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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 10/05/2024

10 de Maio de 2024

Evangelização nas regiões metropolitanas

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29/08/2015 00:00 - Atualizado em 31/08/2015 17:47

Evangelização nas regiões metropolitanas 0

29/08/2015 00:00 - Atualizado em 31/08/2015 17:47

A nossa Arquidiocese, na semana que passou, teve a oportunidade de se debruçar sobre o trabalho da Pastoral nas Grandes Cidades, ou ainda, nas Regiões metropolitanas. Foram vários encontros. Na segunda-feira, dia 24 de agosto, na Festa de São Bartolomeu, reuniram-se, no Centro de Estudos Superiores do Sumaré, os bispos de várias regiões metropolitanas do Brasil, aos quais agradeço pela presença e partilha. Tivemos a grata alegria da presença entre nós, não só neste encontro, mas em visitas às regiões pastorais de nossa Arquidiocese, encontro com o clero, com os religiosos e com os seminaristas, do Eminentíssimo Senhor Cardeal Lluíz Martínez Sistach, Arcebispo Metropolitano de Barcelona, que partilhou a sua experiência pastoral. Ele preparou e realizou em sua arquidiocese, no ano passado, um grande congresso Internacional sobre o assunto em duas etapas: a primeira com especialistas e pastoralistas, e a segunda com os bispos e arcebispos dos quatro continentes para partilhar o assunto.

Temos atualmente dificuldades em acompanhar e interpretar as transformações sociais, econômicas e políticas, o que tem ocasionado deficiências – plausíveis de correção – na evangelização, principalmente no espaço urbano caracterizado por aceleradas mudanças.

O Plano de Pastoral de Conjunto, lançado à luz do Concílio Vaticano II (1966), com objetivo de refletir sobre a pastoral urbana, foi a porta de entrada para alguns avanços frente ao dilema de ser Igreja em um contexto onde as mudanças religiosas são também profundas. Daí em diante, os próximos planos, as diretrizes pastorais e atualmente as diretrizes evangelizadoras foram se sucedendo. Não há duvida de que houve muito progresso. Mas creio que nestes tempos atuais, temos necessidades de novas respostas a questionamentos que nos são colocados pela realidade presente. A estrutura social da cidade exige empenho dos que lideram a ação evangelizadora. É fato que, na cidade, a vida foi e está sendo ameaçada, prioritariamente a dos pobres. A cultura do individualismo afeta em cheio a vivência comunitária. Por outro lado, o empenho na ação evangelizadora no mundo urbano deve identificar e apontar para o “bom” que se expressa na cidade. Ela é lugar da esperança, onde as pessoas buscam vida nova. Nela também habita o sagrado, buscado por distintas formas. Estes aspectos, se bem valorizados, podem tornar-se instrumentos eficazes na evangelização, tendo em vista o fortalecimento do ideal de Igreja Povo de Deus, “elevando todas as capacidades, riquezas e costumes dos povos no que têm de bom” (LG 13b).

A vida na cidade é tentadora para aqueles que vão trocando as histórias em torno da matriarca e do patriarca pela caixinha mágica (e hoje pelas mídias modernas), cujas ideias e programações quebram valores importantes e mitificam a pseudo felicidade das grandes urbes. É a floresta de cimento que acolhe em suas ruas uma legítima aspiração de realização pessoal e dignidade de vida. Aí, o relacionamento humano torna-se muitas vezes impessoal, distante, e assim se torna também o relacionamento com o sobrenatural. Não havendo lugar para um Deus Providência, próximo ao homem, Ele acaba por ocupar um pequeno e distante espaço de mantenedor da felicidade, da riqueza e da saúde, coisa que nós descobrimos que nem mesmo os grandes centros urbanos são totalmente eficazes em nos oferecer.

É preciso, ao agente de pastoral, coragem e abertura para interpretar seus sentimentos, vontades, inseguranças, posturas, limites, fugas e resistências diante desta nova realidade pastoral que se modifica constantemente; assumir o que está no imaginário, não ter receio do novo, não se acomodar, procurar manter-se próximo das famílias, buscar autoridade sem autoritarismo, esquecer as autossuficiências, fazer a liturgia agradável; ressignificar a pesada estrutura, sempre em comunhão, aprendendo do Libertador: “Todos sois um em Cristo Jesus” (Gl 3,28).

A Igreja na cidade, naturalmente, tem de ser dinâmica, precisa ser visualizada por meio de práticas que geram comentários, debates, críticas ou elogios, seja nas famílias, bares, praças, lojas, escolas, empresas. O povo da cidade necessita de uma Igreja visível, que desperte sentimentos que assinalem a viabilidade da comunidade onde vale a pena estar para viver a fé ao redor de Jesus Cristo (At 8, 5-8).

A Igreja, porém, tem de se converter na totalidade (conversão pastoral). Se ficar fechada, perde sua presença pública. Temos que descobrir e nos colocarmos na sincera busca de um jeito adequado para viver o nosso ministério e evangelizar na cidade à luz de Deus, animando e despertando o máximo as pessoas para serviços e ministérios.

Perante esta missão, é importante traduzir em práticas concretas os projetos sonhados à evangelização na cidade. Continuar a amar e a crer (1Jo 4, 16; 1Jo 5, 2). Amar porque tudo vigora quando tem um toque de carinho; crer, pois a fé em Jesus dará sentido à existência da Igreja na cidade. Principalmente, manter a gratuidade, as amizades, as relações fraternas, a espontaneidade, o carisma, os mesmos sentimentos do mestre Jesus (Jo 15, 13; Lc 15, 11s; Lc 10, 25s).

O evento de Barcelona, no ano passado, concluído com uma audiência com o Papa Francisco, marcou um momento de aprofundamento importante para a Igreja. A vinda do Cardeal Arcebispo de Barcelona entre nós, trazendo o resumo das discussões e partilhando suas experiências, nos questiona profundamente sobre o nosso trabalho de proximidade de uma Igreja samaritana em saída, proclamando a alegria do Evangelho até as periferias existenciais, comprometida com a nossa casa comum e com os pobres desamparados.

Diante de tantas situações de miséria e complicações em que parece que a grande cidade se torna um local negativo, a Igreja, ao estar presente com esperança na metrópole, vai anunciar e desvelar a todos anunciando que “Deus habita na cidade”. Cabe a nós encontrá-Lo e anunciá-Lo.

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29/08/2015 00:00 - Atualizado em 31/08/2015 17:47

A nossa Arquidiocese, na semana que passou, teve a oportunidade de se debruçar sobre o trabalho da Pastoral nas Grandes Cidades, ou ainda, nas Regiões metropolitanas. Foram vários encontros. Na segunda-feira, dia 24 de agosto, na Festa de São Bartolomeu, reuniram-se, no Centro de Estudos Superiores do Sumaré, os bispos de várias regiões metropolitanas do Brasil, aos quais agradeço pela presença e partilha. Tivemos a grata alegria da presença entre nós, não só neste encontro, mas em visitas às regiões pastorais de nossa Arquidiocese, encontro com o clero, com os religiosos e com os seminaristas, do Eminentíssimo Senhor Cardeal Lluíz Martínez Sistach, Arcebispo Metropolitano de Barcelona, que partilhou a sua experiência pastoral. Ele preparou e realizou em sua arquidiocese, no ano passado, um grande congresso Internacional sobre o assunto em duas etapas: a primeira com especialistas e pastoralistas, e a segunda com os bispos e arcebispos dos quatro continentes para partilhar o assunto.

Temos atualmente dificuldades em acompanhar e interpretar as transformações sociais, econômicas e políticas, o que tem ocasionado deficiências – plausíveis de correção – na evangelização, principalmente no espaço urbano caracterizado por aceleradas mudanças.

O Plano de Pastoral de Conjunto, lançado à luz do Concílio Vaticano II (1966), com objetivo de refletir sobre a pastoral urbana, foi a porta de entrada para alguns avanços frente ao dilema de ser Igreja em um contexto onde as mudanças religiosas são também profundas. Daí em diante, os próximos planos, as diretrizes pastorais e atualmente as diretrizes evangelizadoras foram se sucedendo. Não há duvida de que houve muito progresso. Mas creio que nestes tempos atuais, temos necessidades de novas respostas a questionamentos que nos são colocados pela realidade presente. A estrutura social da cidade exige empenho dos que lideram a ação evangelizadora. É fato que, na cidade, a vida foi e está sendo ameaçada, prioritariamente a dos pobres. A cultura do individualismo afeta em cheio a vivência comunitária. Por outro lado, o empenho na ação evangelizadora no mundo urbano deve identificar e apontar para o “bom” que se expressa na cidade. Ela é lugar da esperança, onde as pessoas buscam vida nova. Nela também habita o sagrado, buscado por distintas formas. Estes aspectos, se bem valorizados, podem tornar-se instrumentos eficazes na evangelização, tendo em vista o fortalecimento do ideal de Igreja Povo de Deus, “elevando todas as capacidades, riquezas e costumes dos povos no que têm de bom” (LG 13b).

A vida na cidade é tentadora para aqueles que vão trocando as histórias em torno da matriarca e do patriarca pela caixinha mágica (e hoje pelas mídias modernas), cujas ideias e programações quebram valores importantes e mitificam a pseudo felicidade das grandes urbes. É a floresta de cimento que acolhe em suas ruas uma legítima aspiração de realização pessoal e dignidade de vida. Aí, o relacionamento humano torna-se muitas vezes impessoal, distante, e assim se torna também o relacionamento com o sobrenatural. Não havendo lugar para um Deus Providência, próximo ao homem, Ele acaba por ocupar um pequeno e distante espaço de mantenedor da felicidade, da riqueza e da saúde, coisa que nós descobrimos que nem mesmo os grandes centros urbanos são totalmente eficazes em nos oferecer.

É preciso, ao agente de pastoral, coragem e abertura para interpretar seus sentimentos, vontades, inseguranças, posturas, limites, fugas e resistências diante desta nova realidade pastoral que se modifica constantemente; assumir o que está no imaginário, não ter receio do novo, não se acomodar, procurar manter-se próximo das famílias, buscar autoridade sem autoritarismo, esquecer as autossuficiências, fazer a liturgia agradável; ressignificar a pesada estrutura, sempre em comunhão, aprendendo do Libertador: “Todos sois um em Cristo Jesus” (Gl 3,28).

A Igreja na cidade, naturalmente, tem de ser dinâmica, precisa ser visualizada por meio de práticas que geram comentários, debates, críticas ou elogios, seja nas famílias, bares, praças, lojas, escolas, empresas. O povo da cidade necessita de uma Igreja visível, que desperte sentimentos que assinalem a viabilidade da comunidade onde vale a pena estar para viver a fé ao redor de Jesus Cristo (At 8, 5-8).

A Igreja, porém, tem de se converter na totalidade (conversão pastoral). Se ficar fechada, perde sua presença pública. Temos que descobrir e nos colocarmos na sincera busca de um jeito adequado para viver o nosso ministério e evangelizar na cidade à luz de Deus, animando e despertando o máximo as pessoas para serviços e ministérios.

Perante esta missão, é importante traduzir em práticas concretas os projetos sonhados à evangelização na cidade. Continuar a amar e a crer (1Jo 4, 16; 1Jo 5, 2). Amar porque tudo vigora quando tem um toque de carinho; crer, pois a fé em Jesus dará sentido à existência da Igreja na cidade. Principalmente, manter a gratuidade, as amizades, as relações fraternas, a espontaneidade, o carisma, os mesmos sentimentos do mestre Jesus (Jo 15, 13; Lc 15, 11s; Lc 10, 25s).

O evento de Barcelona, no ano passado, concluído com uma audiência com o Papa Francisco, marcou um momento de aprofundamento importante para a Igreja. A vinda do Cardeal Arcebispo de Barcelona entre nós, trazendo o resumo das discussões e partilhando suas experiências, nos questiona profundamente sobre o nosso trabalho de proximidade de uma Igreja samaritana em saída, proclamando a alegria do Evangelho até as periferias existenciais, comprometida com a nossa casa comum e com os pobres desamparados.

Diante de tantas situações de miséria e complicações em que parece que a grande cidade se torna um local negativo, a Igreja, ao estar presente com esperança na metrópole, vai anunciar e desvelar a todos anunciando que “Deus habita na cidade”. Cabe a nós encontrá-Lo e anunciá-Lo.

Cardeal Orani João Tempesta
Autor

Cardeal Orani João Tempesta

Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro