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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 10/05/2024

10 de Maio de 2024

16º Domingo do Tempo Comum - 19 de julho de 2020

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16º Domingo do Tempo Comum - 19 de julho de 2020

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19/07/2020 00:00 - Atualizado em 19/07/2020 03:38

16º Domingo do Tempo Comum - 19 de julho de 2020 0

19/07/2020 00:00 - Atualizado em 19/07/2020 03:38

Sb 12,13.16-19
Sl 85
Rm 8,26-27
Mt 13,24-43
 
Então os justos brilharão como o Sol...
 
                  No Evangelho deste Domingo, Jesus se dirige à multidão e conta-lhe três parábolas a respeito do Reino dos Céus. A mais longa, a do trigo e do joio, ocupa a maior parte do texto. No final do trecho evangélico proclamado hoje, Jesus a explica, em casa, para os seus discípulos.
                  No centro do texto estão duas pequenas parábolas que apresentam o Reino dos Céus sob duas imagens: o grão de mostarda e o fermento. O grão de mostarda, uma semente minúscula, tem em si a potência de se tornar uma grande hortaliça. Alguns concordam que há certo exagero em Mateus, quando fala do grão de mostarda que se torna uma árvore frondosa, capaz de acolher os pássaros com seus ninhos. Mas o exagero, caso exista, é proposital. O evangelista quer mostrar o contraste entre o início modesto, a pequena semente, e o resultado final, a grande árvore. A imagem do Reino dos céus como uma árvore grandiosa que estende seus ramos aparece no AT, em textos como Ez 17,22-23. O Reino dos Céus, já presente em nosso meio, ainda que à espera de sua plena consumação, possui um início modesto. Contudo, ele tem em si mesmo uma força de crescimento, que faz com que ele se expanda, para além de todo esforço humano, ainda que possamos e devamos colaborar no seu crescimento em meio aos homens.

                  Uma ideia semelhante nos é transmitida por meio da parábola do fermento. Muitas vezes esse aparece como imagem negativa. Algumas vezes Jesus fala do “fermento dos fariseus” (Lc 12,1), ou seja, da sua hipocrisia. No evangelho deste domingo, todavia, ele é apresentado de forma positiva. Mais uma vez chama atenção a imagem exageradamente contraposta: uma mulher mistura fermento a três porções de farinha. Os estudiosos de pesos e medidas antigas divergem um pouco sobre qual seja a quantidade exata de farinha à qual a parábola se refere. Mas uma coisa fica clara: é uma quantidade enorme, muito maior do que uma mulher normalmente misturaria e deixaria fermentando para o pão do dia seguinte. Mais uma vez fica claro o objetivo da parábola: mostrar a grande diferença que há entre o início modesto e o resultado final. O Reino dos Céus possui em si mesmo a força que faz com que ele cresça e se expanda. A nós cabe uma tomada de decisão. Essa tomada de decisão no tempo presente tem implicações futuras. Isso fica claro à luz da parábola do trigo e do joio que emoldura o texto evangélico deste domingo: no início, a parábola em si, dirigida à multidão; na casa, a explicação dada aos discípulos.

                  Na sua primeira parte, a parábola ilustra a paciência de Deus em deixar que o trigo e o joio cresçam juntos. São plantas tão parecidas que, no afã de arrancar o joio, o trigo poderia ser arrancado junto. Deus poderia fazer essa separação desde agora, mas Ele espera que as plantas amadureçam. Essa paciência do Deus que espera o tempo da maturação de cada um já vem expressa na primeira leitura, do livro da Sabedoria: “julgas com clemência e nos governas com grande consideração” (Sb 12,18). A mesma passagem nos mostra que a clemência de Deus deve nos servir de modelo: “Assim procedendo, ensinaste ao teu povo que o justo deve ser humano; e a teus filhos deste a confortadora esperança de que concedes a conversão aos pecadores” (Sb 12,19). Literalmente, o texto afirma que “o justo deve ser um filantropo”, ou seja, um “amigo dos homens”. O justo é aquele que sabe comportar-se segundo o modo de agir do próprio Deus. Se Deus julga com clemência, se Ele espera o tempo da maturação, porque somos apressados, querendo ceifar o joio que nem sabemos se é, de fato, joio ou trigo? O tempo da ceifa chegará, mas essa será realizada no fim dos tempos, pelos anjos que o “Filho do Homem”, que é o próprio Cristo, enviará.

                  A parábola, com forte colorido escatológico, nos faz olhar para o fim dos tempos. Chegará o tempo do juízo de Deus. Lá sim, o joio e o trigo serão separados. O joio será queimado e os justos, aqueles que forem considerados trigo, brilharão, como o Sol, no Reino do Pai. No momento presente, todo juízo sobre os outros é precipitado. Podemos, com certeza, observar o que é certo ou errado, mas determinar quem seja joio ou trigo não é tarefa nossa. Pode ser que, aquilo que aos nossos olhos parece joio, seja um trigo que ainda não amadureceu. Não é nossa tarefa, e devemos dar graças a Deus por isso, operar essa separação. É Deus quem a levará a cabo no fim dos tempos.

                  O que nos cabe, então, diante da parábola, ou das parábolas que o evangelho nos traz? Cabe-nos, sem dúvida alguma, tomar uma decisão. O que queremos ser: trigo ou joio? O comportamento do joio vem descrito no v. 41: são aqueles que fazem os outros pecar e que praticam o mal... Se queremos ser trigo, devemos perseverar na prática do bem, com tudo o que isso implica. Nos empenhemos, também, no anúncio do Reino. Tornar o Reino dos Céus plenamente presente não é tarefa nossa, ele o Reino “dos Céus”, é Deus que o tornará plenamente manifesto no fim dos tempos. Contudo, é tarefa nossa colaborar na expansão do Reino já presente em nosso meio. Ainda que nossa contribuição seja minúscula como a ação de alguém que põe na terra um grão de mostarda ou mistura o fermento na farinha, devemos deixar nossa contribuição. Deus quer contar com isso e nos chama a realizar com coragem nossa missão.
 

 


 
 
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Sb 12,13.16-19
Sl 85
Rm 8,26-27
Mt 13,24-43
 
Então os justos brilharão como o Sol...
 
                  No Evangelho deste Domingo, Jesus se dirige à multidão e conta-lhe três parábolas a respeito do Reino dos Céus. A mais longa, a do trigo e do joio, ocupa a maior parte do texto. No final do trecho evangélico proclamado hoje, Jesus a explica, em casa, para os seus discípulos.
                  No centro do texto estão duas pequenas parábolas que apresentam o Reino dos Céus sob duas imagens: o grão de mostarda e o fermento. O grão de mostarda, uma semente minúscula, tem em si a potência de se tornar uma grande hortaliça. Alguns concordam que há certo exagero em Mateus, quando fala do grão de mostarda que se torna uma árvore frondosa, capaz de acolher os pássaros com seus ninhos. Mas o exagero, caso exista, é proposital. O evangelista quer mostrar o contraste entre o início modesto, a pequena semente, e o resultado final, a grande árvore. A imagem do Reino dos céus como uma árvore grandiosa que estende seus ramos aparece no AT, em textos como Ez 17,22-23. O Reino dos Céus, já presente em nosso meio, ainda que à espera de sua plena consumação, possui um início modesto. Contudo, ele tem em si mesmo uma força de crescimento, que faz com que ele se expanda, para além de todo esforço humano, ainda que possamos e devamos colaborar no seu crescimento em meio aos homens.

                  Uma ideia semelhante nos é transmitida por meio da parábola do fermento. Muitas vezes esse aparece como imagem negativa. Algumas vezes Jesus fala do “fermento dos fariseus” (Lc 12,1), ou seja, da sua hipocrisia. No evangelho deste domingo, todavia, ele é apresentado de forma positiva. Mais uma vez chama atenção a imagem exageradamente contraposta: uma mulher mistura fermento a três porções de farinha. Os estudiosos de pesos e medidas antigas divergem um pouco sobre qual seja a quantidade exata de farinha à qual a parábola se refere. Mas uma coisa fica clara: é uma quantidade enorme, muito maior do que uma mulher normalmente misturaria e deixaria fermentando para o pão do dia seguinte. Mais uma vez fica claro o objetivo da parábola: mostrar a grande diferença que há entre o início modesto e o resultado final. O Reino dos Céus possui em si mesmo a força que faz com que ele cresça e se expanda. A nós cabe uma tomada de decisão. Essa tomada de decisão no tempo presente tem implicações futuras. Isso fica claro à luz da parábola do trigo e do joio que emoldura o texto evangélico deste domingo: no início, a parábola em si, dirigida à multidão; na casa, a explicação dada aos discípulos.

                  Na sua primeira parte, a parábola ilustra a paciência de Deus em deixar que o trigo e o joio cresçam juntos. São plantas tão parecidas que, no afã de arrancar o joio, o trigo poderia ser arrancado junto. Deus poderia fazer essa separação desde agora, mas Ele espera que as plantas amadureçam. Essa paciência do Deus que espera o tempo da maturação de cada um já vem expressa na primeira leitura, do livro da Sabedoria: “julgas com clemência e nos governas com grande consideração” (Sb 12,18). A mesma passagem nos mostra que a clemência de Deus deve nos servir de modelo: “Assim procedendo, ensinaste ao teu povo que o justo deve ser humano; e a teus filhos deste a confortadora esperança de que concedes a conversão aos pecadores” (Sb 12,19). Literalmente, o texto afirma que “o justo deve ser um filantropo”, ou seja, um “amigo dos homens”. O justo é aquele que sabe comportar-se segundo o modo de agir do próprio Deus. Se Deus julga com clemência, se Ele espera o tempo da maturação, porque somos apressados, querendo ceifar o joio que nem sabemos se é, de fato, joio ou trigo? O tempo da ceifa chegará, mas essa será realizada no fim dos tempos, pelos anjos que o “Filho do Homem”, que é o próprio Cristo, enviará.

                  A parábola, com forte colorido escatológico, nos faz olhar para o fim dos tempos. Chegará o tempo do juízo de Deus. Lá sim, o joio e o trigo serão separados. O joio será queimado e os justos, aqueles que forem considerados trigo, brilharão, como o Sol, no Reino do Pai. No momento presente, todo juízo sobre os outros é precipitado. Podemos, com certeza, observar o que é certo ou errado, mas determinar quem seja joio ou trigo não é tarefa nossa. Pode ser que, aquilo que aos nossos olhos parece joio, seja um trigo que ainda não amadureceu. Não é nossa tarefa, e devemos dar graças a Deus por isso, operar essa separação. É Deus quem a levará a cabo no fim dos tempos.

                  O que nos cabe, então, diante da parábola, ou das parábolas que o evangelho nos traz? Cabe-nos, sem dúvida alguma, tomar uma decisão. O que queremos ser: trigo ou joio? O comportamento do joio vem descrito no v. 41: são aqueles que fazem os outros pecar e que praticam o mal... Se queremos ser trigo, devemos perseverar na prática do bem, com tudo o que isso implica. Nos empenhemos, também, no anúncio do Reino. Tornar o Reino dos Céus plenamente presente não é tarefa nossa, ele o Reino “dos Céus”, é Deus que o tornará plenamente manifesto no fim dos tempos. Contudo, é tarefa nossa colaborar na expansão do Reino já presente em nosso meio. Ainda que nossa contribuição seja minúscula como a ação de alguém que põe na terra um grão de mostarda ou mistura o fermento na farinha, devemos deixar nossa contribuição. Deus quer contar com isso e nos chama a realizar com coragem nossa missão.
 

 


 
 
Cardeal Orani João Tempesta
Autor

Cardeal Orani João Tempesta

Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro