Arquidiocese do Rio de Janeiro

34º 22º

Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

Fidelidade a Deus

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17/10/2014 10:52 - Atualizado em 17/10/2014 10:52

Fidelidade a Deus 0

17/10/2014 10:52 - Atualizado em 17/10/2014 10:52

temp_titleliturgia_1_17102014104240“...dai-nos a graça de estar sempre ao vosso dispor, e vos servir de todo o coração.”

Esse é o pedido que sobe da assembleia, pela boca do sacerdote, para junto do Pai. O nosso pedido é que o Espírito Santo do Senhor nos faça estar sempre ao “dispor” de Deus, para que possamos “servi-lo” não por obrigação ou coação, mas de “todo o coração”, ou seja, livremente e com alegria. A Eucaristia é o “lugar pneumático por excelência”, ou seja, é o momento em que profusamente o Espírito Santo é derramado no coração dos crentes, para que o desejo de servir a Deus, com nossa vida e com nosso trabalho, nasça e cresça dentro de nós. Por isso, ao final da Eucaristia, somos “enviados” a comunicar a graça recebida a todos, servindo de “todo o coração” ao Senhor Jesus.

Poderíamos começar nossa reflexão de hoje pela segunda leitura. Lembramos que esta, diferentemente da primeira leitura e do evangelho, que estão em estreita relação, mantendo aquela dinâmica de profecia e realização, constitui uma lectio cursiva, ou seja, começamos a ler um determinado escrito do Novo Testamento e vamos nele até o fim.

A segunda leitura de hoje nos apresenta um trecho do primeiro escrito do NT: a 1 Tessalonicenses. Temos, logo depois da saudação, o v. 3, que nos traz uma referência do apóstolo às três virtudes cardeais: fé, caridade e esperança. Paulo “faz memória” dessas três virtudes encontradas entre os Tessalonicenses, aplicando a cada uma delas uma característica particular. O apóstolo, então, se recorda:

1. Da obra da fé;
2. Da fadiga da caridade;
3. Da firmeza da esperança.

Uma fé “operosa”; uma caridade “que se afadiga” e uma esperança “firme” é o que o apóstolo recorda ter encontrada entre os Tessalonicenses. Essas três virtudes assim bem adjetivadas deveriam ser encontradas também entre nós.

O Senhor espera de nós uma fé “operosa”, ou seja, uma fé que não seja só em nível intelectual, mas que se traduza em obras concretas. Basta lembrarmo-nos que, no dizer de São Tiago, a “fé sem obras é morta” (cf. Tg 2,17) e que o próprio Cristo, no Evangelho, no recorda que nem todo aquele que diz Senhor, Senhor entrará no Reino dos Céus, mas só que põe em prática a vontade do Pai, em outras palavras, realiza as suas obras (cf. Mt 7,21).

Cristo espera de nós uma caridade que se afadiga. O substantivo kopós que Paulo utiliza aqui pode ser traduzido por “esforço, fadiga”, ou seja, o Apóstolo afirma que a nossa caridade não pode se esgotar diante do cansaço. É próprio da caridade suportar a fadiga sem desanimar, porque esta é uma virtude exigente.

Por fim, o apóstolo elogia a esperança hypomoné da comunidade. Traduzimos este substantivo, em geral, por “firmeza”. Ele é composto pelo sufixo hypo que significa “embaixo”. O seu final é um verbo que significa, dentre outras coisas, “sustentar”. A esperança dos Tessalonicenses é algo que “lhes sustenta por baixo”, ou seja, que “lhes dá suporte”. Assim Cristo quer que a virtude da “esperança” seja o nosso sustentáculo, o nosso suporte, no meio das dificuldades da vida. Esperança n’Ele, e na vida eterna que receberemos por meio d’Ele.

A primeira leitura, um trecho do Dêutero-Isaias, também chamado de “Livro da Consolação”, porque começa com Is 40,1: Consolai, consolai, o meu povo, nos apresenta a figura do rei Ciro. Sendo que ele concederá ao povo de Israel a possibilidade de retornar à terra prometida, ele é chamado de “ungido”, título aplicado somente aos reis, profetas e sacerdotes no Antigo Testamento. O autor sagrado reconhece que Ciro se tornou um instrumento de Deus e que o seu poder foi dádiva do Deus de Israel, a fim de que ele servisse como libertador do povo.

Essa possibilidade de retornar à terra da promessa, de reconstruir o Templo e a cidade e se reinaugurar o culto a Deus, faz com que o louvor brote dos lábios dos crentes, o que nos vem bem expresso pelo Salmo 95, um convite a cantar a Deus um “canto novo”. Esse convite é dirigido a todas as “famílias das nações”, porque através do retorno de Israel à terra prometida, as nações todas poderão conhecer quão grande é o poder de Deus, que os tirou do Egito e que agora os tira também de outros lugares longínquos e os faz retornar à sua terra. Isso produzirá não só em Israel, mas em todas as nações o louvor, a ação de graças. O salmo convida a se reconhecer, enfim, o reinado de Deus sobre o mundo: “Reina o Senhor! Os povos Ele julga com justiça.”

A primeira leitura e o salmo nos fazem perceber assim, como é Deus quem reina nas vicissitudes da história. O autor sagrado percebe que, no fundo, Deus é quem conduz os caminhos da humanidade. O homem segue caminhos tortuosos, mas Deus os faz retornar, porque Ele é um Deus de amor. Ele se utiliza até mesmo de instrumentos inesperados, como Ciro, um rei pagão, para que seus projetos se cumpram.

O evangelho nos apresenta uma situação de conflito entre Jesus e os fariseus: trata-se do pagamento do tributo. A nossa perícope deveria se estender até o v.22, final lógico do texto, onde Mateus afirma que, diante do dito perspicaz de Jesus, eles foram embora maravilhados: “Ao ouvirem isso, ficaram maravilhados e, deixando-o, foram embora”. Todavia, a perícope que nos é proposta termina no v. 21 com a solene afirmação de Jesus de que devemos dar a Deus o que é de Deus.

Devemos, para compreender corretamente este evangelho, estar atentos ao pano de fundo da cena. Trata-se de uma questão entre Jesus e os fariseus. A questão é o pagamento do tributo ao imperador. Ora, o domínio romano já estava consolidado sobre a Palestina na época de Jesus. O sinal tangível dessa realidade era o pagamento do imposto. Dentro das várias facções do judaísmo temos os saduceus, que eram favoráveis ao pagamento de tal imposto; os zelotas, que se lhe opunham ferozmente; e os fariseus, que o pagavam, mas com certa restrição de consciência. São estes últimos que propõe a questão a Jesus. O seu objetivo, todavia, não era resolver a questão, mas como Mateus bem coloca no v. 15 era “apanhar Jesus em alguma palavra”. Queriam ver se Jesus seria favorável à dominação romana, como os saduceus, ou um revolucionário, como os zelotas, uma vez que ambas as posturas pareciam condenáveis aos fariseus, que se opunham ao regime (diferentemente dos saduceus), mas não de maneira declarada (diferentemente dos zelotas). É por isso que Jesus os chamará de “hipócritas” no v. 18. Os fariseus não assumem o que são e nem declaram suas reais intenções. Nesse sentido eles são “hipócritas”, ou seja, utilizam como que uma máscara (no grego hypokrités) para desfarçar suas verdadeiras e maldosas intenções.

Eles elogiam falsamente Jesus, chamam-no de mestre, afirmam que ele é “verdadeiro” e que ensina “o caminho de Deus”, que não “se deixa influenciar pela opinião dos outros e não julga por aparências”, ou seja, fazem o que chamaríamos de uma captatio benevolentiae. Então, lançam a pergunta diabólica: É lícito ou não pagar imposto a César? Jesus, que sonda os corações sabe da maldade que ali está escondida e reconhece a armadilha (cf. v. 18). Qualquer resposta de Jesus seria fatídica. Se Jesus se declarasse favorável ao imposto, que para os fariseus representava uma questão não só política, mas também religiosa, os fariseus poderiam acusa-lo de estar com Israel e a favor de Roma. As multidões então ficariam contra Ele. Se Jesus, por outro lado, se declarasse contra o imposto, os fariseus então o apresentariam ao governandor, afirmando que ele se opunha ao regime dominante, o que faria que fosse condenado à morte. Os fariseus tentam deixar Jesus sem saída.

É de maneira brilhante que Jesus sai dessa situação pedindo para ver a moeda do imposto. Ao perceber que nela está a inscrição do imperador ele afirma: Dai a César, o que é de César, ou seja, a moeda que traz o seu nome. E a Deus o que é de Deus, ou seja, a glória, a adoração e a reverência suprema. Pode-se pagar o imposto ao imperador sem, contudo, divinizá-lo, ou colocá-lo no lugar que pertence somente a Deus. A moeda pode ser devolvida a quem a mandou cunhar, ao imperador. Mas o homem, esse tem que ser devolvido ao Divino Oleiro, Àquele que o fez com suas próprias mãos. O homem é de Deus e, por isso, não pode por um poder humano no lugar de Deus. Assim Jesus resolve uma questão que aparecerá, depois, nas comunidades cristãs: como lidar com as autoridades constituídas. Estas podem e devem ser respeitadas, mas jamais colocadas no lugar de Deus, como fizeram os antigos soberanos, egípcios, romanos e outros.

Também hoje essa questão pode se reacender. Devemos ou não nos submetermos às autoridades constituídas? O Catecismo afirma no n. 1900 que devemos obedecer às autoridades legitimamente constituídas: “O dever de obediência impõe a todos a obrigação de tributar à autoridade as honras que lhe são devidas e de rodear de respeito e, segundo o seu mérito, de gratidão e benevolência, as pessoas que a exercem.” O Catecismo, no mesmo número, nos traz uma belíssima oração de São Clemente Romano, Papa, pelas autoridades civis, ele que governou a Igreja entre os anos 88 e 97, ou seja, num período de perseguição:

«Dai-lhes, Senhor, a saúde, a paz, a concórdia, a estabilidade, para que exerçam sem obstáculos a soberania que lhes confiastes. Sois Vós, ó mestre, celeste rei dos séculos, quem dá aos filhos dos homens glória, honra e poder sobre as coisas da terra. Dirigi, Senhor, o seu conselho segundo o que é bem, segundo o que é agradável aos vossos olhos, para que, exercendo com piedade, na paz e na mansidão, o poder que lhes destes, Vos encontrem propício.»

Todavia, não podemos colocar o poder civil acima do poder divino. Toda vez que um governo nos exigir algo que contrarie a nossa fé, somos chamados a nos manter na fidelidade a Deus, até o derramamento de sangue, se for necessário, como o fizeram tantos mártires antes de nós.

29º Domingo do Tempo Comum

19.10.2014
Is 45, 1.4-6
Sl 95 (96)
1Ts 1,1-5b
Mt 22,15-21

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Fidelidade a Deus

17/10/2014 10:52 - Atualizado em 17/10/2014 10:52

temp_titleliturgia_1_17102014104240“...dai-nos a graça de estar sempre ao vosso dispor, e vos servir de todo o coração.”

Esse é o pedido que sobe da assembleia, pela boca do sacerdote, para junto do Pai. O nosso pedido é que o Espírito Santo do Senhor nos faça estar sempre ao “dispor” de Deus, para que possamos “servi-lo” não por obrigação ou coação, mas de “todo o coração”, ou seja, livremente e com alegria. A Eucaristia é o “lugar pneumático por excelência”, ou seja, é o momento em que profusamente o Espírito Santo é derramado no coração dos crentes, para que o desejo de servir a Deus, com nossa vida e com nosso trabalho, nasça e cresça dentro de nós. Por isso, ao final da Eucaristia, somos “enviados” a comunicar a graça recebida a todos, servindo de “todo o coração” ao Senhor Jesus.

Poderíamos começar nossa reflexão de hoje pela segunda leitura. Lembramos que esta, diferentemente da primeira leitura e do evangelho, que estão em estreita relação, mantendo aquela dinâmica de profecia e realização, constitui uma lectio cursiva, ou seja, começamos a ler um determinado escrito do Novo Testamento e vamos nele até o fim.

A segunda leitura de hoje nos apresenta um trecho do primeiro escrito do NT: a 1 Tessalonicenses. Temos, logo depois da saudação, o v. 3, que nos traz uma referência do apóstolo às três virtudes cardeais: fé, caridade e esperança. Paulo “faz memória” dessas três virtudes encontradas entre os Tessalonicenses, aplicando a cada uma delas uma característica particular. O apóstolo, então, se recorda:

1. Da obra da fé;
2. Da fadiga da caridade;
3. Da firmeza da esperança.

Uma fé “operosa”; uma caridade “que se afadiga” e uma esperança “firme” é o que o apóstolo recorda ter encontrada entre os Tessalonicenses. Essas três virtudes assim bem adjetivadas deveriam ser encontradas também entre nós.

O Senhor espera de nós uma fé “operosa”, ou seja, uma fé que não seja só em nível intelectual, mas que se traduza em obras concretas. Basta lembrarmo-nos que, no dizer de São Tiago, a “fé sem obras é morta” (cf. Tg 2,17) e que o próprio Cristo, no Evangelho, no recorda que nem todo aquele que diz Senhor, Senhor entrará no Reino dos Céus, mas só que põe em prática a vontade do Pai, em outras palavras, realiza as suas obras (cf. Mt 7,21).

Cristo espera de nós uma caridade que se afadiga. O substantivo kopós que Paulo utiliza aqui pode ser traduzido por “esforço, fadiga”, ou seja, o Apóstolo afirma que a nossa caridade não pode se esgotar diante do cansaço. É próprio da caridade suportar a fadiga sem desanimar, porque esta é uma virtude exigente.

Por fim, o apóstolo elogia a esperança hypomoné da comunidade. Traduzimos este substantivo, em geral, por “firmeza”. Ele é composto pelo sufixo hypo que significa “embaixo”. O seu final é um verbo que significa, dentre outras coisas, “sustentar”. A esperança dos Tessalonicenses é algo que “lhes sustenta por baixo”, ou seja, que “lhes dá suporte”. Assim Cristo quer que a virtude da “esperança” seja o nosso sustentáculo, o nosso suporte, no meio das dificuldades da vida. Esperança n’Ele, e na vida eterna que receberemos por meio d’Ele.

A primeira leitura, um trecho do Dêutero-Isaias, também chamado de “Livro da Consolação”, porque começa com Is 40,1: Consolai, consolai, o meu povo, nos apresenta a figura do rei Ciro. Sendo que ele concederá ao povo de Israel a possibilidade de retornar à terra prometida, ele é chamado de “ungido”, título aplicado somente aos reis, profetas e sacerdotes no Antigo Testamento. O autor sagrado reconhece que Ciro se tornou um instrumento de Deus e que o seu poder foi dádiva do Deus de Israel, a fim de que ele servisse como libertador do povo.

Essa possibilidade de retornar à terra da promessa, de reconstruir o Templo e a cidade e se reinaugurar o culto a Deus, faz com que o louvor brote dos lábios dos crentes, o que nos vem bem expresso pelo Salmo 95, um convite a cantar a Deus um “canto novo”. Esse convite é dirigido a todas as “famílias das nações”, porque através do retorno de Israel à terra prometida, as nações todas poderão conhecer quão grande é o poder de Deus, que os tirou do Egito e que agora os tira também de outros lugares longínquos e os faz retornar à sua terra. Isso produzirá não só em Israel, mas em todas as nações o louvor, a ação de graças. O salmo convida a se reconhecer, enfim, o reinado de Deus sobre o mundo: “Reina o Senhor! Os povos Ele julga com justiça.”

A primeira leitura e o salmo nos fazem perceber assim, como é Deus quem reina nas vicissitudes da história. O autor sagrado percebe que, no fundo, Deus é quem conduz os caminhos da humanidade. O homem segue caminhos tortuosos, mas Deus os faz retornar, porque Ele é um Deus de amor. Ele se utiliza até mesmo de instrumentos inesperados, como Ciro, um rei pagão, para que seus projetos se cumpram.

O evangelho nos apresenta uma situação de conflito entre Jesus e os fariseus: trata-se do pagamento do tributo. A nossa perícope deveria se estender até o v.22, final lógico do texto, onde Mateus afirma que, diante do dito perspicaz de Jesus, eles foram embora maravilhados: “Ao ouvirem isso, ficaram maravilhados e, deixando-o, foram embora”. Todavia, a perícope que nos é proposta termina no v. 21 com a solene afirmação de Jesus de que devemos dar a Deus o que é de Deus.

Devemos, para compreender corretamente este evangelho, estar atentos ao pano de fundo da cena. Trata-se de uma questão entre Jesus e os fariseus. A questão é o pagamento do tributo ao imperador. Ora, o domínio romano já estava consolidado sobre a Palestina na época de Jesus. O sinal tangível dessa realidade era o pagamento do imposto. Dentro das várias facções do judaísmo temos os saduceus, que eram favoráveis ao pagamento de tal imposto; os zelotas, que se lhe opunham ferozmente; e os fariseus, que o pagavam, mas com certa restrição de consciência. São estes últimos que propõe a questão a Jesus. O seu objetivo, todavia, não era resolver a questão, mas como Mateus bem coloca no v. 15 era “apanhar Jesus em alguma palavra”. Queriam ver se Jesus seria favorável à dominação romana, como os saduceus, ou um revolucionário, como os zelotas, uma vez que ambas as posturas pareciam condenáveis aos fariseus, que se opunham ao regime (diferentemente dos saduceus), mas não de maneira declarada (diferentemente dos zelotas). É por isso que Jesus os chamará de “hipócritas” no v. 18. Os fariseus não assumem o que são e nem declaram suas reais intenções. Nesse sentido eles são “hipócritas”, ou seja, utilizam como que uma máscara (no grego hypokrités) para desfarçar suas verdadeiras e maldosas intenções.

Eles elogiam falsamente Jesus, chamam-no de mestre, afirmam que ele é “verdadeiro” e que ensina “o caminho de Deus”, que não “se deixa influenciar pela opinião dos outros e não julga por aparências”, ou seja, fazem o que chamaríamos de uma captatio benevolentiae. Então, lançam a pergunta diabólica: É lícito ou não pagar imposto a César? Jesus, que sonda os corações sabe da maldade que ali está escondida e reconhece a armadilha (cf. v. 18). Qualquer resposta de Jesus seria fatídica. Se Jesus se declarasse favorável ao imposto, que para os fariseus representava uma questão não só política, mas também religiosa, os fariseus poderiam acusa-lo de estar com Israel e a favor de Roma. As multidões então ficariam contra Ele. Se Jesus, por outro lado, se declarasse contra o imposto, os fariseus então o apresentariam ao governandor, afirmando que ele se opunha ao regime dominante, o que faria que fosse condenado à morte. Os fariseus tentam deixar Jesus sem saída.

É de maneira brilhante que Jesus sai dessa situação pedindo para ver a moeda do imposto. Ao perceber que nela está a inscrição do imperador ele afirma: Dai a César, o que é de César, ou seja, a moeda que traz o seu nome. E a Deus o que é de Deus, ou seja, a glória, a adoração e a reverência suprema. Pode-se pagar o imposto ao imperador sem, contudo, divinizá-lo, ou colocá-lo no lugar que pertence somente a Deus. A moeda pode ser devolvida a quem a mandou cunhar, ao imperador. Mas o homem, esse tem que ser devolvido ao Divino Oleiro, Àquele que o fez com suas próprias mãos. O homem é de Deus e, por isso, não pode por um poder humano no lugar de Deus. Assim Jesus resolve uma questão que aparecerá, depois, nas comunidades cristãs: como lidar com as autoridades constituídas. Estas podem e devem ser respeitadas, mas jamais colocadas no lugar de Deus, como fizeram os antigos soberanos, egípcios, romanos e outros.

Também hoje essa questão pode se reacender. Devemos ou não nos submetermos às autoridades constituídas? O Catecismo afirma no n. 1900 que devemos obedecer às autoridades legitimamente constituídas: “O dever de obediência impõe a todos a obrigação de tributar à autoridade as honras que lhe são devidas e de rodear de respeito e, segundo o seu mérito, de gratidão e benevolência, as pessoas que a exercem.” O Catecismo, no mesmo número, nos traz uma belíssima oração de São Clemente Romano, Papa, pelas autoridades civis, ele que governou a Igreja entre os anos 88 e 97, ou seja, num período de perseguição:

«Dai-lhes, Senhor, a saúde, a paz, a concórdia, a estabilidade, para que exerçam sem obstáculos a soberania que lhes confiastes. Sois Vós, ó mestre, celeste rei dos séculos, quem dá aos filhos dos homens glória, honra e poder sobre as coisas da terra. Dirigi, Senhor, o seu conselho segundo o que é bem, segundo o que é agradável aos vossos olhos, para que, exercendo com piedade, na paz e na mansidão, o poder que lhes destes, Vos encontrem propício.»

Todavia, não podemos colocar o poder civil acima do poder divino. Toda vez que um governo nos exigir algo que contrarie a nossa fé, somos chamados a nos manter na fidelidade a Deus, até o derramamento de sangue, se for necessário, como o fizeram tantos mártires antes de nós.

29º Domingo do Tempo Comum

19.10.2014
Is 45, 1.4-6
Sl 95 (96)
1Ts 1,1-5b
Mt 22,15-21

Padre Fábio Siqueira
Autor

Padre Fábio Siqueira

Vice-diretor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida