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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 15/05/2024

15 de Maio de 2024

Não é uma questão de religião

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Não é uma questão de religião

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02/07/2015 14:45 - Atualizado em 02/07/2015 14:56

Não é uma questão de religião 0

02/07/2015 14:45 - Atualizado em 02/07/2015 14:56

Questão de religião é acreditar na Santíssima Trindade, que a hóstia consagrada é o Corpo de Cristo, que a Virgem Maria é mãe de Deus, ou que os santos já falecidos intercedem por nós nos céus... Isso tudo (e mais um pouco) é questão de religião. Mas defender a pessoa humana não é questão de religião. É questão de sobrevivência. É questão de humanidade.

Burburinho total nas redes sociais, e amigos se dividindo e “batendo boca” entre si. Católicos e não-católicos, cristão e não cristãos ou, pior, até entre aqueles que são irmãos de fé. O estopim? A decisão da Suprema Corte Americana em institucionalizar a união entre pessoas do mesmo sexo, elevando-a a status de família.

E muitos querem atacar o defender, achando que isto é ou não é assunto de religião. Se o argumento – de um lado ou de outro – for religião, então, os dois estão equivocados. Os dois lados precisam urgentemente de esclarecimentos e boa formação antes de se manifestarem publicamente. E precisam de formação humana, ou, diríamos mais, de formação humanística.

E quando se discute por causa de preconceito é sinal que, na verdade, estamos todos querendo reconhecer e promover a dignidade de todo ser humano, não importa qual seja a sua condição de vida. Não podemos nos dividir nessa defesa do ser humano! Ele vem sempre em primeiro lugar!

Em outro ponto concordamos, com certeza: se se briga tanto pelo casamento e pela família, é por que devem ser muito bons, não acha?! É porque se reconhece publicamente que essas duas instituições têm muito valor e merecem muito respeito. Ainda que haja experiências negativas pessoais - de conhecer ou viver um matrimônio que se desfez ou de não se ter a família dos sonhos (quem tem?!)-, não há como negar esses valores. Matrimônio e família têm papel fundamental no bem-estar e pleno desenvolvimento do ser humano, e, consequentemente, na estabilidade das sociedades. Por esses bens preciosos vale muito a pena lutar!

Vejam que esses dois pontos-chave, não passam por qualquer questão religiosa. São comuns à experiência do ser humano sobre a face da terra e seu caráter relacional.

Nossa reflexão deve passar por entendermos bem o que significa para nós o valor, a dignidade e o papel da pessoa humana, do homem e da mulher. É questão de refletir sobre as implicações que um ato oficializado numa superpotência pode influenciar o mundo inteiro. É questão de analisar as raízes de tudo o que vai mal na nossa sociedade e quais são os caminhos para uma mudança para melhor. É questão de saber que o ser humano é o eixo para essas mudanças e que não dá para separar isso do amor e das relações interpessoais.

Alguém já conversou com profissionais sérios das áreas de Biologia, Medicina, Antropologia, Sociologia, Filosofia, Psicologia, Psiquiatria, Ciência Política, e outras áreas afins, sobre esse tipo de arranjo social, de famílias formadas por dois homens ou duas mulheres? Soubemos recentemente de um fato triste, mas emblemático. É o de um menino adotado por dois gays que foi publicado no The American Journal of Orthopsychiatry. No artigo chamado ‘‘Recreating Mother’’ (Recriando a Mãe), a revista científica explicou que um dos pais ia contratando babás, uma após a outra, para que cuidassem do menino, mas despedia todas quando percebia que a criança ia se tornando muito afeiçoada a cada uma delas. Aos quatro anos, o menino precisou de terapia psicológica, porque tinha um pedido insistente para que os seus dois pais lhe “comprassem” uma mãe.

Nós que somos adultos, podemos vir com muitas teorias, ideologias e dados estatísticos. Mas alguém já levou em consideração, já perguntou a uma criança o que ela acharia disso. Ou será que ninguém pensa nelas, ninguém valoriza o que elas teriam a dizer no seu sábio empirismo? Alguém se prontifica a defendê-las nos seus direitos humanos? Não deveria nos deixar, no mínimo, intrigados que, numa breve análise histórica, resgatássemos que, bem antes desse debate de união entre pessoas do mesmo sexo via à tona, décadas de extensivos estudos sem qualquer tipo de motivação a favor ou contra esse tema já mostraram que não há nada melhor para as crianças do que serem criadas por seus pais biológicos, isso em detrimento de qualquer outro tipo de arranjo social (com padrastos ou madrastas, pais/ mães solteiros, pai e mãe sem vínculo estável, etc.). Como é que, de repente, pessoas do mesmo sexo conseguem oferecer às crianças a mesma coisa que um pai e uma mãe, um homem e uma mulher podem oferecer? Mudou o ser humano ou mudaram as ideologias?

E, pra concluir, um ponto que está além de tudo isso: a coerência de vida. E isso também não é questão de religião. É questão de identidade! Falar o que vivemos e viver o que falamos. Perde a credibilidade quem diz que acredita em algo, mas mostra atitudes contraditórias. E só pra dar um exemplo que o leitor entenderá bem: o cristão que ridiculariza ou hostiliza quem pensa diferente dele não poderia estar mais distante daquilo que pregou e viveu o mesmo Cristo que diz ser seu Mestre. Por outro lado, porém, o cristão que dá contratestemunho, batendo palmas e militando em favor de causas contrárias à sua fé, passou longe, bem longe de imitar o que Jesus faria. Fica a reflexão!

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Não é uma questão de religião

02/07/2015 14:45 - Atualizado em 02/07/2015 14:56

Questão de religião é acreditar na Santíssima Trindade, que a hóstia consagrada é o Corpo de Cristo, que a Virgem Maria é mãe de Deus, ou que os santos já falecidos intercedem por nós nos céus... Isso tudo (e mais um pouco) é questão de religião. Mas defender a pessoa humana não é questão de religião. É questão de sobrevivência. É questão de humanidade.

Burburinho total nas redes sociais, e amigos se dividindo e “batendo boca” entre si. Católicos e não-católicos, cristão e não cristãos ou, pior, até entre aqueles que são irmãos de fé. O estopim? A decisão da Suprema Corte Americana em institucionalizar a união entre pessoas do mesmo sexo, elevando-a a status de família.

E muitos querem atacar o defender, achando que isto é ou não é assunto de religião. Se o argumento – de um lado ou de outro – for religião, então, os dois estão equivocados. Os dois lados precisam urgentemente de esclarecimentos e boa formação antes de se manifestarem publicamente. E precisam de formação humana, ou, diríamos mais, de formação humanística.

E quando se discute por causa de preconceito é sinal que, na verdade, estamos todos querendo reconhecer e promover a dignidade de todo ser humano, não importa qual seja a sua condição de vida. Não podemos nos dividir nessa defesa do ser humano! Ele vem sempre em primeiro lugar!

Em outro ponto concordamos, com certeza: se se briga tanto pelo casamento e pela família, é por que devem ser muito bons, não acha?! É porque se reconhece publicamente que essas duas instituições têm muito valor e merecem muito respeito. Ainda que haja experiências negativas pessoais - de conhecer ou viver um matrimônio que se desfez ou de não se ter a família dos sonhos (quem tem?!)-, não há como negar esses valores. Matrimônio e família têm papel fundamental no bem-estar e pleno desenvolvimento do ser humano, e, consequentemente, na estabilidade das sociedades. Por esses bens preciosos vale muito a pena lutar!

Vejam que esses dois pontos-chave, não passam por qualquer questão religiosa. São comuns à experiência do ser humano sobre a face da terra e seu caráter relacional.

Nossa reflexão deve passar por entendermos bem o que significa para nós o valor, a dignidade e o papel da pessoa humana, do homem e da mulher. É questão de refletir sobre as implicações que um ato oficializado numa superpotência pode influenciar o mundo inteiro. É questão de analisar as raízes de tudo o que vai mal na nossa sociedade e quais são os caminhos para uma mudança para melhor. É questão de saber que o ser humano é o eixo para essas mudanças e que não dá para separar isso do amor e das relações interpessoais.

Alguém já conversou com profissionais sérios das áreas de Biologia, Medicina, Antropologia, Sociologia, Filosofia, Psicologia, Psiquiatria, Ciência Política, e outras áreas afins, sobre esse tipo de arranjo social, de famílias formadas por dois homens ou duas mulheres? Soubemos recentemente de um fato triste, mas emblemático. É o de um menino adotado por dois gays que foi publicado no The American Journal of Orthopsychiatry. No artigo chamado ‘‘Recreating Mother’’ (Recriando a Mãe), a revista científica explicou que um dos pais ia contratando babás, uma após a outra, para que cuidassem do menino, mas despedia todas quando percebia que a criança ia se tornando muito afeiçoada a cada uma delas. Aos quatro anos, o menino precisou de terapia psicológica, porque tinha um pedido insistente para que os seus dois pais lhe “comprassem” uma mãe.

Nós que somos adultos, podemos vir com muitas teorias, ideologias e dados estatísticos. Mas alguém já levou em consideração, já perguntou a uma criança o que ela acharia disso. Ou será que ninguém pensa nelas, ninguém valoriza o que elas teriam a dizer no seu sábio empirismo? Alguém se prontifica a defendê-las nos seus direitos humanos? Não deveria nos deixar, no mínimo, intrigados que, numa breve análise histórica, resgatássemos que, bem antes desse debate de união entre pessoas do mesmo sexo via à tona, décadas de extensivos estudos sem qualquer tipo de motivação a favor ou contra esse tema já mostraram que não há nada melhor para as crianças do que serem criadas por seus pais biológicos, isso em detrimento de qualquer outro tipo de arranjo social (com padrastos ou madrastas, pais/ mães solteiros, pai e mãe sem vínculo estável, etc.). Como é que, de repente, pessoas do mesmo sexo conseguem oferecer às crianças a mesma coisa que um pai e uma mãe, um homem e uma mulher podem oferecer? Mudou o ser humano ou mudaram as ideologias?

E, pra concluir, um ponto que está além de tudo isso: a coerência de vida. E isso também não é questão de religião. É questão de identidade! Falar o que vivemos e viver o que falamos. Perde a credibilidade quem diz que acredita em algo, mas mostra atitudes contraditórias. E só pra dar um exemplo que o leitor entenderá bem: o cristão que ridiculariza ou hostiliza quem pensa diferente dele não poderia estar mais distante daquilo que pregou e viveu o mesmo Cristo que diz ser seu Mestre. Por outro lado, porém, o cristão que dá contratestemunho, batendo palmas e militando em favor de causas contrárias à sua fé, passou longe, bem longe de imitar o que Jesus faria. Fica a reflexão!

Tatiana e Ronaldo de Melo
Autor

Tatiana e Ronaldo de Melo

Núcleo de Formação e Espiritualidade da Pastoral Familiar da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro