Arquidiocese do Rio de Janeiro

29º 22º

Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 10/05/2024

10 de Maio de 2024

A caridade da Beata Irmã Dulce

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10 de Maio de 2024

A caridade da Beata Irmã Dulce

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06/07/2014 17:41 - Atualizado em 06/07/2014 17:44

A caridade da Beata Irmã Dulce 0

06/07/2014 17:41 - Atualizado em 06/07/2014 17:44

Confira os áudios

Estão peregrinando pela nossa Arquidiocese as relíquias da Irmã Dulce. Vindas para a JMJ Rio 2013 há um ano, agora estão visitando as obras sociais da Igreja em nossa Arquidiocese. É um incentivo para o Ano da Caridade refletirmos sobre a missão da grande irmã que em terras baianas deixou-nos em belo exemplo de amor ao próximo.

Maria Rita era o nome de Batismo de Irmã Dulce, que tomou esse nome religioso em homenagem à sua mãe, a senhora Dulce Maria, e foi com ele que ficou conhecida em todo o Brasil e também no exterior como a “Irmã Dulce dos Pobres” ou ainda como “Anjo bom da Bahia”.

Nascida em 26 de maio de 1914, em uma família de certas posses materiais, hesitou um pouco se realizaria sua vocação cristã no matrimônio ou na vida religiosa, pois não sabia ainda se o seu amor seria dedicado a um marido e aos filhos, frutos de seu matrimônio, ou a um esposo especial, Jesus Cristo, e aos muitíssimos filhos espirituais que viriam dessa união esponsal mística.

Essa dúvida, porém, não perdurou por muito tempo, uma vez que, desde os 13 anos, ao visitar, com uma tia, locais carentes de seu Estado natal, passou a conceber a ideia de dedicar-se aos menos favorecidos ou aos sofredores de seu tempo. Isso teria de ser por meio da vida religiosa, uma vez que leigos(as) consagrados(as) em institutos seculares não eram suficientemente conhecidos antes da década de 1940, quando o Papa Pio XII aprovou esse modelo de vida.

Maria Rita recorre, então, ao convento de Santa Clara do Desterro, em Salvador, e as freiras a aconselham a não ingressar naquele ano, mas, sim, a estudar primeiro e, concomitantemente, rezar e meditar a respeito de sua vocação. Isso motivou a jovenzinha a dedicar-se ao curso de Magistério, que, na época, formava as professoras primárias, concluído em 1932.

Os estudos, todavia, não a impediam de se dedicar aos pobres e abandonados, de modo que, com o aval de seus familiares, fez de sua casa um local de caridade. Ali os desvalidos encontravam refúgio, alimento e até remédios para seus males, junto com a palavra doce, cristã e carinhosa da jovem estudante.

Finalmente, em 8 de fevereiro de 1933, a jovem Maria Rita, já professora e experimentada na caridade para o Cristo sofredor presente nos irmãos e irmãs necessitados, é aceita na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, instituto com casa de formação em Sergipe, no qual essa santa mulher fez os votos, viveu e morreu trabalhando pelos que realmente necessitam de carinho material e espiritual. Hoje, diríamos que Irmã Dulce – este é, como vimos, seu nome religioso – antecipava, com suas obras, o atendimento às realidades que o Papa Francisco chama de “periferias existenciais”.

Voltando a Salvador, agora com seu inconfundível hábito branco e véu preto, Irmã Dulce recebe como missão dar aulas em um colégio mantido pela Congregação na chamada Cidade Baixa. A ela, como professora que era, poderiam bem se aplicar as palavras do padre doutor Afonso Rodrigues, filósofo e teólogo brasileiro, ao escrever que todas as mestras realmente católicas “eram aconchegadoras e simpáticas, amigas do bem das alunas, ponderadas, justas, santas, donas das próprias espontaneidades, firmemente apegadas à sã doutrina, conforme o ensinamento recebido da Santa Sé. E por isso capacitadas a vivenciar nas alunas a Doutrina autêntica de Cristo e de refutar os falsos teólogos (...)” (Exercícios de perfeição e virtudes cristãs. São Paulo: Mestre Copy, 1988, p. 15).

Dedica-se, porém, ao mesmo tempo, a prestar assistência às comunidades pobres de Salvador, onde futuramente se concentrarão as chamadas Obras Sociais Irmã Dulce, que lhe deram notoriedade até mesmo aos olhos do mundo, pois ali ela não apenas falava sobre os pobres, mas realmente os ajudava como eles mais precisavam.

Afinal, só discursar a respeito dos excluídos sem dar-lhes esperanças é tão anticristão quanto promover, sem razões para tanto, revoluções armadas (que matam a tantos) em favor de uma suposta mudança social que apenas ilude os que a esperam de verdade.

Com Irmã Dulce não foi assim, pois com cerca de apenas 20 anos de idade ela ganha de Deus um grande amigo capaz de ajudá-la em uma época na qual a mulher não tinha tanta voz ativa na sociedade. Trata-se do frei Hildebrando Kruthanp.

É com ele que a freira baiana fundará, em 1936, a União Operária São Francisco, primeira do Estado, e, em 1937, o Círculo Operário da Bahia, instituição mantida com a arrecadação de três cinemas que o frade e a freira haviam, com doações recebidas, edificado para ser fonte de auxílio nas obras sociais e culturais que mantinham, bem como na instrução dos operários por meio da alfabetização e da defesa de suas garantias jurídicas básicas.

Irmã Dulce e Frei Hildebrando têm em mente aplicar nas terras brasileiras o que, no final do século 19, o Papa Leão XIII propusera na encíclica Rerum Novarum. Este documento foi marcante para a vida dos operários, uma vez que estes viviam em deploráveis e desumanas condições, em muitos e muitos países aonde chegara a Revolução Industrial com a meta de produzir, produzir, produzir... para gerar lucro a alguns poucos em detrimento da grande maioria dos homens, mulheres e crianças que se viam privados do mínimo de dignidade, mas, em contrapartida, eram condenados a trabalhar desumanamente.

No ano de 1939, a religiosa, que já era conhecida por muitos do seu Estado e em outras unidades da Federação, fundou o Colégio Santo Antônio, voltado ao ensino dos pobres, especialmente dos filhos dos operários. Neste mesmo ano, na Ilha dos Ratos, entrou, sem mais, em cinco casas vazias e ali se pôs a abrigar os doentes e moribundos que recolhia nas ruas a fim de que eles recebessem um tratamento melhor e não perecessem no chão duro daquela grande cidade.

Não demorou para que as casas fossem requisitadas e a religiosa e seus assistidos tivessem de ser expulsos do local passando a vagar para lá e para cá até conseguirem se instalar, definitivamente, em um albergue localizado no local em que antes funcionara o galinheiro do Convento de Santo Antônio, santo de quem nossa Beata Irmã Dulce era grande devota, desde pequena. Aquele empreendimento prosperou e deu origem ao famoso hospital que leva o mesmo nome do santo de Pádua ou de Lisboa, e é um importante local de atendimento médico-hospitalar e também social e educacional voltado aos pobres, abandonados e dependentes químicos.

De saúde frágil, Irmã Dulce não se entregava e com sua profunda tenacidade conseguiu levar avante, em tempos difíceis, uma grande obra assistencial católica inspirada no Evangelho. Seu trabalho repercutiu tanto que, em 1980, na primeira viagem que o Papa, hoje santo, João Paulo II fez ao Brasil quis acolhê-la e dar-lhe um terço com as palavras alentadoras: “Continue, Irmã Dulce, continue!”. Com o mesmo apoio a santa baiana contou de seus cardeais arcebispos, Dom Augusto Silva, Dom Eugenio de Araujo Sales, Dom Avelar Brandão Vilela e Dom Lucas Moreira Neves, todos admiradores e apoiadores de suas multiformes iniciativas caritativas.

Terminada sua grandiosa peregrinação neste mundo, Irmã Dulce entregou sua alma a Deus em 13 de março de 1992, em seu próprio convento, sendo beatificada em 22 de maio de 2011, em Salvador, na cerimônia presidida pelo legado papal, cardeal Geraldo Magela Agnelo tornando-se conhecida oficialmente, então, como Beata Irmã Dulce dos Pobres, pois a eles ela dedicou sua vida, de modo que sua política foi a caridade para o Cristo presente nos mais necessitados (cf. Mt 25,40).

No dia 27 de maio celebramos o centenário de nascimento desta edificante beata. Como uma das intercessoras da JMJ Rio 2013, queremos confiar a sua poderosa intercessão o Ano da Caridade arquidiocesano e esperamos que nosso povo busque inspiração em seus concretos desejos de cuidar, promover e ajudar aos mais necessitados.

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06/07/2014 17:41 - Atualizado em 06/07/2014 17:44

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Estão peregrinando pela nossa Arquidiocese as relíquias da Irmã Dulce. Vindas para a JMJ Rio 2013 há um ano, agora estão visitando as obras sociais da Igreja em nossa Arquidiocese. É um incentivo para o Ano da Caridade refletirmos sobre a missão da grande irmã que em terras baianas deixou-nos em belo exemplo de amor ao próximo.

Maria Rita era o nome de Batismo de Irmã Dulce, que tomou esse nome religioso em homenagem à sua mãe, a senhora Dulce Maria, e foi com ele que ficou conhecida em todo o Brasil e também no exterior como a “Irmã Dulce dos Pobres” ou ainda como “Anjo bom da Bahia”.

Nascida em 26 de maio de 1914, em uma família de certas posses materiais, hesitou um pouco se realizaria sua vocação cristã no matrimônio ou na vida religiosa, pois não sabia ainda se o seu amor seria dedicado a um marido e aos filhos, frutos de seu matrimônio, ou a um esposo especial, Jesus Cristo, e aos muitíssimos filhos espirituais que viriam dessa união esponsal mística.

Essa dúvida, porém, não perdurou por muito tempo, uma vez que, desde os 13 anos, ao visitar, com uma tia, locais carentes de seu Estado natal, passou a conceber a ideia de dedicar-se aos menos favorecidos ou aos sofredores de seu tempo. Isso teria de ser por meio da vida religiosa, uma vez que leigos(as) consagrados(as) em institutos seculares não eram suficientemente conhecidos antes da década de 1940, quando o Papa Pio XII aprovou esse modelo de vida.

Maria Rita recorre, então, ao convento de Santa Clara do Desterro, em Salvador, e as freiras a aconselham a não ingressar naquele ano, mas, sim, a estudar primeiro e, concomitantemente, rezar e meditar a respeito de sua vocação. Isso motivou a jovenzinha a dedicar-se ao curso de Magistério, que, na época, formava as professoras primárias, concluído em 1932.

Os estudos, todavia, não a impediam de se dedicar aos pobres e abandonados, de modo que, com o aval de seus familiares, fez de sua casa um local de caridade. Ali os desvalidos encontravam refúgio, alimento e até remédios para seus males, junto com a palavra doce, cristã e carinhosa da jovem estudante.

Finalmente, em 8 de fevereiro de 1933, a jovem Maria Rita, já professora e experimentada na caridade para o Cristo sofredor presente nos irmãos e irmãs necessitados, é aceita na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, instituto com casa de formação em Sergipe, no qual essa santa mulher fez os votos, viveu e morreu trabalhando pelos que realmente necessitam de carinho material e espiritual. Hoje, diríamos que Irmã Dulce – este é, como vimos, seu nome religioso – antecipava, com suas obras, o atendimento às realidades que o Papa Francisco chama de “periferias existenciais”.

Voltando a Salvador, agora com seu inconfundível hábito branco e véu preto, Irmã Dulce recebe como missão dar aulas em um colégio mantido pela Congregação na chamada Cidade Baixa. A ela, como professora que era, poderiam bem se aplicar as palavras do padre doutor Afonso Rodrigues, filósofo e teólogo brasileiro, ao escrever que todas as mestras realmente católicas “eram aconchegadoras e simpáticas, amigas do bem das alunas, ponderadas, justas, santas, donas das próprias espontaneidades, firmemente apegadas à sã doutrina, conforme o ensinamento recebido da Santa Sé. E por isso capacitadas a vivenciar nas alunas a Doutrina autêntica de Cristo e de refutar os falsos teólogos (...)” (Exercícios de perfeição e virtudes cristãs. São Paulo: Mestre Copy, 1988, p. 15).

Dedica-se, porém, ao mesmo tempo, a prestar assistência às comunidades pobres de Salvador, onde futuramente se concentrarão as chamadas Obras Sociais Irmã Dulce, que lhe deram notoriedade até mesmo aos olhos do mundo, pois ali ela não apenas falava sobre os pobres, mas realmente os ajudava como eles mais precisavam.

Afinal, só discursar a respeito dos excluídos sem dar-lhes esperanças é tão anticristão quanto promover, sem razões para tanto, revoluções armadas (que matam a tantos) em favor de uma suposta mudança social que apenas ilude os que a esperam de verdade.

Com Irmã Dulce não foi assim, pois com cerca de apenas 20 anos de idade ela ganha de Deus um grande amigo capaz de ajudá-la em uma época na qual a mulher não tinha tanta voz ativa na sociedade. Trata-se do frei Hildebrando Kruthanp.

É com ele que a freira baiana fundará, em 1936, a União Operária São Francisco, primeira do Estado, e, em 1937, o Círculo Operário da Bahia, instituição mantida com a arrecadação de três cinemas que o frade e a freira haviam, com doações recebidas, edificado para ser fonte de auxílio nas obras sociais e culturais que mantinham, bem como na instrução dos operários por meio da alfabetização e da defesa de suas garantias jurídicas básicas.

Irmã Dulce e Frei Hildebrando têm em mente aplicar nas terras brasileiras o que, no final do século 19, o Papa Leão XIII propusera na encíclica Rerum Novarum. Este documento foi marcante para a vida dos operários, uma vez que estes viviam em deploráveis e desumanas condições, em muitos e muitos países aonde chegara a Revolução Industrial com a meta de produzir, produzir, produzir... para gerar lucro a alguns poucos em detrimento da grande maioria dos homens, mulheres e crianças que se viam privados do mínimo de dignidade, mas, em contrapartida, eram condenados a trabalhar desumanamente.

No ano de 1939, a religiosa, que já era conhecida por muitos do seu Estado e em outras unidades da Federação, fundou o Colégio Santo Antônio, voltado ao ensino dos pobres, especialmente dos filhos dos operários. Neste mesmo ano, na Ilha dos Ratos, entrou, sem mais, em cinco casas vazias e ali se pôs a abrigar os doentes e moribundos que recolhia nas ruas a fim de que eles recebessem um tratamento melhor e não perecessem no chão duro daquela grande cidade.

Não demorou para que as casas fossem requisitadas e a religiosa e seus assistidos tivessem de ser expulsos do local passando a vagar para lá e para cá até conseguirem se instalar, definitivamente, em um albergue localizado no local em que antes funcionara o galinheiro do Convento de Santo Antônio, santo de quem nossa Beata Irmã Dulce era grande devota, desde pequena. Aquele empreendimento prosperou e deu origem ao famoso hospital que leva o mesmo nome do santo de Pádua ou de Lisboa, e é um importante local de atendimento médico-hospitalar e também social e educacional voltado aos pobres, abandonados e dependentes químicos.

De saúde frágil, Irmã Dulce não se entregava e com sua profunda tenacidade conseguiu levar avante, em tempos difíceis, uma grande obra assistencial católica inspirada no Evangelho. Seu trabalho repercutiu tanto que, em 1980, na primeira viagem que o Papa, hoje santo, João Paulo II fez ao Brasil quis acolhê-la e dar-lhe um terço com as palavras alentadoras: “Continue, Irmã Dulce, continue!”. Com o mesmo apoio a santa baiana contou de seus cardeais arcebispos, Dom Augusto Silva, Dom Eugenio de Araujo Sales, Dom Avelar Brandão Vilela e Dom Lucas Moreira Neves, todos admiradores e apoiadores de suas multiformes iniciativas caritativas.

Terminada sua grandiosa peregrinação neste mundo, Irmã Dulce entregou sua alma a Deus em 13 de março de 1992, em seu próprio convento, sendo beatificada em 22 de maio de 2011, em Salvador, na cerimônia presidida pelo legado papal, cardeal Geraldo Magela Agnelo tornando-se conhecida oficialmente, então, como Beata Irmã Dulce dos Pobres, pois a eles ela dedicou sua vida, de modo que sua política foi a caridade para o Cristo presente nos mais necessitados (cf. Mt 25,40).

No dia 27 de maio celebramos o centenário de nascimento desta edificante beata. Como uma das intercessoras da JMJ Rio 2013, queremos confiar a sua poderosa intercessão o Ano da Caridade arquidiocesano e esperamos que nosso povo busque inspiração em seus concretos desejos de cuidar, promover e ajudar aos mais necessitados.

Cardeal Orani João Tempesta
Autor

Cardeal Orani João Tempesta

Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro