19 de Abril de 2025
A presença do beato padre José de Anchieta na articulação da fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro
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02/03/2013 15:52 - Atualizado em 02/03/2013 15:58
A presença do beato padre José de Anchieta na articulação da fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro 0
02/03/2013 15:52 - Atualizado em 02/03/2013 15:58

I – A retomada da Guanabara pelos portugueses e a “fundação” da cidade
Em 1553, a nau que levava o jovem José de Anchieta, de Salvador para São Vicente, possibilitou ao jesuíta, na altura da barra, a visão de toda a região da Baía de Guanabara. Contudo, ele só desceu pela primeira vez em terras cariocas em 1564, após sua libertação do cativeiro de Iperoig (Ubatuba), quando se dirigia para Salvador.
Após o armistício de Iperoig, a paz não reinou como se esperava e, frequentemente, era interrompida pelos Tamoios, em toda a Capitania de São Vicente.
Alertado por diversos personagens de nossa história, a rainha Dona Catarina incumbiu Estácio de Sá, sobrinho do governador-geral Mem de Sá, a ir à Guanabara combater os franceses da remanescente França Antártica.
Comandando uma pequena esquadra de dois galeões preparados para a guerra, o jovem capitão passou primeiro por Salvador, onde recebeu do governador mais navios e militares, e depois seguiu para o Rio, onde viu a hostilidade dos Tamoios e sua colaboração com os franceses, possuidores de duas fortalezas: uma no atual Morro da Glória e outra na Ilha de Paranapuru, hoje Ilha do Governador.
Estácio de Sá pediu ajuda ao Sul, e Nóbrega e Anchieta foram ao seu encontro, chegando ao Rio no dia 31 de março. Após pequena reunião decidiram que Estácio deveria ir a São Vicente para congregar maiores reforços para enfrentar o inimigo. José de Anchieta teve papel importantíssimo na motivação para que os índios de São Vicente e de Piratininga ‘embarcassem’ na missão de Estácio.
De acordo com a carta de Anchieta, o capitão-mor Estácio de Sá partiu do Rio, no dia 22 de janeiro de 1565, chegou à Ilha de São Sebastião no mesmo dia, onde esperou pelos que sairiam de Bertioga no dia 27 do mesmo mês. No dia 28, se encontraram e rumaram para o Rio.
Nessa expedição vicentina, de apoio à esquadra de Estácio de Sá, viajaram como capelães os jesuítas José de Anchieta e o padre Gonçalo de Oliveira.
Eles deixaram Bertioga, na época Buriquioca, no dia 20 de janeiro, dia dedicado a São Sebastião.
Eram cinco embarcações e oito canoas de guerra. Chegando a São Sebastião, outra canoa de guerra se somou às demais. Nelas navegavam os Temiminós de Martim Afonso Araribóia, vindos do Espírito Santo, e os Tupis e mamelucos de São Vicente.
O missionário, durante três meses adversos – janeiro, fevereiro e março de 1565 – manteve o espírito combativo dos indígenas, imprescindível para a fundação do Rio.
Uma comprovação dessa generosidade dos índios paulistas lemos em uma carta do padre Leonardo do Vale aos padres e irmãos de Portugal: “(...) a maior parte dos índios, que a armada levou consigo a povoar o Rio, são os nossos discípulos de Piratininga, os quais têm tanto conhecimento do amor com que a Companhia os trata e trabalha por sua salvação (...) em defender sãs casas e, sabendo que se apregoava grande guerra contra eles, sofreram por deixar suas mulheres e filhos e repartirem-se por favorecer a armada, que sem eles mui mal podia povoar; e lá andam seis meses sofrendo mui grandes trabalhos de dia e de noite por amor a nós. Pelo que devem ser muito ajudados espiritualmente de todos”.
Na carta datada no dia 9 de julho, Anchieta narra os contratempos que retardaram, por 30 dias, o ingresso na Guanabara, efetuado no dia 28 de fevereiro. Podemos chamar esta carta de crônica da fundação da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Também do Norte chegaram três naus, sob o comando de João de Andrade. Ao todo foram nove navios e nove canoas de guerra que aportaram no dia 1º de março, com 300 expedicionários, na restinga entre o Pão de Açúcar e o Morro Cara de Cão, atual Morro de São João. Imediatamente foi construído um arraial fortificado. Para isso cortaram madeiras para abrigos e trincheiras, plantaram inhames e mandiocas.
Anchieta era a figura principal desse acampamento.
Anchieta informa, em carta, que a situação era dificílima. Os Tamoios vieram com flechas e arcabuzes. Estácio soube colocá-los em apavorada retirada. Eles largavam suas armas, o que aumentava a munição dos Temiminós.
Por outro lado, os Tamoios armavam ciladas, mas Estácio, sábio estrategista, vencia, enquanto Anchieta, com sua lanceta, retirava as flechas dos corpos dos índios e dos portugueses. Padre Gonçalo de Oliveira confessava todos.
Uma cilada famosa foi a do dia 9 de julho de 1566, quando Francisco Velho caiu em uma provocada pelos Tamoios, com mais de cem canoas. Repentinamente surgiu uma inumerável multidão de canoas com Guaixará.
Estácio de Sá foi a seu socorro, mas a batalha estava acirrada. Neste momento, o padre Vicente Rodrigues caiu de joelhos invocando a proteção do céu. Exatamente aí, de modo improviso, um barril de pólvora na nau capitânea dos cristãos explode e faz descomunal labareda.
Para todos era algo sobrenatural e os índios debandaram. Atribuiu-se esse fato à intercessão de São Sebastião. Índios de ambas as facções disseram haver visto um belíssimo guerreiro armado de ponto em branco, a saltar de uma para outra embarcação. Anchieta fez menção a isso no auto “Na festa de São Lourenço”, representado em Niterói, antiga Aldeia de São Lourenço, no dia 10 de agosto de 1587:
“Há muito tempo assisti à luta de Guaixará. Tantas igaras por lá! Ajudaste-as: eu as vi debandando ao Deus-dará... Bem poucos cristãos havia. Mesmo assim, São Sebastião pôs fogo aos barcos, e então ninguém mais escaparia ao combate e à confusão”.
A cidade foi erigida no dia 1º de março de 1565, por Estácio de Sá, com a presença de todos os envolvidos na odisseia de sua fundação, especialmente de José de Anchieta e de seus aliados indígenas. O local hoje é conhecido como Urca.
Já em Salvador, para onde viajou logo após a fundação do Rio, para ser ordenado sacerdote, além de alertar Mem de Sá e portar cartas que deveriam ser enviadas para Lisboa, o apóstolo descreveu como deixou o Rio no dia 31 de março: “Já, à minha partida, tinham feito muitas roças em derredor da cerca, plantado alguns legumes e inhames, e determinavam de ir a algumas roças dos Tamoios a buscar alguma mandioca para comer, e a rama dela para plantar. Tinham já feito um baluarte muito forte de taipa de pilão, com muita artilharia dentro, com quatro ou cinco guaritas de madeira e taipa de mão, todas cobertas de telha, que se trouxe de São Vicente, e faziam-se outras e outros baluartes. E os índios e mamelucos faziam já suas casas de madeira e barro, cobertas com palhas, feitas e cavadas como calhas e telhas, que é grande defesa contra o fogo.
Os Tamoios andavam se ajuntando para dar grande combate na cerca. Já havia dentro do Rio 80 canoas, e parece-me que se juntariam perto de 200, porque de toda a terra haviam de concorrer à ilha, e dizia-se que fariam grandes mantas de madeira para se defender da artilharia e balroarem a cerca; mas os nossos tinham já grande desejo de chegar aquela hora, porque desejavam e esperavam fazer grandes coisas pela honra de Deus e do seu Rei, e lançar daquela terra os calvinos e abrir alguma porta para a palavra de Deus entre os Tamoios. Todos viviam com muita paz e concórdia. Ficava com eles o padre Gonçalo de Oliveira, que lhes dizia cada dia uma missa e confessava e comungava a muitos para a glória do Senhor.”
A seguir Anchieta reforça a qualidade frágil da paliçada, e alerta seu superior sobre o perigo tamoio-francês que ainda paira sobre o Rio. Finalmente, denomina o local entre o Morro Cara de Cão e o grande Penedo Pão de Açúcar, de cidade que foi colocada sob o patrocínio de São Sebastião, e diz que deve ser chamada de “cidade de São Sebastião, para ser favorecida pelo Senhor, pelos merecimentos do glorioso mártir, e acrescência de Sua Alteza, que lhe tem tanta devoção e obrigação.”
Na verdade, a cidade foi durante os dois primeiros anos de sua fundação nada mais que um acampamento militar.
II – A arregimentação de forças para preservar a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro
Chegando a Salvador, José de Anchieta transmite para Mem de Sá, governador do Brasil, o que viveu nos últimos anos, e a situação fragilizada da cidade recém-fundada. Além disso, como conhecedor da região e de seus habitantes, aponta os meios necessários para finalizar as agressões franco-tamoias e consolidar a fundação.
Em 1º de novembro de 1566, Mem de Sá, o visitador padre Inácio de Azevedo, o provincial, padre Luís da Grã, o segundo bispo do Brasil, Dom Pedro Leitão, José de Anchieta e outros jesuítas partem para o Rio de Janeiro, chegando à cidade no dia 19 de janeiro de 1567.
Eles partiram na armada enviada pelo rei de Portugal, comandada pelo capitão Cristóvão de Barros.
III – A consolidação da fundação
Imediatamente no dia seguinte à sua chegada, Mem de Sá, confiante na intercessão do padroeiro da cidade, São Sebastião, cuja festa litúrgica era naquele dia, desfechou um assalto ao forte que estava no atual Outeiro da Glória, o forte de Ibiraguaçu-mirim.
Conta Anchieta em sua “Informação do Brasil e suas Capitanias” que depois de destruir dois fortes, Ibiraguaçu-mirim, na foz do rio da Carioca e Paranapucuí, na Ilha de Maracajá, atual Ilha do Governador, Mem de Sá mudou a cidade para o Morro de São Januário, depois chamado Morro do Castelo, de onde se tinha uma visão privilegiada da entrada da barra.
No início do século 20, o morro foi demolido, e o local ficou conhecido como Castelo ou Esplanada do Castelo.
No ataque a Ibiraguaçu-mirim, Estácio de Sá, verdadeiro baluarte durante os dois anos da cidade, foi mortalmente ferido, vindo a falecer no dia 20 de fevereiro. Anchieta, que o acompanhou muito de perto, assim escreveu sobre esse capitão: “tão amigo de Deus, tão manso e afável, que nunca descansa de noite e de dia, acudindo a uns e a outros, sendo o primeiro nos trabalhos...”.
Foram grandes comandantes Mem de Sá, Estácio de Sá e o índio Araribóia.

A presença do beato padre José de Anchieta na articulação da fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro
02/03/2013 15:52 - Atualizado em 02/03/2013 15:58
I – A retomada da Guanabara pelos portugueses e a “fundação” da cidade
Em 1553, a nau que levava o jovem José de Anchieta, de Salvador para São Vicente, possibilitou ao jesuíta, na altura da barra, a visão de toda a região da Baía de Guanabara. Contudo, ele só desceu pela primeira vez em terras cariocas em 1564, após sua libertação do cativeiro de Iperoig (Ubatuba), quando se dirigia para Salvador.
Após o armistício de Iperoig, a paz não reinou como se esperava e, frequentemente, era interrompida pelos Tamoios, em toda a Capitania de São Vicente.
Alertado por diversos personagens de nossa história, a rainha Dona Catarina incumbiu Estácio de Sá, sobrinho do governador-geral Mem de Sá, a ir à Guanabara combater os franceses da remanescente França Antártica.
Comandando uma pequena esquadra de dois galeões preparados para a guerra, o jovem capitão passou primeiro por Salvador, onde recebeu do governador mais navios e militares, e depois seguiu para o Rio, onde viu a hostilidade dos Tamoios e sua colaboração com os franceses, possuidores de duas fortalezas: uma no atual Morro da Glória e outra na Ilha de Paranapuru, hoje Ilha do Governador.
Estácio de Sá pediu ajuda ao Sul, e Nóbrega e Anchieta foram ao seu encontro, chegando ao Rio no dia 31 de março. Após pequena reunião decidiram que Estácio deveria ir a São Vicente para congregar maiores reforços para enfrentar o inimigo. José de Anchieta teve papel importantíssimo na motivação para que os índios de São Vicente e de Piratininga ‘embarcassem’ na missão de Estácio.
De acordo com a carta de Anchieta, o capitão-mor Estácio de Sá partiu do Rio, no dia 22 de janeiro de 1565, chegou à Ilha de São Sebastião no mesmo dia, onde esperou pelos que sairiam de Bertioga no dia 27 do mesmo mês. No dia 28, se encontraram e rumaram para o Rio.
Nessa expedição vicentina, de apoio à esquadra de Estácio de Sá, viajaram como capelães os jesuítas José de Anchieta e o padre Gonçalo de Oliveira.
Eles deixaram Bertioga, na época Buriquioca, no dia 20 de janeiro, dia dedicado a São Sebastião.
Eram cinco embarcações e oito canoas de guerra. Chegando a São Sebastião, outra canoa de guerra se somou às demais. Nelas navegavam os Temiminós de Martim Afonso Araribóia, vindos do Espírito Santo, e os Tupis e mamelucos de São Vicente.
O missionário, durante três meses adversos – janeiro, fevereiro e março de 1565 – manteve o espírito combativo dos indígenas, imprescindível para a fundação do Rio.
Uma comprovação dessa generosidade dos índios paulistas lemos em uma carta do padre Leonardo do Vale aos padres e irmãos de Portugal: “(...) a maior parte dos índios, que a armada levou consigo a povoar o Rio, são os nossos discípulos de Piratininga, os quais têm tanto conhecimento do amor com que a Companhia os trata e trabalha por sua salvação (...) em defender sãs casas e, sabendo que se apregoava grande guerra contra eles, sofreram por deixar suas mulheres e filhos e repartirem-se por favorecer a armada, que sem eles mui mal podia povoar; e lá andam seis meses sofrendo mui grandes trabalhos de dia e de noite por amor a nós. Pelo que devem ser muito ajudados espiritualmente de todos”.
Na carta datada no dia 9 de julho, Anchieta narra os contratempos que retardaram, por 30 dias, o ingresso na Guanabara, efetuado no dia 28 de fevereiro. Podemos chamar esta carta de crônica da fundação da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Também do Norte chegaram três naus, sob o comando de João de Andrade. Ao todo foram nove navios e nove canoas de guerra que aportaram no dia 1º de março, com 300 expedicionários, na restinga entre o Pão de Açúcar e o Morro Cara de Cão, atual Morro de São João. Imediatamente foi construído um arraial fortificado. Para isso cortaram madeiras para abrigos e trincheiras, plantaram inhames e mandiocas.
Anchieta era a figura principal desse acampamento.
Anchieta informa, em carta, que a situação era dificílima. Os Tamoios vieram com flechas e arcabuzes. Estácio soube colocá-los em apavorada retirada. Eles largavam suas armas, o que aumentava a munição dos Temiminós.
Por outro lado, os Tamoios armavam ciladas, mas Estácio, sábio estrategista, vencia, enquanto Anchieta, com sua lanceta, retirava as flechas dos corpos dos índios e dos portugueses. Padre Gonçalo de Oliveira confessava todos.
Uma cilada famosa foi a do dia 9 de julho de 1566, quando Francisco Velho caiu em uma provocada pelos Tamoios, com mais de cem canoas. Repentinamente surgiu uma inumerável multidão de canoas com Guaixará.
Estácio de Sá foi a seu socorro, mas a batalha estava acirrada. Neste momento, o padre Vicente Rodrigues caiu de joelhos invocando a proteção do céu. Exatamente aí, de modo improviso, um barril de pólvora na nau capitânea dos cristãos explode e faz descomunal labareda.
Para todos era algo sobrenatural e os índios debandaram. Atribuiu-se esse fato à intercessão de São Sebastião. Índios de ambas as facções disseram haver visto um belíssimo guerreiro armado de ponto em branco, a saltar de uma para outra embarcação. Anchieta fez menção a isso no auto “Na festa de São Lourenço”, representado em Niterói, antiga Aldeia de São Lourenço, no dia 10 de agosto de 1587:
“Há muito tempo assisti à luta de Guaixará. Tantas igaras por lá! Ajudaste-as: eu as vi debandando ao Deus-dará... Bem poucos cristãos havia. Mesmo assim, São Sebastião pôs fogo aos barcos, e então ninguém mais escaparia ao combate e à confusão”.
A cidade foi erigida no dia 1º de março de 1565, por Estácio de Sá, com a presença de todos os envolvidos na odisseia de sua fundação, especialmente de José de Anchieta e de seus aliados indígenas. O local hoje é conhecido como Urca.
Já em Salvador, para onde viajou logo após a fundação do Rio, para ser ordenado sacerdote, além de alertar Mem de Sá e portar cartas que deveriam ser enviadas para Lisboa, o apóstolo descreveu como deixou o Rio no dia 31 de março: “Já, à minha partida, tinham feito muitas roças em derredor da cerca, plantado alguns legumes e inhames, e determinavam de ir a algumas roças dos Tamoios a buscar alguma mandioca para comer, e a rama dela para plantar. Tinham já feito um baluarte muito forte de taipa de pilão, com muita artilharia dentro, com quatro ou cinco guaritas de madeira e taipa de mão, todas cobertas de telha, que se trouxe de São Vicente, e faziam-se outras e outros baluartes. E os índios e mamelucos faziam já suas casas de madeira e barro, cobertas com palhas, feitas e cavadas como calhas e telhas, que é grande defesa contra o fogo.
Os Tamoios andavam se ajuntando para dar grande combate na cerca. Já havia dentro do Rio 80 canoas, e parece-me que se juntariam perto de 200, porque de toda a terra haviam de concorrer à ilha, e dizia-se que fariam grandes mantas de madeira para se defender da artilharia e balroarem a cerca; mas os nossos tinham já grande desejo de chegar aquela hora, porque desejavam e esperavam fazer grandes coisas pela honra de Deus e do seu Rei, e lançar daquela terra os calvinos e abrir alguma porta para a palavra de Deus entre os Tamoios. Todos viviam com muita paz e concórdia. Ficava com eles o padre Gonçalo de Oliveira, que lhes dizia cada dia uma missa e confessava e comungava a muitos para a glória do Senhor.”
A seguir Anchieta reforça a qualidade frágil da paliçada, e alerta seu superior sobre o perigo tamoio-francês que ainda paira sobre o Rio. Finalmente, denomina o local entre o Morro Cara de Cão e o grande Penedo Pão de Açúcar, de cidade que foi colocada sob o patrocínio de São Sebastião, e diz que deve ser chamada de “cidade de São Sebastião, para ser favorecida pelo Senhor, pelos merecimentos do glorioso mártir, e acrescência de Sua Alteza, que lhe tem tanta devoção e obrigação.”
Na verdade, a cidade foi durante os dois primeiros anos de sua fundação nada mais que um acampamento militar.
II – A arregimentação de forças para preservar a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro
Chegando a Salvador, José de Anchieta transmite para Mem de Sá, governador do Brasil, o que viveu nos últimos anos, e a situação fragilizada da cidade recém-fundada. Além disso, como conhecedor da região e de seus habitantes, aponta os meios necessários para finalizar as agressões franco-tamoias e consolidar a fundação.
Em 1º de novembro de 1566, Mem de Sá, o visitador padre Inácio de Azevedo, o provincial, padre Luís da Grã, o segundo bispo do Brasil, Dom Pedro Leitão, José de Anchieta e outros jesuítas partem para o Rio de Janeiro, chegando à cidade no dia 19 de janeiro de 1567.
Eles partiram na armada enviada pelo rei de Portugal, comandada pelo capitão Cristóvão de Barros.
III – A consolidação da fundação
Imediatamente no dia seguinte à sua chegada, Mem de Sá, confiante na intercessão do padroeiro da cidade, São Sebastião, cuja festa litúrgica era naquele dia, desfechou um assalto ao forte que estava no atual Outeiro da Glória, o forte de Ibiraguaçu-mirim.
Conta Anchieta em sua “Informação do Brasil e suas Capitanias” que depois de destruir dois fortes, Ibiraguaçu-mirim, na foz do rio da Carioca e Paranapucuí, na Ilha de Maracajá, atual Ilha do Governador, Mem de Sá mudou a cidade para o Morro de São Januário, depois chamado Morro do Castelo, de onde se tinha uma visão privilegiada da entrada da barra.
No início do século 20, o morro foi demolido, e o local ficou conhecido como Castelo ou Esplanada do Castelo.
No ataque a Ibiraguaçu-mirim, Estácio de Sá, verdadeiro baluarte durante os dois anos da cidade, foi mortalmente ferido, vindo a falecer no dia 20 de fevereiro. Anchieta, que o acompanhou muito de perto, assim escreveu sobre esse capitão: “tão amigo de Deus, tão manso e afável, que nunca descansa de noite e de dia, acudindo a uns e a outros, sendo o primeiro nos trabalhos...”.
Foram grandes comandantes Mem de Sá, Estácio de Sá e o índio Araribóia.
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