testemunhas de Cristo como São Sebastião foi e é para nós", exortou.

Dom Orani recordou ainda a história do Santo 'protetor das famílias cariocas' fazendo um comparativo com o momento atual em que o mundo vive, em especial, o estado e a cidade do Rio de Janeiro.

"As flechas não mataram São Sebastião... Antes que ele morresse Santa Irene o resgatou, cuidou, e quando ele já estava curado continuou sua missão de anunciar Jesus Cristo. Diante de tantas situações que vivemos hoje em dia também nossas vidas e nossa cidade tem muitas flechas, por isso, essa necessidade de olhar e enxergar que elas existem, pois não queremos que elas sejam para nós motivo de morte, mas incentivo para estancarmos o sangue e continuarmos vivendo e servindo. Observamos a situação dos presídios, os dependentes químicos, jovens privados de liberdade, a extrema pobreza, famílias onde todos os membros estão desempregados ou que não recebem seus salários no fim do mês, famílias desestruturadas, mães chorando a partida de seus filhos, a luta pela sobrevivência diante do diagnóstico de  doenças... Todas essas flechas que nós e que nossa cidade recebe deve nos fazer olhar para São Sebastião e pedirmos que existam muitas Irenes nos dias atuais que possam ir ao encontro daqueles que hoje estão perdendo a vida. A nossa cidade não morreu! As pessoas estão ai para serem ajudadas a voltar a ter uma vida digna. Temos que cobrar sim das nossas autoridades a resolução dos problemas sociais, essa herança difícil de ser superada. Mas ao invés de ficarmos só cobrando e reclamando é importante que cada um de nós faça a sua parte e como São Sebastião continuemos firmes com coragem buscando essa força que vem do alto. As temáticas trabalhadas por nós neste ano - família e solidariedade - quer marcar esse início de 2017 e como povo de Deus inserido nessa cidade devemos olhar as situações sociais buscando tempos novos. Devemos fazer a nossa parte tendo São Sebastião como nosso grande exemplo no seguimento de Jesus", concluiu o arcebispo.

E as festividades de São Sebastião prosseguem durante esta sexta-feira, dia 20: às 16h, o arcebispo, os bispos auxiliares, sacerdotes do clero carioca, fiéis das diversas associações religiosas e a Guarda de Honra de São Sebastião seguirão, em preces de gratidão e súplica, do Santuário Basílica de São Sebastião (Rua Haddock Lobo, 266, na Tijuca) em direção à Catedral Metropolitana (Avenida Chile, 245, no Centro). Na chegada os fiéis poderão assistir o 'Auto de São Sebastião', que neste ano vai reforçar o valor da família e da prática de atitudes solidárias, de amor e acolhimento ao próximo. Encerrando as homenagens, Dom Orani celebrará a última missa da festa de São Sebastião, no interior da Catedral.

Fotos: Gustavo de Oliveira