Arquidiocese do Rio de Janeiro

34º 22º

Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

Homilia do 3º domingo da Páscoa

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Homilia do 3º domingo da Páscoa

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04/05/2014 00:00

Homilia do 3º domingo da Páscoa 0

04/05/2014 00:00

temp_titleressurreio_2_230420141518111ª Leitura: At 2,14.22-33
Sl 15
2ª Leitura: 1Pd 1,17-21
Evangelho: Lc 24,13-35

“Ó Deus, que o vosso povo sempre exulte pela sua renovação espiritual, para que, tendo recuperado agora com alegria a condição de filhos de Deus, espere com plena confiança o dia da ressurreição.”[1]

A coleta desta celebração eucarística nos ilumina neste tempo feliz da Páscoa do Senhor. O Senhor nosso Deus, que nos reúne a todos nesta Igreja neste Domingo, nossa Páscoa Semanal, é Aquele que nos renova. No Domingo passado ouvimos aquela bela “coleta” que nos afirmava ser o Senhor Aquele que reacende a nossa fé a cada ano por ocasião da festa da Páscoa. Hoje nós ouvimos esta coleta que nos apresenta o mistério da Páscoa do Senhor como fonte da nossa “renovação espiritual”, porque é a celebração alegre e festiva do mistério da nossa “adoçãofilial” que nos faz transbordar de esperança, porque se somos filhos, podemos esperar ser ressuscitados como o Filho o foi pelo amor misericordioso do Pai.

A Páscoa nos traz essa certeza de que ressuscitaremos com Cristo. Essa certeza enche o nosso coração de esperança e a esperança cristã é uma esperança alegre. A esperança cristã é uma esperança alegre porque é a certeza de que todo o mal está vencido pelo Cristo. Se Ele destruiu a morte e ela não tem mais poder de nos reter e dominar, a quem ou o que nós temeremos?

         Hoje, na continuação dessa leitura do discurso de Pedro no dia de Pentecostes, nós tomamos contato com essa certeza apostólica de que a Ressurreição de Cristo é o evento central que dá sentido á fé. Pedro, utilizando-se do Salmo 15, que cantamos como resposta a esta primeira leitura, afirma que o próprio Davi já havia profetizado a ressurreição de Cristo. É de Cristo, segundo Pedro, que Davi fala no salmo afirmando: “Eis por que meu coração está em festa, minha alma rejubila de alegria, e até meu corpo no repouso está tranqüilo; pois não haveis de me deixar entregue à morte, nem vosso amigo conhecer a corrupção”. O que Davi havia profeticamente anunciado neste salmo, o Pai o realizou em Cristo, ressuscitando-o de entre os mortos, “porque não era possível que a morte o dominasse” como afirma ainda o apóstolo durante o seu discurso. Ressuscitado e, exaltado pela direita de Deus, Jesus derrama o Espírito Santo prometido pelo Pai, que produz os efeitos maravilhosos que todos podiam testemunhar naquela manhã feliz do dia de Pentecostes.

         A ressurreição de Cristo é para nós um sinal. Ela é um sinal do amor do Pai pelo Filho, que se estende a cada um de nós que recuperamos na festa da Páscoa a nossa condição filial e nos tornamos filhos no Filho Único que é Cristo. Assumidos pelo Pai como filhos muito amados, carregamos em nós a certeza da nossa ressurreição. Podemos dar continuidade à voz de Cristo ao cantarmos hoje este salmo afirmando que também o Pai não nos abandonará na região dos mortos: “Eis por que meu coração está em festa, minha alma rejubila de alegria, e até meu corpo no repouso está tranqüilo; pois não haveis de me deixar entregue à morte, nem vosso amigo conhecer a corrupção”. Essa convicção que a Palavra de Deus nos traz a respeito da nossa ressurreição faz o nosso coração estar em festa e a nossa alma rejubilar de alegria. Ainda que a nossa vida seja cercada de incertezas e aflições, ainda que a inconstância seja um sinal marcante em nosso tempo, carregamos em nós uma esperança que nos enche de alegria: a certeza de que Cristo, vencedor da morte, derramou sobre nós após sua ressurreição o seu Espírito Santo, que vivificará os nossos corpos mortais.

Porque sabemo-nos filhos no Filho, chamamos a Deus nosso Pai. Por isso devemos atentar para a advertência de Pedro na sua primeira carta. “Se invocais como Pai aquele que, sem discriminação, julga a cada um de acordo com as suas obras, vivei então respeitando a Deus durante o tempo de vosso migração nesse mundo. Sabeis que fostes resgatados da vida fútil herdada de vosso pais, não por meio de coisas perecíveis, como a prata ou o ouro, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha nem defeito”. Porque chamamos a Deus de Pai, devemos aprender a viver como filhos. O Filho fez a sua vida na terra, no meio dos homens, ser uma imagem do que é a sua vida intradivina, na intimidade trinitária: uma vida de harmonia, de obediência, de total entrega e respeito à vontade sublimíssima do Pai. Também nós que portamos o nome de filhos, devemos imitar o único Filho, e viver uma vida de respeito e obediência ao Pai. Devemos ter diante de nós o que foi o preço do nosso resgate: o sangue de Cristo. Os nossos pais nos transmitiram uma “vida fútil”, uma vida que fenece, que caminha para o fim. Cristo nos transmitiu, com a sua entrega, a vida eterna. O seu Sangue é o preço do nosso resgate. Ele apareceu em nosso meio porque nos ama. Ele nos deu a fé no Pai que o ressuscitou e lhe deu a glória. A nossa fé e a nossa esperança estão em Deus, porque cremos que Ele ressuscitou o Cristo e esperamos que Ele também nos ressuscite no último dia.

“Antes da criação do mundo ele foi destinado para isso (para derramar o seu sangue por nós), e neste final dos tempos, ele apareceu por amor de vós.” Cristo apareceu em nosso meio, por amor. Cristo está no meio de nós cada vez que celebramos a Eucaristia, porque Ele nos ama e deseja estar no meio dos seus irmãos. Essa imagem do Cristo que se coloca no meio dos homens por amor, nós a vemos no evangelho que hoje ouvimos, que é como que o coração pulsante dessa liturgia da Palavra, que ilumina todos os outros textos que ouvimos. Era o primeiro dia da semana: o Domingo. Dois discípulos iam de Jerusalém para Emaús. Aqueles que antes haviam seguido o Cristo até Jerusalém, agora, diante da sua morte, voltam com rosto sombrio, como relata o evangelista, para o seu povoado de origem. Enquanto conversam e falam, talvez, dos seus projetos frustrados, das suas expectativas a respeito de Cristo que não foram correspondidas, enquanto partilham talvez o seu escândalo diante da cruz, o próprio Ressuscitado se coloca no meio deles. Uma presença de luz no meio das trevas daquela conversa. Cristo está ali para abrir novamente os olhos dos cegos, mas agora trata-se de uma cegueira que está no espírito dos discípulos. Diante da pergunta de Cristo a respeito do tema da conversa dos dois a resposta é uma estupefação, porque Jesus não sabia, na opinião dos dois, o que havia acontecido em Jerusalém nos últimos dias. “Nós esperávamos que ele fosse libertar Israel...” Os discípulos são o retrato da desesperança. “Já faz três dias que todas essas coisas aconteceram”. Nem mesmo o testemunho das mulheres os anima: “A ele, porém, ninguém o viu”.

Os discípulos são chamados pelo Cristo de pessoas “sem inteligência”, “lentas para crer” no que os profetas anunciaram. “Será que o Cristo não devia sofrer tudo isso para entrar na sua glória?” E Cristo lhes “explicava (...) todas as passagens da Escritura que falavam a respeito dele”, começando por Moisés e passando pelos profetas. Cristo se coloca no meio dos dois como o grande exegeta do AT, mostrando que tudo convergia para Ele. O Cristo é o centro da história dos homens. Os olhos dos discípulos ainda não se abriram e, quando chegam ao povoado, Cristo faz como se fosse mais adiante. Eles, no entanto, o convidam para “permanecer com eles”. Jesus entra, senta-se à mesa, e como que repetindo o gesto da última ceia, toma o pão e dá graças. É neste momento que os olhos dos discípulos se abrem e Eles reconhecem o Cristo no partir do pão. Cristo fica invisível diante deles e eles reconhecem que o coração deles ardia quando o Cristo, pelo caminho, lhes interpretava as Escrituras. “Anastantes”, diz o texto grego, “levantando-se” voltam para Jerusalém a fim de anunciar a seus irmãos “os acontecimentos do caminho”. Lá confirmam na comunidade reunida a autenticidade da sua experiência, porque o Cristo também havia aparecido a Simão.

Meus irmãos, o Cristo Ressuscitado experimentado na comunidade reunida, segundo ouvimos no Evangelho do domingo passado, é experimentado na comunidade reunida que parte o pão, ou seja, no banquete da Eucaristia, na nossa festa dominical.

Podemos comparar essa passagem de Emaús ao banquete da Eucaristia. Também nós chegamos à Igreja muitas vezes com o rosto sombrio, como esses dois discípulos. As nossas expectativas a respeito do Cristo, do mundo e de nós mesmos às vezes são frustradas, porque construímos imagens falsas, que não correspondem à realidade. Trazemos em nosso semblante, muitas vezes, o sinal da desesperança. Somos sem inteligência, lentos de coração para entender a mensagem do Cristo. Por isso, socorrendo-nos na nossa fraqueza Ele se coloca no meio de nós como exegeta da Escritura para nos explicar, no contexto do culto, o sentido daquilo o que temos ouvido. É o próprio Cristo que, aqui na assembléia dominical, nos explica as Escrituras e nos mostra que tudo converge para Ele. O nosso coração é aquecido pela sua Palavra; o Espírito, que é fogo abrasador, aquece os nossos corações e eles são dilatados, para que, como vasos mais amplos, possamos acolher melhor o Mistério de Cristo em nós. Aqui, quando Ele parte para nós o pão da Palavra, os nossos olhos são abertos e o reconhecemos, como o reconhecemos também quando o pão e o vinho consagrados, seu Corpo e seu Sangue, são repartidos entre nós como sinal da sua “permanência conosco” e “em nós”, no mais íntimo do nosso ser.

Nós que o reconhecemos ao partir o pão, devemos, à maneira dos discípulos de Emaús, correr para levar a outros este alegre anúncio. “Anastantes”; esse verbo é fundamental. É o verbo “anistemi”, usado para indicar também a ressurreição, que é chamada “anástasis”. Ao ouvirmos a Palavra de Cristo e ao reconhecermos o Senhor no pão que Ele mesmo reparte para nós, o pão que é seu Corpo Glorioso, nós como que ressuscitados nos erguemos e saímos para anunciar aos nossos irmãos que ele está vivo no meio de nós, que Ele nos apareceu e que estamos cheios de uma renovada esperança pascal que nos enche de alegria, alegria que brota da certeza de que Ele está no meio de nós e nos ressuscitará no último dia.

Abramo-nos à graça deste dia, para que a alegria da ressurreição renove a nossa esperança e faça nascer em nós uma alegria renovada que brota da certeza de que Cristo Ressuscitou e que, com Ele, seremos também nós ressuscitados pelo Pai. Aleluia!


[1] Coleta do Terceiro Domingo da Páscoa Ano A

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Homilia do 3º domingo da Páscoa

04/05/2014 00:00

temp_titleressurreio_2_230420141518111ª Leitura: At 2,14.22-33
Sl 15
2ª Leitura: 1Pd 1,17-21
Evangelho: Lc 24,13-35

“Ó Deus, que o vosso povo sempre exulte pela sua renovação espiritual, para que, tendo recuperado agora com alegria a condição de filhos de Deus, espere com plena confiança o dia da ressurreição.”[1]

A coleta desta celebração eucarística nos ilumina neste tempo feliz da Páscoa do Senhor. O Senhor nosso Deus, que nos reúne a todos nesta Igreja neste Domingo, nossa Páscoa Semanal, é Aquele que nos renova. No Domingo passado ouvimos aquela bela “coleta” que nos afirmava ser o Senhor Aquele que reacende a nossa fé a cada ano por ocasião da festa da Páscoa. Hoje nós ouvimos esta coleta que nos apresenta o mistério da Páscoa do Senhor como fonte da nossa “renovação espiritual”, porque é a celebração alegre e festiva do mistério da nossa “adoçãofilial” que nos faz transbordar de esperança, porque se somos filhos, podemos esperar ser ressuscitados como o Filho o foi pelo amor misericordioso do Pai.

A Páscoa nos traz essa certeza de que ressuscitaremos com Cristo. Essa certeza enche o nosso coração de esperança e a esperança cristã é uma esperança alegre. A esperança cristã é uma esperança alegre porque é a certeza de que todo o mal está vencido pelo Cristo. Se Ele destruiu a morte e ela não tem mais poder de nos reter e dominar, a quem ou o que nós temeremos?

         Hoje, na continuação dessa leitura do discurso de Pedro no dia de Pentecostes, nós tomamos contato com essa certeza apostólica de que a Ressurreição de Cristo é o evento central que dá sentido á fé. Pedro, utilizando-se do Salmo 15, que cantamos como resposta a esta primeira leitura, afirma que o próprio Davi já havia profetizado a ressurreição de Cristo. É de Cristo, segundo Pedro, que Davi fala no salmo afirmando: “Eis por que meu coração está em festa, minha alma rejubila de alegria, e até meu corpo no repouso está tranqüilo; pois não haveis de me deixar entregue à morte, nem vosso amigo conhecer a corrupção”. O que Davi havia profeticamente anunciado neste salmo, o Pai o realizou em Cristo, ressuscitando-o de entre os mortos, “porque não era possível que a morte o dominasse” como afirma ainda o apóstolo durante o seu discurso. Ressuscitado e, exaltado pela direita de Deus, Jesus derrama o Espírito Santo prometido pelo Pai, que produz os efeitos maravilhosos que todos podiam testemunhar naquela manhã feliz do dia de Pentecostes.

         A ressurreição de Cristo é para nós um sinal. Ela é um sinal do amor do Pai pelo Filho, que se estende a cada um de nós que recuperamos na festa da Páscoa a nossa condição filial e nos tornamos filhos no Filho Único que é Cristo. Assumidos pelo Pai como filhos muito amados, carregamos em nós a certeza da nossa ressurreição. Podemos dar continuidade à voz de Cristo ao cantarmos hoje este salmo afirmando que também o Pai não nos abandonará na região dos mortos: “Eis por que meu coração está em festa, minha alma rejubila de alegria, e até meu corpo no repouso está tranqüilo; pois não haveis de me deixar entregue à morte, nem vosso amigo conhecer a corrupção”. Essa convicção que a Palavra de Deus nos traz a respeito da nossa ressurreição faz o nosso coração estar em festa e a nossa alma rejubilar de alegria. Ainda que a nossa vida seja cercada de incertezas e aflições, ainda que a inconstância seja um sinal marcante em nosso tempo, carregamos em nós uma esperança que nos enche de alegria: a certeza de que Cristo, vencedor da morte, derramou sobre nós após sua ressurreição o seu Espírito Santo, que vivificará os nossos corpos mortais.

Porque sabemo-nos filhos no Filho, chamamos a Deus nosso Pai. Por isso devemos atentar para a advertência de Pedro na sua primeira carta. “Se invocais como Pai aquele que, sem discriminação, julga a cada um de acordo com as suas obras, vivei então respeitando a Deus durante o tempo de vosso migração nesse mundo. Sabeis que fostes resgatados da vida fútil herdada de vosso pais, não por meio de coisas perecíveis, como a prata ou o ouro, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha nem defeito”. Porque chamamos a Deus de Pai, devemos aprender a viver como filhos. O Filho fez a sua vida na terra, no meio dos homens, ser uma imagem do que é a sua vida intradivina, na intimidade trinitária: uma vida de harmonia, de obediência, de total entrega e respeito à vontade sublimíssima do Pai. Também nós que portamos o nome de filhos, devemos imitar o único Filho, e viver uma vida de respeito e obediência ao Pai. Devemos ter diante de nós o que foi o preço do nosso resgate: o sangue de Cristo. Os nossos pais nos transmitiram uma “vida fútil”, uma vida que fenece, que caminha para o fim. Cristo nos transmitiu, com a sua entrega, a vida eterna. O seu Sangue é o preço do nosso resgate. Ele apareceu em nosso meio porque nos ama. Ele nos deu a fé no Pai que o ressuscitou e lhe deu a glória. A nossa fé e a nossa esperança estão em Deus, porque cremos que Ele ressuscitou o Cristo e esperamos que Ele também nos ressuscite no último dia.

“Antes da criação do mundo ele foi destinado para isso (para derramar o seu sangue por nós), e neste final dos tempos, ele apareceu por amor de vós.” Cristo apareceu em nosso meio, por amor. Cristo está no meio de nós cada vez que celebramos a Eucaristia, porque Ele nos ama e deseja estar no meio dos seus irmãos. Essa imagem do Cristo que se coloca no meio dos homens por amor, nós a vemos no evangelho que hoje ouvimos, que é como que o coração pulsante dessa liturgia da Palavra, que ilumina todos os outros textos que ouvimos. Era o primeiro dia da semana: o Domingo. Dois discípulos iam de Jerusalém para Emaús. Aqueles que antes haviam seguido o Cristo até Jerusalém, agora, diante da sua morte, voltam com rosto sombrio, como relata o evangelista, para o seu povoado de origem. Enquanto conversam e falam, talvez, dos seus projetos frustrados, das suas expectativas a respeito de Cristo que não foram correspondidas, enquanto partilham talvez o seu escândalo diante da cruz, o próprio Ressuscitado se coloca no meio deles. Uma presença de luz no meio das trevas daquela conversa. Cristo está ali para abrir novamente os olhos dos cegos, mas agora trata-se de uma cegueira que está no espírito dos discípulos. Diante da pergunta de Cristo a respeito do tema da conversa dos dois a resposta é uma estupefação, porque Jesus não sabia, na opinião dos dois, o que havia acontecido em Jerusalém nos últimos dias. “Nós esperávamos que ele fosse libertar Israel...” Os discípulos são o retrato da desesperança. “Já faz três dias que todas essas coisas aconteceram”. Nem mesmo o testemunho das mulheres os anima: “A ele, porém, ninguém o viu”.

Os discípulos são chamados pelo Cristo de pessoas “sem inteligência”, “lentas para crer” no que os profetas anunciaram. “Será que o Cristo não devia sofrer tudo isso para entrar na sua glória?” E Cristo lhes “explicava (...) todas as passagens da Escritura que falavam a respeito dele”, começando por Moisés e passando pelos profetas. Cristo se coloca no meio dos dois como o grande exegeta do AT, mostrando que tudo convergia para Ele. O Cristo é o centro da história dos homens. Os olhos dos discípulos ainda não se abriram e, quando chegam ao povoado, Cristo faz como se fosse mais adiante. Eles, no entanto, o convidam para “permanecer com eles”. Jesus entra, senta-se à mesa, e como que repetindo o gesto da última ceia, toma o pão e dá graças. É neste momento que os olhos dos discípulos se abrem e Eles reconhecem o Cristo no partir do pão. Cristo fica invisível diante deles e eles reconhecem que o coração deles ardia quando o Cristo, pelo caminho, lhes interpretava as Escrituras. “Anastantes”, diz o texto grego, “levantando-se” voltam para Jerusalém a fim de anunciar a seus irmãos “os acontecimentos do caminho”. Lá confirmam na comunidade reunida a autenticidade da sua experiência, porque o Cristo também havia aparecido a Simão.

Meus irmãos, o Cristo Ressuscitado experimentado na comunidade reunida, segundo ouvimos no Evangelho do domingo passado, é experimentado na comunidade reunida que parte o pão, ou seja, no banquete da Eucaristia, na nossa festa dominical.

Podemos comparar essa passagem de Emaús ao banquete da Eucaristia. Também nós chegamos à Igreja muitas vezes com o rosto sombrio, como esses dois discípulos. As nossas expectativas a respeito do Cristo, do mundo e de nós mesmos às vezes são frustradas, porque construímos imagens falsas, que não correspondem à realidade. Trazemos em nosso semblante, muitas vezes, o sinal da desesperança. Somos sem inteligência, lentos de coração para entender a mensagem do Cristo. Por isso, socorrendo-nos na nossa fraqueza Ele se coloca no meio de nós como exegeta da Escritura para nos explicar, no contexto do culto, o sentido daquilo o que temos ouvido. É o próprio Cristo que, aqui na assembléia dominical, nos explica as Escrituras e nos mostra que tudo converge para Ele. O nosso coração é aquecido pela sua Palavra; o Espírito, que é fogo abrasador, aquece os nossos corações e eles são dilatados, para que, como vasos mais amplos, possamos acolher melhor o Mistério de Cristo em nós. Aqui, quando Ele parte para nós o pão da Palavra, os nossos olhos são abertos e o reconhecemos, como o reconhecemos também quando o pão e o vinho consagrados, seu Corpo e seu Sangue, são repartidos entre nós como sinal da sua “permanência conosco” e “em nós”, no mais íntimo do nosso ser.

Nós que o reconhecemos ao partir o pão, devemos, à maneira dos discípulos de Emaús, correr para levar a outros este alegre anúncio. “Anastantes”; esse verbo é fundamental. É o verbo “anistemi”, usado para indicar também a ressurreição, que é chamada “anástasis”. Ao ouvirmos a Palavra de Cristo e ao reconhecermos o Senhor no pão que Ele mesmo reparte para nós, o pão que é seu Corpo Glorioso, nós como que ressuscitados nos erguemos e saímos para anunciar aos nossos irmãos que ele está vivo no meio de nós, que Ele nos apareceu e que estamos cheios de uma renovada esperança pascal que nos enche de alegria, alegria que brota da certeza de que Ele está no meio de nós e nos ressuscitará no último dia.

Abramo-nos à graça deste dia, para que a alegria da ressurreição renove a nossa esperança e faça nascer em nós uma alegria renovada que brota da certeza de que Cristo Ressuscitou e que, com Ele, seremos também nós ressuscitados pelo Pai. Aleluia!


[1] Coleta do Terceiro Domingo da Páscoa Ano A

Padre Fábio Siqueira
Autor

Padre Fábio Siqueira

Vice-diretor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida