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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

Correção fraterna

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07/09/2014 00:00

Correção fraterna 0

07/09/2014 00:00

Correção fraterna  / Arqrio

"Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais os vossos corações" (Sl 94)

Na alegria do Espírito Santo reunimo-nos neste domingo para celebrar a Eucaristia. A Eucaristia é o centro do domingo cristão. Este “dia que o Senhor fez para nós” é o dia da Igreja, dia em que nos congregamos na Casa do Senhor para juntos ouvirmos o que Ele nos vai falar e juntos participarmos da mesa do Corpo e Sangue de Cristo.

Cada vez que nos reunimos para celebrar a Eucaristia o Senhor se faz presente no meio de nós de quatro formas (cf. Sacrosanctum Concilium, 7). O Senhor está presente naquele que preside esta celebração em seu nome; o Senhor está presente na assembleia que se reúne em seu nome, e hoje o Evangelho nos recorda isso quando o Senhor nos diz “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles”, e esta presença nos é também recordada em vários momentos da celebração quando o sacerdote diz “O Senhor esteja convosco” e a assembleia responde “Ele está no meio de nós”; o Senhor está presente na força da Sua Palavra que é proclamada para nós, por isso nos exorta hoje o salmo “Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais os vossos corações”; o Senhor está presente, sobretudo, nas espécies eucarísticas, no seu Corpo e Sangue que é dado a nós como uma verdadeira comida e uma verdadeira bebida espirituais.

Congregados para celebrar os divinos mistérios, ouvimos a Palavra do Senhor que nos exorta. A primeira leitura, do livro do profeta Ezequiel, é uma exortação de Deus ao profeta. O profeta, logo assim que recebe de Deus uma Palavra a respeito do pecador, deve comunicá-la ao mesmo pecador a fim de que se converta. Caso o pecador, mesmo tendo ouvido a voz do profeta, não se converta, o pecador morrerá por causa do seu pecado, mas o profeta será inocentado, porque não deixou de comunicar ao pecador a Palavra recebida. Todavia, se o profeta silenciar a sua voz e não exortar o pecador, o pecador morrerá por própria culpa, mas o profeta será cobrado pela morte do pecador, porque Ele silenciou a Palavra não exercendo o seu carisma profético.

O Evangelho que acabamos de ouvir nos narra uma Palavra semelhante. Aliás, a primeira leitura e o Evangelho estão sempre relacionados na missa de Domingo, fazendo um conjunto harmonioso que vai da profecia à plena realização em Cristo. Estamos diante da cena do discurso de Jesus sobre a Igreja e aqui temos um primeiro dito de Jesus que vai do versículo 15 ao 17. Este primeiro dito de Jesus diz respeito à “correção fraterna”. Jesus afirma que na comunidade, se o irmão pecar, ele deve ser corrigido por outro. Em primeiro lugar, em particular. Depois, caso não se emende, diante de duas ou três testemunhas. Por fim, se nem assim se emendar, à questão deve ser levada à Igreja. Se depois de todas as tentativas o irmão ainda quiser permanecer no pecado, ele deve então ser tratado como um pagão ou um pecador público.

Esta Palavra se torna muitas vezes difícil de ser compreendida no contexto eclesial que nós vivemos. Muitas vezes chegamos à assembleia eucarística e não conhecemos aqueles que dividem conosco o espaço sagrado. Perdemos o sentido de Igreja, não percebemos que somos membros uns dos outros, e por isso, ficamos muitas vezes isolados no nosso egoísmo, preocupamo-nos apenas com nossos próprios problemas e nossos próprios pecados e não nos ocupamos das dores e dos pecados dos nossos irmãos. Outras vezes, dominados pela soberba, espírito terrível, que nos diz que somos melhores que os demais, ao invés de uma salutar correção que brota sempre do mandamento do amor expresso hoje para nós na segunda leitura, onde o Apóstolo das Gentes afirma que “quem ama o próximo está cumprindo a Lei”, nos deixamos dominar pelo espírito da crítica destrutiva, que condena, que denigre a imagem do outro, que rebaixa o irmão para se superexaltar.

Devemos fugir tanto do espírito da crítica, filho da soberba, quando do espírito do indiferentismo diante dos irmãos, filho muitas vezes do egoísmo, que nos faz ficar centrados em nós mesmos e não considerarmo-nos parte de um todo. O Senhor nos exorta hoje a vivermos concretamente o amor e a sermos na vida dos irmãos uma voz profética que exorta, a fim de que ele retorne ao bom caminho. Muitas vezes, querendo ficar bem com todos, vemos o erro e o pecado do irmão e não nos pronunciamos. Temos medo que o irmão fique aborrecido conosco. Não podemos ser assim. Devemos cheios de caridade, cheios de amor pelo irmão, exortá-lo, a fim de que ele progrida na fé em Cristo. Se ele nos der ouvido, nós o teremos ganhado para Cristo!

Não podemos ser superficiais no amor. Somos um corpo e por isso tudo afeta a todos. Assim como acontece no nosso corpo acontece no Corpo Místico de Cristo que é a Igreja. Assim como quando uma parte do meu corpo está doente todo o meu corpo sofre, assim também acontece na Igreja. Quando um membro está doente, quando um membro está desencaminhado, quando um membro está no pecado, todos os outros membros sofrem com ele e, por isso, é responsabilidade de todos e de cada um ir ao encontro do membro que está doente – porque o pecado é a doença da alma – e aplicar-lhe o remédio da exortação, a fim de que ele “se converta e viva” (cf. Ez 18,23).

Vemos no Evangelho que separar o pecador da comunidade é o último recurso, aplicado somente quando de fato o pecador não quer converter-se nem dar ouvidos a voz de ninguém. Aí não é tanto a comunidade que o segrega como se estivesse querendo ser uma comunidade de puros, mas é o mesmo pecador que se auto-segrega fechando seus ouvidos à Palavra e seu coração à correção dos irmãos. A Igreja apenas ratifica essa segregação, porque Cristo estende aos demais ministros da Igreja a prerrogativa de Pedro afirmando “tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu”.

  Aqui podemos nos recordar de um texto do grande Abade São Bento que diz:

 “Se algum irmão frequentes vezes corrigido por qualquer culpa não se emendar, nem mesmo depois de excomungado, que incida sobre ele uma correção mais severa, isto é, use-se o castigo das varas. Se nem assim se corrigir, ou se por acaso, o que não aconteça, exaltado pela soberba, quiser mesmo defender suas ações, faça então o Abade como sábio médico: se aplicou as fomentações, os unguentos das exortações, os medicamentos das divinas Escrituras e enfim a cauterização da excomunhão e das pancadas de vara e vir que nada obtém com sua indústria, aplique então o que é maior: a sua oração e a de todos os irmãos por ele, para que o Senhor, que tudo pode, opere a salvação do irmão enfermo. Se nem dessa maneira se curar, use já agora o Abade o ferro da amputação, como diz o Apóstolo: "Tirai o mal do meio de vós" (1Cor 5,13) e também: "Se o infiel se vai, que se vá" (1Cor 7,15), a fim de que uma ovelha enferma não contagie todo o rebanho.” (cf. RB 28)

Vemos aplicada aqui, perfeitamente, a Palavra do Evangelho. Ao irmão que está doente de pecado, devem ser aplicados os “unguentos” das exortações; os “medicamentos das Divinas Escrituras”; a “cauterização” da excomunhão, que aqui não significa a expulsão da comunidade, mas a separação do irmão a fim de ser melhor cuidado; e o remédio maior, a oração do Abade e de todos os irmãos por ele, “para que o Senhor, que tudo pode, opere a salvação do irmão enfermo”. E aqui entendemos o que o Senhor quer dizer no Evangelho quando afirma: “(...) se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que quiserem pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está nos céus.” Neste contexto, essa palavra pode ser entendida como a oração em favor do irmão que está enfermo de pecado, a fim de que se “converta e viva”.

O “ferro da amputação” como diz São Bento, é usado somente em último caso, e com a finalidade de proteger os demais irmãos, da influência negativa daquele que não quer se converter e que pode vir a fazer com que outros irmãos se percam do mesmo modo.

Falamos até agora da perspectiva de quem corrige, mas devemos também lançar um outro olhar e ver essa Palavra de Deus sob a perspectiva de quem é corrigido, porque na Igreja, ora somos os que devem corrigir, ora somos os que devem ser corrigidos. Precisamos pedir que o Senhor nos revista do alto com o dom da humildade, para recebermos num coração tranquilo e pacificado a correção dos irmãos. Não devemos nos cansar de ser corrigidos. A correção dos irmãos, que nos vêem melhor do que nós nos vemos a nós mesmos, nos ajuda a progredir em Cristo. A correção fraterna vai fazendo com que a imagem de Cristo impressa em nós possa ir resplandecendo melhor a cada dia. Por isso irmãos, devemos ser humildes e estar abertos à correção, a fim de que não sejamos separados dos irmãos. Muitas vezes nós mesmos nos separamos da comunidade, porque não queremos acolher a correção. Ficamos aborrecidos porque alguém quis nos corrigir e aí nos afastamos. Não sejamos assim!

“Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações.” Hoje, irmãos, não endureçamos os nossos corações diante da Palavra do Senhor, mas deixemos que ela, a Palavra, pela sua potência, dilate os nossos corações, a fim de que tenhamos um coração que ama profundamente os irmãos, que não quer ficar devendo nada “a não ser o amor fraterno” como nos diz a segunda leitura, a fim de que cheios desse amor possamos exortar e corrigir fraternalmente os que se acham no erro para que se “convertam e vivam” (cf. Ez 18,23); um coração que ama profundamente a Deus e quer sempre mais progredir na virtude, a fim de quando corrigidos, possamos acolher num coração tranquilo a palavra dos irmãos, a fim de que a imagem de Cristo resplandeça cada vez melhor em nós.

Liturgia Dominical:

07.09.2014

Ez 33,7-9

Sl 94 (95)

Rm 13,8-10

Mt 18,15-20

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07/09/2014 00:00

"Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais os vossos corações" (Sl 94)

Na alegria do Espírito Santo reunimo-nos neste domingo para celebrar a Eucaristia. A Eucaristia é o centro do domingo cristão. Este “dia que o Senhor fez para nós” é o dia da Igreja, dia em que nos congregamos na Casa do Senhor para juntos ouvirmos o que Ele nos vai falar e juntos participarmos da mesa do Corpo e Sangue de Cristo.

Cada vez que nos reunimos para celebrar a Eucaristia o Senhor se faz presente no meio de nós de quatro formas (cf. Sacrosanctum Concilium, 7). O Senhor está presente naquele que preside esta celebração em seu nome; o Senhor está presente na assembleia que se reúne em seu nome, e hoje o Evangelho nos recorda isso quando o Senhor nos diz “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles”, e esta presença nos é também recordada em vários momentos da celebração quando o sacerdote diz “O Senhor esteja convosco” e a assembleia responde “Ele está no meio de nós”; o Senhor está presente na força da Sua Palavra que é proclamada para nós, por isso nos exorta hoje o salmo “Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais os vossos corações”; o Senhor está presente, sobretudo, nas espécies eucarísticas, no seu Corpo e Sangue que é dado a nós como uma verdadeira comida e uma verdadeira bebida espirituais.

Congregados para celebrar os divinos mistérios, ouvimos a Palavra do Senhor que nos exorta. A primeira leitura, do livro do profeta Ezequiel, é uma exortação de Deus ao profeta. O profeta, logo assim que recebe de Deus uma Palavra a respeito do pecador, deve comunicá-la ao mesmo pecador a fim de que se converta. Caso o pecador, mesmo tendo ouvido a voz do profeta, não se converta, o pecador morrerá por causa do seu pecado, mas o profeta será inocentado, porque não deixou de comunicar ao pecador a Palavra recebida. Todavia, se o profeta silenciar a sua voz e não exortar o pecador, o pecador morrerá por própria culpa, mas o profeta será cobrado pela morte do pecador, porque Ele silenciou a Palavra não exercendo o seu carisma profético.

O Evangelho que acabamos de ouvir nos narra uma Palavra semelhante. Aliás, a primeira leitura e o Evangelho estão sempre relacionados na missa de Domingo, fazendo um conjunto harmonioso que vai da profecia à plena realização em Cristo. Estamos diante da cena do discurso de Jesus sobre a Igreja e aqui temos um primeiro dito de Jesus que vai do versículo 15 ao 17. Este primeiro dito de Jesus diz respeito à “correção fraterna”. Jesus afirma que na comunidade, se o irmão pecar, ele deve ser corrigido por outro. Em primeiro lugar, em particular. Depois, caso não se emende, diante de duas ou três testemunhas. Por fim, se nem assim se emendar, à questão deve ser levada à Igreja. Se depois de todas as tentativas o irmão ainda quiser permanecer no pecado, ele deve então ser tratado como um pagão ou um pecador público.

Esta Palavra se torna muitas vezes difícil de ser compreendida no contexto eclesial que nós vivemos. Muitas vezes chegamos à assembleia eucarística e não conhecemos aqueles que dividem conosco o espaço sagrado. Perdemos o sentido de Igreja, não percebemos que somos membros uns dos outros, e por isso, ficamos muitas vezes isolados no nosso egoísmo, preocupamo-nos apenas com nossos próprios problemas e nossos próprios pecados e não nos ocupamos das dores e dos pecados dos nossos irmãos. Outras vezes, dominados pela soberba, espírito terrível, que nos diz que somos melhores que os demais, ao invés de uma salutar correção que brota sempre do mandamento do amor expresso hoje para nós na segunda leitura, onde o Apóstolo das Gentes afirma que “quem ama o próximo está cumprindo a Lei”, nos deixamos dominar pelo espírito da crítica destrutiva, que condena, que denigre a imagem do outro, que rebaixa o irmão para se superexaltar.

Devemos fugir tanto do espírito da crítica, filho da soberba, quando do espírito do indiferentismo diante dos irmãos, filho muitas vezes do egoísmo, que nos faz ficar centrados em nós mesmos e não considerarmo-nos parte de um todo. O Senhor nos exorta hoje a vivermos concretamente o amor e a sermos na vida dos irmãos uma voz profética que exorta, a fim de que ele retorne ao bom caminho. Muitas vezes, querendo ficar bem com todos, vemos o erro e o pecado do irmão e não nos pronunciamos. Temos medo que o irmão fique aborrecido conosco. Não podemos ser assim. Devemos cheios de caridade, cheios de amor pelo irmão, exortá-lo, a fim de que ele progrida na fé em Cristo. Se ele nos der ouvido, nós o teremos ganhado para Cristo!

Não podemos ser superficiais no amor. Somos um corpo e por isso tudo afeta a todos. Assim como acontece no nosso corpo acontece no Corpo Místico de Cristo que é a Igreja. Assim como quando uma parte do meu corpo está doente todo o meu corpo sofre, assim também acontece na Igreja. Quando um membro está doente, quando um membro está desencaminhado, quando um membro está no pecado, todos os outros membros sofrem com ele e, por isso, é responsabilidade de todos e de cada um ir ao encontro do membro que está doente – porque o pecado é a doença da alma – e aplicar-lhe o remédio da exortação, a fim de que ele “se converta e viva” (cf. Ez 18,23).

Vemos no Evangelho que separar o pecador da comunidade é o último recurso, aplicado somente quando de fato o pecador não quer converter-se nem dar ouvidos a voz de ninguém. Aí não é tanto a comunidade que o segrega como se estivesse querendo ser uma comunidade de puros, mas é o mesmo pecador que se auto-segrega fechando seus ouvidos à Palavra e seu coração à correção dos irmãos. A Igreja apenas ratifica essa segregação, porque Cristo estende aos demais ministros da Igreja a prerrogativa de Pedro afirmando “tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu”.

  Aqui podemos nos recordar de um texto do grande Abade São Bento que diz:

 “Se algum irmão frequentes vezes corrigido por qualquer culpa não se emendar, nem mesmo depois de excomungado, que incida sobre ele uma correção mais severa, isto é, use-se o castigo das varas. Se nem assim se corrigir, ou se por acaso, o que não aconteça, exaltado pela soberba, quiser mesmo defender suas ações, faça então o Abade como sábio médico: se aplicou as fomentações, os unguentos das exortações, os medicamentos das divinas Escrituras e enfim a cauterização da excomunhão e das pancadas de vara e vir que nada obtém com sua indústria, aplique então o que é maior: a sua oração e a de todos os irmãos por ele, para que o Senhor, que tudo pode, opere a salvação do irmão enfermo. Se nem dessa maneira se curar, use já agora o Abade o ferro da amputação, como diz o Apóstolo: "Tirai o mal do meio de vós" (1Cor 5,13) e também: "Se o infiel se vai, que se vá" (1Cor 7,15), a fim de que uma ovelha enferma não contagie todo o rebanho.” (cf. RB 28)

Vemos aplicada aqui, perfeitamente, a Palavra do Evangelho. Ao irmão que está doente de pecado, devem ser aplicados os “unguentos” das exortações; os “medicamentos das Divinas Escrituras”; a “cauterização” da excomunhão, que aqui não significa a expulsão da comunidade, mas a separação do irmão a fim de ser melhor cuidado; e o remédio maior, a oração do Abade e de todos os irmãos por ele, “para que o Senhor, que tudo pode, opere a salvação do irmão enfermo”. E aqui entendemos o que o Senhor quer dizer no Evangelho quando afirma: “(...) se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que quiserem pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está nos céus.” Neste contexto, essa palavra pode ser entendida como a oração em favor do irmão que está enfermo de pecado, a fim de que se “converta e viva”.

O “ferro da amputação” como diz São Bento, é usado somente em último caso, e com a finalidade de proteger os demais irmãos, da influência negativa daquele que não quer se converter e que pode vir a fazer com que outros irmãos se percam do mesmo modo.

Falamos até agora da perspectiva de quem corrige, mas devemos também lançar um outro olhar e ver essa Palavra de Deus sob a perspectiva de quem é corrigido, porque na Igreja, ora somos os que devem corrigir, ora somos os que devem ser corrigidos. Precisamos pedir que o Senhor nos revista do alto com o dom da humildade, para recebermos num coração tranquilo e pacificado a correção dos irmãos. Não devemos nos cansar de ser corrigidos. A correção dos irmãos, que nos vêem melhor do que nós nos vemos a nós mesmos, nos ajuda a progredir em Cristo. A correção fraterna vai fazendo com que a imagem de Cristo impressa em nós possa ir resplandecendo melhor a cada dia. Por isso irmãos, devemos ser humildes e estar abertos à correção, a fim de que não sejamos separados dos irmãos. Muitas vezes nós mesmos nos separamos da comunidade, porque não queremos acolher a correção. Ficamos aborrecidos porque alguém quis nos corrigir e aí nos afastamos. Não sejamos assim!

“Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações.” Hoje, irmãos, não endureçamos os nossos corações diante da Palavra do Senhor, mas deixemos que ela, a Palavra, pela sua potência, dilate os nossos corações, a fim de que tenhamos um coração que ama profundamente os irmãos, que não quer ficar devendo nada “a não ser o amor fraterno” como nos diz a segunda leitura, a fim de que cheios desse amor possamos exortar e corrigir fraternalmente os que se acham no erro para que se “convertam e vivam” (cf. Ez 18,23); um coração que ama profundamente a Deus e quer sempre mais progredir na virtude, a fim de quando corrigidos, possamos acolher num coração tranquilo a palavra dos irmãos, a fim de que a imagem de Cristo resplandeça cada vez melhor em nós.

Liturgia Dominical:

07.09.2014

Ez 33,7-9

Sl 94 (95)

Rm 13,8-10

Mt 18,15-20

Padre Fábio Siqueira
Autor

Padre Fábio Siqueira

Vice-diretor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida