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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 26/04/2024

26 de Abril de 2024

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04/07/2015 15:16 - Atualizado em 04/07/2015 15:16

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04/07/2015 15:16 - Atualizado em 04/07/2015 15:16

O Evangelho deste 14º. Domingo do Tempo Comum apresenta-nos Jesus na sua terra natal, Nazaré. Ali mesmo, na sua própria cidade, onde nascera e fora criado, os seus o rejeitam: “Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Suas irmãs não moram aqui conosco? E ficaram escandalizados por causa dele". Assim, cumpre-se mais uma vez a Escritura: "Veio para o que era seu e os seus não o receberam" (Jo 1,11). E a falta de fé foi tão grande, a dureza de coração tão intensa, a teimosia tão pertinaz, que São Marcos afirma, de modo surpreendente: "Ali não pôde fazer milagre algum", tão grande era a falta de fé daquele povo. 

O próprio Filho do Pai, em pessoa, esteve no meio do seu povo, conviveu com ele, falou-lhe, sorriu-lhe, abraçou-o e, no entanto, não foi reconhecido pelos seus. E por quê? Pela dureza de coração, pela insistência teimosa em esperar um messias de encomenda, sob medida. É bem precisa a censura da primeira leitura deste domingo, na qual o Senhor Deus se dirige a seu servo: "Filho do homem, eu te envio aos israelitas, nação de rebeldes, que se afastaram de mim. A estes filhos de cabeça dura e coração de pedra, vou-te enviar, e tu lhes dirás: 'Assim fala o Senhor Deus'. Quer escutem, quer não, ficarão sabendo que houve entre eles um profeta”!

Diante dessa Palavra, nós nos perguntamos: acolhemos o Senhor que nos vem? Escutamos com fé sua Palavra quando Ele se dirige a nós na Escritura, aquecendo nosso coração? Acolhemo-lo na obediência da fé, quando Ele se nos dirige pela boca da sua Igreja Católica, ensinando-nos o caminho da vida? Acolhemo-lo, quando nos fala pela boca de seus profetas? Não tenhamos tanta certeza de que somos melhores que aqueles de Nazaré! É bom que nos perguntemos: por que os nazarenos não foram capazes de reconhecer Jesus como Messias? Porque o Senhor não era um messias do jeito que eles esperavam! Jesus, pobre, manso, humilde, era também exigente e pedia do povo a conversão de coração. Mas, há também uma outra razão para os nazarenos rejeitarem Jesus: eles foram incapazes de ver além das aparências. De fato, enxergaram em Jesus somente o filho de José, aquele que correra e brincara nas suas praças, aquele ao qual eles haviam visto crescer. Assim, sem conseguir olhar com mais profundidade, empacaram na descrença. Mas, nós, conseguimos olhar com profundidade? Somos capazes de escutar na voz dos ministros de Cristo a própria voz do Senhor? Somos sábios o bastante para ouvir na voz da Igreja a voz de Cristo? 

É exatamente pela tendência nossa, tremenda, de sermos surdos ao Senhor, que Jesus tanto sofreu e que Paulo se queixava das dificuldades do seu ministério. O Apóstolo fala de um anjo de Satanás que o esbofeteava. Ele mesmo explica: suas "fraquezas, injúrias, necessidades, perseguições e angústias sofridas por amor de Cristo". O drama de Paulo é uma forte exortação aos pregadores do Evangelho e a todos os cristãos. Aos pregadores do Evangelho, essa palavra do Apóstolo recorda que o anúncio será sempre numa situação de pobreza humana, de apertos e contradições.      O Evangelho do Cristo crucificado e ressuscitado é proclamado não somente pela palavra do pregador, mas também pela carne de sua vida. Como proclamar a Palavra sem sofrer por ela? Como anunciar o Crucificado que ressuscitou sem participar da Sua cruz na esperança firme da sua ressurreição? O Evangelho não é uma teoria, não é um sistema filosófico. O Evangelho é Cristo Jesus encarnado na nossa vida, de modo que possamos dizer como São Paulo: "Eu trago no meu corpo as marcas de Jesus" (Gl 6,17). Triste do pregador que pensa em anunciar Jesus conservando-se para si mesmo. Quem separasse a pregação do seu modo de viver, que fosse pregador de ocasião, tornar-se-ia um falso profeta, inútil e estéril! É toda a vida do pregador que deve ser envolvida na pregação: seu modo de viver, de agir, de vestir, de relacionar-se com os bens materiais, sua vida afetiva, seu modo de divertir-se, seu tipo de amizade... Tudo nele dever ser comprometido com o Senhor e para o Senhor! 

Mas, essa palavra de São Paulo na liturgia deste domingo vale também para cada cristão. O mundo não-crente, secularizado zomba de nós e já não crê no anúncio de Cristo que lhe fazemos. Pois bem, quando experimentarmos a frieza e a dura rejeição, quando em casa, no trabalho, nos círculos de amizades formos ignorados ou ridicularizados por sermos de Cristo, recordemos do Evangelho de hoje, recordemo-nos dos sofrimentos dos apóstolos e retomemos a esperança: o caminho de Cristo é também o nosso; se sofrermos com ele, com ele reinaremos; se morrermos com ele, com ele viveremos (cf. 2Tm 2,11-12). Não tenhamos medo: nós somos as testemunhas, os profetas, os sinais de luz que Deus envia ao mundo de hoje! Sejamos fiéis: o Senhor está conosco, hoje e sempre. Amém!

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04/07/2015 15:16 - Atualizado em 04/07/2015 15:16

O Evangelho deste 14º. Domingo do Tempo Comum apresenta-nos Jesus na sua terra natal, Nazaré. Ali mesmo, na sua própria cidade, onde nascera e fora criado, os seus o rejeitam: “Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Suas irmãs não moram aqui conosco? E ficaram escandalizados por causa dele". Assim, cumpre-se mais uma vez a Escritura: "Veio para o que era seu e os seus não o receberam" (Jo 1,11). E a falta de fé foi tão grande, a dureza de coração tão intensa, a teimosia tão pertinaz, que São Marcos afirma, de modo surpreendente: "Ali não pôde fazer milagre algum", tão grande era a falta de fé daquele povo. 

O próprio Filho do Pai, em pessoa, esteve no meio do seu povo, conviveu com ele, falou-lhe, sorriu-lhe, abraçou-o e, no entanto, não foi reconhecido pelos seus. E por quê? Pela dureza de coração, pela insistência teimosa em esperar um messias de encomenda, sob medida. É bem precisa a censura da primeira leitura deste domingo, na qual o Senhor Deus se dirige a seu servo: "Filho do homem, eu te envio aos israelitas, nação de rebeldes, que se afastaram de mim. A estes filhos de cabeça dura e coração de pedra, vou-te enviar, e tu lhes dirás: 'Assim fala o Senhor Deus'. Quer escutem, quer não, ficarão sabendo que houve entre eles um profeta”!

Diante dessa Palavra, nós nos perguntamos: acolhemos o Senhor que nos vem? Escutamos com fé sua Palavra quando Ele se dirige a nós na Escritura, aquecendo nosso coração? Acolhemo-lo na obediência da fé, quando Ele se nos dirige pela boca da sua Igreja Católica, ensinando-nos o caminho da vida? Acolhemo-lo, quando nos fala pela boca de seus profetas? Não tenhamos tanta certeza de que somos melhores que aqueles de Nazaré! É bom que nos perguntemos: por que os nazarenos não foram capazes de reconhecer Jesus como Messias? Porque o Senhor não era um messias do jeito que eles esperavam! Jesus, pobre, manso, humilde, era também exigente e pedia do povo a conversão de coração. Mas, há também uma outra razão para os nazarenos rejeitarem Jesus: eles foram incapazes de ver além das aparências. De fato, enxergaram em Jesus somente o filho de José, aquele que correra e brincara nas suas praças, aquele ao qual eles haviam visto crescer. Assim, sem conseguir olhar com mais profundidade, empacaram na descrença. Mas, nós, conseguimos olhar com profundidade? Somos capazes de escutar na voz dos ministros de Cristo a própria voz do Senhor? Somos sábios o bastante para ouvir na voz da Igreja a voz de Cristo? 

É exatamente pela tendência nossa, tremenda, de sermos surdos ao Senhor, que Jesus tanto sofreu e que Paulo se queixava das dificuldades do seu ministério. O Apóstolo fala de um anjo de Satanás que o esbofeteava. Ele mesmo explica: suas "fraquezas, injúrias, necessidades, perseguições e angústias sofridas por amor de Cristo". O drama de Paulo é uma forte exortação aos pregadores do Evangelho e a todos os cristãos. Aos pregadores do Evangelho, essa palavra do Apóstolo recorda que o anúncio será sempre numa situação de pobreza humana, de apertos e contradições.      O Evangelho do Cristo crucificado e ressuscitado é proclamado não somente pela palavra do pregador, mas também pela carne de sua vida. Como proclamar a Palavra sem sofrer por ela? Como anunciar o Crucificado que ressuscitou sem participar da Sua cruz na esperança firme da sua ressurreição? O Evangelho não é uma teoria, não é um sistema filosófico. O Evangelho é Cristo Jesus encarnado na nossa vida, de modo que possamos dizer como São Paulo: "Eu trago no meu corpo as marcas de Jesus" (Gl 6,17). Triste do pregador que pensa em anunciar Jesus conservando-se para si mesmo. Quem separasse a pregação do seu modo de viver, que fosse pregador de ocasião, tornar-se-ia um falso profeta, inútil e estéril! É toda a vida do pregador que deve ser envolvida na pregação: seu modo de viver, de agir, de vestir, de relacionar-se com os bens materiais, sua vida afetiva, seu modo de divertir-se, seu tipo de amizade... Tudo nele dever ser comprometido com o Senhor e para o Senhor! 

Mas, essa palavra de São Paulo na liturgia deste domingo vale também para cada cristão. O mundo não-crente, secularizado zomba de nós e já não crê no anúncio de Cristo que lhe fazemos. Pois bem, quando experimentarmos a frieza e a dura rejeição, quando em casa, no trabalho, nos círculos de amizades formos ignorados ou ridicularizados por sermos de Cristo, recordemos do Evangelho de hoje, recordemo-nos dos sofrimentos dos apóstolos e retomemos a esperança: o caminho de Cristo é também o nosso; se sofrermos com ele, com ele reinaremos; se morrermos com ele, com ele viveremos (cf. 2Tm 2,11-12). Não tenhamos medo: nós somos as testemunhas, os profetas, os sinais de luz que Deus envia ao mundo de hoje! Sejamos fiéis: o Senhor está conosco, hoje e sempre. Amém!

Cardeal Orani João Tempesta
Autor

Cardeal Orani João Tempesta

Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro