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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 10/05/2024

10 de Maio de 2024

"Do Rio a Cracóvia: Perspectivas de Misericórdia para Jovens"

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19/08/2014 19:46 - Atualizado em 19/08/2014 19:46

"Do Rio a Cracóvia: Perspectivas de Misericórdia para Jovens" 0

19/08/2014 19:46 - Atualizado em 19/08/2014 19:46

Conferência do III Congresso Mundial Apostólico da Misericórdia, Colômbia, 15 a 19 de agosto de 2014


Já no encerramento deste III Congresso Mundial Apostólico da Misericórdia volto os olhos para estes dias que aqui vivemos, acolhidos por esta arquidiocese e agradecidos pela comissão organizadora deste evento. Tenho certeza de que, após Roma e a Polônia, este Congresso está sendo uma ótima ocasião da Igreja contribuir para a paz neste país, curando as feridas com a experiência do perdão misericordioso.

Nestes tempos tão difíceis e violentos que ora vivemos, sem dúvida que, ao lado da presença e proximidade junto às pessoas que sofrem, somos chamados a ser no mundo um sinal que abranja compromissos muito concretos na vida de nossos povos e países.

Na década de 70 do século passado, o Papa Paulo VI assim se expressava, em discurso aos membros do Conselho de Leigos, em 2 de outubro de 1974, transcrito na Exortação Apostólica “Evangelii Nuntiandi” (nº41): “Para a Igreja, o testemunho de uma vida autenticamente cristã, entregue nas mãos de Deus, numa comunhão que nada deverá interromper, e dedicada ao próximo com um zelo sem limites, é o primeiro meio de evangelização. ‘O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, dizíamos ainda recentemente a um grupo de leigos, ou então se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas’ ”.

Naquela época, em que se respirava a primavera da Igreja suscitada pelo Concílio Vaticano II, começava a florescer a Nova Evangelização. Esta trajetória missionária hoje prossegue suscitando copiosos frutos que, por sua vez, produzem novas sementes, na dinâmica do discipulado missionário à qual nos conduziu o Papa Bento XVI, por meio de seu magistério petrino durante a V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, em Aparecida (Brasil, 2007).

Dentre estes frutos, amadurecidos sob o sol que é Cristo a iluminar sua Igreja, destaca-se a Jornada Mundial da Juventude. O Espírito inspirou a São João Paulo II a criação daquele que viria a ser o maior evento de evangelização do nosso tempo. Auscultando o coração do mundo contemporâneo, concluímos que hoje, mais do que nunca, a força do testemunho supera todas as demais iniciativas de evangelização. Isto é o que o Papa Francisco quer nos ensinar, quando exorta: “Sabem qual é o melhor instrumento para evangelizar os jovens? Outro jovem!” (Santa Missa pela XXVIII Jornada Mundial da Juventude, em Copacabana, Rio de Janeiro).

Sejamos testemunhas, palavra que significativamente traduz o termo grego martyr. Esta é a vocação do cristão em nossos dias: dar o testemunho com a própria vida. E o que temos a testemunhar para o mundo? Sem dúvida, a misericórdia de Deus! Misericórdia que eleva a justiça à gratuidade do amor. Esse amor gratuito levou o Filho de Deus a dar a vida por nós.

No Rio de Janeiro, em julho do ano passado, tivemos a oportunidade de fazer uma bela experiência, com uma juventude que deixou marcas profundas pelo seu testemunho e exemplo, no encontro que tiveram com Cristo na JMJ Rio2013. A Jornada foi presidida pelo Papa Francisco, que assim fez a sua primeira viagem apostólica internacional e, com suas palavras, começou a lançar as bases e metas de seu pontificado, mais tarde expressas na Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”.

Aqueles jovens nos deram a oportunidade de fazer a experiência da acolhida. Eles também demonstraram a força do testemunho diante dos grupos minoritários que tentaram se aproveitar do evento, procurando fazer alguns atos de vandalismo, violência e vilipêndio. Demonstraram um coração misericordioso e evangelizaram.

O tema que norteou o mundo jovem a viver mais essa Jornada foi a missão: “Ide e fazei discípulos entre todas as nações”. O Papa Francisco resumiu sua homilia, diante de mais de três milhões e setecentas mil pessoas em Copacabana, e outros milhões pelo mundo através dos meios de comunicação social, em três ideias: “Ide, sem medo, para servir”.

O mundo jovem, assim enviado pelo Santo Padre, foi convidado para mais uma etapa nesse testemunho, que irão dar agora em Cracóvia, justamente onde se situa o “Santuário da Divina Misericórdia”. Dali partiu a experiência de São João Paulo II tanto para acolher a juventude como para divulgar o anúncio da misericórdia ao estabelecer, entre outras atividades, o segundo domingo da Páscoa, o “Domingo da Misericórdia”. Sabemos que ele voltou ao Pai justamente nas primeiras vésperas desse domingo.

De fato, a misericórdia é algo central na mensagem de Jesus a respeito de Deus e de seu Reino. Jesus não prega um Deus que seja apenas poderoso; Ele prega um Deus Pai de amor, próximo de cada ser humano. Dessa maneira, Jesus promove uma nova e coerente interpretação de toda a revelação desde a criação, evidenciando que o Pai sempre se manifestou a nós como "Deus rico em misericórdia".

A reflexão de São João Paulo II na encíclica “Dives in Misericórdia” nos orienta, não obstante o aspecto cristocêntrico de nossa fé na misericórdia de Deus, sobre duas expressões profundamente eclesiais da Misericórdia Divina: a Eucaristia e Maria Santíssima. Estas foram as principais ênfases de nossa Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro e, certamente, o serão em Cracóvia.

O mistério da Eucaristia e o significado de Maria, imagem da Igreja, estão profundamente unidos à obra da Redenção realizada por Cristo e pela qual a misericórdia brilhou como luz sobre toda a humanidade: a Eucaristia é celebração da entrega pascal de Jesus e Maria, é Mãe do Verbo Encarnado, primeira patena pela qual o mundo conheceu o Salvador.

O Papa Francisco, ao final da missa de envio em Copacabana, no dia 28 de julho de 2013, anunciou que a próxima Jornada Mundial da Juventude, em 2016, será em Cracóvia, Polônia, terra de São João Paulo II, iniciador das JMJs e da Divina Misericórdia.

Todos sabemos que o lema do Papa Francisco está ligado ao tema da misericórdia: “Miserando atque eligendo", ou seja, “Olhou com misericórdia e o escolheu”. E essa tem sido uma temática constante de seu pontificado, no qual, por palavras e gestos, ele optou em fazer um constante anúncio da Boa Notícia ao mundo machucado e ferido: Deus tanto amou o mundo que enviou o Seu Filho para dar a vida por todos nós (cf. Jo 3,16).

Agora, ao olhar para a JMJ 2016 de Cracóvia, ele demonstra com clareza a direção, pois escolheu o tema da misericórdia: “Bem aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia” (Mt 5,7).

Examinando este atributo de Deus, a partir do Antigo Testamento, vemos que o termo hebraico Hesed é traduzido na LXX por eleos e na Vulgata, por “misericórdia”. Em toda a Sagrada Escritura encontramos, tanto no Antigo como no Novo Testamento, palavras e gestos que anunciam essa atitude de um Deus misericordioso, que somos chamados a anunciar experimentando em nossas vidas essa presença. O Evangelho de Lucas descreve a figura do Pai misericordioso que acolhe o filho pródigo (cf. Lc 15,11-32).

O reconhecimento da misericórdia de Deus é a porta que abre o caminho da evangelização, porque somente ela pode tocar o coração do homem ferido pelos golpes da vida e abri-lo à conversão. Não há, portanto, ensinamento que possa penetrar os atalhos escuros do sofrimento, as periferias existenciais, se ainda não foram tocadas pela misericórdia, pelo abraço do Pai ao filho pródigo. Este abraço se faz através dos nossos gestos humanos, impregnados de caridade fraterna.

Papa Francisco, o grande arauto da misericórdia de Deus para o nosso tempo, aborda este tema em inúmeras alocuções. Um exemplo marcante encontra-se neste trecho, extraído das palavras que nos dirigiu por ocasião da Via-Sacra com os jovens na Praia de Copacabana, durante a JMJ Rio2013: “Na Cruz de Cristo, está todo o amor de Deus, a sua imensa misericórdia. E este é um amor em que podemos confiar, em que podemos crer.[...] Mas a Cruz de Cristo também nos convida a deixar-nos contagiar por este amor; ensina-nos, pois, a olhar sempre para o outro com misericórdia e amor, sobretudo quem sofre, quem tem necessidade de ajuda, quem espera uma palavra, um gesto; ensina-nos a sair de nós mesmos para ir ao encontro destas pessoas e lhes estender a mão.”

A busca da paz em nossos países é grande. Não sabemos como os processos de paz vão terminar, mas a Igreja tem o dever de trabalhar pela misericórdia. É um dever nosso nos aproximar da dor de cada pessoa. Temos que criar a mentalidade de chegar mais perto daqueles que sofrem. A misericórdia vem dessa proximidade de coração com a miséria humana, as injustiças, naquelas famílias que foram avassaladas pela violência em nossas pátrias. Vimos neste Congresso o amplo espaço que será dado à relação entre a Misericórdia e a Missão Continental, um dos grandes compromissos assumidos pela 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, em Aparecida, em maio de 2007, para relançar a dimensão missionária da Igreja.

Neste Congresso Mundial da Misericórdia deixamos esta mensagem para a Igreja em Cracóvia e seus jovens. A juventude que caminha do Rio de Janeiro para Cracóvia, junto com a missão de “fazer discípulos”, é chamada a viver a “misericórdia” nestes tempos nebulosos e difíceis em que a crise de valores se instalou em nossa sociedade. Somos todos chamados a viver a missionariedade. A vivermos a missão permanente. E essa missão de ir e fazer discípulos está sendo traduzida hoje para nós em “ser misericordiosos”.

A Jornada Mundial da Juventude Rio2013 já começou a dar frutos ao longo deste primeiro aniversário, na forma de testemunhos recebidos de várias partes do mundo e projetos que estamos encaminhando, como o Instituto para a Juventude. Esperamos agora que o tempo vá acompanhando o germinar das sementes em terra boa e, assim, surjam novos frutos maduros, de trinta, sessenta, cem por um (cf. Mt 13,7).

Os frutos de uma Jornada não podem ser percebidos apenas pelos sinais externos, mas muito mais por aquilo que acontece no coração das pessoas e a experiência de Deus que fazem. A inspiração de São João Paulo II ao criar as JMJs só se poderá analisar ao longo dos tempos como uma grande oportunidade de mudar o mundo com o exemplo de vida dos cristãos.

Dos frutos já colhidos entregamos a vocês as sementes para que as semeiem em novas terras. Espalhem o testemunho da maravilhosa obra que o amor misericordioso de Deus realiza em suas vidas e vão lançando essas sementes ao longo de sua caminhada. Certamente outros virão se juntar a vocês, pois o verdadeiro discípulo-missionário não caminha sozinho. Aqueles que são tocados pelo chamado se aproximam e manifestam a mesma curiosidade, já impregnada de atração, dos discípulos quando abordaram Jesus: “Mestre, onde moras?” Ao que Ele respondeu com aquelas palavras que devem ser o nosso convite a cada pessoa que nos pede a “razão de nossa esperança”: “Vinde e vêde” (cf. Jo 1,38-39 e 1Pd 3,15). Convidem a todos para que venham e vejam o que o amor de Deus pode fazer naqueles que O acolhem.

O lema da JMJ Rio2013 – “Ide e fazei discípulos entre todas as nações” (Mt 28,19), nos propôs um empenho missionário que encontra sua finalidade na promessa contida no lema da JMJ Cracóvia 2016 – "Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão a misericórdia” (Mt 5,7).

Sejam missionários, façam discípulos com seu testemunho, para que eles creiam na promessa da misericórdia que receberão de Deus. O encontro com este abraço misericordioso é a meta de nossa vida e causa da nossa alegria. Alegria de sermos convocados para uma nova evangelização que nos leve a viver uma Igreja missionária que experimenta e partilha a misericórdia, que vai em busca dos mais pobres e excluídos anunciando e testemunhando a fonte dessa misericórdia, que é o próprio Deus.

Eis a grande missão que os jovens que caminham do Rio para Cracóvia são chamados a viver e anunciar!

 

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19/08/2014 19:46 - Atualizado em 19/08/2014 19:46

Conferência do III Congresso Mundial Apostólico da Misericórdia, Colômbia, 15 a 19 de agosto de 2014


Já no encerramento deste III Congresso Mundial Apostólico da Misericórdia volto os olhos para estes dias que aqui vivemos, acolhidos por esta arquidiocese e agradecidos pela comissão organizadora deste evento. Tenho certeza de que, após Roma e a Polônia, este Congresso está sendo uma ótima ocasião da Igreja contribuir para a paz neste país, curando as feridas com a experiência do perdão misericordioso.

Nestes tempos tão difíceis e violentos que ora vivemos, sem dúvida que, ao lado da presença e proximidade junto às pessoas que sofrem, somos chamados a ser no mundo um sinal que abranja compromissos muito concretos na vida de nossos povos e países.

Na década de 70 do século passado, o Papa Paulo VI assim se expressava, em discurso aos membros do Conselho de Leigos, em 2 de outubro de 1974, transcrito na Exortação Apostólica “Evangelii Nuntiandi” (nº41): “Para a Igreja, o testemunho de uma vida autenticamente cristã, entregue nas mãos de Deus, numa comunhão que nada deverá interromper, e dedicada ao próximo com um zelo sem limites, é o primeiro meio de evangelização. ‘O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, dizíamos ainda recentemente a um grupo de leigos, ou então se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas’ ”.

Naquela época, em que se respirava a primavera da Igreja suscitada pelo Concílio Vaticano II, começava a florescer a Nova Evangelização. Esta trajetória missionária hoje prossegue suscitando copiosos frutos que, por sua vez, produzem novas sementes, na dinâmica do discipulado missionário à qual nos conduziu o Papa Bento XVI, por meio de seu magistério petrino durante a V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, em Aparecida (Brasil, 2007).

Dentre estes frutos, amadurecidos sob o sol que é Cristo a iluminar sua Igreja, destaca-se a Jornada Mundial da Juventude. O Espírito inspirou a São João Paulo II a criação daquele que viria a ser o maior evento de evangelização do nosso tempo. Auscultando o coração do mundo contemporâneo, concluímos que hoje, mais do que nunca, a força do testemunho supera todas as demais iniciativas de evangelização. Isto é o que o Papa Francisco quer nos ensinar, quando exorta: “Sabem qual é o melhor instrumento para evangelizar os jovens? Outro jovem!” (Santa Missa pela XXVIII Jornada Mundial da Juventude, em Copacabana, Rio de Janeiro).

Sejamos testemunhas, palavra que significativamente traduz o termo grego martyr. Esta é a vocação do cristão em nossos dias: dar o testemunho com a própria vida. E o que temos a testemunhar para o mundo? Sem dúvida, a misericórdia de Deus! Misericórdia que eleva a justiça à gratuidade do amor. Esse amor gratuito levou o Filho de Deus a dar a vida por nós.

No Rio de Janeiro, em julho do ano passado, tivemos a oportunidade de fazer uma bela experiência, com uma juventude que deixou marcas profundas pelo seu testemunho e exemplo, no encontro que tiveram com Cristo na JMJ Rio2013. A Jornada foi presidida pelo Papa Francisco, que assim fez a sua primeira viagem apostólica internacional e, com suas palavras, começou a lançar as bases e metas de seu pontificado, mais tarde expressas na Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”.

Aqueles jovens nos deram a oportunidade de fazer a experiência da acolhida. Eles também demonstraram a força do testemunho diante dos grupos minoritários que tentaram se aproveitar do evento, procurando fazer alguns atos de vandalismo, violência e vilipêndio. Demonstraram um coração misericordioso e evangelizaram.

O tema que norteou o mundo jovem a viver mais essa Jornada foi a missão: “Ide e fazei discípulos entre todas as nações”. O Papa Francisco resumiu sua homilia, diante de mais de três milhões e setecentas mil pessoas em Copacabana, e outros milhões pelo mundo através dos meios de comunicação social, em três ideias: “Ide, sem medo, para servir”.

O mundo jovem, assim enviado pelo Santo Padre, foi convidado para mais uma etapa nesse testemunho, que irão dar agora em Cracóvia, justamente onde se situa o “Santuário da Divina Misericórdia”. Dali partiu a experiência de São João Paulo II tanto para acolher a juventude como para divulgar o anúncio da misericórdia ao estabelecer, entre outras atividades, o segundo domingo da Páscoa, o “Domingo da Misericórdia”. Sabemos que ele voltou ao Pai justamente nas primeiras vésperas desse domingo.

De fato, a misericórdia é algo central na mensagem de Jesus a respeito de Deus e de seu Reino. Jesus não prega um Deus que seja apenas poderoso; Ele prega um Deus Pai de amor, próximo de cada ser humano. Dessa maneira, Jesus promove uma nova e coerente interpretação de toda a revelação desde a criação, evidenciando que o Pai sempre se manifestou a nós como "Deus rico em misericórdia".

A reflexão de São João Paulo II na encíclica “Dives in Misericórdia” nos orienta, não obstante o aspecto cristocêntrico de nossa fé na misericórdia de Deus, sobre duas expressões profundamente eclesiais da Misericórdia Divina: a Eucaristia e Maria Santíssima. Estas foram as principais ênfases de nossa Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro e, certamente, o serão em Cracóvia.

O mistério da Eucaristia e o significado de Maria, imagem da Igreja, estão profundamente unidos à obra da Redenção realizada por Cristo e pela qual a misericórdia brilhou como luz sobre toda a humanidade: a Eucaristia é celebração da entrega pascal de Jesus e Maria, é Mãe do Verbo Encarnado, primeira patena pela qual o mundo conheceu o Salvador.

O Papa Francisco, ao final da missa de envio em Copacabana, no dia 28 de julho de 2013, anunciou que a próxima Jornada Mundial da Juventude, em 2016, será em Cracóvia, Polônia, terra de São João Paulo II, iniciador das JMJs e da Divina Misericórdia.

Todos sabemos que o lema do Papa Francisco está ligado ao tema da misericórdia: “Miserando atque eligendo", ou seja, “Olhou com misericórdia e o escolheu”. E essa tem sido uma temática constante de seu pontificado, no qual, por palavras e gestos, ele optou em fazer um constante anúncio da Boa Notícia ao mundo machucado e ferido: Deus tanto amou o mundo que enviou o Seu Filho para dar a vida por todos nós (cf. Jo 3,16).

Agora, ao olhar para a JMJ 2016 de Cracóvia, ele demonstra com clareza a direção, pois escolheu o tema da misericórdia: “Bem aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia” (Mt 5,7).

Examinando este atributo de Deus, a partir do Antigo Testamento, vemos que o termo hebraico Hesed é traduzido na LXX por eleos e na Vulgata, por “misericórdia”. Em toda a Sagrada Escritura encontramos, tanto no Antigo como no Novo Testamento, palavras e gestos que anunciam essa atitude de um Deus misericordioso, que somos chamados a anunciar experimentando em nossas vidas essa presença. O Evangelho de Lucas descreve a figura do Pai misericordioso que acolhe o filho pródigo (cf. Lc 15,11-32).

O reconhecimento da misericórdia de Deus é a porta que abre o caminho da evangelização, porque somente ela pode tocar o coração do homem ferido pelos golpes da vida e abri-lo à conversão. Não há, portanto, ensinamento que possa penetrar os atalhos escuros do sofrimento, as periferias existenciais, se ainda não foram tocadas pela misericórdia, pelo abraço do Pai ao filho pródigo. Este abraço se faz através dos nossos gestos humanos, impregnados de caridade fraterna.

Papa Francisco, o grande arauto da misericórdia de Deus para o nosso tempo, aborda este tema em inúmeras alocuções. Um exemplo marcante encontra-se neste trecho, extraído das palavras que nos dirigiu por ocasião da Via-Sacra com os jovens na Praia de Copacabana, durante a JMJ Rio2013: “Na Cruz de Cristo, está todo o amor de Deus, a sua imensa misericórdia. E este é um amor em que podemos confiar, em que podemos crer.[...] Mas a Cruz de Cristo também nos convida a deixar-nos contagiar por este amor; ensina-nos, pois, a olhar sempre para o outro com misericórdia e amor, sobretudo quem sofre, quem tem necessidade de ajuda, quem espera uma palavra, um gesto; ensina-nos a sair de nós mesmos para ir ao encontro destas pessoas e lhes estender a mão.”

A busca da paz em nossos países é grande. Não sabemos como os processos de paz vão terminar, mas a Igreja tem o dever de trabalhar pela misericórdia. É um dever nosso nos aproximar da dor de cada pessoa. Temos que criar a mentalidade de chegar mais perto daqueles que sofrem. A misericórdia vem dessa proximidade de coração com a miséria humana, as injustiças, naquelas famílias que foram avassaladas pela violência em nossas pátrias. Vimos neste Congresso o amplo espaço que será dado à relação entre a Misericórdia e a Missão Continental, um dos grandes compromissos assumidos pela 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, em Aparecida, em maio de 2007, para relançar a dimensão missionária da Igreja.

Neste Congresso Mundial da Misericórdia deixamos esta mensagem para a Igreja em Cracóvia e seus jovens. A juventude que caminha do Rio de Janeiro para Cracóvia, junto com a missão de “fazer discípulos”, é chamada a viver a “misericórdia” nestes tempos nebulosos e difíceis em que a crise de valores se instalou em nossa sociedade. Somos todos chamados a viver a missionariedade. A vivermos a missão permanente. E essa missão de ir e fazer discípulos está sendo traduzida hoje para nós em “ser misericordiosos”.

A Jornada Mundial da Juventude Rio2013 já começou a dar frutos ao longo deste primeiro aniversário, na forma de testemunhos recebidos de várias partes do mundo e projetos que estamos encaminhando, como o Instituto para a Juventude. Esperamos agora que o tempo vá acompanhando o germinar das sementes em terra boa e, assim, surjam novos frutos maduros, de trinta, sessenta, cem por um (cf. Mt 13,7).

Os frutos de uma Jornada não podem ser percebidos apenas pelos sinais externos, mas muito mais por aquilo que acontece no coração das pessoas e a experiência de Deus que fazem. A inspiração de São João Paulo II ao criar as JMJs só se poderá analisar ao longo dos tempos como uma grande oportunidade de mudar o mundo com o exemplo de vida dos cristãos.

Dos frutos já colhidos entregamos a vocês as sementes para que as semeiem em novas terras. Espalhem o testemunho da maravilhosa obra que o amor misericordioso de Deus realiza em suas vidas e vão lançando essas sementes ao longo de sua caminhada. Certamente outros virão se juntar a vocês, pois o verdadeiro discípulo-missionário não caminha sozinho. Aqueles que são tocados pelo chamado se aproximam e manifestam a mesma curiosidade, já impregnada de atração, dos discípulos quando abordaram Jesus: “Mestre, onde moras?” Ao que Ele respondeu com aquelas palavras que devem ser o nosso convite a cada pessoa que nos pede a “razão de nossa esperança”: “Vinde e vêde” (cf. Jo 1,38-39 e 1Pd 3,15). Convidem a todos para que venham e vejam o que o amor de Deus pode fazer naqueles que O acolhem.

O lema da JMJ Rio2013 – “Ide e fazei discípulos entre todas as nações” (Mt 28,19), nos propôs um empenho missionário que encontra sua finalidade na promessa contida no lema da JMJ Cracóvia 2016 – "Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão a misericórdia” (Mt 5,7).

Sejam missionários, façam discípulos com seu testemunho, para que eles creiam na promessa da misericórdia que receberão de Deus. O encontro com este abraço misericordioso é a meta de nossa vida e causa da nossa alegria. Alegria de sermos convocados para uma nova evangelização que nos leve a viver uma Igreja missionária que experimenta e partilha a misericórdia, que vai em busca dos mais pobres e excluídos anunciando e testemunhando a fonte dessa misericórdia, que é o próprio Deus.

Eis a grande missão que os jovens que caminham do Rio para Cracóvia são chamados a viver e anunciar!

 

Cardeal Orani João Tempesta
Autor

Cardeal Orani João Tempesta

Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro