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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

O Único Caminho

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18/05/2014 00:00

O Único Caminho 0

18/05/2014 00:00

O Único Caminho / Arqrio

Homilia Dominical - 5º Domingo da Páscoa  

As Normas Universais sobre o Ano Litúrgico, no n. 22, preveem que os cinquenta dias do Tempo Pascal sejam celebrados como um grande dia de festa e, citando Santo Agostinho, o documento afirma que este tempo deve ser celebrado como “um grande domingo”.

A Igreja deseja, assim, nos recordar que o Mistério da Páscoa é o centro da nossa fé. De fato, se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa fé (cf. 1Cor 15,14).

A primeira leitura, um trecho dos Atos dos Apóstolos, nos mostra como a primeira comunidade cristã vivia sob o impulso do Espírito Santo, que o Ressuscitado enviou sobre os apóstolos no dia de Pentecostes. A perícope de hoje nos mostra a eleição dos sete primeiros diáconos da Igreja cristã. Uma necessidade pastoral levou os apóstolos a tomarem essa decisão. Eles não poderiam abandonar o serviço da Palavra e da oração para se dedicar somente a servir as mesas. Era, então, necessário, que fossem escolhidos homens “de boa fama” e “cheios do Espírito e de Sabedoria” para que pudessem exercer essa tarefa. Os apóstolos impõem as mãos sobre esses homens, num gesto que significa aqui a transmissão do Espírito em vista de um ministério específico, e para demonstrar que não se trata de uma tarefa qualquer, mas de algo que se realiza na força do Espírito Santo. Sob a mesma moção do Espírito Lucas nos testemunha nesta passagem de Atos dos Apóstolos que a “Palavra do Senhor se espalhava” e muitos aceitam “a fé”.

A segunda leitura nos apresenta pontos de contato interessantes com o Antigo Testamento. Em 1Pd 2,5 os cristãos são chamados de “povo santo”; em 1Pd 2,9, por sua vez, o povo cristão é chamado de “raça escolhida”, “sacerdócio do reino”, “nação santa”. Estes textos são um eco de Ex 19,6 e Dt 7,6; 14,2; 14,21. Em Ex 19,6 o povo de Israel é chamado de “reino de sacerdotes e nação santa”, semelhantemente a 1Pd 2,9. Em Dt 7,6; 14,2 e 14,21 é recorrente a expressão hebraica ‘am qadosh que, traduzida, pode significa “povo santo”; “povo consagrado”; “povo separado”; expressões que ecoam em 1Pd 2,5.9. O autor da primeira carta de Pedro demonstra, assim, que as prerrogativas do povo de Israel passaram agora para o novo Israel, ou seja, para aqueles que, pela fé se aproximam de Cristo. O texto desta segunda leitura nos apresenta, ainda, o paradoxo que é o Cristo, “pedra angular”. Para os que creem, Cristo é a Rocha, a pedra que estrutura todo o edifício, e que faz com que os cristãos se tornem “pedras vivas” do edifício espiritual que é a Igreja. Todavia, para os que não têm fé, ele se torna uma “pedra que faz tropeçar”.

O trecho do evangelho de João que ouvimos hoje se situa dentro dos “discursos de despedida” de Jesus. O Evangelho começa com uma palavra de consolação de Jesus aos discípulos: “Não se perturbe o vosso coração...” João utiliza aqui o verbo grego tarasso, que significa, “se agitar”, “perturbar-se”, “perder a estabilidade e a paz” dentre outras coisas semelhantes. Jesus sabe que, diante do Mistério da cruz, o coração dos discípulos ficará perturbado, inquieto e, desde já, Ele os previne de que não deve ser assim. Eles, os discípulos, devem “ter fé”.

Na primeira parte desta perícope, mais precisamente nos VV. 2-4 Jesus fala das “muitas moradas” que existem na casa do Pai. Depois de prometer que os discípulos estariam sempre com Ele, porque Ele mesmo iria lhes preparar um lugar, Jesus introduz um outro tema: o caminho para essas “muitas moradas”.

Na segunda parte, nos vv. 5-7, diante da interrogação de Tomé, Jesus afirma ser Ele mesmo o caminho para o Pai, mas não só isso; Ele é também a Verdade e a Vida. Jesus também não é “um caminho” para o Pai, mas “o caminho”, ou seja, não existe outra forma de ir ao Pai, de conhecer a verdade a respeito do Pai, nem de receber a vida eterna que do Pai procede se não for através de Jesus. Embora o cristianismo reconheça o valor de muitas religiões, Ele entende que a salvação se dá unicamente por Cristo. Se alguém se salva, mesmo fora do cristianismo em virtude de sua boa consciência, se salva porque a graça de Cristo o atinge de maneira misteriosa, enquanto a nós cristãos ela nos atinge por meio dos sacramentos da Igreja.

A última parte da perícope trata da relação entre Jesus e o Pai. Aqui entra em cena Filipe, o apóstolo que quer ver o Pai. Esse é um desejo que brota do mais íntimo de Filipe. Só isso basta para ele, ou seja, o apóstolo não se perde em indefinidos pedidos, mas o que ele quer é estar em intimidade com o Pai. Jesus vai revelar, então, que só se entra nessa intimidade por meio d’Ele, porque quem o vê vê o Pai. Jesus é o “sacramento do Pai”, a visibilização do seu ser. Assim os vv. 8-9 se unem aos vv. 5-7, onde Jesus aparece como o Caminho, a Verdade e a Vida.

A perícope deste domingo é encerrada por um convite e uma promessa. O convite se encontra no v. 11, onde Jesus pede aos discípulos que, olhando as suas obras, creiam nas suas palavras. Afinal, esse é o sentido dos “sinais” que Jesus realiza: confirmar a sua pregação. A promessa encerra a perícope no v. 12, onde Jesus promete que, pela fé, seus discípulos realizarão obras ainda maiores que as d’Ele “porque Ele vai para o Pai”. Sim, Cristo vai para o Pai e, na força do Espírito que Ele enviará de junto do Pai, sua obra continuará na terra, por meio dos seus discípulos, e essas obras serão cada vez maiores. Este é o sentido desse versículo.

Aplicando esse texto evangélico ao contexto da nossa vida poderíamos guardar em nosso coração o v. 1: “Não se perturbe o vosso coração...” Existem muitas coisas que perturbam o nosso coração. Sofrimentos, tribulações e, acima de tudo isso, o mistério da morte. Sendo que Cristo já venceu a morte, nada deve mais “perturbar” o nosso coração. Devemos levar a sério essa exortação de Jesus e não deixar que as tribulações cheguem a nos desestabilizar, porque Ele está sempre conosco.



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Homilia Dominical - 5º Domingo da Páscoa  

As Normas Universais sobre o Ano Litúrgico, no n. 22, preveem que os cinquenta dias do Tempo Pascal sejam celebrados como um grande dia de festa e, citando Santo Agostinho, o documento afirma que este tempo deve ser celebrado como “um grande domingo”.

A Igreja deseja, assim, nos recordar que o Mistério da Páscoa é o centro da nossa fé. De fato, se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa fé (cf. 1Cor 15,14).

A primeira leitura, um trecho dos Atos dos Apóstolos, nos mostra como a primeira comunidade cristã vivia sob o impulso do Espírito Santo, que o Ressuscitado enviou sobre os apóstolos no dia de Pentecostes. A perícope de hoje nos mostra a eleição dos sete primeiros diáconos da Igreja cristã. Uma necessidade pastoral levou os apóstolos a tomarem essa decisão. Eles não poderiam abandonar o serviço da Palavra e da oração para se dedicar somente a servir as mesas. Era, então, necessário, que fossem escolhidos homens “de boa fama” e “cheios do Espírito e de Sabedoria” para que pudessem exercer essa tarefa. Os apóstolos impõem as mãos sobre esses homens, num gesto que significa aqui a transmissão do Espírito em vista de um ministério específico, e para demonstrar que não se trata de uma tarefa qualquer, mas de algo que se realiza na força do Espírito Santo. Sob a mesma moção do Espírito Lucas nos testemunha nesta passagem de Atos dos Apóstolos que a “Palavra do Senhor se espalhava” e muitos aceitam “a fé”.

A segunda leitura nos apresenta pontos de contato interessantes com o Antigo Testamento. Em 1Pd 2,5 os cristãos são chamados de “povo santo”; em 1Pd 2,9, por sua vez, o povo cristão é chamado de “raça escolhida”, “sacerdócio do reino”, “nação santa”. Estes textos são um eco de Ex 19,6 e Dt 7,6; 14,2; 14,21. Em Ex 19,6 o povo de Israel é chamado de “reino de sacerdotes e nação santa”, semelhantemente a 1Pd 2,9. Em Dt 7,6; 14,2 e 14,21 é recorrente a expressão hebraica ‘am qadosh que, traduzida, pode significa “povo santo”; “povo consagrado”; “povo separado”; expressões que ecoam em 1Pd 2,5.9. O autor da primeira carta de Pedro demonstra, assim, que as prerrogativas do povo de Israel passaram agora para o novo Israel, ou seja, para aqueles que, pela fé se aproximam de Cristo. O texto desta segunda leitura nos apresenta, ainda, o paradoxo que é o Cristo, “pedra angular”. Para os que creem, Cristo é a Rocha, a pedra que estrutura todo o edifício, e que faz com que os cristãos se tornem “pedras vivas” do edifício espiritual que é a Igreja. Todavia, para os que não têm fé, ele se torna uma “pedra que faz tropeçar”.

O trecho do evangelho de João que ouvimos hoje se situa dentro dos “discursos de despedida” de Jesus. O Evangelho começa com uma palavra de consolação de Jesus aos discípulos: “Não se perturbe o vosso coração...” João utiliza aqui o verbo grego tarasso, que significa, “se agitar”, “perturbar-se”, “perder a estabilidade e a paz” dentre outras coisas semelhantes. Jesus sabe que, diante do Mistério da cruz, o coração dos discípulos ficará perturbado, inquieto e, desde já, Ele os previne de que não deve ser assim. Eles, os discípulos, devem “ter fé”.

Na primeira parte desta perícope, mais precisamente nos VV. 2-4 Jesus fala das “muitas moradas” que existem na casa do Pai. Depois de prometer que os discípulos estariam sempre com Ele, porque Ele mesmo iria lhes preparar um lugar, Jesus introduz um outro tema: o caminho para essas “muitas moradas”.

Na segunda parte, nos vv. 5-7, diante da interrogação de Tomé, Jesus afirma ser Ele mesmo o caminho para o Pai, mas não só isso; Ele é também a Verdade e a Vida. Jesus também não é “um caminho” para o Pai, mas “o caminho”, ou seja, não existe outra forma de ir ao Pai, de conhecer a verdade a respeito do Pai, nem de receber a vida eterna que do Pai procede se não for através de Jesus. Embora o cristianismo reconheça o valor de muitas religiões, Ele entende que a salvação se dá unicamente por Cristo. Se alguém se salva, mesmo fora do cristianismo em virtude de sua boa consciência, se salva porque a graça de Cristo o atinge de maneira misteriosa, enquanto a nós cristãos ela nos atinge por meio dos sacramentos da Igreja.

A última parte da perícope trata da relação entre Jesus e o Pai. Aqui entra em cena Filipe, o apóstolo que quer ver o Pai. Esse é um desejo que brota do mais íntimo de Filipe. Só isso basta para ele, ou seja, o apóstolo não se perde em indefinidos pedidos, mas o que ele quer é estar em intimidade com o Pai. Jesus vai revelar, então, que só se entra nessa intimidade por meio d’Ele, porque quem o vê vê o Pai. Jesus é o “sacramento do Pai”, a visibilização do seu ser. Assim os vv. 8-9 se unem aos vv. 5-7, onde Jesus aparece como o Caminho, a Verdade e a Vida.

A perícope deste domingo é encerrada por um convite e uma promessa. O convite se encontra no v. 11, onde Jesus pede aos discípulos que, olhando as suas obras, creiam nas suas palavras. Afinal, esse é o sentido dos “sinais” que Jesus realiza: confirmar a sua pregação. A promessa encerra a perícope no v. 12, onde Jesus promete que, pela fé, seus discípulos realizarão obras ainda maiores que as d’Ele “porque Ele vai para o Pai”. Sim, Cristo vai para o Pai e, na força do Espírito que Ele enviará de junto do Pai, sua obra continuará na terra, por meio dos seus discípulos, e essas obras serão cada vez maiores. Este é o sentido desse versículo.

Aplicando esse texto evangélico ao contexto da nossa vida poderíamos guardar em nosso coração o v. 1: “Não se perturbe o vosso coração...” Existem muitas coisas que perturbam o nosso coração. Sofrimentos, tribulações e, acima de tudo isso, o mistério da morte. Sendo que Cristo já venceu a morte, nada deve mais “perturbar” o nosso coração. Devemos levar a sério essa exortação de Jesus e não deixar que as tribulações cheguem a nos desestabilizar, porque Ele está sempre conosco.



Padre Fábio Siqueira
Autor

Padre Fábio Siqueira

Vice-diretor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida