02 de Fevereiro de 2025
Perdoar sempre
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Estamos no mês de setembro e nestes próximos dias iremos celebrar a Exaltação da Santa Cruz, e em seguida a festa de Nossa Senhora das Dores. Por este motivo é que a coleta para os lugares santos, que é realizada na sexta-feira santa foi transferida pelo Papa Francisco para este final de semana. As Igrejas do mundo inteiro ajudam a conservar as igrejas presentes na Terra Santa e as obras sociais lá realizadas por meio desta coleta que faremos neste final de semana.
O mês de setembro é o mês dedicado à Palavra de Deus, como já recordamos em outras oportunidades. Neste ano, o livro recomendado para a nossa reflexão mais intensa neste mês é o Livro do Deuteronômio, livro que tem como um dos pontos centrais a Aliança de Deus com seu povo e o lema proposto pela CNBB é a passagem “Abre tua mão para o teu irmão” (Dt 15,11), passagem que em consonância com o tema da Campanha da Fraternidade deste ano e que traz à nossa reflexão o fato de que não pode existir um verdadeiro povo de Deus sem que neste haja um especial cuidado com o próximo. Todos fomos testemunhas das ações caritativas da Igreja nestes tempos concretos de pandemia. A realidade da fé deve sempre estar marcado pela atenção às necessidades do outro e ao cuidado deste. Aproveitemos com mais intensidade todos os meios que são colocados à nossa disposição para que aprofundemos nossa intimidade com a Palavra de Deus.
Desde o início deste mês, quando vivenciamos o Dia de Oração pelo cuidado da criação, estamos unidos aos cristãos orientais vivenciado o “tempo da Criação” que vai até o dia 4 de outubro, neste ano com o Jubileu da Terra: novos ritmos, nova esperança. Este tempo também se insere dentro do ano da Laudato Si, no seu quinto aniversário de assinatura.
Neste 24º Domingo do Tempo Comum, a Palavra de Deus vai falar sobre o perdão e a reconciliação. No Evangelho (Mt 18,21-35), Pedro faz uma pergunta: "Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?". Jesus vai responder que se deve perdoar sempre: setenta vezes sete – é a linguagem simbólica usada por Jesus para indicar a constante realidade do perdão. O verdadeiro rosto de Deus é o do Pai misericordioso e que mostra que é esse o caminho da vida cristã! Com a medida que medirdes, sereis medidos.
O Senhor Jesus nos adverte que o perdão deve ser dado sempre porque o coração do Pai, como o do rei da parábola, é assim: cheio de compaixão, capaz de perdoar toda a dívida. Jesus começa dizendo que o Reino dos Céus é assim: o reinado de um rei que é Pai e perdoa. Ora, o Pai somente reina no coração de quem perdoa como ele mesmo perdoa, como ele mesmo nos perdoou e acolheu em Jesus, que morreu e ressuscitou para ser o perdão de Deus para nós! Eis o que é a Igreja: o espaço, o ambiente no qual o reinado de Deus deve manifestar-se no mundo; lugar da misericórdia, do acolhimento, do amor, do perdão, da esperança que não desiste, da doçura aprendida e bebida daquele Coração aberto na cruz.
Perdoar agrada muito a Deus porque nos faz semelhantes a Ele. Deus perdoa sempre! Não importa quantas vezes peçamos perdão e nem importa se são os pecados de sempre, se estamos arrependidos o Senhor nos perdoará. É o que experimentamos no sacramento do perdão e da alegria, na confissão. Santo Agostinho, pensando no pecado de Judas, escreveu: “se ele tivesse orado em nome de Cristo teria pedido perdão, se tivesse pedido perdão teria esperança, se tivesse esperança teria esperado na misericórdia e não teria se enforcado desesperadamente”. Não temos motivo para desesperar-nos.
O Evangelho mostra que todos somos devedores de Deus e não cobradores de nossos irmãos! E na oração do “Pai nosso”, damos a Deus o metro para medir o perdão que d’Ele esperamos! “Perdoai a nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido!” Sejamos generosos no perdão em nossa vida diária e não nos esqueçamos, perdoamos sempre porque Deus perdoa sempre. Peçamos essa Graça ao Senhor.
A primeira leitura (Eclo 27,33-28,9) apresenta que o mundo antigo era um mundo de guerras e vinganças e os Israelitas, perseguidos, mujitas vezes desejavam a vingança contra seus inimigos. Mas o profeta recorda que “o rancor e a raiva são coisas detestáveis! (…) Pensa na Aliança do Altíssimo e não leves em conta a falta alheia!”
Na segunda leitura (Rm 14,7-9) o Apóstolo Paulo recorda-nos que pertencemos ao Senhor e, por isso, vivemos em paz para a glória do próprio Deus! Deus não alimenta o ódio, mas o perdão! O perdão é a expressão maior do amor. É aceitar e querer bem ao próximo assim como ele é; é agir como Deus; é agir a exemplo de Cristo. Perdoando, é para o Senhor que vivemos e para o Senhor que morremos (cf. Rm 14, 7-9).
Somos convidados pelo Senhor a sempre viver e praticar o perdão. Deus é misericordioso e assim também devemos agir com misericórdia diante de nossos do nosso próximo. Perdoar é um ato de acolher e de amar. Por isso, olhando para Jesus saibamos apreender a ser sinal de misericórdia para tantos que vivem no rancor e no ódio. Como diante de Deus experimentamos a misericórdia, assim devemos também agir uns com os outros. Isso supõe fé, supõe abertura à Graça do Senhor e a coragem de viver contra a corrente, pois vivemos em uma sociedade de vingança e de grande intolerância em relação ao próximo. Não sucumbamos à tentação de perdoar momentaneamente, mas arquivar as faltas testemunhadas sempre que seja possível ou se apresente uma situação de contrariedade em relação à pessoa perdoada. Que a experiência do amor e da misericórdia de Deus faça com que distribuamos este amor e esta misericórdia para o mundo.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro
Perdoar sempre
13/09/2020 01:48
Estamos no mês de setembro e nestes próximos dias iremos celebrar a Exaltação da Santa Cruz, e em seguida a festa de Nossa Senhora das Dores. Por este motivo é que a coleta para os lugares santos, que é realizada na sexta-feira santa foi transferida pelo Papa Francisco para este final de semana. As Igrejas do mundo inteiro ajudam a conservar as igrejas presentes na Terra Santa e as obras sociais lá realizadas por meio desta coleta que faremos neste final de semana.
O mês de setembro é o mês dedicado à Palavra de Deus, como já recordamos em outras oportunidades. Neste ano, o livro recomendado para a nossa reflexão mais intensa neste mês é o Livro do Deuteronômio, livro que tem como um dos pontos centrais a Aliança de Deus com seu povo e o lema proposto pela CNBB é a passagem “Abre tua mão para o teu irmão” (Dt 15,11), passagem que em consonância com o tema da Campanha da Fraternidade deste ano e que traz à nossa reflexão o fato de que não pode existir um verdadeiro povo de Deus sem que neste haja um especial cuidado com o próximo. Todos fomos testemunhas das ações caritativas da Igreja nestes tempos concretos de pandemia. A realidade da fé deve sempre estar marcado pela atenção às necessidades do outro e ao cuidado deste. Aproveitemos com mais intensidade todos os meios que são colocados à nossa disposição para que aprofundemos nossa intimidade com a Palavra de Deus.
Desde o início deste mês, quando vivenciamos o Dia de Oração pelo cuidado da criação, estamos unidos aos cristãos orientais vivenciado o “tempo da Criação” que vai até o dia 4 de outubro, neste ano com o Jubileu da Terra: novos ritmos, nova esperança. Este tempo também se insere dentro do ano da Laudato Si, no seu quinto aniversário de assinatura.
Neste 24º Domingo do Tempo Comum, a Palavra de Deus vai falar sobre o perdão e a reconciliação. No Evangelho (Mt 18,21-35), Pedro faz uma pergunta: "Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?". Jesus vai responder que se deve perdoar sempre: setenta vezes sete – é a linguagem simbólica usada por Jesus para indicar a constante realidade do perdão. O verdadeiro rosto de Deus é o do Pai misericordioso e que mostra que é esse o caminho da vida cristã! Com a medida que medirdes, sereis medidos.
O Senhor Jesus nos adverte que o perdão deve ser dado sempre porque o coração do Pai, como o do rei da parábola, é assim: cheio de compaixão, capaz de perdoar toda a dívida. Jesus começa dizendo que o Reino dos Céus é assim: o reinado de um rei que é Pai e perdoa. Ora, o Pai somente reina no coração de quem perdoa como ele mesmo perdoa, como ele mesmo nos perdoou e acolheu em Jesus, que morreu e ressuscitou para ser o perdão de Deus para nós! Eis o que é a Igreja: o espaço, o ambiente no qual o reinado de Deus deve manifestar-se no mundo; lugar da misericórdia, do acolhimento, do amor, do perdão, da esperança que não desiste, da doçura aprendida e bebida daquele Coração aberto na cruz.
Perdoar agrada muito a Deus porque nos faz semelhantes a Ele. Deus perdoa sempre! Não importa quantas vezes peçamos perdão e nem importa se são os pecados de sempre, se estamos arrependidos o Senhor nos perdoará. É o que experimentamos no sacramento do perdão e da alegria, na confissão. Santo Agostinho, pensando no pecado de Judas, escreveu: “se ele tivesse orado em nome de Cristo teria pedido perdão, se tivesse pedido perdão teria esperança, se tivesse esperança teria esperado na misericórdia e não teria se enforcado desesperadamente”. Não temos motivo para desesperar-nos.
O Evangelho mostra que todos somos devedores de Deus e não cobradores de nossos irmãos! E na oração do “Pai nosso”, damos a Deus o metro para medir o perdão que d’Ele esperamos! “Perdoai a nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido!” Sejamos generosos no perdão em nossa vida diária e não nos esqueçamos, perdoamos sempre porque Deus perdoa sempre. Peçamos essa Graça ao Senhor.
A primeira leitura (Eclo 27,33-28,9) apresenta que o mundo antigo era um mundo de guerras e vinganças e os Israelitas, perseguidos, mujitas vezes desejavam a vingança contra seus inimigos. Mas o profeta recorda que “o rancor e a raiva são coisas detestáveis! (…) Pensa na Aliança do Altíssimo e não leves em conta a falta alheia!”
Na segunda leitura (Rm 14,7-9) o Apóstolo Paulo recorda-nos que pertencemos ao Senhor e, por isso, vivemos em paz para a glória do próprio Deus! Deus não alimenta o ódio, mas o perdão! O perdão é a expressão maior do amor. É aceitar e querer bem ao próximo assim como ele é; é agir como Deus; é agir a exemplo de Cristo. Perdoando, é para o Senhor que vivemos e para o Senhor que morremos (cf. Rm 14, 7-9).
Somos convidados pelo Senhor a sempre viver e praticar o perdão. Deus é misericordioso e assim também devemos agir com misericórdia diante de nossos do nosso próximo. Perdoar é um ato de acolher e de amar. Por isso, olhando para Jesus saibamos apreender a ser sinal de misericórdia para tantos que vivem no rancor e no ódio. Como diante de Deus experimentamos a misericórdia, assim devemos também agir uns com os outros. Isso supõe fé, supõe abertura à Graça do Senhor e a coragem de viver contra a corrente, pois vivemos em uma sociedade de vingança e de grande intolerância em relação ao próximo. Não sucumbamos à tentação de perdoar momentaneamente, mas arquivar as faltas testemunhadas sempre que seja possível ou se apresente uma situação de contrariedade em relação à pessoa perdoada. Que a experiência do amor e da misericórdia de Deus faça com que distribuamos este amor e esta misericórdia para o mundo.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro
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