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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

O Reino de Cristo

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22/11/2015 14:48 - Atualizado em 22/11/2015 14:48

O Reino de Cristo 0

22/11/2015 14:48 - Atualizado em 22/11/2015 14:48

No último domingo do ano litúrgico, a Igreja celebra a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Essa celebração introduz a comunidade dos fiéis no mistério do Reino de Deus, que, apesar de estar presente em germe na Igreja, se desvelará plenamente no fim dos tempos. O tema da realeza de Cristo tem sua origem na Escritura, foi conservado nos símbolos de fé da Igreja e aprofundado pela teologia, possuindo acentos próprios para a vivência cristã. É um assunto importante, pois manifesta algo da realidade final já presente na história dos homens.

A esperança judaica, atestada no Primeiro Testamento, aguardava a vinda de um rei messiânico para governar o Povo de Israel (cf. 2Sm 7,12-16). Essa expectativa foi ganhando diversos contornos no transcurso do tempo. No século I, podemos encontrar, de forma geral, três manifestações dessa esperança no reino vindouro. A primeira era de caráter político, na qual o messias libertaria o povo da dominação estrangeira, concretamente, naquele momento histórico, a romana. Outra manifestação estava centrada na necessidade do cumprimento da Lei (Torah) como condição para irrupção do reino messiânico entre os homens. A última esperança, de caráter escatológico acreditava no desaparecimento desta era – acentuadamente mal – e na entrada de uma nova, marcada por um período de paz e de prosperidade. Dentro desse contexto de esperança na vinda do Reino, Jesus afirma: “Eis que o Reino de Deus está no meio de vós” (Lc 17,21).

O Reino de Deus – ou dos céus – foi o centro da pregação de Jesus. Todavia, Ele, apesar de apresentar alguns elementos da esperança judaica, trouxe uma novidade própria. Em primeiro lugar, o Senhor não se autoapresenta como um messias político, evitando alimentar esse tipo de inclinação no coração dos discípulos: “Jesus, porém, sabendo que viriam buscá-Lo para fazê-Lo rei, refugiou-Se de novo, sozinho, na montanha” (Jo 6,15). Depois, apesar de ressaltar a necessidade da conversão do coração, afirma que o Reino é uma graça e não um mérito para os justos: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os doentes. Eu não vim chamar justos, mas pecadores” (Mc 2,17). Por fim, Jesus, ainda que afirmasse a chegada plena do Reino no fim dos tempos, identifica, no hoje, a sua presença operante: “Se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou até vós” (Mt 12,28). Desta forma, o Senhor não se identifica exclusivamente com nenhuma das propostas dos grupos de seu tempo, mas, mostra as suas potencialidades e seus limites.

Na pregação e nos atos de Cristo se revela a natureza real do Reino de Deus. Esse Reino é, fundamentalmente, abertura divina para a comunhão com os homens. Tal abertura acontece na amorização, na reconciliação, na conversão e no reerguimento das pessoas por meio do ministério de Jesus: “Pois, por meio de Jesus, nós, judeus e gentios, num só Espírito, temos acesso ao Pai” (Ef 2,18). Jesus Cristo é o próprio Reino de Deus na medida em que Ele é o reconciliador e o protótipo da união entre o divino e o humano. A presença desse reinado vai se expandindo conforme os homens vão se entregando à vivência do amor divino, se tornando capazes não só de serem amados, mas também de corresponderem a esse amor: “O primeiro mandamento é: ‘Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor, e amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força” (Mc 12,29-30).

A Igreja – Corpo místico de Cristo – é o germe da presença do Reino no meio da humanidade. Cabe a ela a missão de prolongar a obra de comunhão e de reconciliação entre Deus e os homens: “Sendo assim, em nome de Cristo exercemos a função de embaixadores e, por nosso intermédio, é Deus mesmo que vos exorta. Em nome de Cristo suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus” (2Cor 5,20). Assim, através da celebração dos sacramentos, a comunidade eclesial comunica as força de comunhão e de perdão aos fiéis. Por sua vez, os cristãos são chamados a experimentarem a força desse Reino nos seus relacionamentos: “O segundo mandamento é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12,31). Dessa forma, o reinado de Cristo se manifesta nas relações entre os homens, marcadas pelo sinal do amor, da justiça, do perdão e da misericórdia.

Embora o Reino de Deus tenha entrada na história por meio do ministério de Jesus e esteja se prolongando na presença e no serviço da Igreja, ele não se realizará plenamente neste mundo: “Meu reino não é deste mundo [...], meu reino não é daqui” (Jo 18,36). O mistério total de comunhão com a Trindade e da fraternidade humana só acontecerá na derradeira Páscoa de Igreja. Assim sendo, a Solenidade de Cristo Rei quer infundir uma tríplice luz nos fiéis: a memória da chegada do Reino por meio do Senhor; a atualização da vocação e da missão eclesial de ser germe desse reinado entre os homens; e a abertura do coração à esperança do dia final no qual o Reino se desvelará plenamente, a fim de que Deus seja tudo em todos (1Cor 15,28).

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O Reino de Cristo

22/11/2015 14:48 - Atualizado em 22/11/2015 14:48

No último domingo do ano litúrgico, a Igreja celebra a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Essa celebração introduz a comunidade dos fiéis no mistério do Reino de Deus, que, apesar de estar presente em germe na Igreja, se desvelará plenamente no fim dos tempos. O tema da realeza de Cristo tem sua origem na Escritura, foi conservado nos símbolos de fé da Igreja e aprofundado pela teologia, possuindo acentos próprios para a vivência cristã. É um assunto importante, pois manifesta algo da realidade final já presente na história dos homens.

A esperança judaica, atestada no Primeiro Testamento, aguardava a vinda de um rei messiânico para governar o Povo de Israel (cf. 2Sm 7,12-16). Essa expectativa foi ganhando diversos contornos no transcurso do tempo. No século I, podemos encontrar, de forma geral, três manifestações dessa esperança no reino vindouro. A primeira era de caráter político, na qual o messias libertaria o povo da dominação estrangeira, concretamente, naquele momento histórico, a romana. Outra manifestação estava centrada na necessidade do cumprimento da Lei (Torah) como condição para irrupção do reino messiânico entre os homens. A última esperança, de caráter escatológico acreditava no desaparecimento desta era – acentuadamente mal – e na entrada de uma nova, marcada por um período de paz e de prosperidade. Dentro desse contexto de esperança na vinda do Reino, Jesus afirma: “Eis que o Reino de Deus está no meio de vós” (Lc 17,21).

O Reino de Deus – ou dos céus – foi o centro da pregação de Jesus. Todavia, Ele, apesar de apresentar alguns elementos da esperança judaica, trouxe uma novidade própria. Em primeiro lugar, o Senhor não se autoapresenta como um messias político, evitando alimentar esse tipo de inclinação no coração dos discípulos: “Jesus, porém, sabendo que viriam buscá-Lo para fazê-Lo rei, refugiou-Se de novo, sozinho, na montanha” (Jo 6,15). Depois, apesar de ressaltar a necessidade da conversão do coração, afirma que o Reino é uma graça e não um mérito para os justos: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os doentes. Eu não vim chamar justos, mas pecadores” (Mc 2,17). Por fim, Jesus, ainda que afirmasse a chegada plena do Reino no fim dos tempos, identifica, no hoje, a sua presença operante: “Se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou até vós” (Mt 12,28). Desta forma, o Senhor não se identifica exclusivamente com nenhuma das propostas dos grupos de seu tempo, mas, mostra as suas potencialidades e seus limites.

Na pregação e nos atos de Cristo se revela a natureza real do Reino de Deus. Esse Reino é, fundamentalmente, abertura divina para a comunhão com os homens. Tal abertura acontece na amorização, na reconciliação, na conversão e no reerguimento das pessoas por meio do ministério de Jesus: “Pois, por meio de Jesus, nós, judeus e gentios, num só Espírito, temos acesso ao Pai” (Ef 2,18). Jesus Cristo é o próprio Reino de Deus na medida em que Ele é o reconciliador e o protótipo da união entre o divino e o humano. A presença desse reinado vai se expandindo conforme os homens vão se entregando à vivência do amor divino, se tornando capazes não só de serem amados, mas também de corresponderem a esse amor: “O primeiro mandamento é: ‘Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor, e amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força” (Mc 12,29-30).

A Igreja – Corpo místico de Cristo – é o germe da presença do Reino no meio da humanidade. Cabe a ela a missão de prolongar a obra de comunhão e de reconciliação entre Deus e os homens: “Sendo assim, em nome de Cristo exercemos a função de embaixadores e, por nosso intermédio, é Deus mesmo que vos exorta. Em nome de Cristo suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus” (2Cor 5,20). Assim, através da celebração dos sacramentos, a comunidade eclesial comunica as força de comunhão e de perdão aos fiéis. Por sua vez, os cristãos são chamados a experimentarem a força desse Reino nos seus relacionamentos: “O segundo mandamento é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12,31). Dessa forma, o reinado de Cristo se manifesta nas relações entre os homens, marcadas pelo sinal do amor, da justiça, do perdão e da misericórdia.

Embora o Reino de Deus tenha entrada na história por meio do ministério de Jesus e esteja se prolongando na presença e no serviço da Igreja, ele não se realizará plenamente neste mundo: “Meu reino não é deste mundo [...], meu reino não é daqui” (Jo 18,36). O mistério total de comunhão com a Trindade e da fraternidade humana só acontecerá na derradeira Páscoa de Igreja. Assim sendo, a Solenidade de Cristo Rei quer infundir uma tríplice luz nos fiéis: a memória da chegada do Reino por meio do Senhor; a atualização da vocação e da missão eclesial de ser germe desse reinado entre os homens; e a abertura do coração à esperança do dia final no qual o Reino se desvelará plenamente, a fim de que Deus seja tudo em todos (1Cor 15,28).

Padre Vitor Gino Finelon
Autor

Padre Vitor Gino Finelon

Professor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida