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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 28/04/2024

28 de Abril de 2024

Arquidiocese esclarece dúvidas sobre a ocupação na entrada da Catedral

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28 de Abril de 2024

Arquidiocese esclarece dúvidas sobre a ocupação na entrada da Catedral

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23/04/2014 14:16 - Atualizado em 25/04/2014 14:56
Por: Marcylene Cappe com colaboração de Fabíola Goulart

Arquidiocese esclarece dúvidas sobre a ocupação na entrada da Catedral 0

Arquidiocese esclarece dúvidas sobre a ocupação na entrada da Catedral / Arqrio

Em virtude dos acontecimentos dos últimos dias, a Rádio Catedral convidou algumas pessoas que mais diretamente estão acompanhando os acontecimentos. Foram entrevistados o monsenhor Luiz Antônio Pereira Lopes, coordenador da Pastoral de Favelas, o cônego Manuel Manangão, vigário episcopal para a Caridade Social, o monsenhor Joel Portella Amado, coordenador de pastoral da Arquidiocese e pároco da Catedral Metropolitana, e Irmão Eli, da Comunidade Toca de Assis. A entrevista foi ao ar na segunda-feira, dia 21 de abril, às 16h.


Rádio Catedral – Monsenhor Joel, o que realmente aconteceu?

Monsenhor Joel – Ao amanhecer da Sexta-feira Santa, dia 18 de abril, pouco antes das 6h, um grupo de pessoas começou a se aproximar da Catedral batendo na porta e pedindo que ela fosse aberta. Os vigias perguntaram do que se tratava e imediatamente algumas pessoas forçaram a porta para tentar entrar na Catedral. A partir daí ocuparam aquela rampa na frente da Catedral e ali permaneceram até um segundo momento, quando foram para uma área do estacionamento ao lado.

>>> Nota oficial sobre a celebração de sexta-feira na Catedral

Rádio Catedral – Como a Catedral tomou conhecimento de que havia pessoas na porta?

Monsenhor Joel – O sistema de segurança relata que, por volta das 2h da madrugada, alguém teria telefonado perguntando se havia uma vigília, se ela já estava acontecendo e, consequentemente, se a Catedral estaria aberta. O vigia informou então que não, que a vigília só aconteceria no dia seguinte, na sexta-feira, pela manhã. Depois disso, às 6h da manhã eles apareceram.

Rádio Catedral –  Por que o grupo se dirigiu à Catedral São Sebastião e não a outro local?

Cônego Manangão – Esse grupo é oriundo daquele que estava no prédio da Oi/Telerj e que, sendo desalojado, foi se abrigar próximo à prefeitura. Ao serem desalojados também dessa área, surgiu a idéia de se dirigirem para um lugar onde eles pudessem ter maior visibilidade. Já que estávamos em um período de feriado de Páscoa, eles então escolheram ir para a frente da Catedral, porque ali seria um espaço de maior visibilidade. Tudo isso segundo o que as pessoas que estavam lá nos disseram.

Rádio Catedral – Quem são essas pessoas?

Monsenhor Luiz Antônio – Em parte, o cônego Manangão já respondeu. É importante entender aqui que essas pessoas formam um grupo relativamente pequeno em comparação com o que saiu da OI/Telerj. Ali, se falava em mil famílias. E nós temos na Catedral aproximadamente 60 pessoas. Isso envolve umas 15 a 20 famílias. Essas pessoas são realmente pessoas necessitadas. E como nós podemos justificar isso? Porque eles estão passando a noite lá. Tem outros grupos que são formados por ativistas, pessoas que parecem conduzir o processo e também as decisões daqueles que estão necessitados. Quem está necessitado muitas vezes não tem condições de refletir realmente o que eles gostariam e acabam sendo influenciados por estas pessoas que estão assessorando.

Rádio Catedral –  Quais são as reivindicações desse grupo que se apresentou na Catedral?

Monsenhor Luiz Antônio – Eu queria falar apenas dos pobres, daqueles que estão necessitando realmente de moradia. Nós temos alguns casos lá de pessoas que estão há anos cadastradas em projetos dos governos e até hoje não conseguiram moradia. Então essa é a reivindicação principal deles. E a outra seria transitória, que seria o “Aluguel Social”. A moradia é a principal preocupação deles.

Rádio Catedral – Houve ou não houve alguma tentativa de solução?

Cônego Manangão – Na verdade, logo que houve a notícia do fato, se reuniu um grupo de pessoas ligadas à arquidiocese e foi iniciado um processo de contato. Quando fomos ouvir, percebemos a presença de dois grupos: o formado pelos necessitados e também o grupo que está junto deles assessorando e que a gente vem chamando de ativistas, porque eles normalmente são vinculados a movimentos. Ouvimos o que eles tinham a dizer e fomos conversar com aqueles que têm a primeira responsabilidade de atuar nessa área, que são o governo do Estado e a Prefeitura. Foram propostas então a possibilidade dos necessitados irem para um abrigo e para um hotel. E o grupo disse, então, em um primeiro momento, que isso era possível. Porém, assessorados, voltaram atrás e disseram que não, que preferiam ficar como um grupo unitário, porque era mais fácil de manter a unidade e a presença nos locais. Mais adiante foi feita então a requisição do “Aluguel Social”, como o grande pedido imediato para colocar todos em um hotel. E, aí, os organismos da prefeitura e do Governo do Estado que se fizeram presentes disseram que o que eles tinham a oferecer era aquilo e se fechou a comunicação naquele momento. Mas, continuamos abertos, porque a Igreja se ofereceu para intermediar um processo de solução, que vem sendo feito até agora.

Rádio Catedral – Fala-se muito que existem vários grupos na Catedral, que não são apenas gente sem casa. Existem realmente ativistas?

Monsenhor Joel – Existem sim. Desde o primeiro momento se fizeram presentes. Foram os primeiros a tentar entrar na Catedral e muitas vezes manifestaram o que pensam e o que sentem diante de toda essa situação. É muito difícil definir o conceito de ativistas, porque são grupos muito diversificados, com posturas diferentes, com atitudes das mais variadas possíveis e mesmo reações diversificadas diante do mesmo problema.

Eu diria que o fenômeno na Catedral nos convida a pensar nesse fato novo do que nós estamos chamando de ativistas, mas que podemos dar qualquer outro nome. É um fenômeno que já vínhamos acompanhando pelo Brasil afora desde antes da Jornada Mundial da Juventude, com os protestos de rua. Uma coisa fica muito clara para mim, a partir do que os irmãos padres aqui colocaram, é que esse fenômeno dos protestos, das insatisfações, questiona profundamente as instituições democráticas e o modo como elas estão agindo e respondendo aos efetivos anseios populares. Eu diria que esse é o grande desafio. Quando os mecanismos usuais da democracia se mostram no mínimo lentos, para não dizer incapazes ou inertes, lentos para responder às grandes questões populares, o que se tem, na verdade, é aquilo que eu chamo de exercício muito direto, imediato, da democracia, resolver pelas próprias mãos, sem as devidas mediações institucionais. Isso passa a acontecer até mesmo em suas formas mais agressivas e violentas.

A Igreja reconhece, sem dúvida alguma, o direito de voz: todos devem se manifestar, todos podem se manifestar. O Santo Padre em Copacabana convidou os jovens a não adormecerem, a se manifestarem a favor desse sonho que, usando o exemplo do que ocorreu na OI/Telerj, haja moradia digna para todo o ser humano. O que a Igreja não pode pactuar é com propostas e soluções violentas, soluções que apostem no conflito pelo conflito, soluções que não olhem para o conjunto e não olhem aquelas que são as primeiras vítimas, no caso ali aqueles que estão na rua, sem casa e sem condições para morar.

Rádio Catedral – E por que a Catedral foi fechada?

Monsenhor Joel – A Catedral estava fechada à noite. Embora fosse a noite da Quinta-feira Santa, em que se faz vigília, algumas igrejas fecham porque não há pessoas para rezar. O local não permite. Essas igrejas são reabertas pela manhã. A Catedral reabriria às 7h da manhã. Como eu disse antes, um grupo chegou à porta da Catedral pouco antes das 6h da manhã. E alguns jovens mais exaltados, alguns com câmeras fotográficas e celulares, logo pressionaram o vigia que, assustado, então fechou a porta depois de os atender. Quando fomos avisados, avaliamos a situação e percebemos que diante da exaltação de alguns grupos e de algumas pessoas, e considerando o que já vimos no passado do Brasil e do Rio de Janeiro nesses últimos meses de protestos -  lembro por exemplo da morte daquele jornalista cinematográfico da Rede Bandeirantes - nós ficamos com receio que houvesse qualquer tipo de ameaça ou risco à vida de quem estivesse dentro da Catedral.

Monsenhor Luiz Antonio – Eu queria lembrar aqui que esse grupo veio da Telerj, passou pela prefeitura, e depois pela Câmara dos Vereadores. Encontraram a catedral como um espaço que daria uma visibilidade e daria um pouco de paz para eles, porque de lá até a Catedral eles encontraram muitas vezes atitudes truculentas do poder público.

Rádio Catedral –  O que eles dizem é que a Igreja virou as costas para eles...

Monsenhor Joel – Fechadas estão as portas centrais da Catedral, mas, como já se disse anteriormente, a Igreja não está fechada para os pobres. As portas centrais estão fechadas, repito, por razões de segurança, não tanto patrimoniais, não tanto ao prédio da catedral, mas em respeito às pessoas que poderiam estar nela nas grandes celebrações e ali ocorrer alguma coisa, como já ocorreu em outros momentos em que as manifestações democráticas começaram pacíficas e terminaram nada bem. Então é bom deixar bem claro: as portas centrais da Catedral estão fechadas, mas a Igreja não está fechada para os pobres e nem para a democracia.

Rádio Catedral –  E o que a Igreja tem feito em favor desses necessitados?

Irmão Eli – Desde o início houve um acolhimento. Escutando aqueles que estão lá, eles falaram que estão se sentindo acolhidos. Até conversando com alguns deles e perguntando se eles vieram para as celebrações, eles respondem que não, que queriam algum lugar para serem acolhidos, para poderem descansar, que nos últimos dez dias até três noites atrás eles não tinham ainda conseguido dormir. A gente tem estado lá o maior tempo possível. Já passamos a noite com eles, partilhando dessa realidade e manifestando essa acolhida da Igreja.

Rádio Catedral –  A arquidiocese tem recebido apoios ou críticas por essas atitudes? Como está a repercussão?

Monsenhor Joel – Nós que estamos mais diretamente envolvidos na questão não acompanhamos tanto a repercussão. Como o irmão Eli acabou de dizer, a nossa preocupação é, primeiro, com aquelas pessoas que ali estão. E, segundo, há uma preocupação de fundo com toda a questão da moradia e de tantas outras situações que vivem o mesmo problema.

Quem faz o contato com essas pessoas são grupos como o do irmão Eli, da Toca de Assis, e tantos outros grupos e comunidades que se fazem presentes. E aqui vale um agradecimento a todas essas pessoas que, de coração generoso, tem estado presentes e o número é incontável.

A Arquidiocese tem recebido vários tipos de interpretação a esse fato. E a explicação me parece simples. É um fenômeno novo. É um feriado, onde os níveis de informação são baixos, onde não há muita facilidade de fazer circular a informação.

Eu diria o seguinte: há apoio e críticas. A maioria tem sido de apoio, no sentido de dizer “vocês estão olhando para os pobres, protegendo esses que realmente são necessitados”.

Há algumas pouquíssimas críticas que chegaram até mim que mostram, na verdade, um desconhecimento do fato, do que realmente está acontecendo. Muitos estão impactados com a porta da catedral fechada, que é grande e é da igreja-mãe. E o mundo hoje é o mundo da imagem. Mas, para essas pessoas, eu convido a se informarem melhor.

Rádio Catedral –  Quem são os responsáveis por tudo isso que está acontecendo?

Monsenhor Luiz Antonio – Eu já lido há 35 anos com o problema da moradia no Rio de Janeiro. Tenho 31 anos de sacerdócio e desde seminarista já ia trabalhando na Pastoral de Favelas e, agora, à frente da pastoral. É um conjunto de coisas. Todos nós somos responsáveis. Mas temos de ter a certeza que a Igreja deve ajudar na busca dessas ovelhas que sofrem por falta de moradia. Há os dados da prefeitura e de vários institutos de que existe 1,7 milhão de pessoas morando dentro das favelas cariocas. Há um déficit habitacional que está chegando a quase 400 mil moradias, que estão faltando dentro do Rio. O ditado popular diz que quem casa quer casa. É o Estado que tem a obrigação de construir casas para os moradores. O mercado imobiliário não pode estar ao serviço apenas daqueles que tem o poder aquisitivo.

Rádio Catedral –  Mas o que a Igreja Católica tem feito de fato na questão da moradia?

Monsenhor Luiz Antonio – A Igreja, através da Pastoral de Favelas, tem participado de vários fóruns, várias discussões. Nós fizemos parte dos conselhos estadual e municipal de moradia. E a discussão é sempre essa: a necessidade da moradia. Nós temos que fazer uma discussão ampla sobre o solo urbano. O que nós queremos hoje fazer para a cidade? A cidade não é apenas construir grandes monumentos e vias, mas é composta de moradia, de hospitais, de escolas, e todo esse conjunto. Todos nós devemos participar desse processo.

Monsenhor Joel – É interessante perceber que o mundo está mudando. Há pouco falávamos sobre os ativistas, sobre essas novas formas de manifestação. Mas quando olhamos para a história da Igreja Católica no Rio de Janeiro percebemos o quanto ela já fez na história dessa cidade, nesse solo urbano. Eu me lembro, por exemplo, do Vidigal, de quando o Papa João Paulo II visitou, e tantas outras situações.

Cônego Manangão – Acho que a gente pode começar lá no final da década de 50 quando Dom Hélder teve a brilhante ideia de mostrar a possibilidade de que uma comunidade de pobres pudesse ficar em uma das zonas mais nobres da época, a Cruzada São Sebastião, no Leblon. Ela foi um parâmetro de possibilidade de construção simples, popular, para atender às populações oriundas das favelas, que na época passava por um processo de remoção. Depois, o Mons. Joel falava do Vidigal. Eu lembro que, naquele momento, a Pastoral de Favela do Rio ajudou a criar um estatuto que permitisse que as comunidades pobres permanecessem no local onde elas estavam. Hoje todo mundo fala das leis que estão garantindo que o cidadão não vá para muito longe da sua área de atividades. Pode-se dizer que, de alguma maneira, isso foi possibilitado pelo processo levantado pelos advogados da Pastoral de Favela tentando impedir a remoção de uma série de comunidades. A gente tem estado em todos os momentos. Por exemplo, na Barra da Tijuca, quando a Via Parque foi desalojada estávamos lá tentando dialogar. A Vila Autódromo foi outro espaço em que a diocese tem estado. Isso sem falar outros locais que a diocese tem agido no Rio de Janeiro.

Monsenhor Joel – A Igreja tem um papel. Ela não supre o Estado nem cala as reivindicações sociais. Ela tem a função de ser ponte, de ser mediadora, de ser interlocutora daqueles que muitas vezes não conseguem falar.

Rádio Catedral –  E como tem sido a atuação de Dom Orani?

Irmão Eli – Estando ciente da situação, ele tentou nos mobilizar e outras comunidades que também tem um trabalho com população de rua, para que a gente pudesse estar presente no meio deles. Eu vejo, diante de tantos outros compromissos na realidade que Dom Orani vive, estamos em nome dele, ser essa ponte, tentar solucionar e, principalmente, ouvir aquele povo, um povo carente que quer ser ouvido e não se é escutado.

Rádio Catedral –  Quem está conduzindo a atuação da Igreja?

Monsenhor Joel – Dom Orani, o nosso arcebispo, é o primeiro responsável.. Ele foi o primeiro a ser informado e acompanha isso muito diretamente. Depois dele, por um grupo gestor voltado diretamente para esse caso da Catedral, composto pelo Pe. Manuel Manangão, padre Luiz Antonio, por mim, pelo irmão Eli, por Dom Roberto Lopes, que é o vigário episcopal para a Vida Consagrada, dr. Cândido, que é uma pessoa que tem uma longa história de sensibilidade nas questões sociais, dra Claudine, advogada da Arquidiocese, e também a dra Clarice Linhares, do Banco da Providência, que tem uma experiência muito grande nessa área em lidar com a cidade em suas reivindicações e necessidades. Por trás de todo esse grupo, sem dúvida, está Dom Orani. Como o irmão Eli falou, em meio a tantos compromissos, entre um compromisso e outro, e eu diria até mesmo dentro dos compromissos, porque, como grande utilizador das atuais ferramentas de comunicação, mesmo entre um pequeno evento e outro, ele pergunta o que está acontecendo, como está a situação.



 

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