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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 03/02/2025

03 de Fevereiro de 2025

Tribunal da misericórdia

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Tribunal da misericórdia

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22/03/2013 16:58

Tribunal da misericórdia 0

22/03/2013 16:58

Tribunal da misericórdia / Arqrio

Iniciamos a Semana Santa com o Domingo de Ramos e da Paixão. Todos os domingos são pascais, mas, excepcionalmente, neste é proclamada a leitura ou o canto da Paixão. Claro, só pode ser pela ótica da ressurreição: Jesus Cristo venceu e aparece vivo.  

A vitória já existe na Cruz, embora confirmada ao máximo na ressurreição. O coração misericordioso de Jesus vence a justiça implacável, humana e divina, pelo perdão. Este bem mais divino que humano.  

Jesus crucificado entre dois bandidos, Ele – o único inocente, o justo – nos faz lembrar o desafio proposto a seus discípulos: “Se a vossa justiça não exceder a dos escribas e a dos fariseus, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 9, 20).  

A justiça que excede, ou a plena justiça, é a misericórdia que perdoa e premia o ladrão que crê: “Eu te digo, hoje, estarás comigo no paraíso” (Lc 23, 43). Diz muito de nós, necessitados de misericórdia, de perdão e de reconciliação.  

O evangelista nos faz contemplar a cena derradeira na Cruz como tribunal. O justo e inocente é acusado e sentenciado à morte mais cruel, mais humilhante e mais infame. Injustamente.  

Quem O inocenta é um ladrão. Ele é verdadeiro: reconhece sua culpa e a de seu companheiro, e defende a inocência de Jesus: “Quanto a nós, é de justiça: estamos pagando por nossos atos, mas ele não fez nenhum mal” (v. 41). É o único a representar um juiz isento, inocentando o justo.  Assim, aponta o erro e a malícia de todo o processo. O paradoxo chega a ser burlesco.  

Acertadamente, Rui Barbosa, nosso célebre jurista, afirmou que Jesus passou por três tribunais e em nenhum teve um juiz. De fato, Jesus só conheceu acusadores e as falsas testemunhas.  

Outro paradoxo: o ladrão é por Jesus, perdoado. Perdoado, não porque fosse bom, mas porque acreditou e desejou na fé: “Jesus, lembra-te de mim, quando vieres com teu reino” (v. 42).  O perdão realça a culpa. Não inocenta.  O perdão expressa o poder divino em surpreendente ato de amor: “Hoje estarás comigo” (v. 43).  

Um pagão, centurião romano, reconheceu: “Realmente, este homem era um justo!” (v. 47). Mas o diz após a morte, tarde demais, pensamos. Porém, antes tarde do que nunca. Na verdade, nunca é tarde para ser agraciado no pedido de perdão. Eis o “bom” ladrão!  

O evangelista da misericórdia põe a cena conclusiva numa liturgia penitencial, na qual a assembleia reconhece sua implicação na morte do inocente: “Toda a multidão que havia acorrido para o espetáculo, vendo o que havia acontecido, voltou, batendo no peito” (v. 48).  

Nestes dias, a Igreja revê o espetáculo da paixão e morte, na liturgia e na devoção. Não pode ser apenas um espetáculo até encenado sem consequência. Por isso, os verdadeiros fiéis batem no peito, após ouvirem a oração de Jesus: “Pai, perdoa-lhes: não sabem o que fazem” (v. 34). Esta oração nos inclui. O perdão desejado é doado do Pai pelo Filho. A misericórdia nos alcança: “A justiça de Deus que opera pela fé em Jesus Cristo” (Rm 3, 22) se manifestou (v. 21).  

Na Semana Santa, o cristianismo revive e atualiza, na pregação e na celebração, o que tem de melhor: Jesus, a misericórdia do Pai. Ele, o ápice do Evangelho, a boa notícia viva da nossa salvação. Ele, o único redentor. Atrai todos a si (Jo 12, 32) e estabelece a Igreja como pátria universal do perdão (Jo 20, 23).

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Tribunal da misericórdia / Arqrio

Tribunal da misericórdia

22/03/2013 16:58

Iniciamos a Semana Santa com o Domingo de Ramos e da Paixão. Todos os domingos são pascais, mas, excepcionalmente, neste é proclamada a leitura ou o canto da Paixão. Claro, só pode ser pela ótica da ressurreição: Jesus Cristo venceu e aparece vivo.  

A vitória já existe na Cruz, embora confirmada ao máximo na ressurreição. O coração misericordioso de Jesus vence a justiça implacável, humana e divina, pelo perdão. Este bem mais divino que humano.  

Jesus crucificado entre dois bandidos, Ele – o único inocente, o justo – nos faz lembrar o desafio proposto a seus discípulos: “Se a vossa justiça não exceder a dos escribas e a dos fariseus, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 9, 20).  

A justiça que excede, ou a plena justiça, é a misericórdia que perdoa e premia o ladrão que crê: “Eu te digo, hoje, estarás comigo no paraíso” (Lc 23, 43). Diz muito de nós, necessitados de misericórdia, de perdão e de reconciliação.  

O evangelista nos faz contemplar a cena derradeira na Cruz como tribunal. O justo e inocente é acusado e sentenciado à morte mais cruel, mais humilhante e mais infame. Injustamente.  

Quem O inocenta é um ladrão. Ele é verdadeiro: reconhece sua culpa e a de seu companheiro, e defende a inocência de Jesus: “Quanto a nós, é de justiça: estamos pagando por nossos atos, mas ele não fez nenhum mal” (v. 41). É o único a representar um juiz isento, inocentando o justo.  Assim, aponta o erro e a malícia de todo o processo. O paradoxo chega a ser burlesco.  

Acertadamente, Rui Barbosa, nosso célebre jurista, afirmou que Jesus passou por três tribunais e em nenhum teve um juiz. De fato, Jesus só conheceu acusadores e as falsas testemunhas.  

Outro paradoxo: o ladrão é por Jesus, perdoado. Perdoado, não porque fosse bom, mas porque acreditou e desejou na fé: “Jesus, lembra-te de mim, quando vieres com teu reino” (v. 42).  O perdão realça a culpa. Não inocenta.  O perdão expressa o poder divino em surpreendente ato de amor: “Hoje estarás comigo” (v. 43).  

Um pagão, centurião romano, reconheceu: “Realmente, este homem era um justo!” (v. 47). Mas o diz após a morte, tarde demais, pensamos. Porém, antes tarde do que nunca. Na verdade, nunca é tarde para ser agraciado no pedido de perdão. Eis o “bom” ladrão!  

O evangelista da misericórdia põe a cena conclusiva numa liturgia penitencial, na qual a assembleia reconhece sua implicação na morte do inocente: “Toda a multidão que havia acorrido para o espetáculo, vendo o que havia acontecido, voltou, batendo no peito” (v. 48).  

Nestes dias, a Igreja revê o espetáculo da paixão e morte, na liturgia e na devoção. Não pode ser apenas um espetáculo até encenado sem consequência. Por isso, os verdadeiros fiéis batem no peito, após ouvirem a oração de Jesus: “Pai, perdoa-lhes: não sabem o que fazem” (v. 34). Esta oração nos inclui. O perdão desejado é doado do Pai pelo Filho. A misericórdia nos alcança: “A justiça de Deus que opera pela fé em Jesus Cristo” (Rm 3, 22) se manifestou (v. 21).  

Na Semana Santa, o cristianismo revive e atualiza, na pregação e na celebração, o que tem de melhor: Jesus, a misericórdia do Pai. Ele, o ápice do Evangelho, a boa notícia viva da nossa salvação. Ele, o único redentor. Atrai todos a si (Jo 12, 32) e estabelece a Igreja como pátria universal do perdão (Jo 20, 23).

Dom Edson de Castro Homem
Autor

Dom Edson de Castro Homem

Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro