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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

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22/03/2015 00:00

É sumamente importante que, na preparação da homilia, sejam vistos não somente os textos bíblicos, mas também os textos eucológicos . A oração coleta deste quinto domingo da Quaresma diz: “Senhor nosso Deus, dai-nos por vossa graça caminhar na mesma caridade que levou o vosso Filho a entregar-se à morte no seu amor pelo mundo. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.” Celebramos a liturgia para tornamo-nos aquilo o que celebramos. Diferentemente de um culto pagão, onde se pede algo à divindade, a liturgia cristã tem em vista não o alcançar algo de Deus, mas transformar-se naquilo o que se celebra. Assim, na Eucaristia somos chamados a celebrar a caridade absoluta de Cristo, que se entregou à morte por nós, a fim de sermos impregnados desta mesma caridade para podermos também nós dar a nossa vida por Cristo através dos irmãos.

A primeira leitura é um trecho do profeta Jeremias do chamado “Livro da Consolação”, porque Deus começa a anunciar pela boca do profeta uma restauração para o povo de Israel. Nesta perícope encontramos a promessa de uma Nova Aliança que Deus vai fazer com o seu povo. É interessante notar que no v. 32 o próprio Senhor afirma que esta Aliança será diferente daquela feita com os pais no Egito, uma vez que aquela foi rompida, não por Deus, que é sempre fiel, mas pelo povo. Esta Aliança tem como centro a inscrição da Lei no “coração” do povo, a sua colocação como um “selo” no seio do seu povo. Na verdade, a melhor tradução seria “darei a minha Lei no mais profundo e sobre o coração deles a escreverei” . O coração do homem será a “nova tábua da Lei” onde Deus escreverá com seu dedo. No mais íntimo do homem, Deus colocará a sua Lei, o seu ensinamento que dá a vida. Cada um conhecerá a força e o poder de IHWH e ele “perdoará” a culpa do seu povo, não mais se lembrando do seu “pecado”. Interiorização da Lei, perdão dos pecados e novo começo são as características fundamentais da Nova Aliança de YHWH com seu povo.

Esta Aliança nova e inaudita realizou-se plenamente na Páscoa do seu Verbo. Com a aceitação livre e gratuita da sua “hora”, Jesus torna plena a Aliança do Pai conosco. No capítulo de João estão os últimos momentos de Jesus antes da celebração da última ceia com os seus discípulos, e aqui Jesus começa a falar da sua “hora”. A “hora” de Jesus em João é um tema central. Nas bodas de Caná Ele afirma que ainda não é chegada a sua “hora”, e aqui, nesta perícope, mais precisamente no v. 23 Ele afirma: “É chegada a hora”. A “hora” de Jesus em João significa a consumação do seu ministério. Ele veio justamente para isso (cf. v.27), para entregar-se à morte para a salvação dos homens. Jesus chama a sua morte de glorificação. Aqui percebemos como a dinâmica do Evangelho é diversa daquela do mundo. Morrer é “ser glorificado”. Jesus se compara ao grão de trigo, que precisa “morrer” para produzir frutos. O seu discípulo também é chamado a um gênero de morte, porque é preciso “odiar a sua vida”, a fim de ganhá-la verdadeiramente. É importante refletirmos sobre o que significa essa morte à qual Jesus nos convida. Claro é que o Senhor não quer que em nada desvalorizemos a vida. Ele mesmo afirma que veio para que todos nós tivéssemos “vida em abundância”. Todavia, é preciso entendermos qual o sentido da nossa existência nesse mundo. Aquele que vive para, segundo os critérios do mundo, ter uma vida absoluta, plena, cheia de prazeres e de toda sorte de contentamentos, esse com certeza acabará por perder a vida, porque os critérios do mundo não são aqueles que nos conduzem à felicidade verdadeira, ao encontro conosco mesmo e com Deus. Aquele, ao contrário, que ao olhos do mundo perde a sua vida, porque a colocou totalmente nas mãos de Cristo, esse a encontra, esse recupera o verdadeiro sentido da sua existência nesse mundo. Isso significa encarnar em nossas vidas a dinâmica da kénosis – glorificação que o Verbo assumiu.

O Salmo 50, historicizado como sendo a oração de Davi após o adultério com Betsabeia, é um pedido a Deus para que purifique o pecador. No v. 12 utiliza-se o verbo bara, usado também em Gn 1,1 e em Jr 31,22. Esse verbo, traduzido como “criar”, indica uma especial ação de Deus que cria algo novo e maravilhoso. O salmista pede a Deus a criação de algo novo e maravilhoso: um “coração puro”; o profeta anuncia algo novo e maravilhoso: a Nova Aliança de IHWH com seu povo; Cristo realiza o que o salmista anela e o profeta anuncia: algo novo e inaudito, que é o seu amor crucificado pelos homens.

Como afirma a Carta aos Hebreus, na segunda leitura ele foi levado à obediência pelo sofrimento e assim foi levado à perfeição. O verdadeiro discípulo de Cristo é aquele que não corre da Cruz, mas que a aceita livremente como maneira excelente de unir-se ao sacrifício redentor do seu Senhor.

 Quinto Domingo da Quaresma – Ano B

22.03.2015

Jr 31,31-34

Sl 50 (51)

Hb 5,7-9

Jo 12,20-33

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22/03/2015 00:00

É sumamente importante que, na preparação da homilia, sejam vistos não somente os textos bíblicos, mas também os textos eucológicos . A oração coleta deste quinto domingo da Quaresma diz: “Senhor nosso Deus, dai-nos por vossa graça caminhar na mesma caridade que levou o vosso Filho a entregar-se à morte no seu amor pelo mundo. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.” Celebramos a liturgia para tornamo-nos aquilo o que celebramos. Diferentemente de um culto pagão, onde se pede algo à divindade, a liturgia cristã tem em vista não o alcançar algo de Deus, mas transformar-se naquilo o que se celebra. Assim, na Eucaristia somos chamados a celebrar a caridade absoluta de Cristo, que se entregou à morte por nós, a fim de sermos impregnados desta mesma caridade para podermos também nós dar a nossa vida por Cristo através dos irmãos.

A primeira leitura é um trecho do profeta Jeremias do chamado “Livro da Consolação”, porque Deus começa a anunciar pela boca do profeta uma restauração para o povo de Israel. Nesta perícope encontramos a promessa de uma Nova Aliança que Deus vai fazer com o seu povo. É interessante notar que no v. 32 o próprio Senhor afirma que esta Aliança será diferente daquela feita com os pais no Egito, uma vez que aquela foi rompida, não por Deus, que é sempre fiel, mas pelo povo. Esta Aliança tem como centro a inscrição da Lei no “coração” do povo, a sua colocação como um “selo” no seio do seu povo. Na verdade, a melhor tradução seria “darei a minha Lei no mais profundo e sobre o coração deles a escreverei” . O coração do homem será a “nova tábua da Lei” onde Deus escreverá com seu dedo. No mais íntimo do homem, Deus colocará a sua Lei, o seu ensinamento que dá a vida. Cada um conhecerá a força e o poder de IHWH e ele “perdoará” a culpa do seu povo, não mais se lembrando do seu “pecado”. Interiorização da Lei, perdão dos pecados e novo começo são as características fundamentais da Nova Aliança de YHWH com seu povo.

Esta Aliança nova e inaudita realizou-se plenamente na Páscoa do seu Verbo. Com a aceitação livre e gratuita da sua “hora”, Jesus torna plena a Aliança do Pai conosco. No capítulo de João estão os últimos momentos de Jesus antes da celebração da última ceia com os seus discípulos, e aqui Jesus começa a falar da sua “hora”. A “hora” de Jesus em João é um tema central. Nas bodas de Caná Ele afirma que ainda não é chegada a sua “hora”, e aqui, nesta perícope, mais precisamente no v. 23 Ele afirma: “É chegada a hora”. A “hora” de Jesus em João significa a consumação do seu ministério. Ele veio justamente para isso (cf. v.27), para entregar-se à morte para a salvação dos homens. Jesus chama a sua morte de glorificação. Aqui percebemos como a dinâmica do Evangelho é diversa daquela do mundo. Morrer é “ser glorificado”. Jesus se compara ao grão de trigo, que precisa “morrer” para produzir frutos. O seu discípulo também é chamado a um gênero de morte, porque é preciso “odiar a sua vida”, a fim de ganhá-la verdadeiramente. É importante refletirmos sobre o que significa essa morte à qual Jesus nos convida. Claro é que o Senhor não quer que em nada desvalorizemos a vida. Ele mesmo afirma que veio para que todos nós tivéssemos “vida em abundância”. Todavia, é preciso entendermos qual o sentido da nossa existência nesse mundo. Aquele que vive para, segundo os critérios do mundo, ter uma vida absoluta, plena, cheia de prazeres e de toda sorte de contentamentos, esse com certeza acabará por perder a vida, porque os critérios do mundo não são aqueles que nos conduzem à felicidade verdadeira, ao encontro conosco mesmo e com Deus. Aquele, ao contrário, que ao olhos do mundo perde a sua vida, porque a colocou totalmente nas mãos de Cristo, esse a encontra, esse recupera o verdadeiro sentido da sua existência nesse mundo. Isso significa encarnar em nossas vidas a dinâmica da kénosis – glorificação que o Verbo assumiu.

O Salmo 50, historicizado como sendo a oração de Davi após o adultério com Betsabeia, é um pedido a Deus para que purifique o pecador. No v. 12 utiliza-se o verbo bara, usado também em Gn 1,1 e em Jr 31,22. Esse verbo, traduzido como “criar”, indica uma especial ação de Deus que cria algo novo e maravilhoso. O salmista pede a Deus a criação de algo novo e maravilhoso: um “coração puro”; o profeta anuncia algo novo e maravilhoso: a Nova Aliança de IHWH com seu povo; Cristo realiza o que o salmista anela e o profeta anuncia: algo novo e inaudito, que é o seu amor crucificado pelos homens.

Como afirma a Carta aos Hebreus, na segunda leitura ele foi levado à obediência pelo sofrimento e assim foi levado à perfeição. O verdadeiro discípulo de Cristo é aquele que não corre da Cruz, mas que a aceita livremente como maneira excelente de unir-se ao sacrifício redentor do seu Senhor.

 Quinto Domingo da Quaresma – Ano B

22.03.2015

Jr 31,31-34

Sl 50 (51)

Hb 5,7-9

Jo 12,20-33

Padre Fábio Siqueira
Autor

Padre Fábio Siqueira

Vice-diretor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida